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sábado, 16 de junho de 2007

Pesquisa eleitoreira

Você votaria em Tião Miranda se ele, concluído o mandato de prefeito, se candidatasse a deputado estadual ou federal?

Efeito Novelino

A filial marabaense da empreiteira Service Brasil, do assassino dos irmãos Novelino, Chico Ferreira, faliu.
Ela, se é que havia, era a contratada da prefeitura para a limpeza pública e coleta de lixo.
A falência pôs na rua da amargura 220 trabalhadores residentes, sobretudo, na periferia da cidade, integrantes de famílias extremamente necessitadas.
Em busca de solução judicial, garis, varredores, roçadores e outros braçais estão procurando, aos magotes, os escritórios de advocacia trabalhista.

À espera de um milagre

Advogado pediu à Justiça comum alvará para recebimento do DPVAT – o seguro que cobre acidentes de trânsito – em 2001. Quando o documento saiu em 2004, a seguradora Cia. São Paulo de Seguros já tinha falido. Outro alvará para o mesmíssimo fim, agora no interesse de acidentado que ficara tetraplégico demorou tanto que, durante a espera, o paciente curou-se. Se foi milagre de São Galvão, santo brasileiro, ou de São Cristóvão, protetor dos motoristas, não se sabe. Mas o alvará continua até hoje onde sempre esteve – nalguma dobra do buraco negro em que virou o Judiciário do Pará. A propósito, parece que frei Galvão tem cura para tudo. Menos para o Águia de Marabá, dirigido pelo seu xará.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Empenhando o futuro

Enquanto ruralistas reclamam do que identificam como “favelas rurais”, essas ocupações que proliferam em toda a região, políticos de Marabá se empenham em consolidar favelas urbanas em propriedades particulares sem qualquer infra-estrutura. Com essa atitude, que visaria mais preservar interesses e apoio futuro dos latifundiários urbanos do que atender à demanda da população carente, os políticos desatendem preceitos do Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257, de 10.07.2001) como os que fixam diretrizes gerais para a política urbana, entre os quais: garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações. Além, necessariamente, da oferta de equipamentos urbanos e comunitários, porque só a habitação pura e tão-somente não basta. Como está proposto, assim de afogadilho e sem planejamento, as desapropriações em andamento com a participação da Cohab não passam de um violento processo de favelização que vai estourar na mão das futuras administrações municipais, quando começar a demanda por praças, escolas, esgotos e pavimentação, como ocorre em invasões históricas que se tornaram bairros insalubres como o Liberdade, o Independência, o Jardim Bom Futuro e outros.

Método prosaico de matar cupim



Derze Bastos labuta no Tapiri desde março de 1997, lá se vão dez anos a suportar estudantes lisos e, muitas vezes, chatos. Foi lá que o conheci, nos duros tempos de universitário, e esta amizade vai perdurar para sempre. Tem cada história, o Derze... Foi bancário, regatão, comerciário, vendeu peixe no Ver-o-Peso. Qualquer hora conto algumas dessas histórias dele. Mas a gente não se via faz uma pá de tempo e esta semana passei lá para vê-lo, dar-lhe um abraço e fazer a mistura perfeita de cerveja, piadas e papo furado, como diria John Constantine, o bruxo.
E vai que toco na minha disputa de meses com cupins que já me devoraram parte do forro, comeram livros carregados de lembranças, destroçaram a capa de discos guardados há décadas com o mais furioso egoísmo.
E foi aí que ele me deu a sugestão ideal para acabar com a raça dos desgraçados:
- Você pega um deles - com cuidado para não machucar. Delicadamente pinte o sacana todo de vermelho e solte-o de volta no carreiro. Quando os outros cupins virem o esquisitão todo colorido, eles vão morrer de rir!
Eu senti vontade de esganá-lo. Mas só de raiva tomei toda a cervejinha dele e não paguei.

Ação contra hidrelétrica

Ação Civil Pública Estreito: Pedido vale se não for autorizada eclusa para garantir navegabilidade do rio Tocantins Em uma ação conjunta deflagrada pela vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, senadora Kátia Abreu e pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, a entidade deu entrada nesta quarta-feira, dia 14, na Justiça Federal em Palmas, a uma ação civil pública pedindo a suspensão imediata das obras da Hidrelétrica de Estreito, pelo Consórcio Ceste de Energia. A ação, com pedido liminar, foi protocolada na tarde desta terça e pede a suspensão das obras até que seja definida a construção da eclusa concomitantemente à construção da usina. A ação foi anunciada na manhã desta terça pela senadora Kátia Abreu, durante sessão da Comissão de Agricultura do Senado, que discutia as hidrelétricas no rio Madeira. Segundo a senadora Kátia defendeu na Comissão, na construção das hidrelétricas deve haver uma harmonia entre os ministérios dos Transportes, Minas e Energia e Meio Ambiente. “Já fez quatro pronunciamentos no Senado de fevereiro até hoje sobre o assunto”, disse Kátia Abreu na sessão da Comissão de Agricultura do Senador, salientando que o modal de transporte hidroviário, possibilitado pelas eclusas, têm índice zero de poluição, contra modais poluidores como o rodoviário e o ferroviário em menor escala. “As hidrelétricas sem eclusas matam os rios”, disse a Senadora. Na ação protocolada nesta terça na Justiça Federal, a Federação da Agricultura e Pecuária do Tocantins defende que com a eclusa, economizam-se recursos utilizando o sistema de transporte hidroviário tanto no custo do frete como no investimento necessário para viabilizar a hidrovia. O valor do investimento para a realização de 1.000 km de hidrovia é de cerca de US$ 53 milhões, contra US$ 250 milhões para mesmo trecho de rodovia e US$ 909 milhões para ferrovia, conforme a VALEC e AHITAR. Ainda conforme a ação, estudos técnicos indicam que a logística multimodal – hidrovia Tocantins, Ferrovia Norte-Sul, terminal Porto de Itaqui, é capaz de produzir uma redução média de 22% nos custos unitários de transporte, ou 27% em media no montante de recursos despendidos com transporte de cargas hidroviáveis na região. A Federação cita na ação que a questão chegou ao Congresso Nacional, com a apresentação, por parte da senadora e vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Kátia Abreu, de emenda a Medida Provisória 369/2007, do Governo Federal, criou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no sentido de que seja obrigatória a construção de eclusas quando da aprovação de novos projetos de hidrelétricas no País. A Senadora exemplificava que, na questão da hidrelétrica de Estreito, o Governo Federal estaria cometendo os mesmos erros cometidos na Hidrelétrica de Tucurui,. Assim é que caso a eclusa de Tucurui tivesse sido construída simultaneamente com a hidrelétrica, a economia de recursos seria da ordem de R$ 200 milhões. Em Lajeado, por exemplo, se a eclusa tivesse sido construída ao mesmo tempo em que era erguida a hidrelétrica, seu custo seria de R$ 380 milhões. Atualmente a eclusa está sendo construída ao preço de R$ 624 milhões. Estima-se que os produtores rurais poderiam economizar cerca de R$ 2,7 bilhões por ano nas regiões Norte e Centro-Oeste, caso pudessem utilizar, na sua plenitude, o sistema de transporte hidroviário. Isto porque temos uma nova geografia da produção agrícola no país. Na safra 1.976-77, as regiões Norte e Centro-Oeste produziam seis milhões de toneladas de grãos e na safra 2006-07, estas duas regiões produzem 47,3 milhões de toneladas de grãos, respondendo por 36% da produção nacional. www.anoticia-to.com.br Publicada em: 14/06/2007Por: A Noticia Fonte: Forum Carajás

Boca de urna

Se a eleição fosse dia 15 de julho próximo, em quem você votaria para prefeito de Marabá: Maurino Magalhães, João Salame Neto, Luís Carlos Pies, Asdrúbal Bentes, Nagilson Amoury, Bernadete ten Caten, Vanda Américo, Demétrius Ribeiro ou Ítalo Ipojucan? Defina o nome da sua preferência e justifique. Baixarias serão cortadas na raiz.

ÔOOpsss!

A matéria sobre o sarau lítero-musical é do jornalista Ulisses Pompeu, e foi publicada no jornal Correio do Tocantins de 08 de junho de 2007. Falha nossa!

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Requentando o sarau

Sarau faz elo entre artistas e estudantes da rede pública (Reportagem de Ulisses Pompeu no Correio do Tocantins, de 08.06.2007) O universo imaginário dos artistas e a realidade de centenas de estudantes da rede pública de Marabá marcaram encontro na noite da última quarta-feira (6) na praça São Félix de Valois, na Marabá Pioneira. Em dois palcos montados pela coordenação, os alunos ocuparam o lugar dos artistas e estes ficaram na condição de ouvintes, numa comungação de leituras de obras nunca vista na história da arte local.O evento em questão era o I Sarau Lítero-Musical de Marabá, promovido pela Secult (Secretaria de Estado de Cultura), em parceria com a Prefeitura de Marabá, 4ª URE (Unidade Regional de Educação) e UFPA. Estudantes de 16 escolas foram confrontados com obras dos artistas locais Ademir Braz, João Brasil, Jorge Luís Ribeiro, Rildo Brasil e Marcos Quinan, este último de Belém.O Sarau foi discutido em um esforço coletivo das secretarias municipais de Educação, Cultura e 4ª URE, como condição prévia para realização em Marabá da I Conferência Municipal de Cultura, que acontece neste domingo, na escola Judith Gomes Leitão, na Marabá Pioneira, durante todo o dia.Entre os momentos marcantes do Sarau estiveram os bate-papos com os artistas homenageados, que falaram do prazer e das dificuldades da produção literária em terras amazônicas. O memorialista João Brasil Monteiro relembrou os tempos saudosos das navegações pelo rio Tocantins e lamentou a construção da hidrelétrica de Tucuruí, que engessou a vida dos ribeirinhos.Marcos Quinan disse como se inspirou em fatos históricos paraenses, como a Cabanagem, que povoou o universo de suas obras, para escrever romances e poesias. Questionado pela estudante Carina Borges, de 9 anos da escola O Pequeno Príncipe, sobre como definia sua poesia, o artista foi lacônico: “Eu dependo da poesia, não ela de mim”.Ademir Braz sensibilizou o público presente ao relembrar a vida pacata dos nativos de Marabá e mostrar como tem usado sua arte para analisar a ocupação em massa desta região nas últimas décadas.AusênciaEmbora fizesse parte da organização do Sarau, a equipe do Campus local da Universidade Federal do Pará não participou do evento, seja através de painéis ou apresentações no palco como forma de homenagem ao poeta Ademir Braz, como a própria UFPA se comprometeu, segundo observou Vera Froz, coordenadora de Ensino da Semed. Certamente, o evento seria mais enriquecido se tivesse apresentado o trabalho de Pagão, como Ademir também é conhecido.ProgramaçãoPara muita gente que foi à praça São Félix, o I Sarau Lítero-Musical de Marabá não pode ficar apenas na primeira edição, devendo ser realizado com periodicidade curta e envolvendo mais artistas e escolas.Além dos bate-papos, intercalados entre apresentações de alunos, o Sarau contou com a performance da Banda Marcial de Marabá, com choro de Carimbó; releitura de obra de Marcos Quinan por alunos da escola municipal São José e interpretação do poema “Tua Janela”, do mesmo autor, por estudantes da escola Walquise Viana.Na seqüência, foram ao palco alunos da escola São Félix para dramatizar “Zé Búgio”, e do colégio Luzia Nunes Fernandes, para interpretar numa bela canção o poema “Quilômetro 6”, de Jorge Luís Ribeiro. O conto Breganha, de Quinan, transformou-se em dramatização alegre por alunos do colégio Plínio Pinheiro.Confira abaixo asdemais apresentações:- Escola O Pequeno Príncipe (teatro mudo com o musical “Nhanancinha e Bartolomeu”);- “Estilhaços entrelaçados”, com professores do 1º ao 5º ano;- Coreografia da música “Essa Menina”, de Marcos Quinan, por alunos do colégio Gabriel Sales Pimenta;- Dramatização do poema “Moça Bonita”, de Quinan;- Dramatização do poema “Quilômetro 6”, de Jorge Luís Ribeiro, pela escola Irmã Theodora;- Dramatização do conto “João Colonato e Tenonai”, de Marcos Quinan;- Coreografia “Sertão da minha Alma”, por alunas do projeto Dançando e Educando;- Dramatização do conto “La linha”, de Marcos Quinan;- Rap da poesia “Feira da 28”, de Jorge Luís Ribeiro. “O que fundamenta minha vida é minha arte”, diz Ademir Braz O poeta Ademir Braz se disse encantando com o contato com o público jovem, notadamente estudantes do ensino fundamental e médio durante o I Sarau Lítero-Musical de Marabá. Ele relembrou que em 1992 ele participou do projeto “O escritor na cidade”, do governo federal, que levava o artista de uma cidade para um bate-papo com estudantes de outra região. Nessa oportunidade, ele foi a Belém, Santarém, Bragança, Ananindeua, Barcarena e Capanema. Mais recentemente, em 2003, teve participação também na Feira Pan-Amazônica do Livro, em Belém, onde lançou o livro Rebanho de Pedras e foi saraivado de questionamentos por estudantes do ensino fundamental. Esse mesmo sentimento de felicidade ocorre agora, com o convite para participar de uma iniciativa dessas, como forma de antecipação da Feira Pan-Amazônica do Livro, que vai ocorrer em setembro.NovidadesPagão, como também é conhecido, antecipa que está preparando um romance tendo como pano de fundo a colonização de Marabá, tendo como personagens: castanheiros, tropeiros, lavadeiras, entre outras pessoas que dedicaram suas vidas para o crescimento da cidade e não são lembrados. “Estou escrevendo a história dos vencidos, os que de fato colonizaram esta região”, justifica.Além disso, Ademir revela que está concluindo uma segunda antologia poética nas áreas de crônica e conto. Tenho dificuldade financeira muito grande para dar continuidade ao meu trabalho. Mas sempre que possível avanço pela madrugada produzindo, porque o que fundamenta minha vida é minha arte. Ela é um compromisso com o meu tempo e minha história”, desabafa Pagão, que também é jornalista e advogado.Marcos QuinanTambém ouvido pela reportagem, o escritor Marcos Quinan se disse encantado com a interação que está tendo de sua produção artística no interior. Neste ano, os organizadores da Feira Pan-Amazônica do Livro priorizaram a integração da literatura que se faz no Estado. Escolhido pela Secult (Secretaria de Estado de Cultura) para percorrer alguns municípios do interior, Quinan esteve em Parauapebas e Marabá. Aqui, ele ficou deslumbrado com as releituras feitas de poemas, contos e interpretações de suas canções. “Confesso que nunca imaginei que pudesse haver tanta versatilidade em torno de meu trabalho. Estou deslumbrado com o que vi aqui através da rede escolar”, revelou. Égua! Musicaram o “Quilômetro 6” Foi uma apresentação primorosa. Quem conhece o poema Quilômetro 6, de Jorge Luís Ribeiro, como eu, ficou encantado com o rap criado por alunos da escola Luzia Nunes Fernandes. O público foi tocado, envolvido e o autor do poema, Jorge Luís, ficou emocionado pela releitura que fizeram de sua obra. O velho Quilômetro 6 está mudado. Transferiram a feira para uma rodoviária, mas o furdunço que existia quando a maioria dos ônibus que saia da cidade passava por ali ficou congelado em poesia e na atual geração de estudantes. A noite na Toca do Manduquinha teria sido paga apenas por aquela interpretação. “Égua, musicaram o Quilômetro Seis”, eu disse durante a música. Nesse instante, me aproximei de Jorge Luís Ribeiro e lhe disse que havia me emocionado com a música como se fosse o autor do poema. Trocamos algumas palavras e ele sugeriu retomarmos os “contos relâmpagos” que publicávamos nesta coluna na década de 1990, de sua autoria. Eu dei minha palavra a ele, porque Jorge Luís tem uma sensibilidade poética invejável e elege verbos nos contos que têm força de substantivo, adjetivos e advérbios juntos.Também foi muito interessante a releitura do mesmo poema Quilômetro 6 produzida de forma dramática por alunos da escola Irmã Theodora. A leitura foi feita na íntegra e os estudantes circulavam pelo palco como se percorressem a bagaceira do Quilômetro 6, a vila-restaurante-bordel-rodoviária, que o prefeito Geraldo Veloso teve pulso para desfazer porque transformou-se em um cartão postal negativo da cidade.

Sopa de letrinhas

Convidado a intervir no seminário “A formação jurídica no contexto amazônico”, promovido pela comissão responsável pelo Novo Projeto Político Pedagógico do Curso de Direito da UFPA/Marabá, passei boa parte da tarde de terça-feira 12 de junho alinhavando uns dados para corroborar o que penso sobre o que seria prioridade, no sul do Pará, na área das ciências jurídicas. Não era muita coisa, nada além de uma sopa de letrinhas com informações que qualquer cidadão medianamente antenado com o entorno não tenha já tomado conhecimento. Eu estava, como sempre, mais predisposto a ouvir. Afinal, lá estariam, na mesa diretora dos trabalhos, o agrônomo e sociólogo Raimundo Gomes da Cruz Neto, fundador e integrante do Cepasp (Centro de Pesquisa e Assessoria Popular), conhecedor como poucos dos gargalos regionais; o presidente da Acim (Associação Comercial e Industrial de Marabá), Gilberto Leite, inteirado sobre os segmentos da economia regional, sobretudo mercado de veículos e a instigante temática da produção de ferro-gusa no Distrito Industrial; o Procurador Geral do Município, dr. Carlos Nunes, que seguramente expressaria o ponto-de-vista da administração Tião Miranda sobre o que espera seu governo da atuação da UFPA no município; e, por fim, a respeitável e douta figura do sacerdote e advogado Henry des Roziers, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), emérito defensor dos fracos e oprimidos camponeses do sul paraense. Deu-se, porém, que só eu apareci... Segundo o professor Júlio César Costa, integrante da comissão organizadora do evento, os demais convidados alegaram afazeres inadiáveis momentos antes do início do seminário, de sorte que eu, de ouvinte, passei a cozinheiro e servente da minha sopa de letrinhas, condição dificultada, aliás, pela falta de um microfone, o que me obrigou a falar alto para uma platéia de estudantes que não ocupava sequer um quarto do pequeno auditório do campus. Estudantes de Direito no campus contam-se hoje às centenas, eu acho, entre as variadas turmas, mas raríssimos manifestaram interesse pelo debate inicial que visa qualificar melhor o futuro profissional da Justiça. E os que compareceram saíram como entraram: em silêncio. Depois do encontro, alguém deu-me explicação prosaica: “Os futuros advogados estão mais interessados na aprovação para cargos públicos, (vitalícios, com pouco trabalho e sem muita exigência de saberes) do que para o exercício da profissão com prestígio em declínio cada vez mais.” Faz sentido. Inda mais vindo de quem veio, inserido no contexto, como se dizia nos anos 70. Mas, recado dado, observei que todos os fatos por aqui vivenciados interessam ao Direito Ambiental, Comercial, Agrário, do Consumidor, a todos os ramos vinculados à defesa da cidadania e do direito constitucional ao meio ambiente e à vida humana com qualidade, talvez “não necessariamente ao Direito Tributário, em razão das isenções tarifárias que beneficiam o grande capital e da inequívoca e violenta sonegação de impostos.” Quer provar da sopa? Em 1988, os antropólogos Eduardo Viveiros de Castro e Lúcia Andrade publicaram um livro As hidroelétricas do Xingu e os povos indígenas onde um artigo aborda a política ambiental do Estado brasileiro como um aparelho de despolitização do ambiente, a partir de uma ofensiva ideológica que visa a facilitação política de implantação de grandes projetos na Amazônia. Sob esse prisma, ponderam os autores, a noção de impacto ambiental esconde sob sua aparente inocência e preocupação positiva um conjunto de operações ideológicas, assim resumidas: 1) A obra de engenharia aparece como causa absoluta, cuja concepção é subtraída a qualquer exame. Ela se transforma em verdadeira instância transcendental, fato consumado a que só cabe reagir, adaptar-se, aceitar como se aceita um desígnio divino e insondável: a barragem se transforma em obra do destino. 2) As populações humanas “impactadas” são concebidas como parte do ambiente da obra, que é sujeito; elas são subsumidas numa função de fundo para uma forma extrínseca, superimposta. Elas são naturalizadas, assimiladas a espécies naturais submetidas a “impactos negativos” e a manejo paliativo ou “desenvolvimentista”; são “melhoradas”. Erguem-se, assim, duas entidades fantasmáticas em confronto: o Estado, agente e causa; a natureza, paciente e reativa. A engenharia de barragens vira engenharia social. 3) A dimensão política intrínseca aos processos de concepção, decisão e execução de um empreendimento de engenharia é escamoteada. O estado, autor da obra, é falsamente identificado como a “sociedade” brasileira abstrata, e as sociedades concretas são postas como objetos para o Estado. A obra, enfim, é passada como catástrofe (ou, como preferem os planejadores, milagre) natural, acontecimento que se gesta e se gere fora do alcance da vontade política da sociedade, em particular dos setores sociais “afetados”. Desta forma, o discurso sobre os “impactos ambientais” presta-se facilmente ao mascaramento de formas de dominação política, cujos efeitos não são simples ou principalmente ambientais ou sócio-econômicos. Eles são essencialmente políticos, por resultarem de uma vontade de dominação que nega às populações humanas visadas seu lugar de sujeitos de direitos, isto é, de cidadãos dotados de uma positividade política. A partir disso, qualquer semelhança com deidades do tipo Vale do Rio Doce, Eletrobrás, Albrás-Alunorte e outras “engenharias” dominantes na Amazônia, de natureza igualmente divina, não será mera coincidência. Até porque, na lógica do capitalismo, é necessário destruir a natureza para então transformá-la em mercadoria. Para além das engenharias divinatórias, ou supra-humanas, a contemporaneidade amazônica inclui uma questão premente: os deslocamentos humanos, responsáveis pelo forte crescimento populacional. São levas de migrantes que, impossibilitados de se fixarem nas suas regiões de origem, vêm em busca de atividades supostamente capazes de satisfazer demandas por terra, expectativas de melhoria de condições de vida, trabalho, até mesmo de enriquecimento – numa região propagandeada como de grande potencial de recursos naturais. Assim, a posse e uso da terra marcam profundamente o processo de ocupação na área e, consequentemente, as transformações econômicas na região. Na área de influência da Estrada de Ferro Carajás, espaço de atuação do Campus da Universidade Federal do Pará, a política de incentivos fiscais e creditícios favoreceu a implantação de grandes projetos agropecuários e madeireiros, em sua grande parte intensivos nos fatores capital e terra, e poupadores de mão-de-obra. As indústrias siderúrgicas dos Distritos Industriais de Marabá, no Pará, e Açailândia, no Maranhão, produzem anualmente dois ou mais milhões de toneladas de ferro gusa exclusivamente para exportação, e faturaram, em 2006, mais de meio bilhão de dólares. Em contra-partida, as empresas da cadeia de produção de ferro-gusa, que utilizam carvão vegetal, deverão ser obrigadas a reparar os danos ambientais causados pela atividade e ainda pagar indenização por danos material e moral coletivos causados ao meio ambiente. Só em Marabá, os promotores de Justiça já impetraram 115 ações civis públicas (ACPs) contra madeireiras, serrarias e siderúrgicas que atuam na região, acusadas de agressão ambiental. Também foram incluídos nos processos pessoas físicas flagradas transportando madeira ilegal ou carvão vegetal produzido a partir da derrubada ilegal de árvores. Apesar de tudo, “a região sudeste do Pará já responde por um terço da economia do Estado e, no ritmo atual de crescimento, deverá ultrapassar em breve a região metropoliana de Belém. Enquanto em 1980 o sudeste respondia por 12% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, essa participação subiu para 32% em 2004, enquanto a da capital caiu de 48% para 40% na mesma comparação. Também registraram queda de participação as regiões do Nordeste Paraense (de 17% para 11%), do Baixo Amazonas (de 15% para 8%) e do Marajó (de 5% para 3%). O Sudoeste Paraense cresceu de 3% para 6%. “ Este é um dos principais dados constantes do Diagnóstico Integrado em Socioeconomia para os Empreendimentos da CVRD no Sudeste do Pará, contratado pela Fundação Vale do Rio Doce e realizado pela Diagonal Urbana Consultoria ao longo de 2006. O estudo mostra que os investimentos que a Companhia Vale do Rio Doce tem feito na região (R$ 12,3 bilhões até 2007, com projeção para chegar a R$ 25,8 bilhões até 2010) e as suas compras (R$ 8,2 bilhões até este ano, devendo chegar a R$ 12,6 bilhões em 2010) tornam o papel da empresa fundamental na dinamização da economia regional. Outro dado que revela o melhor desempenho do Sudeste Paraense é que o PIB per capita da região atingiu R$ 6.765 em 2003, enquanto em Belém estava em R$ 5.137 e o total do Pará em R$ 4.367. Se for levado em consideração apenas o PIB per capita dos municípios da área de influência direta da Vale, o valor foi de R$ 7.272 em 2003. O PIB do Baixo Amazonas estava em R$ 3.897 naquele ano, o do Sudoeste Paraense em R$ 3.814, o do Nordeste Paraense em R$ 2.202 e o do Marajó em R$ 2.112. Vale indagar, porém, onde anda a parte desse produto Interno Bruto que não chega ao bolso do cidadão comum. Evidentemente, todos esses fatos interessam ao Direito Ambiental, Comercial, Agrário, do Consumidor, a todos os ramos vinculados à defesa da cidadania e do direito constitucional ao meio ambiente e à vida humana com qualidade, talvez “não necessariamente ao Direito Tributário, em razão das isenções tarifárias que beneficiam o grande capital e da inequívoca e violenta sonegação de impostos.”

O animado circo da edilidade

A Câmara Municipal teve sessão animada na manhã de terça-feira, 12 de junho, Dia dos Namorados, quando os vereadores ficaram de apreciar a proposta de 6,5% de aumento para o funcionalismo, proposto pelo prefeito Tião caridoso Miranda. De surpresa – para vereadores acostumados a aprovar sem discussão qualquer coisa remetida pelo Executivo -, pelo menos 200 servidores lotaram a acanhada galeria e corredor do soi-disant Palacete Augusto Dias, uma construção da segunda ou terceira década do século XX, imobilizada como patrimônio histórico municipal. Em greve há quase um mês, os barnabés não regatearam nos protestos: Vanda Américo (PV, ex-PSB), com ligações particularíssimas com Tião Miranda, tentou defendê-lo e à sua oferta – já tida pela Procuradoria da Câmara como “inconstitucional”, por estar abaixo dos 8.57% concedido ao salário mínimo pelo governo federal – e mal começou a esbravejar a distinta galeria virou-lhe as costas, entre vaias. Um momento hilário foi proporcionado pelo vereador Adelmo Azevedo. “O Tião é um pai” – mal começou a falar foi calado pela vaia clamorosa da galera. “Peraí, gente, deixa eu falar!”, insistiu, desesperado para ser ouvido. “O Tião é um pai que quer matar os filhos de fome!”, disse enfim, sem alcançar o efeito esperado. Aliás, a emenda piorou o soneto. De vaia em vaia, o projeto acabou ficando de molho. Como não pode ser devolvido ao Executivo, sob pena de o reajuste ficar para o ano que vem, os servidores pediram que a Câmara acione a Comissão de Justiça para analisar o impacto na folha de pagamento dos 6,5% ofertados (que Miranda diz que será, no mínimo, de R$ 1 milhão por mês) e dos 12% desejados pela categoria. “É um risco que vamos correr, aguardando o resultado dessa análise, porque os vereadores podem muito bem se reunir longe da gente e aprovar o que quer o Tião”, observou um trabalhador, acrescentando que a greve continua. Na saída, após a sessão, outro servidor comentava: “Enquanto em Belém, o sindicato dos trabalhadores em educação denuncia e relaciona a prefeitura de Marabá entre as 16 que não gastaram o mínimo obrigatório de 60% de recursos do Fundef com o pagamento de professores em 2006, por aqui a Toinha, presidente do Sintepp e aliada do Tião, fica sabotando nossa greve.”

terça-feira, 12 de junho de 2007

Sem traumas?

Da newsletter do jornalista Raimundo José Pinto (Pará Negócios, de 11.06.07): Carlos Guedes deixa o governo de Ana Júlia e é substituído por José Júlio Como estava previsto, Carlos Guedes não é mais o secretário de Planejamento Participativo, Orçamento e Finanças do governo de Ana Júlia Carepa (PT). Nesta segunda-feira (11) ela assinou o decreto de nomeação de seu substituto, o então secretário-adjunto da Secretaria de Governo, José Júlio Ferreira Lima. Numa nota, Ana Júlia afirma que o pedido de exoneração de Guedes se motivada “por motivos profissionais” (leia a nota oficial abaixo). A nomeação está sendo publicada nesta terça-feira (12), no Diário Oficial do Estado (DOE). A posse ocorrerá na próxima semana. Em notícia divulgada por sua assessoria de imprensa, o governo afirma que, para alçar a nova função no governo do Estado, “José Júlio contou com sua experiência profissional, consolidada na área de Planejamento da Gestão Urbana e Regional”. ”No governo do Estado, a atuação de José Júlio ficou conhecida durante a implantação do Planejamento Territorial Participativo (PTP), do qual foi um dos responsáveis. O novo secretário pretende garantir a continuidade das ações de Planejamento no Estado do Pará, que serão intensificadas a partir do resgate do perfil da Sepof, após a transferência das Diretorias de Tesouro Estadual e de Gestão Contábil e Fiscal para a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa) e a recriação do Idesp”, diz a assessoria. De acordo com notícias divulgadas nas últimas semanas, o pedido de demissão de Guedes teria ocorrido pelo esvaziamento de suas atribuições no governo do PT, principalmente depois da transferência dessas duas diretorias para a Sefa. Guedes estaria se considerando desprestigiado pela governadora e por alguns de seus auxiliares diretos. Mas a notícia da assessoria do governo garante que, com a retirada das duas diretorias, “a Sepof será reestruturada para atender um dos principais objetivos da atual gestão que é a territorialização do planejamento”. 'Esta proposta se efetivará com a integração de esforços dentro do governo, sobretudo das secretarias de Planejamento, de Governo e de Integração Regional', declarou José Júlio. Ele disse ainda que a área de planejamento também ganhará reforço com a recriação do Idesp, extinto durante o governo de Almir Gabriel. 'O instituto será responsável pelo assessoramento das secretarias com a produção de análises sobre a realidade sócioeconômica do Estado. Será mais um componente para subsidiar as decisões políticas'. O novo titular da Sepof afirmou também que a secretaria recuperará as suas antigas funções fundamentais na área de planejamento. Ele informou que das cinco diretorias da Secretaria, foram mantidas a de Planejamento Estadual, a de Estudos, Pesquisas e Informações Socioeconômicas e a diretoria Administrativo-financeira. Somadas a essas três, foi criada a Diretoria de Relações Comunitárias. 'O governo do Estado busca equilibrar suas estruturas, definindo o perfil de suas secretarias e órgãos: Planejamento, Finanças, Pesquisa e Políticas de Governo', disse José Júlio. Perfil - Graduado em Arquitetura pela Universidade Federal do Pará (UFPA), o novo secretário tem mestrado em Arquitetura pela Fukui University, mestrado em Desenho Urbano pela Oxford Brookes University e doutorado em Arquitetura pela mesma instituição. Foi funcionário de carreira da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (Codem), de junho de 1986 a fevereiro de 1995, além de ter ocupado o cargo de diretor do Departamento de Desenvolvimento Municipal da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão (Segep) da Prefeitura de Belém, de março de 1995 a novembro de 1996. Leia a íntegra da nota do governo do Estado sobre a saída de Carlos Guedes: O governo do Pará informa que o secretário de Planejamento, Orçamento e Finanças, Carlos Mário Guedes de Guedes, a seu pedido, deixará de ocupar esse cargo a partir de amanhã (12), sendo substituído pelo atual secretário-adjunto de Governo, José Júlio Ferreira Lima. O governo reconhece o importante trabalho realizado pelo economista Carlos Guedes, que ocupou o cargo durante cinco meses. Desde o período da transição até seu último dia na Sepof, Carlos Guedes demonstrou competência, responsabilidade, transparência, honestidade e espírito público. Deu a toda a equipe um bom exemplo de organização e articulação popular quando tomou à frente de projetos como o Planejamento Territorial Participativo, o PTP, em todas as regiões do Estado. Diante de seu desligamento do governo, motivado por questões profissionais, a governadora Ana Júlia Carepa agradeceu ao sr. Carlos Guedes pelo papel que desempenhou em favor do crescimento sócioeconômico do Pará. Na disposição de implantar um novo modelo de desenvolvimento no Estado, o governo continua desenvolvendo seus projetos à luz de uma política descentralizada, democrática e voltada para o bem de todos os paraenses.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

O olho de deus na tarde de maio

Foto: Giordano Bruno

A arte em grãos - VII: Charles Trocate

Paraense de Castanhal, onde nasceu a 07.07.1977 à margem do rio Apeú, Charles Trocate faz 30 anos – 15 dos quais na militância do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em 2002 lançou em Marabá seu primeiro livro “Poemas de Barricada”. Antes, incursionara numa publicação coletiva que saiu do prelo com defeito e acabou sendo posta de lado. “A poesia de Charles Trocate cheira a rebelião e amor, tem gosto de revolta e indignação. Ela madruga nas ocupações, passeia nos contornos da rua de qualquer corrutela, caminha com nossos mártires pela eternidade da História, acalenta nossas mulheres, mães, irmãs, filhas, amantes, companheiras... e conspira contra a dor”, diz na apresentação Jorge Nery, então integrante da coordenação estadual do MST/PA, hoje secretário de Planejamento da administração petista Darci Lermen, em Parauapebas. No intróito do ainda inédito livro “Bernardo” – nome do seu filho, que faz 4 anos em 11 de julho, e no qual recorda as crianças dos acampamentos e assentamentos rurais -, a também militante do Movimento, Ayala Ferreira, expressa que: “Este livro vem de muito longe na história e, por isso mesmo, não tão fácil de percorrer os lugares que passou e conhecer amplamente o que indica. Não é fácil porque não se trata de idéias abstratas.” “Bernardo” é, de fato, um relato entranhado de amor aos companheiros, às crianças nascidas do lado de fora do arame farpado dos latifúndios, todos a viver debaixo da palha ou da lona preta à beira da estrada que às vezes leva a lugar nenhum. Dias difíceis (Para João Paulo Santos) Os dias estão difíceis e não há reparação nisso. Emoldurado no tempo dispenso a morte Cavo nos olhos da política a palavra desagradável. Enfrento com poesia a estupidez até expor O brilho dessa emoção diária - lutar. Quero a repartir entre nós este abraço fraterno A carne que brame em seu covil e nesta voz não remida desdizer a fome. Arrasto do mar a lírica e na noite condenso o grito suado na garganta. A fé, contudo, irrompe corpo e idéia. Manifesto à lei Para Diassis Soledade Nesses dias tão difíceis o que vale um homem e seu coração? É perigoso demais sonhar (diz a lei) mas para o trabalho nos roubam as mãos. O homem caminha até seu limite E não há riso, não há festa no olhar: só o rude o sol sobre a pele! O mais simples dos gestos Foi pisoteado pelo som da miséria Digo sem silêncio e com nojo das siglas uniformes - neoliberalismo, mercado, burguesia, guerra, governo, policia, juiz, burocrata, monopólio, presidente, senador, governador, deputado etc etc... Ah! Imperialismo, voto, eleição, democracia! A revolta terá meu nome! Repito como aprendi na infância A revolta terá meu nome! Cotidiano Para Lidenilson Escavo profundezas no coração do tempo. É quase horizonte meu gesto. Com ele tenho caminhado sem deixar a exaustão alojar-se onde mais humano sou Cavo no chão o assunto do amor; Com ele aprendi a residir na pele da noite com a bandeira da vida. Sim. É preciso caminhar: enfrentar o dragão que insulta o pão que ponho à mesa com o músculo da luta a genial invenção da felicidade Devastado Não se faz poema assim, com cisco no olho estaca no coração Estranhamente devastado pela dor. Não se vive assim! Não assisto meu tempo passar. Duelo no mínimo todo dia e no máximo amo! É assim? Ressôo A Elde Monteiro Ao pé da árvore coloco toda sujeição dos versos Não sei fragmentar-lhes os músculos Nem supor romantismo nas pétalas do dia. Alguém cortou essa árvore e sua política fez do assombro os móveis da sala ingovernada. Alguém mesmo me disse um dia: “A beleza está a ermo e sem aparência.” Ao pé da árvore deixei os livros e suas maturações E escuto um tom. Quanta festividade tem a pele do palhaço O estômago, os pés e a falência? Ao pé da árvore enterro os mortos que tremulam em meu peito. Suas ciências, porém, continuam atadas ao sol, morando neste endereço oblíquo. À meia-noite A Eli Que ciência tem a brincadeira da flor Em transformar-se em cor? Quem terá o coração férvido Quando esse estalo chegar? O mundo pela palavra te cheira A língua pela circunstância lambe o sol O que cinde a vida é esse segredo. Dei-me o coração dos fatos A rima faceira de tuas mãos... Voar é isso: cair de dentro do assunto do amor, o que se acumulou. Permitir o que vale e sobra e resulta da vida que reportamos depressa.

Miudezas...

Colega me esculhamba porque este blog não trata de miudezas, picuinhas domésticas. Isso aqui, explico com pachorra, não é uma prosa de comadres de subúrbio sobre quantos ovos a galinha pôs ou deixou de botar. "Mas você devia olhar mais pra cidade, nos defender...", resmunga. Penso em dizer-lhe que a Defensoria Pública é mais adiante, mas me lembro que as três únicas amigas que lá butam não tem mais como ajudar tanta pobreza juridicamente abandonada. Por desfastio, então, eu lhes conto o que vai na casa-da-mãe joana. 1. Carretões com engradados de cerveja, enfileirados à porta do depósito do Supermercado Alvorada, na Folha 26, há mais de ano obstruem o trânsito quando descarregam. Hoje de manhã, quando as travancas ocupavam a calçada inteira do depósito e mais metade da VP-8, ninguém praticamente conseguia chegar ao largo do Banco do Brasil - onde ficam mais os Correios, o Centro Administrativo e, adiante, o Terminal Rodoviário. Nem tinha como segyuir rumo ao Hospital Militar, à Vila Pres. Castelo Branco e à rodovia Transamazônica. O estilo "tranca-rua" não é exclusividade do Alvorada. Perto do Cemitério da Saudade, na Folha 19, o depósito da Leolar apronta da mesmíssima forma. 2. Embora em 2006 tenha sido feito um sistema de drenagem no aterro de lixo sobre o qual foram construídos seus três prédios, o Fórum de Marabá continua com rachaduras nas paredes e o piso com afundamento. Aparentemente, o risco de um desabamento ou o que seja parece afastado. Homens e andaimes estão desde a manhã desta segunda-feira recuperando o telhado das construções que mal chegaram aos dois anos e meio. Sob o telhado, faltam mais serventuários nos cartórios, um pedido permanente e nunca atendido de todos os juízes que assumem a direção do Fórum. 3. Os ônibus que ligam Morada Nova (o bairro que fica no km-12 da PA-150) à Cidade Nova faz uma única viagem por dia, neste trecho, às seis da manhã. Durante o tempo restante, quem quiser ir da Cidade Nova para Morada Nova vai ter de pegar um coletivo até à Marabá Pioneira ou à Nova Marabá, para então alcançar o Morada Nova. Temos aqui um conselho municipal de transporte cuja principal atividade, parece, é aprovar aumento de tarifa. Triste cidade!

domingo, 10 de junho de 2007

Nonadas

Encontrei na manhã de domingo, na feira da Folha 28, um cidadão que já definiu seu candidado para a eleição que aí vem: vai votar no ex-prefeito cassado (1989/92) Nagib Mutran Neto para vereador. Fonte de rua, que não é chafariz, me assegurou que a deputada federal Bel Mesquita vai recandidatar-se à prefeitura de Parauapebas. É o esquemão do PMDB no sudeste do Pará, o que inclui, digamos, nova tentativa de Asdrúbal à prefeitura de Marabá, com vistas a eleger Helder Barbalho governador do Estado. Como se vê, são informações absolutamente irrelevantes.

Estranha flor

Obrigado, Adé!

Desculpa esfarrapada


A estrada São Domingos/São Geraldo do Araguaia está praticamente abandonada. Há anos, aliás. Noticiou-se há pouco que duas empresas a estariam recuperando. Não vi nenhuma em trabalho. Em lugar nenhum. Como a estrada passa no centro da cidade de São Geraldo, o prefeito esperto espalhou na área urbana um aviso que ele não tem nada a ver com buraqueira.

Vejam aí


Alfabeto

Amigos, recebi da amada Lúcia Santis, de Brasília, apaixonada pela língua e pelas letras. Acho que isso vai interessar a todos, principalmente aos professores e àqueles que escrevem e usam a língua portuguesa como ferramenta, e aos que lêem... Pessoalmente, acho que vou ter problemas para reciclar-me (melhor, fiscalizar-me após tantos anos de manejo da língua como a temos atualmente. Vamos ver... Por enquanto, estou com a impressão de vamos involuir. Alfabeto passa a ter 26 letras Está para entrar em vigor a unificação da Língua Portuguesa que prevê, entre outras coisas, um alfabeto de 26 letras. "A frequência com que eles leem no voo é heroica!". Ao que tudo indica, a frase inicial desse texto possui pelo menos quatro erros de ortografia. Mas até o final do ano, quando deve entrar em vigor o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", ela estará corretíssima. Os países-irmãos Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, terão, enfim, uma única forma de escrever. As mudanças só vão acontecer porque três dos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), ratificaram as regras gramaticais do documento proposto em 1990. Brasil e Cabo Verde já haviam assinado o acordo e esperavam a terceira adesão, que veio no final do ano passado, em novembro, por São Tomé e Príncipe. Tão logo as regras sejam incorporadas ao idioma, inicia-se o período de transição, no qual ministérios da educação, associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos recebam as novas regras ortográficas e possam, gradativamente, reimprimir livros, dicionários, etc. O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros. Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país. O que muda: *** As novas normas ortográficas farão com que os portugueses, por exemplo, deixem de escrever "húmido" para escrever "úmido". *** Também desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como por exemplo, nas palavras "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto". Mas também os brasileiros terão que se acostumar com algumas mudanças que, a priori, parecem estranhas. *** As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo". *** Também não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos: "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia: "creem", "deem", "leem" e "veem". *** O trema desaparece completamente. Estará correto escrever "linguiça", sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de: lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio. *** O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", do "w" e do "y". *** O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição). Outras duas mudanças: *** Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como : "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos". *** A eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como: "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia". Antônio Houaiss A escrita padronizada para todos os usuários do português foi um estandarte de Antônio Houaiss, um dos grandes homens de letras do Brasil contemporâneo, falecido em março de 1989. O filólogo considerava importante que todos os países lusófonos tivessem uma mesma ortografia. No seu livro "Sugestões para uma política da língua", Antônio Houaiss defendia a essência de embasamentos comuns na variedade do português falado no Brasil e em Portugal . Fontes para comentar o assunto: http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdEdicao=1123&intIdConteudo=72641 http://www.brasilportugal.org.br/nacional/content.php?sec=300&ctg=noticias ** William Roberto Cereja - Mestre em Teoria Literária pela USP, Doutor em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Professor graduado em Português e Lingüística e licenciado em Português pelo ensino em São Paulo e autor de obras didáticas. ** Marcia Paganini Cavéquia - Professora graduada em Português e Literaturas de Língua Portuguesa; Inglês e Literaturas de Língua Inglesa pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pós-graduada em Metodologia da Ação Docente pela UEL, Palestrante e consultora de escolas particulares e secretarias de educação de diversos municípios e autora de livros didáticos. ** Cassia Garcia de Souza - Professora graduada em Português e Literaturas de Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pós-graduada em Língua Portuguesa pela UEL, Palestrante e organizadora de cursos para professores da rede de ensino, Assessora pedagógica e autora de livros didáticos. Abraços