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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Manjar de corrupção, Norte-Sul será inaugurada com a Copa

(Por Lúcio Flávio Pinto, Vale q Vale, 09/08/2013)

Paulo Augusto Vivacqua foi um dos atores principais na epopeia da construção da ferrovia de Carajás, que iria transportar o minério de ferro da Serra de Carajás, no Pará, até o porto da Ponta da Madeira, no Maranhão. O trem entrou em funcionamento em fevereiro de 1985, tornando-se o maior escoadouro de ferro bruto do mundo.
Vivacqua recebeu então uma nova missão: deixar a empresa à qual estava vinculado, a então estatal Companhia Vale do Rio Doce, e assumir a condução do projeto de outra grande ferrovia. A Norte-Sul interligaria a ferrovia de Carajás a outra grande via de escoamento de minério de ferro, mais antiga, ao sul.
Desde os anos 1940, a Vitória-Minas conduzia minério do quadrilátero ferrífero mineiro até o porto de Tubarão, em Vitória, capital do Espírito Santo, onde o engenheiro Vivacqua nasceu, de uma tradicional família capixaba.
Para realizar o novo projeto, a Vale inspirou a criação de outra estatal, a Valec (cuja denominação já diz tudo sobre sua origem), da qual Vivacqua se tornou o primeiro presidente. Ele ganhou logo o apoio do presidente da república, o maranhense José Sarney, o primeiro civil a assumir o cargo depois de 25 anos de generais indicados por seus pares e sacramentados através de eleições indiretas sob o controle dos militares e seus aliados.
A Vale fez uma concessão aos políticos, que transformaram a Norte-Sul num manjar de corrupção, irregularidades e incompetência. Mas talvez essas características, tão discrepantes do padrão da mineradora, não deixassem de atender aos seus interesses: o avanço da nova ferrovia podia ser lento e acidentado enquanto não fosse atingida a capacidade plena das suas duas concessões ferroviárias (com duração de 50 anos), no norte e no sul do país; ou até que se tornasse recomendável uma nova estratégia, para completar a ligação entre elas.
Esse momento parece ter chegado. Desde 1987, quando começou a sua acidentada história, a Norte-Sul já engoliu mais de cinco bilhões de reais de dinheiro público. Com a aplicação de mais R$ 400 milhões para corrigir o que foi feito de errado na linha e completar os trechos inacabados ou ainda sem circulação, ela estará em condições, no próximo ano, de servir de elo entre Carajás e Vitória-Minas, além de ser útil a outras ligações na direção do litoral nordestino.
Sintomaticamente, a Vale está duplicando a capacidade de armazenagem para utilizar na plenitude o potencial de embarque de grãos e carga geral no seu porto privativo em São Luiz, tanto para estar à altura da duplicação da estrada de Carajás quanto para passar a absorver os carregamentos da Norte-Sul. A partir dela, os trens poderão usar a antiga linha que vai até Vitória.
Essa nova alternativa permitirá a economia de quatro mil quilômetros de frete marítimo para a Europa e sensíveis ganhos, através do canal do Panamá, para a China, destino cada vez mais frequente dos navios que carregam em São Luiz. Eles ganhariam um pouco mais se saíssem de Barcarena, no Pará. Para que isso aconteça, o governo federal aprovou a inclusão do trecho de Açailândia, no Maranhão, ao município paraense, a 50 quilômetros de Belém.
Com uma diferença fundamental: esses 480 quilômetros da Norte-Sul, ao contrário de todos os outros, serão executados pela iniciativa privada e não pela Valec. O trecho foi incluído no Programa Nacional de Desestatização, criado em 1997. A Agência Nacional de Transportes Terrestres foi designada para assumir o encargo, sob a supervisão do Ministério dos Transportes. 
Como explicar esse estranho procedimento, que discrepou do que prevaleceu e continua a ter vigência nas obras do restante da ferrovia? A explicação seria a de que a iniciativa privada se interessaria tanto por esse prolongamento que permitiria ao governo poupar seu próprio capital para completar o traçado original completo da linha, com 2,2 mil quilômetros de extensão, de São Paulo ao Maranhão.
Não foi assim em relação ao programa nacional de novas ferrovias. No mês passado, o governo teve que quebrar o ceticismo e mesmo o desinteresse dos empresários editando a Medida Provisória 618. Ela passou a dar garantias da União às suas entidades controladas e autorizou o aumento de capital da Valec (Engenharia, Construções e Ferrovias) em até R$ 15 bilhões. 
Para assegurar a rentabilidade dos novos trechos, o governo também decidiu comprar toda capacidade de carga transportada através de ofertas públicas. Acredita que a medida reforçará as licitações que serão realizadas no segundo semestre, de 10 mil quilômetros de ferrovias, incluindo o novo trecho da Norte-Sul.
Ao mesmo tempo, inibiria o “risco Valec”.  A estatal foi considerada como a mais ineficiente do Brasil pelo Latin American Studies Association (Lasa), em estudo divulgado no mês passado.
Esse enorme volume de recursos que o governo aplicará na compra de tudo que tais ferrovias irão transportar servirá como um fundo de liquidez e só poderá ser usado pela  Valec para pagar os concessionários privados. Será o suficiente para atrair para a Norte-Sul os investidores que nunca se interessaram pela ferrovia até agora?
Ou será um leilão com cartas marcadas, destinado a ser arrematado por quem já acertou com o governo assumir a extensão da ferrovia? Ou então é um arranjo para, mais uma vez, enganar os paraenses, que sempre defenderam o prolongamento de Açailândia para Barcarena?
De qualquer maneira, o que impressiona é que essas grandes obras assumem novas formas quando, vindas de outros lugares, penetram em território paraense. E aí passam a se tornar problemáticas. Depois de quase três décadas empacada na transposição da barragem de Tucuruí, a hidrovia do Tocantins agora emperrou na derrocagem do trecho a montante da hidrelétrica, que permitiria a navegação sem impedimentos até Marabá. Justamente quando a forma de construir a Norte-Sul é alterada, a menos de 500 quilômetros de Barcarena.
Talvez isso ocorra porque os paraenses não só não protestam ou adotam qualquer outro meio de se manifestar, como também nem se interessam por saber o que acontece. Choca, mas não surpreende: esta é uma terra sem lideranças verdadeiras.

Livro bomba: O príncipe da privataria

Do sítio da Editora Geração:

Uma grande reportagem, 400 páginas, 36 capítulos, 20 anos de apuração, um repórter da velha guarda, um personagem central recheado de contradições, poderoso, ex-presidente da República, um furo jornalístico, os bastidores da imprensa, eis o conteúdo principal da mais nova polêmica do mercado editorial brasileiro: O Príncipe da Privataria – A história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou sua reeleição (Geração Editorial, R$ 39,90).


Com uma tiragem inicial de 25 mil exemplares, um número altíssimo para o padrão nacional, O Príncipe da Privataria é o 9° título da coleção História Agora da Geração Editorial, do qual faz parte o bombástico A Privataria Tucana e o mais recente Segredos do Conclave.

O personagem principal da obra é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o autor é o jornalista Palmério Dória, (Honoráveis Bandidos – Um retrato do Brasil na era Sarney, entre outros títulos). A reportagem retrata os dois mandatos de FHC, que vão de 1995 a 2002, as polêmicas e contraditórias privatizações do governo do PSDB e revela, com profundidade de apuração, quais foram os trâmites para a compra da reeleição, quem foi o “Senhor X” – a misteriosa fonte que gravou deputados confessando venda de votos para reeleição – e quem foram os verdadeiros amigos do presidente, o papel da imprensa em relação ao governo tucano, e a ligação do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) com a CIA, além do suposto filho fora do casamento, um ”segredo de polichinelo” guardado durante anos…

Após 16 anos, Palmério Dória apresenta ao Brasil o personagem principal do maior escândalo de corrupção do governo FHC: o “Senhor X”. Ele foi o ex-deputado federal que gravou num minúsculo aparelho as “confissões” dos colegas que serviram de base para as reportagens do jornalista Fernando Rodrigues publicadas na Folha de S. Paulo em maio de 1997. A série “Mercado de Voto” mostrou da forma mais objetiva possível como foi realizada a compra de deputados para garantir a aprovação da emenda da reeleição. “Comprou o mandato: 150 deputados, uma montanha de dinheiro pra fazer a reeleição”, contou o senador gaúcho, Pedro Simon. Rodrigues, experiente repórter investigativo, ganhou os principais prêmios da categoria no ano da publicação.

Nos diálogos com o “Senhor X”, deputados federais confirmavam que haviam recebido R$ 200 mil para apoiar o governo. Um escândalo que mexeu com Brasília e que permanece muito mal explicado até hoje. Mais um desvio de conduta engavetado na Era FHC.

Porém, em 2012, o empresário e ex-deputado pelo Acre, Narciso Mendes – o “Senhor X” –, depois de passar por uma cirurgia complicada e ficar entre a vida e a morte, resolveu contar tudo o que sabia.

O autor e o coautor desta obra, o também jornalista da velha guarda Mylton Severiano, viajaram mais de 3.500 quilômetros para um encontro com o “Senhor X”. Pousaram em Rio Branco, no Acre, para conhecer, entrevistar e gravar um homem lúcido e disposto a desvelar um capítulo nebuloso da recente democracia brasileira.

O “Senhor X” aparece – inclusive com foto na capa e no decorrer do livro. Explica, conta e mostra como se fazia política no governo “mais ético” da história. Um dos grandes segredos da imprensa brasileira é desvendado.

20 anos de apuração

Em 1993, o autor começa a investigar a vida de FHC que resultaria neste polêmico livro. Nessas últimas duas décadas, Palmério Dória entrevistou inúmeras personalidades, entre elas o ex-presidente da República Itamar Franco, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes e o senador Pedro Simon, do PMDB. Os três, por variadas razões, fizeram revelações polêmicas sobre o presidente Fernando Henrique e sobre o quadro político brasileiro.

Exílio na Europa
Ao contrário do magnata da comunicação Charles Foster Kane, personagem do filme Cidadão Kane, de Orson Welles, que, ao ser chantageado pelo seu adversário sobre o seu suposto caso extraconjugal nas vésperas de uma eleição, decide encarar a ameaça e é derrotado nas urnas devido a polêmica, FHC preferiu esconder que teria tido um filho de um relacionamento com uma jornalista.

FHC leva a sério o risco de perder a eleição. Num plano audacioso e em parceria com a maior emissora de televisão do país, a Rede Globo, a jornalista Miriam Dutra e o suposto filho, ainda bebê, são “exilados” na Europa. Palmério Dória não faz um julgamento moralista de um caso extraconjugal e suas consequências, mas enfatiza o silêncio da imprensa brasileira para um episódio conhecido em 11 redações de 10 consultadas. Não era segredo para jornalistas e políticos, mas como uma blindagem única nunca vista antes neste país foi capaz de manter em sigilo em caso por tantos anos?

O fato só foi revelado muito mais tarde, e discretamente, quando Fernando Henrique Cardoso não era mais presidente e sua esposa, Dona Ruth Cardoso, havia morrido. Com um final inusitado: exame de DNA revelou que o filho não era do ex-presidente que, no entanto, já o havia reconhecido.

Na obra, há detalhes do projeto neoliberal de vender todo o patrimônio nacional. “Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo”, relatou o jornalista que desvendou o processo privativista da Era FHC, Aloysio Biondi, no livro Brasil Privatizado.

O Príncipe da Privataria conta ainda os bastidores da tentativa de venda da Petrobras, em que até a produção de identidade visual para a nova companhia, a Petrobrax, foi criada a fim de facilitar o entendimento da comunidade internacional. Também a entrega do sistema de telecomunicações, as propinas nos leilões das teles e de outras estatais, os bancos estaduais, as estradas, e até o suposto projeto de vender a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. “A gente nem precisa de um roubômetro: FHC com a privataria roubou 10 mil vezes mais que qualquer possibilidade de desvio do governo Lula”, denuncia o senador paranaense Roberto Requião.

Sobre autor:
Palmério Dória é repórter. Nasceu em Santarém, Pará, em 1949 e atualmente mora em São Paulo, capital. Com carreira iniciada no final da década de 1960 já passou por inúmeras redações da grande imprensa e da “imprensa nanica”. Publicou seis livros, quatro de política: A Guerrilha do Araguaia; Mataram o Presidente — Memórias do pistoleiro que mudou a História do Brasil ; A Candidata que Virou Picolé (sobre a queda de Roseana Sarney na corrida presidencial de 2002, em ação orquestrada por José Serra); e Honoráveis Bandidos — Um retrato do Brasil na Era Sarney ; mais dois livros de memórias: Grandes Mulheres que eu Não Comi, pela Casa Amarela; e Evasão de Privacidade, pela Geração Editorial.

Ficha Técnica:

O Príncipe da Privataria
Autor: Palmério Dória
Coleção: História Agora – 9 vol.
Gênero: Reportagem
Acabamento: Brochura
Formato: 16 x 23 cm
Págs: 400
Peso: 552g
ISBN: 9788581302010
Preço: R$ 39,90
Editora: Geração

Como foi a compra da reeleição de FHC

Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:

Chega hoje, sexta-feira, 30 de agosto, às livrarias o ”Príncipe da Privataria”, do jornalista Palmério Dória - autor do best seller ”Honoráveis Bandidos”, que já vendeu 130 mil cópias.
“O Príncipe da Privataria” é Fernando Henrique Cardoso, muitas vezes chamado de “Príncipe da Sociologia”.
“Privataria” está no título de outro best seller da editora Geração, “Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Junior.
Dos 25 mil exemplares do “Príncipe” já impressos, 17 mil chegam hoje, às livrarias de todo o país.
Para isso, foi necessária uma operação de guerra da Geração.
Ela teve que manter em segredo as gráficas que imprimiam, variou as rotas de distribuição e, com isso, evitar vazamentos que antecipassem o lançamento do livro – e processos judiciais de censura.
O editor da Geração, Luiz Fernando Emediato, conta na “Nota do Editor” que um amigo tucano lhe telefonou para pedir que não publicasse o livro e contar que já constituía advogado.
Na verdade, a editora suspeita que o vazamento da notícia do lançamento do livro tenha partido de uma rede de livrarias paulistas, notoriamente tucana, ao saber da chegada dos exemplares.
O “Privataria Tucana” foi boicotado por algumas livrarias de São Paulo, apesar de se tornar um best seller em poucos dias.
Ser um best seller é o destino que espera “O Príncipe da Privataria”. 
Entre as revelações está a identidade do “Senhor X”, personagem de uma série de reportagens assinadas pelo jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.
O ”Senhor X” gravava as conversas dos deputados comprados para aprovar a reeleição do Fernando Henrique, em 1997, e entregava a Rodrigues.
Numa série de reportagens, depois de denuncia da compra de votos feita pela CNBB, Conferência Nacional dos Bispos, Rodrigues reproduzia as gravações que recebia do “Senhor X”.
E jamais o identificou.
Nem o PiG jamais se interessou em saber quem era o “Senhor X”.
Foi o que fez Palmério.
Ainda na Nota do Editor, Emediato conta que, um dia, num encontro em San Francisco, nos Estados Unidos, Fernando Henrique, em conversa com o sociólogo Bolivar Lamounier e ele, Emediato, teria se referido ao escândalo de Caixa Dois de PC Farias:
Nenhum partido e nenhum candidato pode prescindir de recursos ilegais.
“Mas, a diferença entre ‘nós’ e ‘eles’ – disse FHC – é que ‘nós’ gastamos nas campanhas enquanto ‘eles’ enfiam boa parte em seus próprios bolsos.
O livro descreve pormenorizadamente a Privataria desenfreada – e especial atenção merece a venda da Vale do Rio Doce por um terço do que valia.
E, nela, o papel decisivo de Ricardo Sergio de Oliveira.
E a pressão “irresistível” do Padim Pade Cerra, como o próprio FHC reconhece neste vídeo.
Ricardo Sergio de Oliveira – um nome que não se deve, por cortesia, pronunciar na frente de um tucano – , depois, reaparece, com raro brilho, na privatização das teles: “só um bobo dá a telefonia para estrangeiros”, disse Bresser-Pereira, antes mesmo de deixar o PSDB.
Ricardo Sérgio é o “Mr Big”, o cérebro articulador das operações do clã Cerra na Privataria Tucana do Amaury.
Palmério descreve, também, a tentativa de vender a Petrobrax.
Trata da relação monetária entre Fernando Henrique e um de seus principais financiadores, José Eduardo de Andrade Vieira, então dono do Bamerindus.
Palmério desmistifica o “Príncipe dos Sociólogos”: FHC levou bomba duas vezes na admissão ao Colégio Militar e uma, ao tentar entrar para Faculdade de Direito da USP.
Um jenio…
No PiG…
Sobre o jenio, leia, ali, o que Millor Fernandes e João Ubaldo Ribeiro diziam do jenio…
Palmerio traz uma tabela com tudo o que o FHC vendeu.
E outra que compara o desempenho do Presidente FHC com o Presidente Lula: é uma surra, como demonstrou João Sicsú.
E mostra, com detalhes, a cumplicidade da Globo, do Padim Cerra – e do PiG – na operação de abafa do que poderia ser um obstáculo à carreira de Fernando Henrique: o filho de uma repórter da Globo, em Brasília, e sua rápida remoção para Lisboa e Barcelona.
O ansioso blogueiro entrevistou nessa quinta-feira (29), por telefone, o autor do livro, o jornalista Palmério Dória. 
*****

Acompanhe a conversa, com modificações para facilitar a leitura.

Esse livro tem uma revelação – entre muitas – que é a identidade do ”Senhor X”, o homem que conta tudo sobre a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Palmério, quem é o “Senhor X”?

O “Senhor X” é uma eminência parda do Acre, isso a gente percebeu logo que o encontrou. 

Uma figuraça, elétrica! 

Ele é dono de uma retransmissora do SBT; dono de acadêmias de ginástica; prédios e até de um cemitério.

Na campanha da reeleição, ele pegou pela proa a bancada acreana e tirou deles a confissão de que a reeleição estava sendo comprada pelo Serjão Motta (ex-ministro das Comunicações do Governo FHC); Orlei Cameli, então governador do Acre; e pelo Amazonino Mendes (ex-governador do Amazonas).

Isso era só a frente acreana. Na verdade essa compra, pelas contas do Senador Pedro Simon (PMDB-RS), chega a 150 deputados, pelo menos.


Ele (o ”Senhor X”) se chama Narciso Mendes, não é isso?
Isso, chama-se Narciso Mendes.

É um potiguar; passou por Belém; casou com uma moça chamada Célia; foi viver no Acre e fez a vida lá.

Foi deputado na Constituinte, depois não se reelegeu, mas a mulher dele se elegeu. Daí ele tinha acesso livre ao Congresso.

Como é um cara muito simpático, despachado, desempenado, ele foi procurado pelo repórter Fernando Rodrigues, da Folha (*), que através de uma intermediação feita pelo Carlos Aírton – outro deputado da época (também do estado do Acre) – Narciso começou a gravar com um gravadorzinho pequenino, que o Fernando Rodrigues tinha, japonês.

Nem precisava perguntar, as pessoas já chegavam contando tudo.

Isso dessa porção acreana da compra de votos.

Agora, o Narciso é também um segredo de polichinelo, né?

Por quê?
Porque todo mundo sabe que esse homem existe, que é o Narciso Mendes, e ninguém se ocupou, ninguém quis ouvi-lo; chegar lá e dizer: “então, o senhor é o ”Senhor X”, vamos conversar”.

E o Fernando Rodrigues reproduziu as gravações na Folha…
O Fernando Rodrigues reproduziu, essa matéria teve grande repercussão, o Fernando Rodrigues na época foi capa na revista Caros Amigos. Aliás, a capa foi o próprio gravador que ele usou nas gravações com o ”Senhor X”.

Pena que tenha chegado dez dias depois de a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) – que naquela época era a CNBB de guerra – denunciar que havia um esquema de compra de votos. Algum tempo depois, veio a matéria (da Folha).

Então, o Narciso Mendes gravou, passou a gravação ao Fernando Rodrigues, que transcrevia a gravação e sempre se referia a ele, Narciso, como ”Senhor X”?
Sempre se referia a ele como ”Senhor X”, e assim ele apareceu na capa de Caros Amigos.

Por que o ”Senhor X”, que era um segredo de polichinelo, resolveu sair da toca e se identificar agora?
Ele passou por maus bocados de saúde e achou que tinha de contar essa história antes de morrer.

Mas, o fato é que ele está muito longe disso, ele tem saúde para dar e vender e, seguramente, vai viver mais do que eu.

Ele tem um cemitério lá, né? Ele me levou para conhecer o cemitério e eu me candidatei a uma vaga para quando eles implementarem a cremação.

Você diz que as gravações se referem à compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique na bancada do Acre. Quanto se pagava por deputado na bancada do Acre?
Pagava 200 mil reais. Era um esquema dos tempos dos coronéis, pagava-se em cheque.

Era uma espécie de pré-pago. Depois (de votar) eles trocariam o cheque.

Mas, ai, alguém os advertiu: cheque, né? É como alguém dar um cheque para um traficante – não estou comparando os deputados com os traficantes, mas é por ai.

Ai alguém falou: “é melhor pagar em dinheiro”. Ai passaram a fazer o pagamento em dinheiro, os deputados saiam com sacolas de dinheiro.

E quem é que comprava?
Nessa operação, no caso do Acre, o Amazonino Mendes, então governador do Amazonas; o Orlei Cameli, do Acre, e outros que eu não sei.

Mas, o Acre é apenas uma ponta, como o Pedro Simon deixa claro.

O seu livro fala que, nas conversas (gravadas) aparecia claramente, como última instância do processo, o Sérgio Motta, ministro das Comunicações do Fernando Henrique.
Isso. Aparece na época claramente nos jornais. Publicaram o envolvimento dele, as acusações contra ele.

E depois, o Fernando Henrique, sem citar o nome de Narciso Mendes, fala desse episódio no livro ”Arte da Política” – um catatau de umas setecentas páginas, naquele estilo gorduroso de que você fala, né?

Isso, cheio de colesterol…
Cheio de colesterol!

O fato é que é segredo de polichinelo, Paulo, porque todo mundo sabia quem era a peça, quem era a figura, quem fez as gravações. A certa altura do livro, o Fernando Henrique, sem citá-lo, começa a falar dele, começa a desqualificá-lo.

Mas, o fato é que falaram em CPI nessa época, e não houve CPI. A Comissão de Constituição e Justiça ouviu alguns deputados – como você sabe, dois deputados acreanos renunciaram logo em seguida, sobre pressão.

Muito bem, o fato que é que quando se falava em ”Senhor X”, ninguém quis ouvi-lo, nem CPI nem a Comissão de Constituição e Justiça.

Então são 200 mil em dinheiro, para a bancada do Acre. O Pedro Simon calcula que tenham sido comprados 150 deputados. Então é 200 mil, vezes, 150, não é isso? E em dinheiro vivo!
Em dinheiro vivo! Bufunfa; maçaranduba; e em sacolas.

E eu acredito que os comprados do “sul maravilha” não se venderam por 200 mil reais.

Então deve ter sido mais ? Mais de 30 milhões de reais?
Eu acho que sim, acho que sim.

O problema do tucanato é o seguinte: eu até te perguntei de quanto deveria ter sido a roubalheira e você não consegue mensurar. Eu acho que nem um computador de última geração desses da NASA consegue mensurar a escala de roubo quando você fala de tucanato.

Agora tem esse negócio de Trensalão.
É, não dá pra você calcular…

Palmério, o Fernando Henrique já se referiu a esse episódio dizendo que ele e o PSDB não precisavam comprar ninguém, porque a maioria absoluta era a favor da reeleição. No seu livro, o Narciso Mendes contesta esse argumento. Como é que o Narciso contesta isso?
Ele diz que, por exemplo, o Orlei Cameli não se candidatou à reeleição.

Já começa por ai. No caso acreano, o governador não se candidatou à reeleição. Ele desmonta a tese do Fernando Henrique com esse simples fato.

Outro argumento do Fernando Henrique é que ele não precisava (buscar a reeleição), mas quem precisava eram os governadores, que estavam tão interessados na reeleição quanto ele. Porque se beneficiariam. Então, pelo mesmo raciocínio do Cameli, você desmonta esse argumento.
Claro, Claro, sem a menor dúvida.

Então, você vê o esforço que foi feito para ele ( Narciso) não ser ouvido. Como se passam 13 anos e esse cara nunca foi procurado para falar ? Nunca.

Você acredita que o Luís Eduardo Magalhães – você cita ele no seu livro como presidente da Câmara – interveio nesse processo bombardeando a ideia de uma CPI, é isso?
Sim, sim, foi criado ali um bloqueio total.

Era o bate-bola permanente entre os dois, os dois que faleceram, o Luís Eduardo e o Serjão.

O Serjão era o grande operador, ele e seu projeto de 20 anos (de tucanos no poder).

Você reproduz no livro uma frase muito interessante do Serjão: “95% das coisas que eu digo foi o Fernando Henrique quem falou; os os outros 5% é o que ele pensa e não diz”.
Ou seja, é impossível, que o Fernando Henrique não soubesse do que estava rolando nos bastidores.

O desconforto com o qual ele fala disso no livro é a maior bandeira.

O livro “Príncipe da Privataria” é, na verdade, um perfil muito rico, muito detalhado, uma pesquisa minuciosa feita por você e pela sua equipe, e que trata de muitos assuntos.

Trata da Privataria de uma forma geral; trata de outros tipos de financiamento da campanha do Fernando Henrique, como a ligação dele com o então presidente do Banco Bamerindus (Andrade Vieira); trata do processo vil que foi a venda da Vale do Rio Doce.

Tem um episódio muito importante narrado pelo delegado Protógenes Queiroz, que é uma ligação muito mal explicada pelo Fernando Henrique – a relação dele com títulos da dívida externa brasileira em posse do banco francês Paribas.
 
De quando ele era ministro da Fazenda e o Armínio Fraga era o homem do Banco Central.

Tem um componente importante desse seu livro que é a cumplicidade da imprensa brasileira no episódio do filho que o Fernando Henrique Cardoso pensou por muito tempo ter tido com uma jornalista da TV Globo.

Qual é a relação desse episódio com a TV Globo? Como que a Globo participa desse processo de acobertar um fato público, que é o presidente da República ter um filho, ou supor ter um filho, com uma jornalista de vídeo, da emissora de televisão mais vista do país.

Onde se casam – sem trocadilhos – Fernando Henrique Cardoso e a Globo nesse caso do filho que ele reconheceu e que, na verdade, não era dele.
 
É o Proer da imprensa, eis aí uma tese de doutorado, Paulo Henrique. A figura central da TV Globo nesse caso é o Alberico Souza Cruz – que tomou o lugar do Armando Nogueira depois que manipulou aquele debate Lula x Collor.

Então, ele passou a circular com desenvoltura por Brasília.

Ele era amigo da Míriam Dutra (jornalista que teve o suposto filho de FHC) – ela era subordinada dele, né? – e era muito amiga da Rita Camata (ex-deputada federal), que, por coincidência, começou a aparecer em todos os espaços (da Globo), especialmente no Jornal Nacional.

Ele (Alberico) era um dos bombeiros. O outro era o José Serra, o planejador; e o Serjão, o operador.

Foram eles que operaram a transferência da Míriam para SIC, (Sociedade Independente de Comunicação), em Portugal (associada à Globo).

Não à toa: o Alberico é padrinho do Tomás (suposto filho de FHC).

Então, o Alberico remove a Míriam para Lisboa e apadrinha o menino?
Apadrinha o menino, depois ela é transferido para Barcelona.

Agora, como houve o Proer dos bancos houve um Proer da imprensa.

Um dinheiro oficial, e até mesmo privado, em uma quantidade imensa, incalculável, para comprar o silêncio da mídia sobre o filho de Míriam Dultra, o “bolsa pimpolho”, como muitos denominaram.

Eu acho que todos os veículos de comunicação investigaram o caso, mas não publicaram. Alegaram que era para ter e usar apenas se o concorrente furasse; matéria de gaveta, como se diz.

Isso lembra um arsenal dissuasório, como se diz: ”olha, há bombas nucleares suficientes para destruir o planeta ‘N’ vezes, mas não é para usar, é para ter”. Então a chantagem campeia pela imprensa, né?

Na verdade, o que eu chamo de PIG, aqui, no nosso site, não chegou a usar essa bomba.
Não, não usou. E depois na matéria da Caros Amigos nós ouvimos, um a um, os diretores de redação de jornais e revistas da época.

E isso está no livro também. Palmério, só para concluir: depois de muito tempo, ficou confirmado que o filho que o Fernando Henrique supunha ter não era dele, era de outra pessoa.

E tem no livro – e é evidentemente que não podemos revelar aqui – uma cena de comédia italiana, que é o diálogo de Fernando Henrique e Míriam Dutra depois que ficou comprovado que o filho não era dele.
 
É, um amigo meu disse que deu uma estrondosa gargalhada com o fim do livro.  Agora eu só queria dizer uma coisa para você, Paulo Henrique, esse é um bom livro para ler na Semana da Pátria, não é?

Aliás, o 7 de Setembro que Fernando Henrique qualificou como uma palhaçada.
Exatamente, Exatamente…

Parabéns, Palmério, depois de desmontar o pessoal do ”Honoráveis Bandidos”, do José Sarney – quantos livros já vendeu o José Sarney?
O Zé Sarney já vendeu cerca de 130 mil livros. Mas, a turma do Zé Sarney, perto dessa turma do Fernando Henrique, não passa de amadores. É outra escala.

Os ”Honoráveis Bandidos” são amadores…
É, é outra escala, outra escala…

Todos marcianos: Maluf, Dirceu, Delúbio, Lula, Serra, FHC...

Cientista sugere que vida começou em Marte

Atualizado em  29 de agosto, 2013 - 04:47 (Brasília) 07:47 GMT
Planeta Marte, na cratera Gustav Holst. Foto: JPL/Nasa
Químico de instituto americano apresentou na Itália teoria sobre vida ter surgido em Marte
Um estudo apresentado em uma conferência científica sugere que a vida pode ter começado em Marte antes de chegar à Terra.
A teoria foi apresentada pelo químico Steven Benner, do Instituto de Ciência e Tecnologia de Westheimer (EUA), em na Conferência de Goldschmidt, em Florença, na Itália.
A forma como átomos se juntaram pela primeira vez para formar os três componentes moleculares dos seres vivos – RNA, DNA e proteínas – sempre foi alvo de especulação acadêmica.
As moléculas não são as mais complexas que aparecem na natureza, ainda assim não se sabe como elas surgiram. Acredita-se que o RNA (ácido ribonucleico) foi o primeiro a surgir na Terra, há mais de três bilhões de anos.

Hostil

Uma possibilidade para a formação do RNA a partir de átomos, como carbono, seria o uso de energia (calor ou luz). No entanto, isso produz apenas alcatrão.
Para criação do RNA, os átomos precisam ser alinhados de forma especial em superfícies cristalinas de minerais. Mas esses minerais teriam se dissolvido nos oceanos da Terra naquela época.
Benner diz que esses minerais eram abundantes em Marte. Ele sugere que a vida teria surgido primeiro em Marte, seguindo para a Terra em meteoritos.
Na conferência em Florença, o cientista apresentou resultados sugerindo que minerais que contém elementos como boro e molibdênio são fundamentais na formação da vida a partir dos átomos.
Ele diz que os minerais de boro ajudam na criação de aros de carboidrato, gerando químicos que são posteriormente realinhados pelo molibdênio. Assim surge o RNA.
O ambiente da Terra, nos primeiros anos do planeta, seria hostil aos minerais de boro e ao molibdênio.
"É apenas quando o molibdênio se torna altamente oxidado que ele é capaz de influenciar na formação da vida", diz Benner.
"Esta forma de molibdênio não existira na Terra quando a vida surgiu, porque há três bilhões de anos a Terra tinha muito pouco oxigênio. Mas Marte tinha bastante."
Meteorito que veio de Marte
Meteorito que veio de Marte, achado na Antártida, tinha vida primitiva
Segundo ele, isso é "outro sinal que torna mais provável que a vida na Terra tenha chegado por um meteorito que veio de Marte, em vez de surgido no nosso planeta".
Outro fator que reforçaria a tese é o clima seco de Marte, mais propício para o surgimento de vida.
"As evidências parecem estar indicando que somos todos marcianos, na verdade, e que a vida veio de Marte à Terra em uma rocha", disse Benner à BBC.
"Por sorte, acabamos aqui – já que a Terra certamente é o melhor entre os dois planetas para sustentar vida. Se nossos hipotéticos ancestrais marcianos tivessem ficado no seu planeta, talvez nós não tivéssemos uma história para contar hoje."

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Polícia do PA usa bombas e balas de borracha contra famílias sem-teto

Confronto ocorreu durante ação de reintegração de posse de área da Infraero.

Cerca de 100 famílias ocupavam há mais de 10 dias o local.

Do G1 PA

infraero marabá reintegração de posse confronto polícia  (Foto: Reprodução / TV Liberal)Polícia usou bombas de efeito moral contra ocupantes de área da Infraero. (Foto: Reprodução / TV Liberal)
Terminou em confronto a ação de reintegração de posse da área da Infraero ocupada por sem-teto em Marabá, sudeste do Pará. Nesta quarta-feira (28), policiais militares usaram bombas de efeito moral e balas de borracha contra as famílias que há mais de dez dias ocupavam o terreno, localizado próximo ao aeroporto de Marabá.
A reintegração de posse foi determinada pela Justiça e cumprida nesta quarta. Segundo a polícia, os ocupantes da área resistiram e se recusaram a deixar o local. Segundo a superintendência do aeroporto de Marabá, a ocupação urbana nesta área comprometeria a segurança dos voos.
Além da ocupação da área da Infraero, as famílias protestavam contra o cumprimento da ordem judicial de reintegração de posse. Cerca de 200 pessoas interditaram a rodovia BR-230, a Transamazônica, no trecho próximo de Marabá. O protesto ocorreu ao longo dos últimos 12 dias.
Durante o protesto, os manifestantes chegaram a tacar fogo em uma barricada de pneus, mas as chamas foram apagadas pelo Corpo de Bombeiros. O protesto foi monitorado por agendes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Grupo de médicas envergonha o Brasil. Em que faculdade se "formaram"?

No Manuel Dutra
A foto abaixo diz tudo; um médico cubano negro, que chegou ao Brasil para trabalhar em um dos 701 municípios que não atraíram o interesse de nenhum profissional brasileiro, foi hostilizado e vaiado por jovens médicas brasileiras; com quem a população fica: com quem se sacrifica e vai aos rincões para salvar vidas ou com uma classe que lhe nega apoio?
247 - Em nenhum país do mundo, os médicos cubanos estão sendo tratados como no Brasil. Aqui, são chamados de "escravos" por colunistas da imprensa brasileira (leia mais aqui) e hostilizados por médicos tupiniquins, como se estivessem roubando seus empregos e suas oportunidades. Foi o que aconteceu ontem em Fortaleza, quando o médico cubano negro foi cercado e vaiado por jovens profissionais brasileiras.

Detalhe: os cubanos, assim como os demais profissionais estrangeiros, irão atuar nos 701 municípios que não atraíram o interesse de nenhum médico brasileiro, a despeito da bolsa de R$ 10 mil oferecida pelo governo brasileiro. Ou seja: não estão tirando oportunidades de ninguém. Mas, ainda assim, são hostilizadas por uma classe que, com suas atitudes, destrói a própria imagem. Preocupado com a tensão e com as ameaças dos médicos, o ministro Alexandre Padilha avisou ontem que o "Brasil não vai tolerar a xenofobia".

Vídeo da vergonha! Médicos brasileiros agridem cubanos

O Cafezinho

Enviado por  on 27/08/2013 – 10:50 am
Nunca pensei que o banditismo de jaleco fosse chegar a esse ponto. No vídeo abaixo, vemos médicos xingando os cubanos de “escravos”. Alguns chegam a empurrá-los.  Falta de respeito total com trabalhadores da saúde que vem ao nosso país trabalhar em regiões miseráveis, em condições difíceis, não apenas pela falta de infra-estrutura mas pelo ambiente de pobreza, ignorância e às vezes até violência.
A valentia que esses coxinhas de jaleco demonstram para xingar companheiros cubanos pacíficos desaparece quando se lhes oferece a oportunidade de ir às regiões necessitadas.  
Pior, a máfia de jaleco está fomentando a criação de uma cultura de xenofobia que jamais existiu no país. E que é ridícula surgir agora, com o desemprego em 5%.
Não consegui embeber o vídeo no post.  Assista neste link.

domingo, 25 de agosto de 2013

Bienvenidos, camaradas!

Procurador-geral do Trabalho nega irregularidades na contratação de médicos cubanos
De qualquer forma, esta é uma polêmica que beneficiará o governo. Há um fator aí de coragem, de enfrentamento, que faz despontar uma luzinha de esperança em relação a muitas outras demandas populares ainda não cumpridas, entre elas a democratização da mídia.
O rechaço à vinda de cubanos parte apenas daqueles setores que já não votam em Dilma Rousseff, ou no PT. A maioria da população não tem preconceito nenhum contra Cuba e seus médicos. Muito pelo contrário, em breve aparecerão imagens e vídeos desses médicos atendendo em comunidades carentes do interior que terão excelente impacto junto à opinião pública.
Trata-se de uma medida que, finalmente, fala à voz das “ruas”, visto que a bandeira por uma saúde pública melhor era a mais presente nas jornadas de junho.  
O governo deveria lançar algum programa de impacto, na área de saúde, também nas grandes cidades.
Bienvenidos camaradas!

Porque os médicos cubanos incomodam



Foto: Valter Campanato/ABr


















Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:


O debate sobre a chegada de médicos cubanos é vergonhoso.

Do ponto de vista da saúde pública, temos um quadro conhecido. Faltam médicos em milhares de cidades brasileiras, nenhum doutor formado no país tem interesse em trabalhar nesses lugares pobres, distantes, sem charme algum – nem aqueles que se formam em universidades públicas sentem algum impulso ético de retribuir alguma coisa ao país que lhes deu ensino, formação e futuro de graça.

Respeitando o direito individual de cada pessoa resolver seu destino, o governo Dilma decidiu procurar médicos estrangeiros. Não poderia haver atitude mais democrática, com respeito às decisões de cada cidadão. 

O Ministério da Saúde conseguiu atrair médicos de Portugal, Espanha, Argentina, Uruguai. Mas continua pouco. Então, o governo resolveu fazer o que já havia anunciado: trazer médicos de Cuba. 

Como era de prever, a reação já começou.

E como eu sempre disse neste espaço, o conservadorismo brasileiro não consegue esconder sua submissão aos compromissos nostálgicos da Guerra Fria, base de um anticomunismo primitivo no plano ideológico e selvagem no plano dos métodos. É uma turma que se formou nesta escola, transmitiu a herança de pai para filho e para netos. Formou jovens despreparados para a realidade do país, embora tenham grande intimidade com Londres e Nova York. 

Hoje, eles repetem o passado como se estivessem falando de algo que tem futuro. 

Foi em nome desse anticomunismo que o país enfrentou 21 anos de treva da ditadura. E é em nome dele, mais uma vez, que se procura boicotar a chegada dos médicos cubanos com o argumento de que o Brasil estará ajudando a sobrevivência do regime de Fidel Castro. Os jornais, no pré-64, eram boicotados pelas grandes agencias de publicidade norte-americanas caso recusassem a pressão americana favorável à expulsão de Cuba da OEA. Juarez Bahia, que dirigiu o Correio da Manhã, já contou isso. 

Vamos combinar uma coisa. Se for para reduzir economia à política, cabe perguntar a quem adora mercadorias baratas da China Comunista: qual o efeito de ampliar o comércio entre os dois países? Por algum critério – político, geopolítico, estético, patético – qual país e qual regime podem criar problemas para o Brasil, no médio, curto ou longo prazo?

Sejamos sérios. Não sou nem nunca fui um fã incondicional do regime de Fidel. Já escrevi sobre suas falhas e imperfeições. Mas sei reconhecer que sua vitória marcou uma derrota do império norte-americano e compreendo sua importância como afirmação da soberania na América Latina.

Creio que os problemas dos cidadãos cubanos, que são reais, devem ser resolvidos por eles mesmos.

Como alguém já lembrou: se for para falar em causas humanitárias para proibir a entrada de médicos cubanos, por que aceitar milhares de bolivianos que hoje tocam pedaços inteiros da mais chique indústria de confecção do país? 

Denunciar o governo cubano de terceirizar seus médicos é apenas ridículo, num momento em que uma parcela do empresariado brasileiro quer uma carona na CLT e liberar a terceirização em todos os ramos da economia. Neste aspecto, temos a farsa dentro da farsa. Quem é radicalmente a favor da terceirização dos assalariados brasileiros quer impedir a chegada, em massa, de terceirizados cubanos. Dizem que são escravos e, é claro, vamos ver como são os trabalhadores nas fazendas de seus amigos. 

Falar em democracia é um truque velho demais. Não custa lembrar que se fez isso em 64, com apoio dos mesmos jornais que 49 anos depois condenam a chegada dos cubanos, erguendo o argumento absurdo de que eles virão fazer doutrinação revolucionária por aqui. Será que esse povo não lê jornais? 

Fidel Castro ainda tinha barbas escuras quando parou de falar em revolução. E seu irmão está fazendo reformas que seriam pura heresia há cinco anos.

O problema, nós sabemos, não é este. É material e mental. 

Nossos conservadores não acharam um novo marqueteiro para arrumar seu discurso para os dias de hoje. São contra os médicos cubanos, mas oferecem o que? Médicos do Sírio Libanês, do Einstein, do Santa Catarina? 

Não. Oferecem a morte sem necessidade, as pragas bíblicas. Por isso não têm propostas alternativas nem sugestões que possam ser discutidas. Nem se preocupam. Ficam irresponsavelmente mudos. É criminoso. Querem deixar tudo como está. Seus médicos seguem ganhando o que podem e cada vez mais. Está bem. Mas por que impedir quem não querem receber nem atender? 

Sem alternativa, os pobres e muito pobres serão empurrados para grandes arapucas de saúde. Jamais serão atendidos, nem examinados. Mas deixarão seu pouco e suado dinheiro nos cofres de tratantes sem escrúpulos. 

Em seu mundo ideal, tudo permanece igual ao que era antes. Mas não. Vivemos tempos em que os mais pobres e menos protegidos não aceitam sua condição como uma condenação eterna, com a qual devem se conformar em silêncio. Lutam, brigam, participam. E conseguem vitórias, como todas as estatísticas de todos os pesquisadores reconhecem. Os médicos, apenas, não são a maravilha curativa. Mas representam um passo, uma chance para quem não tem nenhuma. Por isso são tão importantes para quem não tem o número daquele doutor com formação internacional no celular.

O problema real é que a turma de cima não suporta qualquer melhoria que os debaixo possam conquistar. Receberam o Bolsa Família como se fosse um programa de corrupção dos mais humildes. Anunciaram que as leis trabalhistas eram um entrave ao crescimento econômico e tiveram de engolir a maior recuperação da carteira de trabalho de nossa história. Não precisamos de outros exemplos. 

Em 2013, estão recebendo um primeiro projeto de melhoria na saúde pública em anos com a mesma raiva, o mesmo egoísmo. 

Temem que o Brasil esteja mudando, para se tornar um país capaz de deixar o atraso maior, insuportável, para trás. O risco é mesmo este: a poeira da história, aquele avanço que, lento, incompleto, com progressos e recuos, deixa o pior cada vez mais distante. 

É por essa razão, só por essa, que se tenta impedir a chegada dos médicos cubanos e se tentará impedir qualquer melhoria numa área em que a vida e a morte se encontram o tempo inteiro. 

Essa presença será boa para o povo. Como já foi útil em outros momentos do Brasil, quando médicos cubanos foram trazidos com autorização de José Serra, ministro da Saúde do governo de FHC, e ninguém falou que eles iriam preparar uma guerrilha comunista. Graças aos médicos cubanos, a saúde pública da Venezuela tornou-se uma das melhores do continente, informa a Organização Mundial de Saúde. Também foram úteis em Cuba. 

Os inimigos dessas iniciativas temem qualquer progresso. Sabem que os médicos cubanos irão para o lugar onde a morte não encontra obstáculo, onde a doença leva quem poderia ser salvo com uma aspirina, um cobertor, um copo de água com açúcar. Por isso incomodam tanto. Só oferecem ameaça a quem nada tem a oferecer aos brasileiros além de seu egoísmo.

Vale tudo contra os médicos cubanos?

O que move as entidades médicas

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

Uma leitura cuidadosa dos principais jornais brasileiros de circulação nacional mostra que há uma tendência da imprensa a desqualificar o programa Mais Médicos, pelo qual o governo federal procura suprir a falta de profissionais de saúde em bairros periféricos das grandes cidades e nos municípios distantes dos grandes centros.

De modo geral, o noticiário abre com informações aparentemente equidistantes da polêmica central sobre o assunto, mas a hierarquia das notícias e as escolhas das análises priorizam opiniões contrárias à iniciativa do governo.

Nas edições de sexta-feira (23/8), a exceção é a Folha de S. Paulo, que dá espaço para um artigo esclarecedor sobre a questão. No Estado de S. Paulo, o principal destaque vai para dados factuais, como o número de cidades paulistas que vão receber médicos selecionados na primeira fase do programa. Nesse texto está inserida a defesa do projeto, sem um destaque especial. As opiniões contrárias estão separadas em dois outros textos, um deles informando que as entidades representativas dos médicos brasileiros e partidos de oposição vão recorrer ao Ministério Público do Trabalho para impedir que se consolide a contratação de estrangeiros.

Abaixo da reportagem principal também é publicado o resultado de uma pesquisa que supostamente mostra que o programa Mais Médicos é rejeitado pela maioria da população. No entanto, esse texto peca pela falta de precisão e acuidade. Por exemplo, não informa de quem é a iniciativa da consulta, feita por um tal Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ). Também omite que o ICTQ é uma empresa de educação continuada que é apoiada pela indústria farmacêutica, oferecendo cursos para profissionais do setor.

A “pesquisa” é referendada por um dirigente do Conselho Federal de Medicina, que usa as informações para reforçar a campanha da entidade contra o programa do governo. Trata-se, portanto, de uma daquelas artimanhas do jornalismo segundo a qual um suposto dado objetivo, como o resultado de uma pesquisa, é apresentado como fato comprovador de uma opinião preexistente, omitindo-se do leitor o contexto que lhe permitiria relativizar a informação – no caso, o interesse específico da indústria farmacêutica.

A serviço das farmacêuticas

O Globo nem mesmo se dá ao trabalho de dissimular sua posição: abre a página explorando contradições entre integrantes do governo sobre o salário que os médicos cubanos irão efetivamente receber. No quadro em que o jornal costuma emitir sua opinião, fica claro que seus editores se alinham com o viés mais reacionário das entidades médicas: o texto afirma que “como existe um eixo Havana-Brasília, assentado em simpatias ideológicas, é preciso atenção redobrada na qualidade da prestação de serviço dos companheiros cubanos”.

Assim, em linguagem quase chula, o jornal carioca apoia a ideia de que os médicos cubanos estão sendo trazidos para fazer “pregação comunista”, como entende o presidente do Conselho Federal de Medicina.

A Folha de S. Paulo se destaca por abrir um pouco mais o leque de alternativas do leitor, informando na reportagem principal que o Ministério Público do Trabalho vai investigar as condições da contratação de médicos cubanos. Em outra página, também com destaque, publica a posição do governo brasileiro, manifestada pelo secretário nacional de Vigilância Sanitária e pelo ministro das Relações Exteriores. Há também um perfil dos médicos cubanos que já atuam no Brasil, material acompanhado por um infográfico que mostra a distribuição desses profissionais em todos os estados.

Mas o diferencial da Folha é uma análise produzida pelo jornalista Marcelo Leite (ver aqui), na qual ele observa que Cuba forma milhares de médicos por mês, “como produto de exportação”. O autor explica que o governo cubano montou uma verdadeira indústria de profissionais de saúde, a maioria deles com especialização em medicina preventiva. Esse seria o segredo principal das realizações do regime cubano na área da saúde, como uma taxa de mortalidade infantil inferior à dos Estados Unidos. A ilha comandada pelos irmãos Castro desde 1959 produziu a partir de então 124.789 médicos e se destaca pela prevenção de doenças, diz o articulista.

Esse é o ponto central da polêmica: ao trazer 4 mil médicos de Cuba, o governo brasileiro está sinalizando que sua estratégia para suprir as deficiência da saúde nos lugares mais pobres vai se basear no atendimento preventivo, que reduz sensivelmente os custos do sistema e diminui a dependência em relação às empresas do setor farmacêutico.

O articulista da Folha dá a pista de onde vêm os interesses contrários ao programa do governo, ao afirmar que “na medicina preventiva, sua especialidade, é possível que [os médicos cubanos] se revelem até mais eficientes que os do Brasil, cuja medicina tem outras prioridades”.

Some-se isso com aquilo e... bingo! O leitor já sabe a serviço de quem estão as entidades que se opõem ao programa Mais Médicos.

 comentários:

Anônimo disse...

E SE OS MÉDICOS
FOSSEM AMERICANOS ? Jornalista Paulo Henrique Amorim

Tentativa de resposta: teriam noites e noites de autógrafos! Palcos(!): sedes das entidades médicas – e projac!…