O anúncio saiu na página B8 do Diário do Pará (24/08) na parte
inferior repleta de editais públicos e particulares: “A Salobo Metais S/A torna público que obteve da Secretaria de Meio
ambienta do Pará – Sema/PA, a Licença de Operação n° 6999/2012, para o Terminal
de Concentrado de Cobre localizado em Parauapebas/PA”.
Localizado no município de Marabá, o projeto Cobre-Salobo
foi considerado, na década de 1990, o maior projeto minero-metalúrgico no país,
com previsão de investimentos da ordem de US$ 1,5 bilhão, envolvendo as etapas
de mineração beneficiamento e metalurgia do minério do Igarapé Salobo, com
reserva de 1,4 bilhão de toneladas e vida útil de 30 a 33 anos, na fase de
lavra a céu aberto.
Com entrada em operação por volta de 1999, Salobo permitiria
ao Brasil, já no ano seguinte, a autossuficiência na produção de cobre
metálico, não só atendendo ao déficit de oferta do produto, como também
exportando parte da produção. À época, Caraíba, na Bahia, era a única
fornecedora interna do produto.
A mina do Igarapé Salobo, em Marabá, tinha potencial
definido de 200 mil toneladas/ano de cobre metálico, 200 mil toneladas/ano de
ácido sulfúrico e, como subprodutos, oito toneladas anuais de ouro e 20
toneladas de prata, além de molibdênio. Estimava-se a reserva de ouro em 530
toneladas.
Provavelmente a ninguém da administração pública ou à
sociedade marabaense interessou o aviso - réquiem para um sonho que embalou
meia década de luta entre Marabá e a então estatal Companhia Vale do Rio Doce,
nossa versão tupiniquim de Davi e Golias. É que a imensa reserva mineral fica
em Marabá, mas a Vale pretendia justamente o que faz agora: instalar o Terminal
de Concentrado de Cobre na pera ferroviária situada em Parauapebas.
Talvez ainda alguém mais se recorde: ocupação popular dos
trilhos na cabeceira da ponte, inclusive com a participação do prefeito Haroldo
Bezerra e vereadores; as reuniões com governo federal e do estado, às centenas
de cartas remetidas à CVRD, ministros, deputados federais e senadores, o apoio
da imprensa. O jornalista Lúcio Flávio Pinto, expert em CVRD, teve desempenho
fundamental na elaboração das contrarrazões municipais.
O argumento da população, verbalizado pelo poder público,
fixava-se em linhas simples: 1 – era inadmissível que um polo industrial, no
qual se investiria US$ 1,5 bilhão, como o do Salobo, só pudesse oferecer como
bem mais nobre o concentrado de cobre, sobretudo com os altos teores de ouro e
prata que esse concentrado contém; 2 - o confinamento da usina metalúrgica na
pera ferroviária significava marginalizar a população regional dos efeitos
positivos do processo de industrialização; 3 - a planta da metalurgia deveria
ser instalada no Distrito Industrial de Marabá, dotado de infraestrutura, vias
de acesso, água, energia, telefone e atravessado pela Estrada de Ferro Carajás.
Em suma, Marabá entendia que fora do Distrito Industrial,
alcançado por um mineroduto mina-DIM, o terminal do concentrado de cobre
tornaria o projeto Salobo um enclave (território ou trato de terra de um país,
encerrado no território de outro) na Serra de Carajás, ficando o entorno
contabilizando apenas os efeitos nocivos dos grandes projetos.
A luta foi árdua e tensa. Encerrou-se melancolicamente com a
privatização da Vale pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Privatizada e sem
efetivo controle popular, a Vale tornou-se de fato um enclave dentro do Pará,
economicamente maior que este, sem compromisso com nativos ou periféricos.
Para nós, o resultado é esse: as reservas do Salobo (o cobre
impregnado de prata, ouro e molibdênio) situam-se geograficamente no território
marabaense, mas o benefício do seu aproveitamento industrial vai gerar emprego
e renda no planeta Marte. Por aqui ficarão os resíduos tóxicos, o depósito de
200 mil toneladas/ano de ácido sulfúrico (H2SO4, capaz de contaminar cursos de
águas, tornando-os impróprios para uso em qualquer finalidade; altas
concentrações no ar põem em risco a vida humana e animal), e de flúor (elemento
químico tóxico, mortal se inalado mesmo em concentrações tão baixas como 1
ppm).