Pages

terça-feira, 4 de junho de 2013

Instrumentalizando o fumacê

No Parsifal Pontes

James Shively, ex-gerente de estratégias da Microsoft, lançou dia 31.05, 
nos EUA, a primeira empresa de plantação de maconha do mundo.
Baseado (sem trocadilhos, por favor) em estudos sobre o tamanho do mercado global da erva, Shively fundou a empresa e fez uma IPO de US$ 100 milhões. Com a quantia ele comprará terras nos 18 estados dos EUA onde é permitido o plantio: em 16 deles o cultivo da maconha é permitido para fins medicinais e em dois (Colorado e Washington), a planta também é liberada para “entretenimento”.
Shot002
Em princípio Shively comercializará o produto nos EUA, mas já recebeu a simpatia do ex-presidente do México, Vicente Fox, para montar uma franquia no país, assim que o projeto de lei, liberando a marijuana para fins medicinais, que tramita no Congresso mexicano, seja aprovado.
Ao ser indagado pela imprensa mexicana sobre o recente encontro com Shively, Fox respondeu que "prefere estar sentado falando sobre essas coisas com um empresário como Shively do que discutir isso com os comandantes dos cartéis de drogas".
Em 2005, um relatório da ONU revelou que o mercado global de maconha movimentava cerca de US$ 142 bilhões. Estimativas ortodoxas atuais calculam esse comércio em US$ 250 bilhões e o de cocaína em US$ 800 bilhões.  
Shot003
O cartão é do Nani.

No Estado, talentos são desperdiçados


No Brasil, onde pouco menos de 11% da população possui ensino superior, o governo se dá ao luxo de empregar engenheiros, médicos e até cientistas para carimbar papel, preencher folhas de ponto e carregar móveis e computadores de um lado para o outro nas repartições públicas de todo o país. Atraídos pelos altos salários, estabilidade no emprego e aposentadoria integral, esses profissionais, que poderiam fazer a diferença em qualquer empresa privada, pouco podem fazer para elevar a qualidade dos serviços prestados pelo Estado. É a armadilha da burocracia, que paga prêmios generosos ao corpo funcional, mas impede que os mais qualificados exerçam função diferente do cargo para o qual foi aprovado em concurso.
A aparente contradição entre pagar salários elevados para desempenhar atividades de pouca complexidade produz efeito também nas contas públicas. Nos últimos 15 anos, a despesa líquida com servidores federais, incluindo aposentados e pensionistas, mais do que quadruplicou. Saltou de R$ 44,5 bilhões, em 1997, para R$ 185,3 bilhões, em 2012. Um gasto que, na opinião de especialistas consultados pelo Correio, não gerou contrapartida de aumento da produtividade do funcionalismo. "Quando você tem pessoas mais qualificadas do que o cargo necessita, há desperdício humano. Esses profissionais poderiam gerar conhecimento em funções mais complexas, o que seria melhor para o cidadão, que receberia serviços públicos de melhor qualidade", ponderou o economista Marcio Sette Fortes, professor do Ibemec Rio.
O servidor público Pedro Hernandes, de 27 anos, conhece bem essa situação. Em 2008, apenas um ano após ter ingressado no curso de economia na Universidade de Brasília (UnB), foi aprovado no concurso para técnico judiciário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). O salário, hoje de cerca de R$ 6,5 mil, e a jornada de trabalho relativamente tranquila (das 12h às 19h) o fizeram seguir no emprego mesmo após ter se formado. Mas o descontentamento com funções burocráticas, como alimentar o cadastro do plano de saúde do tribunal, o fez mudar de ideia.
"Passo a maior parte do dia 'carimbando papel', assim como colegas de outros setores, alguns com títulosde mestrado em disciplinas como nutrição e agronomia", reclama. A insatisfação com o serviço o motivou a buscar um novo concurso compatível com a sua formação acadêmica. Em breve, ele ingressará no quadro de economistas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Mas lamenta ter de deixar o órgão, que ele considera ser um bom lugar para trabalhar. "Se eu tivesse formas de ser mais bem aproveitado no tribunal, talvez não tivesse buscado outro concurso", contou.
Quebra-galho
O serviço público tem inúmeros casos de bons profissionais subaproveitados. A insatisfação acontece com mais frequência em órgãos que pagam altos salários para funções generalistas, como o cargo de analista tributário da Receita Federal. Com salários iniciais da ordem de R$ 8,7 mil e a exigência de apenas formação superior, os concursos para o órgão são sempre muito disputados. Ao assumir o cargo, porém, o novo servidor se depara com uma realidade que pode ser menos interessante do que imaginava. "Quando eu ingressei na Receita, fui designado para trabalhar na aduana, fazendo de tudo um pouco, numa espécie de quebra-galho constante", relatou um servidor do órgão, que pediu anonimato.
Segundo contou, ele passava o dia se revezando em funções como "carregar computador de um lado para o outro", conferir planilhas de impostos e digitalizá-las no arquivo morto do órgão. "Eu era professor universitário e tinha vergonha de dizer aos meus alunos o que eu fazia", lembrou o profissional, que, além de formado pela UnB, tem mestrado e larga experiência no mercado privado.
Como ele, há na Receita todo tipo de profissional cuidando da burocracia dos impostos, de médicos, engenheiros navais até um cientista que já trabalhou na construção de foguetes na base aérea de Alcântara, no Maranhão. Na opinião do coordenador-geral de Gestão de Pessoas do órgão, o engenheiro mecânico Francisco Lessa, não há problema algum nessa ampla gama de profissionais de diferentes formações. Pelo contrário.
 "Nós temos poucos médicos aqui na Receita, mas eu gostaria de ter um, por exemplo, na minha equipe. Imagine um auditor fazendo a inspeção de um hospital. Seria ou não interessante ter um médico exercendo essa função?", questionou.
Lessa lembra que o órgão "não é um escritório de advocacia ou contabilidade", por isso acredita que um maior número de profissionais de diversas formações apenas valoriza o trabalho do corpo técnico.
"Procuramos colocar cada servidor para exercer funções compatíveis com a sua formação. Quando um auditor fosse a uma obra, por exemplo, seria muito interessante que houvesse, na equipe dele, um engenheiro formado. Isso ajudaria muito no relatório e na própria auditoria", citou.

(Fonte: Correio Braziliense – clonado do Blog do Servidor Público do Brasil)

Fecharam o aquaduto

CNJ barra pagamento de auxílio-alimentação 

de juízes do Pará

O conselheiro Bruno Dantas, do Conselho Nacional de Justiça, deu liminar que barra o pagamento retroativo de auxílio-alimentação para juízes de oito estados do país. A decisão foi tomada ontem (3/6) e impede que sejam distribuídos aos juízes mais de R$ 100 milhões já reservados para o fim específico de reembolsar gastos com alimentação desde 2004.

A decisão atinge juízes dos estados da Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Pernambuco, Roraima, Sergipe e São Paulo. De acordo com informações da liminar concedida pelo conselheiro, já foram pagos a juízes em atividade e aposentados quase R$ 250 milhões apenas para ressarcir os gastos de magistrados com alimentação em 12 estados do país.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ha tempos e países que, como certos amores, não mudam nunca...


Camponeses mortos pela ditadura militar

Revista Biografia

Livro apresenta 1.200 casos de camponeses mortos e desaparecidos na ditadura militar [Revista Biografia]

Livro apresenta 1.200 casos de camponeses mortos e desaparecidos na ditadura militar

Luciano Nascimento
Agência Brasil

Brasília – Cerca de 90 trabalhadores rurais sem terra acompanharam, no dia (24/05), o  lançamento do livro Camponeses Mortos e Desaparecidos: Excluídos da Justiça de Transição. A obra pretende auxiliar a Comissão Nacional da Verdade (CNV) no reconhecimento oficial de 1.196 casos de camponeses mortos e desaparecidos no campo em função das diversas formas de repressão política e social entre setembro de 1961 e outubro de 1988, período indicado pela Lei 9.140/1995 – a primeira a reconhecer que pessoas foram assassinadas pela ditadura militar (1964-1985).

Apesar do número expressivo (3,5 vezes acima do total de reconhecidos oficialmente como mortos por perseguição política), apenas 51 casos foram analisados pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e, desses, 29 tiveram a causa da morte relacionada à questão política.

“É importante para os trabalhadores rurais, para os camponeses brasileiros recuperar essa história, porque muito dessa história ainda é atual e o estado tem a responsabilidade de apurar os crimes e, com a Comissão da Verdade, fazer com que isso seja colocado a limpo”, disse o coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade, Gilney Viana, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), que elaborou o estudo que resultou no livro em parceria com a Comissão Camponesa da Verdade.
De acordo com o livro, há mortes durante o regime militar e também durante o regime civil. Quatro pessoas foram assassinadas antes do golpe de abril de 1964; 756 foram mortas durante a ditadura (sendo 432 na abertura política após 1979); e 436 após março de 1985, na transição civil (governo Sarney). Segundo o documento, o aumento da violência no campo a partir da distensão e ao longo da chamada Nova República tem a ver com a organização política dos trabalhadores rurais.

Os estados que acumulam o maior número de pessoas assassinadas (lideranças ou não) são o Pará (342 mortes); o Maranhão (149 mortes); a Bahia (126 mortes); Pernambuco (86 mortes) e Mato Grosso (82 mortes). Mais de 96% dos assassinados eram homens.

Grande parte das mortes não ocorreu pelas mãos dos “agentes do Estado” (policiais e militares), 15% do total (177 casos); mas por “agentes privados” (milícias e pistoleiros contratados). Na avaliação de Viana, a participação de agentes do Estado nem sempre é tão clara porque, no campo, a repressão acabava sendo exercida pelos latifundiários. "O poder do Estado lá era delegado a um fazendeiro, a um coronel que atuava às vezes como preposto da ditadura. É uma situação política que exige uma nova interpretação da lei [que criou a Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil]", defendeu.

Sem-terra de Parauapebas no Pará, Francisco Moura, região que permanece campeã em conflitos pela posse da terra, relata que alguns casos permanecem na memória das novas gerações. “Como nós moramos na região que é das mais conflituosas hoje na questão da luta pela terra, nós conhecemos muito a história de alguns desses personagens que estão no livro”, disse.

A obra foi encaminhado à Comissão Nacional da Verdade que,na terça feira(21/05), fez o balanço  de seu primeiro ano.

Fora de moda

No Parsifal Pontes

Dinheiro na cueca, de novo

Matéria da Veja desse final de semana reporta que no dia 16.05 a Polícia Federal, no aeroporto de Brasília, deteve dois homens que embarcariam para o Rio de Janeiro: eles escondiam em suas meias e cuecas (quanta falta de originalidade...) R$ 465 mil.
fundo
Um deles fez um telefonema e apareceu o dono do dinheiro, Eduardo Lemos, que disse à PF que os homens eram seus funcionários, o dinheiro era legal e se destinava a comprar um imóvel no Rio.
A PF quis saber o motivo de conduzir o dinheiro daquela forma. Eduardo retrucou que “carregar valores em espécie não é crime” e, para demonstrar a sua riqueza, exibiu no pulso um relógio de R$ 120 mil (por esse preço, se não for uma imitação de R$ 250 da feira do Paraguai, deve ser um Patek Philipe de edição limitada) e anunciou que chegara no aeroporto em um Porsche.
Shot005
Portar dinheiro vivo não é crime, mas em se flagrando alguém com R$ 500 mil nas meias e nas cuecas há grande probabilidade da quantia ser produto de crime ou se prestar a cometer um, por isso a PF sentou em cima da grana até que Eduardo comprove a origem.
> Sugestão da Veja
A Veja sugere a origem: Eduardo Lemos, “é Carlos Eduardo Carneiro Lemos, um operador de mercado que teve seu nome envolvido na CPI dos Correios, que investigou o mensalão.”.
Relembra, a revista, que Lemos “foi gerente de investimentos do fundo de pensão da empresa de saneamento do Rio (Prece), indicado ao cargo pelo PT, por meio de Marcelo Sereno, ex-assessor de José Dirceu.”.
No cargo, ele teria comandado operações que resultaram em prejuízo de mais de R$ 100 milhões ao Prece e por isso sofreu multas que somaram R$ 3,3 milhões da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Leia mais, aqui.

domingo, 2 de junho de 2013

O caudilho do Pará

No blog do Manuel Dutra:

Dois de junho, esqueceram o caudilho Magalhães Barata?

Bem diferente de décadas passadas, este Dois de Junho passa em branco. Foi-se o tempo em que havia feriado no dia do aniversário do maior dos mandachuvas paraenses. Muitas histórias sobre ele sobrevivem, quase sempre em forma de piadas ou sobre o mandonismo e as ações truculentas que caracterizavam o governo autoritário de Barata.

Faz hoje 125 anos que ele nasceu e, dia 29 passado fez 54 de sua morte ocorrida no palacete da Travessa Dr. Moraes, centro de Belém, imóvel onde hoje reside o arcebispo de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa.

Joaquim Cardoso Magalhães Barata nasceu em Belém em 2 de junho de 1888 e morreu na mesma cidade em 29 de maio de 1959.
Foi interventor federal no Pará, de 12 de novembro de 1930 a 12 de abril de 1934. Saindo de um movimento revolucionário afinal vitorioso, com a renúncia de Washington Luis, tinha poderes quase absolutos, dado que se vivia em regime de exceção.
Aqui morreu o Barata em 1959. Hoje é residência
do arcebispo de Belém

Em 1935, uma cisão no Partido Liberal inviabilizou sua eleição para o governo do estado pelo voto direto, sepultando uma vitória que era considerada praticamente certa. O adversário era Lauro Sodré, então com 77 anos, candidato lançado pela Frente Única. Os tumultos e as cenas de violência que se seguiram, ameaçando instalar o caos no Pará, levaram Getúlio Vargas a intervir mais uma vez na política local, sendo nomeado interventor José Carneiro da Gama Malcher.

Eleito senador em 1945, Barata disputou e perdeu a eleição para o governo em 1950 para o general Zacarias de Assunpção. Cinco anos depois, disputou novamente, contra Epíligo de Campos  e venceu por uma diferença de 1743 votos, após oito meses de batalha judicial. Estava no exercício do cargo quando morreu, em 1959.
....................................................................
Governo de Magalhães Barata no Pará (1930-1950)

Prof. Leonardo Castro

Joaquim de Magalhães Cardoso Barata foi um dos maiores líderes políticos do Pará no século XX. Isto pode ser compreendido pelo seu governo nitidamente populista, que desenvolveu desde sua primeira interventoria, de novembro de 1930 a abril de 1934. O seu governo foi bem peculiar, pois até então todos os governantes do Pará eram claramente elitistas, encontravam seu apoio no topo da pirâmide social paraense e não misturavam suas políticas com o povo.

Vindo de uma revolução, Magalhães Barata, já bastante conhecido por sua participação nos movimentos tenentistas dos anos de 1920, revolucionou na chefia do Executivo estadual. De fato, o fez sem motivações demagógicas, pois, era previsto, tão cedo não haveriam eleições, vivendo o país em uma atmosfera de exceção.

Sem se preocupar em agredir e prejudicar a elite, Barata assumiu a Interventoria disposto a renovar os costumes políticos e os modelos administrativos até então em voga. Em primeiro lugar, tomou uma decisão radical: abriu os portões do Palácio do Governo para o povo; e os humildes moradores dos subúrbios de Belém pela primeira vez tiveram a oportunidade de subir as escadarias do Palácio, para as famosas e pioneiras “audiências públicas”. Nelas, Barata exercia múltiplos papeis: era governador, prefeito, juiz, promotor, advogado, etc. Pacientemente ouvia as queixas ou pedidos e buscava resolvê-los.