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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Deus protege os bêbados e os poetas

A sequência de fotos cobre a homenagem que professores e alunos da Escola "Jonathas Pontes Athias" prestaram a este poeta durante a "IX Galeria do Conhecimento", espécie de feira de ciências que este ano reuniu 22 temas - da Amazônia ao aquecimento global - trabalhados por 120 dos seus 1.500 estudantes.
A homenagem foi coordenada pela professoras Sandrelli e Helcineide e realizada pelos alunos do 7 ano B (6a. Série). A apresentação do homenageado foi feita pela diretora Tereza. A seguir, houve dramatização de textos, declamação de poemas, e o aluno Lucas Paraguassu, de 12 anos, personificou o poeta relatando fatos de sua existência.
Inesquecível!

“Nem estrangeiros, nem famintos”

Acampados há mais 20 dias à margem da Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce, n assentamento Palmares II, município de Parauapebas, sudeste do Pará, trabalhadores rurais avulsos ou assentados, garimpeiros e campesinos vindos de várias regiões resistem às pressões e lutam por cidadania e dignidade. Nesta quinta-feira, 1º de novembro, distribuíram manifesto em que expõem os principais itens da sua pauta de reivindicação e avisam “A reforma Agrária é problema do Estado brasileiro e de quem impõem o agronegócio. Não aceitaremos mais esse modelo de exportação e de acumulação de riqueza baseado na morte da nossa biodiversidade. Queremos resolvida a desapropriação dos latifúndios que praticam violência, trabalho escravo e crime ambiental. Não aceitamos mais a representação política do congresso nacional.” Leiam, a seguir, a íntegra do documento: MANIFESTO DAS FAMÍLIAS SEM TERRA ACAMPADAS ÀS MARGENS DA ESTRADA DE FERRO CARAJÁS Escrevemos a vocês do acampamento às margens da Estrada de Ferro Carajás-Ponta da Madeira, no Assentamento Palmares II no município de Parauapebas no sudeste do Pará. Estamos em milhares, vindos de outros acampamentos, do garimpo, de lugarejos distantes, dos assentamentos, das cidades, das periferias, enfrentamos as terríveis contradições do modelo imperante da fronteira. Não somos estrangeiros e nem famintos ainda que a miséria seja algo sempre insuportável, estigma que os dominantes utilizam sempre para nos deslegitimar, dispensamos tratamento desse nível, tacanho preconceito e vil obscurantismo cultural. O que queremos? Numa única palavra, exercer soberania sobre nossas riquezas. Decidimos ser gente, cidadãos nessa região onde o capital quer que seja apenas sua fronteira em expansão! Por isso, enfrentamos os impasses da terra, da floresta e das águas. As negações de direitos. Os agiotas. O Estado. Os governos. Os Tecnocratas, que seqüestram pela força e violência a nossa soberania e vendem para o capital internacional nossa região. Vivemos a mercê das circunstancias no segundo maior Estado da federação, região norte do país. Para o mundo, a Amazônia maior área de floresta nativa do planeta hoje impactada por projetos econômicos altamente erosivos à sua biodiversidade. Aqui estamos mobilizados a mais de 20 dias na –Jornada de luta pela Reforma Agrária e em Defesa dos Recursos Naturais do Povo Brasileiro. Escrevemos para que nos ouçam e recoloquem a verdade onde ela foi deturpada, desmoralizada. Saibam, o que chega sutil dos centros de poder é o que esmaga silenciosamente. É o que nos faz ignorar, comungar pela coletividade o que é justo e verdadeiro. Os meios de comunicação social e a direita ideológica desse país satanizam a pauta política dos trabalhadores, suas formas de luta e resistência.. Ensinam à sociedade que não é assunto de Sem Terra, de Garimpeiros, estudantes, pequenos produtores e aos pobres: o funcionamento da economia, a instabilidade política, a lei de patentes, as sementes geneticamente modificadas, as altas taxas de juros, o neoliberalismo. Ensinam à sociedade que não é assunto de Sem Terra, de Garimpeiros, de estudantes, dos pobres: à extrema desigualdade social do povo, a soberania nacional, a bolsa de valores, os destinos da nação, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o aquecimento global, a agricultura e a defesa da Amazônia. Estamos fartos das mentiras e anunciamos: 1. A nossa pobreza é um problema do Estado brasileiro e de quem governa suas instituições. Queremos que seja resolvida e não aceitamos mais saídas individuais. 2. A nossa fome é problema do Estado brasileiro e de quem manipula em favor de uma classe social - a burguesia -, toda a riqueza. Queremos resolvido o desemprego e não aceitaremos mais o nervosismo do mercado e do capital internacional determinando sobre o destino do povo. 3. A nossa ignorância é problema do Estado brasileiro, da elite medíocre e subserviente. Não aceitaremos mais as altas taxas de juros, a ditadura do modo de vida capitalista, o pensamento único e imperialista. Queremos resolvido o analfabetismo. 4. A reforma Agrária é problema do Estado brasileiro e de quem impõem o agronegócio. Não aceitaremos mais esse modelo de exportação e de acumulação de riqueza baseado na morte da nossa biodiversidade. Queremos resolvida a desapropriação dos latifúndios que praticam violência,trabalho escravo e crime ambiental. Não aceitamos mais a representação política do congresso nacional. 5. A nossa favela – pré-cidades - é um problema do Estado brasileiro, da elite “donatária” e especulativa que hoje através dos serviços públicos se apropriam da mais-valia social. Queremos resolvida pela vontade popular a reestatização da CVRD e que se estabeleça o seu controle social. Não aceitamos mais o superávit primário como fórmula perfeita de governabilidade. 6. A nossa doença é um problema do Estado brasileiro e de quem mantém subjugado pela indiferença e pela força a vontade do povo. Queremos resolvida a falta de soberania nacional e não aceitamos o poder judiciário contrariando os interresses da sociedade. 7. A nossa dor é problema do Estado brasileiro, de uma elite que joga a sociedade numa crise sem precedentes na história e na barbárie social. Queremos resolvida em forma de expulsão todas as empresas multinacionais que atuam no Brasil e, não aceitamos as falácias palacianas, queremos direitos. Contra o Imperialismo; Soberania Popular na Amazônia! Reforma Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular! Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST-PA Acampamento permanente Ás Margens da Estrada de Ferro Carajás. Assentamento Palmares Parauapebas, sudeste do Pará. 31 de outubro de 2007

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Para meditar

“Das 23 mil pessoas que trabalham atualmente em Carajás, apenas 10% é de contratados diretamente pela CVRD. mais de 20 mil trabalhadores foram recrutados por 175 empreiteiros, que terceirizaram a maior parte dos serviços, sobretudo os mais pesados e menos qualificados. Há turnos de seis,, oito, e 12 horas. Os intervalos para descanso e convivência familiar ficam ainda mais reduzidos porque os empregados perdem de duas a quatro horas indo ou voltando para suas casas. A distância, no caso dos que moram fora do núcleo residencial de Carajás, passa de 390 quilômetros. Para a Vale, o cenário é como se fosse de uma cidade comum. Por isso, se recusa a pagar o trajeto como hora extra de trabalho. Esse é o principal motivo de mais de 90% das 8 mil reclamações protocoladas na 1ª. Vara da justiça trabalhista de Parauapebas nos últimos 18 meses (o congestionamento já provocou a criação de uma segunda vara para o município). A empresa não reconhece a alegação dos reclamantes de que, a caminho do trabalho numa região pioneira, entre a portaria da mina e cada uma das frentes de lavra, deviam ser remuneradas por estarem “in itinere”, a expressão técnica dada ao tempo de transporte para local de trabalho de difícil acesso, que não é servido por transporte público. Nesse caso, as horas de deslocamento devem ser computadas na jornada de trabalho. Além de não partilhar esse entendimento, a CVRD diz também que tal benefício não consta dos contratos assinados com os empregados. E não se impressiona com a contradita do MP do Trabalho, de que essa hipótese se enquadra na renúncia a direito previsto em lei, cujo cumprimento pode ser cobrado pela autoridade competente na defesa de um direito que o cidadão deixa de exercer. Há muitas queixas também contra o excesso de trabalho nos turnos. Todas as causas somadas, a empresa e suas terceirizadas teriam que pagar aproximadamente 70 milhões de reais. Esse valor equivale à receita de pouco mais de um dia de produção bruta em Carajás. Pagar em juízo, assim, se tornou um negócio mais rentável do que cumprir no ato as obrigações trabalhistas. E ainda possibilita a legalização das infrações, pela via do acordo em juízo, apagando o passado.” O texto acima é parte da matéria “Ela enriquece. E nós?”, de Lúcio Flávio Pinto, no Jornal Pessoal n. 403, 2ª. quinzena de outubro.

Candidato

A imprensa de Belém o chama de Newton, mas o nome desse marabaense é Neuton. Neuton Miranda, ex-deputado estadual, comunista histórico e honorável. Atual Gerente Regional do Patrimônio da União, ele vai disputar a prefeitura de Belém como candidato próprio do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), decisão tomada dia 27, sábado, durante a décima edição da conferência municipal do partido, realizada em Belém.

Cumprimentos

Comovido, acuso e agradeço o recebimento, nessa quarta-feira, 31 de outubro, de gentil cartão do deputado federal Giovanni Queiroz manifestando seus votos de saúde e prosperidade pela passagem do meu aniversário, aliás ocorrido no dia 7 de setembro.

Literatura

Lançado não faz muito tempo, o livro autobiográfico do vereador Maurino Magalhães (sobre vencer ou vencer - de jegue até à prefeitura) está em nova tiragem. Pela segunda ou terceira vez este ano, os donos de bancas de revista estão tirando os encalhes da prateleira. Por outro lado, não é verdade que exista, nas Terras de alocer, um movimento pela sua canonização.

Inquérito

O Supremo Tribunal Federal informa que recebeu, nessa segunda-feira (29/10), da Procuradoria Geral da República (PGR), parecer pelo recebimento da denúncia contra o deputado federal Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), por suposto crime contra o planejamento familiar praticado através da laqueadura de trompas de várias mulheres em troca de votos no pleito de 2004, em que foi candidato à prefeitura de Marabá.É relator no Inquérito n. 2197, o ministro Menezes Direito.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Olhares.com

De súbito, umas lembranças!...

Cantávamos no coral desde a nave suspensa da igrejinha de São Félix nas manhãs ou noites de domingo. Era parte do conteúdo de canto orfeônico da escola mas foi assim, talvez, que me apaixonei pela música soturna e medieval das igrejas, o canto gregoriano, o som do cravo, da pianola de pedais tocada por Joãozinho Sariema. Ele também dedilhava acordeon em sua casa e ensinou-me, eu ainda menino, a datilografia na velha Remington inglesa. O Santa Terezinha era ali mesmo no centro: a entrada estreita pela Praça Duque de Caxias e os fundos, uma área livre com mangueira e sala de aula, para os lados da Avenida Antônio Maia, que chamávamos Rua Grande. Estudar no Santa Terezinha era um privilégio raro para jovens pobres. Quando terminei o primário na escola pública e fui aprovado no exame de admissão, a família descartou qualquer esperança: não tinha como pagar o estudo no único ginásio da cidade. O pai castanheiro, a mãe lavadeira, o irmão operário que abandonara os estudos para ajudar na despesa da casa, essa a realidade. Naquele tempo, 1961, bem em frente nossa casa havia uma pitombeira jovem no meio do descampado que abria imensa janela para o rio. Foi lá que o velho Plínio Pinheiro, desbravador de castanhais e garimpos de diamantes, me encontrou aos prantos. Constrangido e assustado com a figura impressionante daquele homem enorme, firme e gentil ao mesmo tempo, contei-lhe a causa do desespero. Ele ouviu pacientemente e disse com a maior naturalidade “Vá fazer sua matrícula, veja os livros e o uniforme, e vá em casa buscar o dinheiro”, enquanto eu o olhava com espanto, sem entender, as lágrimas, de súbito, uns grãos de gelo. Em seguida, atravessou a rua, entrou em casa e conversou com mamãe, até que ela veio abraçar-me também em prantos. Velho Plínio não gastou comigo um único centavo. Através de prova seletiva, ganhei meia bolsa da prefeitura e meia do Estado, ambas com a condição de não repetir o ano nem tirar nota abaixo de sete. Isso não excluía, naturalmente, a força da família na compra de calçado, roupas, livros, transporte, mas era uma ajuda inestimável para manter-me no ginásio. Depois de tudo fui à casa do velho Plínio, aquele homem extraordinário, agradecer-lhe a generosidade e olhá-lo de perto uma outra vez para nunca mais esquecê-lo. Quando mudamos em 1962 para o alto da colina, na margem esquerda do Itacaiúnas, arrancamos com as mãos raízes e pedras do solo ingrato e cercamos de jardins toda a extensão do ginásio, enquanto, na frente, erguemos um bosque, o “bouissonet”, como lhe chamavam as mestras dominicanas. O colégio mesmo, em boa parte, fora erguido com tijolos comprados e levados um a um pelos estudantes nesse trabalho de carreiro cotidiano de formigas. Nos canteiros usamos sementes e mudas, muitas, vindas do inefável sertão goiano, trazidas pelas freirinhas de lá originárias. Mas valemo-nos, com desenvoltura, dos recursos ao alcance, flores amarelas da acácia silvestre, a passiflora roxa em rama sobre latadas, o flamboyant a esvair-se em sangue sobre gorgulhos. Um mamoeiro crescera bem ao lado de uma das janelas da nossa sala e quase podíamos alcançar com as mãos seus frutos voluptuosos.

Destinos

Para a pequena grande amada) Ademir Braz “Amanhã teremos cinema”, dizíamos na infância, e o Marrocos enchia a tela de bang-bangs. “Também vamos ao Pirucaba, saltar n’água entre ariranhas e chupar tanta azedinha até dar cica nos dentes!” “Quero ver Nega Tereza bubuiar no serrotão”, vibrava Diabo Louro sob a croa sarará. Serrotão era o encrespado de pedras e corredeira no meio do Takai-una de saranzais e mandingas. Nega Tereza, a parceira de mão grande e alvos dentes, mais parecia menino que doce nega fulô. E que coragem e ousadia que nos enchia de orgulho! Vivíamos assim largados, lagartos no paraíso. E sonhos não nos faltavam, pejados de alvoroço... Quando a gente crescer – todos moços, nos propomos - eu, Diabo Louro e Mariano vamos ser escafandristas nos garimpos do Alencar. E Nega Tereza vai? Garimpo, será que agüenta? (Nega Tereza vai não... Ela vai ficar em casa cuidando da negralhada que eu e ela teremos. E pra ela um diamante, grande como uma pitomba, vou trazer no picuá, vou mandar encastoar). Então a gente cresceu e fez-se coisa do mundo. Nega Tereza morreu (de filho que não era meu). Mariano King Kong virou fumaça na vida. Diabo Louro matou-se de solidão e cachaça, e foi ser craque, o que era, nos campos do infinito. E eu, que ia embora pra Escócia ou Martinica, Perdi-me tanto entre amores que dei por mim assim mesmo: a falar grego sozinho nas ruas de Istambul. (De “Confissões à lua”, in “Lua de Jade”, inédito)