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quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Que bicho mordeu seu Xico?

O município de Marabá, que jornalistas e cronistas do Sul Maravilha confundem com um terço do Pará, embora o Estado de Carajás continue como o reino de Preste João somente no cediço terreno do imaginário, há anos não anda bem na foto nem nos comentários do Brazil, que não conhece o Brasil. Em artigo recente sobre “Quadrilha rural”, o secretário Xico Graziano, de Meio Ambiente de São Paulo, escreveu o seguinte: “Duas regiões do Pará sofrem o banditismo no campo. Um foco está em Marabá, envolvendo os municípios de Parauapebas, Canaã, Curionópolis e Eldorado dos Carajás. Outro acomete Redenção, abrangendo Cumaru, Santana do Araguaia e Pau D’Arco. Cerca de 160 propriedades já contabilizam prejuízos de R$ 100 milhões. Neste momento, 27 fazendas, com 100 mil cabeças de gado, encontram-se dominadas pelas quadrilhas rurais. Em 17 de outubro último, relatório reservado da Polícia paraense descrevia assim a situação encontrada na Fazenda Colorado: “Ao chegar, ainda no asfalto, fomos recepcionados por oito elementos fortemente armados, com armas de grosso calibre, alguns encapuzados em suas motocicletas, dizendo textuais ‘o que vocês querem aqui, não é para entrar, vocês são conhecidos do dono da fazenda?’. Em ato seguinte relatamos aos meliantes, os quais não foram presos em flagrante delito pelo fato da equipe de policiais encontrar-se naquele momento em desvantagem numérica, que apenas estávamos passando pelo local e o que nos chamou a atenção foi a faixa colocada na entrada da porteira, e nada mais, posteriormente seguimos nosso destino. Amedrontados, acovardados frente aos invasores, os policiais temem especialmente a LCP, Liga dos Camponeses Pobres, que domina a região de Redenção. Treinada, dizem por lá, por gente do Sendero Luminoso, a organização não brinca em serviço. Se os policiais fogem do pau, imaginem os proprietários rurais.” Seu Xico, que já foi articulado defensor dos movimentos rurais em tempo não tão distante assim, diz contraditoriamente que “na região de Marabá, impera o MST”, permitindo que se possa imaginar este movimento como grupo de “bandoleiros fortemente armados (que) invadem fazendas, fazem reféns e expulsam moradores. Saqueiam e depredam, roubam gado, tratores, arame de cerca. Fazem barbaridades.” E acaba confundindo bandoleiros equipados com armas de uso privativo das Forças Armadas com a luta dos sindicatos rurais e do próprio MST por uma reforma agrária efetiva que incorpore esta região miserável no mundo organizado da produção. Afinal de contas, como seu Xico mesmo diz, “perto de 15% do volume da reforma agrária brasileira aconteceu naquele canto (o sul do Pará). Cerca de 100 mil famílias receberam terras nas centenas de projetos de assentamento. Mas, ao invés de acalmar, aumentou a violência rural.” Claro que ninguém defende o banditismo rural ou urbano, este, entre nós, atualmente o mais viçoso, traduzido nas dezenas de execuções sumárias sem que ninguém vá preso. Mas é preciso não juntar na mesma cova rasa os trabalhadores organizados e a jagunçada da auto-denominada Liga dos Camponeses Pobre (LCP), quase totalmente desbaratada numa ação fulminante da polícia militar do estado. Contudo, seu Xico parece não atentar para isso. Diz ele que nesta “terra sem lei”, onde “a insegurança jurídica sobre a propriedade fermenta a cobiça”, “a situação é apavorante”. “Grave, acima de tudo, afora o conflito real, é o governo estadual afirmar, calmamente, que está negociando com os “movimentos sociais” da região. Movimentos sociais? Ora, treinamento na selva, ordem unida, comando militarizado, logística de deslocamento, esquema financeiro, nada disso pertence à história dos verdadeiros movimentos sociais. O que se vê acontecer no Sul do Pará é puro banditismo rural. Gente criminosa, organizada, se disfarça de sem-terra para assaltar e roubar. Um logro para enganar a opinião pública.”

4 comentários:

Val-André Mutran  disse...

Gozado, né?
Na audiência pública que tratou do assunto, o ministro da Justiça não desmaiou.

Ademir Braz disse...

É que às vezes o fricote tem efeito retardado - só ocorre depois, quando cai a ficha...
Sucesso em 2008, pra você e pra minha amiga.

Anônimo disse...

Mais gozado é o fato do "xico " ter sido presidente do INCRA na gestão FHC e não ter feito a Reforma Agrária....

Como deputado na legislatura passada foi inábil, anomimo e incompetente.....

TCHAU TCHAU CHIQUIM GRAZIANO

Ademir Braz disse...

Sobre o pití do seu Xico Graziano, o professor Gutembergue Guerra manda dizer por e-mail:
"A proposito, li seus comentários sobre "Que bicho mordeu seu Xico?" e achei que faltou ser mais claro na manifestação de que o que ele faz é bem o que os intelectuais do sul, com raríssimas excessões, têm feito: manifestado sua ignorância sobre o Brasil e em particular sobre a Amazônia."