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quinta-feira, 17 de julho de 2008

DIM, siderurgia & quinquilharias

No lugar errado. O Distrito Industrial de Marabá jamais deveria ter sido construído a montante da cidade. Nem ele nem o frigorífico atual, nem aquele antigo, da prefeitura, erguido nos anos 70 à margem do rio Itacaiúnas. Explico: na segunda metade dos anos 80 iniciou-se em Marabá, com a participação maciça de jovens, uma discussão que abrangeria o futuro imediato do município e da região, exatamente quando o garimpo de Serra Pelada estava nos seus estertores e uma incipiente siderurgia ensaiava a ocupação do antigo Castanhal Taboquinha, desapropriado justamente para instalação do DIM. À época, nossa Casa da Cultura (governo Hamilton Bezerra/Adelina Braglia, 1986/1988) estava cheia de cabeças ativas (Virgínia Mattos, Marise Morbach entre outras) e se questionava de tudo, com todos e, eventualmente, contra muitos. Entre os apoios recebidos tivemos aqui o geógrafo Aziz Ab'Saber, o historiador Vicente Salles, o jornalista Lúcio Flávio Pinto, o agrônomo Hans Miller, tudo gente da melhor estirpe, como se vê. À época, Ab'Saber foi categórico: posto entre a rota dos ventos e a cidade enfiada num sucavão muito próximo ao nível do mar, o DIM vai poluir até a alma dos moradores. Na maior parte do ano, explicou a velocidade dos ventos alcança no máximo meio metro por segundo e não vai poder remover ou espalhar os gases e resíduos sólidos que os altos-fornos vão atirar no espaço. Tenho tudo nos arquivos, e disso me recordei, semana passada, quando, para justificar a alternativa do uso de gás na siderurgia, foi divulgado estudo sobre o distrito industrial onde se afirma que mais de 40 toneladas de lixo são atiradas mensalmente ao ar. Deus salve o cientista e profeta paulista Ab'Saber. No lugar certo parece ser a definição da área onde será construída a planta industrial da aciaria de seis bilhões de dólares para a produção de bobinas laminadas de aço a quente, chapas grossas e placas na área urbana de Marabá, entre a Transamazônica e o rio Tocantins, sentido Itupiranga Abaixo, portanto, do espaço urbano. No lugar errado é que será o anúncio oficial da instalação desse empreendimento da Vale do Rio Doce, na primeira quinzena de agosto próximo, em solenidade que reunirá Roger Agnelli, Ana Júlia Carepa e Luiz Inácio Lula e outros menos votados, justamente em Belém, a cerca de 500 km das instalações previstas. O que tem a capital a ver com um projeto que de nada lhe serve, se a Vale, beneficiária ainda hoje de injustificável isenção fiscal, sequer recolhe imposto de renda ou qualquer contribuição sobre a circulação de mercadorias, recursos que poderiam ser aplicados pelo Estado em todo o Pará? Por outro lado, e como a Vale não mete prego sem estopa, aconselha-se aos aborígines locais que guardem para bem mais tarde a fantasia ufanista e o foguetório comemorativo. É que a mega-empresa só sairá se forem construídas as eclusas de Tucuruí (há 26 anos mumificadas no formol do desinteresse político) e o licenciamento ambiental, que a burocracia levará tempo indeterminado para realizar e autorizar. A propósito, em 5 de março recente, o Ministério Público Federal no Pará ajuizou ação civil pública contra o ex-diretor geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) Luiz Francisco Silva Marcos, e a construtora Camargo Corrêa por irregularidades na aplicação de recursos destinados à construção das eclusas. De acordo com o MPF, R$ 6,8 milhões foram desviados para obras na orla do município.

4 comentários:

Anônimo disse...

Segundo informações seguras a justiça acaba de anular a Conferência Municipal de Saúde e destituir o Conselho Municipal de Saúde eleito nesta falsária conferência.

Com isso todas as decisões "aprovadas" por este conselho inclusive a as contas de Pedrinho "Cadeia" serão anuladas

Anônimo disse...

A vale está fazendo bem mais do que se possa imaginar e junto com a prefeitura de Parauapebas aprontando das suas para os moradores da APA. A estrada para a retirada do minério do Salobo, foi planejada para cortar a divisa da APA com o PA Paulo Fonteles, irá prejudicar cerca de 200 famílias de lavradores. Algumas dessas famílias, as quais trabalham com o Sistema Agro Florestal (SAF), terão suas plantações destruidas para dar lugar a tal estrada e a vale, junto com a prefeitura, estão dando ouvido, ou conversando, apénas àqueles moradores que não serão afetados pela estrada, exaltando o desenvolvimento que a região terá com a tal estrada. As propriedades serão atingidas porque o projeto da estrada prevê a eliminação de curvas, ao máximo. O preço que querem pagar pelo m² foi reduzido de R$ 3,00 para R$ 0,41. Os camponeses estão se organizando nos "Atingidos pela Estrada" e prometendo resistência. è muito bom averiguar e solidarizar. Numa outra frente a Fundação Vale está se intrometendo na eleboração de um projeto de educação agrotécnica, que os agricultores da APA estavam trabalhando, com a ajuda da UFPA, para a instalação de uma Escola Família Agrícola. A Fundação repassou dinheiro para a APROAPA comprar a área para a escola, colocou seus técnicos para elaborar um projeto de um Centro Olímpico com uma Escola Agrotécnica e andam dizendo ao Presidente da APROAPA, que parece está vendido, pois só anda para cima e para baixo com o presidente da Fundação, que deve ser criado uma OSCIPE para que possam ser realizados empreendimentos e outros benefícios aos colonos. A Fundação faz uma pequena exigência: nada de Pedagogia da Alternância; nada de EFA. Urge uma ajuda aos colonos da APA do igarapé Gelado. Confira.
Fidélis

Ademir Braz disse...

Fidélis:
Por favor, nos esclareça uma pequena confusão. Se é APA ´(Área dePreservação Ambiental), por que é que existem assentamentos lá e a Vale vai construir uma ferrovia por dentro dela?

Anônimo disse...

Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado, estreita faixa de terra de um lado, lado norte da Floresta Nacional de Carajás, ao lado desta (da APA)e mais para o norte, fazendo divisa com esta fica o PA Paulo Fonteles. A estrada que vão construir, para sua informação já construiram a ponte de concreto sobre o rio Itacaiunas na divisa APA com a FLONA Tapirapé-Aquirí, não é de ferro, não é ferrovia, será uma estrada asfaltada, utilizando o traçado de uma estrada de roça de cujo eixo desapropiarão 20 metros de cada lado e nos trechos de curvas desviarão da estrada de roça entrando na terra dos lavradores. Em APAs pode haver propriedades desde que empreguem manejo sustentavel sem o uso de fogo ou outras técnicas agressivas ao ambiente ela não é um PA.