Reportagem da GloboNews
(22/10) redescobre o alfaiate como a melhor opção para quem gosta de vestir-se
bem e revela o interessecrescente de jovens pela profissão (que exige anos de
aprimoramento e estudos práticos).
Até meado de 1970, Marabá
abrigou uma plêiade de alfaiates da melhor estirpe, onde pontificaram durante
décadas profissionais como Mestre Marreca, Mestre Cunha, Pacheco, Manezin, Mestre
Hermes e outros que, em lugar civilizado, seriam nomes de ruas e avenidas.
Eram todos homens, como se
vê. Frequentavam-nos trabalhadores e comerciantes para a confecção de camisas
de tricoline e calças de gabardine e linho inglês HJ-120, tecidos de primeira
trazidos nas embarcações que partiam carregadas de castanha e retornavam
abarrotadas de mercadorias – muitas de origem estrangeira, de qualidade e preço
acessível. Bons tempos, aqueles...
Doutra parte, raras senhoras dedicavam-se
mais à feitura de roupa de carregação: uns gongós de mescla e camisas de morim
barato encomendados às centenas pelos donos de castanhais para fardamento dos
castanheiros na mata.
Ainda pouco conhecido havia o
Mário Beferré alfaiate, já falecido, mas meu irmão Donato conta uma situação
vivida com ele naquela época. Num final de semana, Donato levou Valdez, nosso
irmão mais novo, ainda criança, juntamente com um corte de tecido, à
alfaiataria na ilharga da Casa Bandeira, no Marabazinho, onde Mario costurava entre
manequins sem cabeça e barracões de castanha. Queria umas roupas novas para o
pirralho e foi com ele tirar as medidas.
Na sala de estar, onde
ficavam as máquinas de costura, não havia ninguém naquela manhã. Donato bateu
palmas e uma senhora veio lá de dentro informar que Mário estava doente há dias
e não poderia atendê-lo. Mas Mário reconheceu a voz do amigo, e pediu-lhe com o
vozeirãoarrastado e rouco que o esperasse e saiu do quarto, de bermuda,
vestindo uma camisa branca. Foi quando Valdez o viu. Além da voz estragada,
Mário era tido como um dos homens mais feios da cidade. Para completar, naquele
dia uma caxumba dupla acrescia-lhe duas batatas
monstruosas ao queixo e engrossava ainda mais seu pescoço curto. Correndo,
Donato só foi alcançar Valdez perto da Casa Xandu, do outro lado da Praça Duque
de Caxias, olhos esbugalhados de medo. A amizade com Mário permaneceu até o fim
da vida deste, mas Donato nunca mais levou seu irmãozinho àquela alfaiataria.
Em Marabá, hoje, existe um
único alfaiate que ainda conserva a tradição da nobre técnica masculina do
corte e costura marabaense. Trata-se de Mário, da Mário’s Fashion, que retornou
à terra natal após anos de andança no sul do país apurando sua arte.
3 comentários:
mestre Ademir,bom tê-lo em plena recuperação.
veja como os tempos mudaram,nossos artistas da tesoura estão cada vez mais escassos,e pelo visto o que restou também já não é como outrora,agora ostenta um pomposo nome,Mário's fashion.os tempo mudaram, meu nobre artista da palavra.
Caro Ademir "Pagão" Braz"
Sendo um pioneiro, inclusive, nascido no Canto Verde (hoje Tv. Aldo Maranhão), mudado para o Cabelo Seco por volta dos 5/6 anos, NÃO tenho como parar de rir. Do mesmo modo que o Valdez, o maior goleiro de todos os tempos que conheci, eu, também, ficava com medo quando falavam o nome PAGÃO. Imaginava se tratar de uma figura excomungada pela Igreja. O José (meu irmão) que era seu colega esclarecia que era apenas apelido.
Muito legal lembrar daqueles grandes profissionais da costura. Lembro que os aprendizes como Mário, irmão do Adão e, muitos outros, deram continuidade a arte de costurar masculina.
Sds. Marabaenses!
pagão e o
o gregorio da alfaitaria do greg na ambrosio franco, tem o caboquin na 7 de junho
Postar um comentário