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quinta-feira, 26 de abril de 2007

Carvão, “bandidos” e Calamity Jane

O crescimento da produção de produtos siderúrgicos até o final desta década, quando o distrito industrial de Marabá vai pôr no mercado mais de quatro milhões de toneladas, principalmente de gusa, e quando pelo menos duas usinas estarão na fase da aciaria e se expandindo pela laminação, um resultado será inevitável: o fim do uso de carvão vegetal. O entendimento é de Lúcio Flávio Pinto, expresso no seu Jornal Pessoal da 1ª quinzena deste abril. É que, diz o jornalista, as sete empresas do setor “já perceberam que não poderão mais continuar a fazer de conta que estão preocupadas com a legislação ambiental e empenhadas em se enquadrar nas exigências para uma produção menos predatória”, e o governo “começa a despertar da letargia burocrática, na qual se limitava a preencher papéis e fazer de conta que suas normas estavam sendo cumpridas”. Para Lúcio Flávio, esta farsa exauriu-se traumaticamente: “repercutiram no exterior, principal mercado para os produtos siderúrgicos produzidos a partir de Carajás, denúncias de trabalho escravo, produção ilegal de carvão, desmatamento desenfreado e relações sociais perversas. Compradores e financiadores, ameaçando se retrair, exigiram providências para melhorar a imagem da atividade, que os atinge pelo efeito bumerangue (embora o local de lançamento seja menos visível do que o ponto de chegada).” Mas os reajustes necessários à sobrevivência das guseiras também implicam na melhoria do nível de produção, “fazendo o setor criar efeitos benéficos para a economia local, que, por enquanto, são mínimos”; na formação de pessoal qualificado, proposta que não vai “além da intenção”; na vitalização do relacionamento com a sociedade em torno, que é “tênue”; nos projetos de reflorestamento que, “quando existem, avançam com inaceitável lentidão”, enquanto a substituição do carvão vegetal, “que devia ser uma regra determinante imediata, é deixada para depois”. Lúcio Flávio concebe que as empresas sabem que devem (e têm, acrescento) de melhorar - por vários fatores, entre os quais o agravamento da dependência e da sujeição à Companhia Vale do Rio Doce; “Além de ser a única fornecedora de minério de ferro, a Vale impõe exigências aos seus clientes para vender-lhes a menor quantidade possível (o mercado asiático a remunera muito melhor) e compensar por outra via o preço mais baixo que recebe (condiciona a venda, por exemplo, ao uso da sua ferrovia).” Porque a Vale, com esta balbúrdia em torno do carvão ilegal, ameaça suspender o abastecimento das guseiras e ainda “aparece como mocinho combatendo os bandidos e ainda faz bom negócio”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro-Nobre, é muito "papel" pra pouca árvore... Quando viajo pela bel´ssima PA 150 fico pensando se tem mais GF do que árvore em cima daquele bando de carreta ou o contrário. Nesta era de inversão de valores, daqui a pouco vai se pregar que mais vale uma siderurgica funcionando do que um bando de bicho inutil no meio do mato e um bando de peixe num rio imundo e etc. A mentalidade dos Colonizadores de nosso Carajás é o maior obstáculo ao desenvolvimento. O pensamento dos dinossauros (com todo respeito a estes seres que não mais vivem entre nós) é um só: EU QUERO É ME DAR BEM...

Ademir Braz disse...

E os carretões de carvão na estrada, depois ancorados à entrada das guseiras?
O inferno de Dante não faz meio jogo!...