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sexta-feira, 4 de maio de 2007

Fogos de artifício

Preparativos, correrias e despesas com os dois dias do “I Seminário de Desenvolvimento sustentável do Pólo Carajás”, promovido pela Câmara Municipal, poderiam ter sido evitados se tudo tivesse se limitado à publicação da chamada “Carta de Marabá”, monumental defesa da permanência da ilegalidade no carvoejamento e do descompromisso das guseiras quanto ao necessário reflorestamento e preservação ambiental. As “prioridades” defendidas na Carta são velhos temas da Associação das Siderúrgicas de Carajás (Asica): a redução da reserva florestal no Pará, de 80% para 50% (liberando-se a devastação em larga escala, por madeireiras e carvoeiros, do que resta de floresta nativa); o aporte de recursos públicos do BNDES, Basa e Banco do Brasil (que faltam a programas de educação, saúde, saneamento e inclusão social) para a recomposição da biomassa transformada em carvão e madeira de origem não especificada; a implantação de projetos pilotos de reflorestamento nos assentamentos de reforma agrária (transformando os lavradores em assalariados da produção de pinus e eucalipto para carvoejamento, e destruindo a produção de alimentos da agricultura familiar). Sabe-se que as guseiras querem tolerância do governo e seus órgãos ambientalistas até 2015, suposto marco para a sustentabilidade dos seus investimentos em replantio. Mas ninguém tocou em pontos sensíveis como a adequação da produção gusa ao carvão de origem honesta (se é que há), nem em investimentos privados na aquisição de terra, alocação de mão-de-obra, e plantio de essências florestais para a voragem dos altos-fornos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Você está certo . Mas o encontro na Tailândia deixou claro que esse novo cenário não cabe mais espaço para carvão vegetal. A palavra de órdem é realinhar as formas deprodução. E isso quem dita não é o Pólo Guseiro é o Mercado Internaciona. Eles é quem ditão de fato como querem o produto e não os pequenos produtores. Eles, vivem sem o ferro-gusa, podem substituir por sucata . O pólo do que viverá???

Ademir Braz disse...

Caro anônimo:
Minha impressão é que o pólo viverá do mesmo combustível que alimenta a feitura da Hidrovia Tocantins-Araguaia; as Eclusas de Tucuruí (25 anos sem sair do papel); a pavimentação da Transamazônica (35 anos de descaso); a reforma agrária (o Estatuto da Terra, que introduziu objetivamente o tema na legislação infraconstitucional, é de 1964), que só produz mesmo é uma infinitude de vidas perdidas.
Pressionados pela sociedade, em razão do alto grau de destruição ambiental, as grandes indústrias americanas, européias e,( mais recentemente) orientais começaram a transferir seus altos-fornos poluidores, ou a estimular a construção deles, para o terceiro mundo. No Brasil, primeiro para Minas Gerais, onde a quase totalidade da biomassa virou carvão. Agora para a Amazõnia, desde meados dos anos 80, por causa da vegetação disponível, da mão de obra barata, da história de "integrar para não entregar", para aproveitar as sobras do desmatamento vindo a reboque da pecuária.
Tal qual a pecuária (não falo de agricultura, tão insignificante entre nós - mero exercício de subsistência),a mineração e esta siderurgia capenga não agregam valores nem dinamizam a economia. Sequer consumimos o que produzimos, nestes setores. Logo, somos apenas um grande almoxarifado de onde tudo se tira e nada se repõe, até que cheguemos ao esgotamento definitivo como aconteceu com o manganês da Serra do Navio (Amapá).
Eu lhe agradeço por tocar neste assunto, que merece discussão pública. Infelizmente, em Marabá, as discussões públicas são hipocrisias e arrumações falaciosas como o seminário da Câmara, inventado para convalidar o interesse de guseiros (grandes financiadores de campanhas eleitoreiras), e o tal Plano Diretor que a Prefeitura finge estruturar e que até agoranão passou da aprovaç~~ao de uma lei fajuta, que é só uma carta de intenções: nenhum diagnóstico ou prognóstico foi realizado sobre a realidade de cada espaço urbano, nem de cada potencialidade dos setores rurais, onde são mais de 100 só os assentamentos do Incra.

Anônimo disse...

Mas esperar o quê desta trupe? Olhe e reflita sobre o Presidente da Câmara. Veja os projetos do Ver. Adelmo. Busque tudo o que Vanda já disse e diz-disse sobre Tião, além de ser "dona" da SEDUC. Ouça Maurino, Ademar, Zezito, Júlia... São todos PAPAGAIOS DE PIRATA, se as guseiras dizem que pau é pedra, nossos brilhantes vereadores até amolam faca no pedaço de tora.

Ademir Braz disse...

Deixe-me contar-lhe um fato verídico, que o Azizin Mutran Filho coletou e pôs num livro até hoje inédito (situação em que permanecerá por falta de uma política cultural na casa de mão joana) sobre a história de Marabá. Tive chance de ler a brochura, há interpretações questionáveis - mas, técnica e qualitativamente, o trabalho é superior aos do João Brasil Monteiro. Vamos lá:
Tibiriçá Brito de Almeida era vereador pobre, quando a Casa tinha, naqueles bons tempos, no máximo sete delinquentes, seis excluindo ele.
Um dia, ao chegar à Câmara, onde os assentos de cada edil era igualzinho àquelas mesinhas com gaveta que havia na Escola Municipal (lembra?), ao guardar seus papéis Tibiriçá encontrou um maço de dinheiro bem guardadinho.
Certificou-se que era dinheiro vivo e aguardou. Mal começada a sessão, ele levantou-se, indagou se alguém havia "esquecido" o dinheiro na sua gaveta, e o presidente da Casa explicou-lhe, jeitoso, que aquilo era "um agrado" do prefeito (acho que era Alfredo Monção, não recordo) para que projeto de seu interesse fosse aprovado. Todos tinham ganho a mesma quantia, riu satisfeito o presidente.
Tibiriçá abriu sua gaveta, recolheu seus papéis, pôs educadamente o pacote de dinheiro sobre a mesa da presidência, ganhou a rua e nunca mais pôs os pés na Câmara de Marabá.
Moral da história: ou já não se faz mais vereadores como antigamente, ou algum fator genético degenerou de vez o tecido psicossomático e moral de quem chega ao poder nesta cidade.

Ademir Braz disse...

Acho que a ciência tem uma explicação para o, digamos, comportamento aético dos nossos políticos: quando criança, os cascudos que levaram na cabeça acabaram por lesionar-lhes o córtex frontal ventromedial, uma porção específica do cérebro.
É o que sugere matéria da Folha de S. Paulo, de 22.março.07, como se lê abaixo:
Cérebro tem área ligada à moral, aponta pesquisa
Folha de S. Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

Estudo reforça hipótese de que a evolução dotou os seres humanos de um tipo de órgão universal da ética, alojado no sistema nervoso
RAFAEL GARCIA, DA REPORTAGEM LOCAL


Para agir de maneira ética, basta pensar de maneira racional ou é preciso se deixar envolver também pelas emoções? De acordo com um estudo publicado ontem (21/03/07), julgamentos morais que as pessoas fazem quando estão diante de um dilema são mais emocionais do que se imaginava - sinal de que a moral não é baseada só na cultura e faz parte da natureza humana.
Para lidar com essa questão, um grupo liderado pelo psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade Harvard, e pelo neurologista português António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia (ambas nos EUA), submeteu diversos voluntários a um questionário com situações imaginárias de deixar qualquer um arrepiado.
A maior parte delas envolvia decisões do tipo "escolha de Sofia", como sacrificar um filho para salvar um grupo de pessoas. Que mãe permitiria isso?
Para tentar inferir o peso da emoção em julgamentos morais, os cientistas incluíram entre os voluntários seis pessoas que haviam sofrido lesões numa área específica do cérebro, o córtex frontal ventromedial. Entre as diversas funções dessa estrutura está a integração de sentimentos à consciência.
O resultado do experimento foi que os portadores da lesão tiveram tendência a pensar de maneira mais "utilitária". Eles escolhiam, da maneira mais fria, a
decisão que prejudicasse um número menor de pessoas.
"Como os pacientes com a lesão que estudamos presumivelmente carecem de emoções sociais/morais apropriadas, seus julgamentos são mais baseados em considerações utilitárias do que em fatores emocionais." Uma das questões usadas pelos cientistas envolvia uma situação imaginária na qual famílias vivendo num porão se escondiam de soldados que procuravam civis para matar. Um bebê começa a chorar, e a única maneira de calá-lo para evitar que todos sejam encontrados é tapar a respiração da criança por tempo suficiente para matá-la. O que fazer? Para os pacientes portadores da lesão estudada, a decisão correta era matar a criança.
A resposta, de certa forma, era o que os pesquisadores esperavam. "Pacientes com essa lesão exibem menos empatia, compaixão, culpa, vergonha e arrependimento", disse Koenigs, que foi autor principal do artigo que descreve o experimento hoje no site da revista "Nature" (www.nature.com).