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terça-feira, 24 de julho de 2007

Razão não pequena para Carajás

Curva do S - lembrai-vos da chacina de sem-terra
pelas tropas do governo do Pará

3 comentários:

Anônimo disse...

Lembro-me como se fosse hoje, daquele fatídico dia. Eu estava na estrada, seguia rumo ao local para render uma equipe. No caminho, os sinais do confronto. Um carro vermelhop da PM conduzia um grupo de maneira alvoroçada. Mais a frente , a certeza: a estrada bloqueada, a imprensa presa em um ônibus e os tiros que eram lançados para todas as direções. Corri a um posto telefônico e avisei a Belém que havia ocorrido uma tragédia. Eram pouco mais de cinco e meia da tarde. Logo em seguida , a jornalista Marisa Romão foi liberada. Voltei ao loca por órdem superior. Encontrei na estrada um comandante assustado e uma tropa sem comando. Enquanto tentei perguntar o que houve , o motorista de meu carro viu os corpos que estavam sendo recolhidos nas valadas e colocados na pista. Aflito, ele me alertou. Segui de volta a Eldorado. No caminho, um idoso que teve as costas atingidas por um balaço pedia socorro.Paramos e o colocamos dentro do carro. seguimos para Eldorado, enconramos a família numa vicinal e em seguida seguimos para Curionópolis. As cenas que vimos ficaram na memória. Cada vez que passo na Curva do S me lembro de tudo e reflito: o que mudou? houve avanços reais? A luta que vem sendo constuída a preço de sangue ainda não produziu respostas, resultados capazes de tornar possível uma mudança real na estrutura fundiária.

Eu?

Ademir Braz disse...

Caro:
A chacina da Curva do S, patrocinada pelo governo Almir Gabriel, ainda não foi devidamente relatada pela História.
o escritor Eric Nepomuceno está lançando este mês,em São Pàulo, creio, um livro sobre o tema - que vai juntar-se a tantos outros infelizmente sem acrescentar muito: todas as obras serão sempre olhares externos, do outro, friamente distantes da tempestade emocional que envolve a tragédia.
Certo, Nepomuceno pesquisou em livros, jornais, ouviu alguns líderes do MST. Não se lhe nega a validade da pesquisa, nem sua intenção em desvelar aspectos da realidade. Mas o resultado é falho, sempre será falho.
Como traduzir o horror que tive ao saltar o muro do Sesp velho, na Marabá Pioneira, e escalar a parede do necrotério improvisado cercado por policiais e ver os corpos amontoados, o camponês sem um único resíduo do cérebro na caixa vazia da cabeça? Como expressar o terror em que até hoje vive Marise Romão, marcada para todo o resto da sua vida,perseguida por ameaças de morte (que eu ouvi, junto com ela, em seu telefone)? Como esquecer as imagens e sons da gravação que o cinegrafista colheu ao manter a câmera ligada enquanto gritava "não atira, é a imprensa, não atira!" e o policial de metralhadora em punho dizendo "o que é que tem? Não interessa, vai morrer também!"?
Atrás de notícias fui parar na sede do MST, perto do cemitério da Velha Marabá. Lá encontrei duas ou três pessoas desesperadas tentando atendcer telefonemas da Espanha, Inglaterra, França, uma ligação internacional vagabunda, ininteligível, que tentei responder de forma capenga, porque meu conhecimento de autodidata dessas linguas se limita a lê-las, não a falá-las, desespero de um e outro lado das linhas oceânicas...
Quem um dia vai escrever sobre isso, com a emoção que retorna a cada lembrança?
Um abraço solidário e respeitoso.

Buceta disse...

Caro Ademir Braz,
Fizemos uma homenagem no nosso blog para aprovação do Estado do Carajás.
Apareça lá.
http://bucetadetodos.blogspot.com
Saudações bucetais.