Pages

terça-feira, 26 de abril de 2011

O avanço do obscurantismo

Esta é do blog Holofote Virtual, de Belém:


Dalcídio Jurandir e o descaso político para com a memória da literatura amazônica

Avenida Dalcídio Jurandir
Há dois anos  coordenadores da Assembléia de Deus vem tentando obter homenagem estampada em via pública pelo centário da instituição a ser  festejado no próximo mês de junho. Como se lê neste link aqui, eles tinham duas alternativas a propor ao poder público.  Num atentado à memória da cultura paraense, venceu a pior.

A primeira ideia foi propor a abertura de uma "rua passando por dentro do terreno do Templo Central, ligando a avenida Governador José Malcher à rua João Balbi, no centro de Belém". A segunda era iniciar "articulação para a mudança do nome da avenida Dalcídio Jurandir, às proximidades da avenida Independência, para avenida Centenário". A segunda opção pelo visto foi a mais fácil de ser conquistada.
No dia 08 de abril, o escritor e jornalista Alfredo Garcia deu o alerta em seu blogPágina Nua. Os vereadores, “em acordo conchavado”, decidiram trocar o nome da Avenida Dalcídio Jurandir (extensão da Av. Independência que vai da Rodovia Augusto Montenegro até a Av. Júlio Cesar), que homenageia o grande romancista brasileiro nascido em Ponta de Pedras, no Marajó, para Avenida Centenário da Assembleia de Deus.

Painel em sua homenagem, no Fórum de Letras da Unama, em 2010
“Justifica-se, naturalmente, a decisão dos senhores vereadores por dois fatos: a) Total desconhecimento de quem foi Dalcídio Jurandir, de sua importância para a história cultural e política do Pará; b) Desejo de agradar aos nobres integrantes da Assembleia de Deus, no que vai um nada louvável toque eleitoreiro na votação”. O texto completo você pode ler no blog do escritor, acesse aqui.

No dia 20 de abril, o poeta e contista Paulo Nunes, graduado, com Mestrado e Doutorado em  Letras, atuando nos temas:  Dalcídio  Jurandir, Ciclo do Extremo Norte, Amazônia,  entre outros,  também se manifestou sobre o assunto e comentou, em carta publicada no Jornal O Liberal (Caderno Cidades, seção Jornal do Leitor, pg. 8), a “decisão” parlamentar.

Vale ressaltar aqui outros atos desatentos para com a memória do escritor. No mês de março, o cineasta Darcel Andrade, que tem trabalhos na região marajoara, informou  pelas redes sociais, que a casa que fora habitada pelo escritor em Cachoeira do Arari, sendo inclusive um ponto turístico marcante da cidade, ao lado do Museu do Marajó, em total estado de abandono começou a ruir.

Casa que pertenceu ao escritor, em Cachoeira do Arari
E assim foi. A parte da frente já está no chão e falta muito pouco até que ela desapareça para sempre. Em 2009, à época do centenário de  seu nascimento,  o escritor foi  lembrado e eleito patrono da Feira Panamazônica do Livro.

Paralelamente, o governo do estado tinha iniciado um processo, via Secretaria de Cultura do Estado, de desapropriação da casa para ser transformada em Espaço – Museu Dalcídio Jurandir, mas por questão de valores  e outros fatores discutidos com a família do escritor, nada mais foi feito ou resolvido.

Pela importância de sua obra, o seu nome dado à avenida, é mais que merecida. O centenário da Assembleia de Deus, que será comemorado em junho, não perderá brilho algum caso seja revista esta atitude, já que os coordenadores da festa deste centenário tinham outra alternativa para obter homenagem pública. Leia abaixo o artigo de Paulo Nunes, publicado no jornal O Liberal.

Vereadores e a triste Belém

O escritor
Dizem por aí: "cada povo tem o governo que merece". Não quero entrar no mérito desta questão. Mas desejo, cidadão que cumpre com suas obrigações (que não são poucas), protestar contra os desmandos dessa nossa terra empoleirada na pobreza, lixo, escuridão e miséria. E os políticos têm responsabilidade grande nesse processo. Eles se valem da anestesia geral e saltitam seus projetinhos pequenos e que nos deixam com os piores índices de desenvolvimento humano do país.

O despreparo e a escassez de bons propósitos fazem com que a gente ouça por aí que os políticos não pensam no bem comum, mas em seus objetivos mesquinhos, que esbarram na falta de ética e na ganância. Não exageremos. Há exceções. Mas há um problema tão sério quanto os que correm em boca pequena: a falta de compromisso de alguns políticos com a memória e a cultura do povo, este que teve como ancestrais os cabanos. Que barganhas levam os legis]ladores a leis tão estapafúrdias, a projetos estúrdios?

Os senhores vereadores de Belém - ó, quão mísera cidade! - acabam de decretar suas anorexias mentais. Em nome da demagogia, os representantes do povo alvejaram votos de numerosa fatia dos evangélicos (a Assembleia de Deus, diga-se, merece todas as homenagens pelo seu centenário, graças ao culto a Deus e ao bem que promove à humanidade) ao trocar o nome da avenida "Dalcídio Jurandir", um dos mais importantes escritores da América Latina, por "Centenário da Assembleia de Deus".

Livros escritos por Dalcídio
Queriam homenagear nossos irmãos cristãos? Por que não o fazem com criação de uma biblioteca pública, ecumênica e multirreligiosa, que seria plantada, por exemplo, no centro da esquecida Terra Firme? Já pensaram os senhores edis em trocar marginalidade e violência por "livros - tradicionais e eletrônicos - à mancheia" e investimentos sociais? E na entrada todos leríamos "Biblioteca Ecumênica Centenário da Assembleia de Deus", placa com os nomes dos autores e executores do projeto?

Dalcídio Jurandir, que era comunista convicto e ateu, era, entretanto, um dos mais respeitadores aos cultos religiosos, de qualquer cor e motivação. Se a religião é para o bem, pois que se faca dela algo que desaliene e ao mesmo tempo exalte a dignidade humana, pensava o escritor, conforme me disse, certa vez, seu filho, José Roberto Pereira.

Paulo Nunes
Belém-Pará

3 comentários:

Anônimo disse...

Acho que a história empreendida pela Aseembléia de Deus, na evangelização que partiu de Belém para o interior e países vizinhos, não desmerece a homenagem. Acho de igual importancia. Afinal de contas, o trabalho de resgate e restauração por meio da fé tem seu peso e apresenta resultados que vão além de uma simples admiração por peça literária, restrita a poucos.

Ademir Braz disse...

Deixe-me discordar do senhor. A pregação doutrinária, na atualidade, tornou-se, a meu ver, uma indução da consciência livre de qualquer cidadão/ã a um retorno aos piores anos de traves antes do Iluminismo. Pior, uma sujeição completa da pessoa aos ditames de uma igreja que, de outra parte, se refestelava na promiscuidade com o governo, fosse qual fosse.
Assim, a restauração pregada em nome da Bíblia - livro de autoria incerta e traduções convenientes - não é mais, hoje, do que a restauração de um modo de vida incompatível com nossa realidade. É, de fato, apenas um processo de alienação do homem e da mulher do seu próprio tempo.
Em nome de quê?
Em nome de uma salvação não garantida (nem confirmada!) em troca de módicas prestações denominadas dízimos, e que, sem prestação de contas, só a cúpula da igreja poderia dizer (mas não diz)para onde vai.

Anônimo disse...

Essa crentaiada demagoga e mercenária é que nem dengue e aides. Tá atacando pelos cinco lados. Do jeito que a IGREJA UNIVERSAL DO REINO DO DINHEIREO faz no Congresso NACIOMAL, outros lobos e lobitos, na sequência fazem nas Assembléias Desgenerativas e nas Câmaras Munifecais. Tão lavando dinheiro roubado a rodo mano. Só os desprovidos da capacidade de raciocínio não veem. São os emissários de SATÃ mano, Sejamos fortes; não nos corrompamos nem deixemos lavarem nossas mentes como tantos outros pobres coitados. O inferno está excretando crente pelo ladrão.