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segunda-feira, 29 de agosto de 2011


“Depósito do horror” é encontrado perto de Trípoli

A versão em inglês da revista alemã Der Spiegel publica, nesta segunda-feira, uma reportagem que traz os indícios mais fortes de que tropas aliadas ao ex-ditador da Líbia Muammar Khadafi cometeram assassinatos em massa durante a guerra civil que culminou, ao menos por enquanto, com a queda de Khadafi. A publicação detalha o que chama de “depósito do horror“, encontrado no complexo de Khellet Ferjan, nas cercanias da capital (foto).
Segundo a Spiegel, havia pelo menos 50 corpos no depósito, quase completamente queimados, exceto por seus esqueletos. Havia também quatro corpos de pessoas mortas em uma construção adjacente, sendo que uma das vítimas estava amarrada e havia sido baleada no rosto. Um homem afirmou à revista alemã que ficou preso em Khellet Ferjan, o que indica que o local não era usado apenas para extermínio, mas outra testemunha (Abdulatif Rafaii, de 42 anos) descreve, com detalhes, as execuções sistemáticas:
Essas mortes não foram as únicas, diz Rafaii. Ele explica que, desde o início do levante líbio, em fevereiro, aliados de Khadafi repetidamente traziam oponentes do regime, manifestantes e saqueadores aqui para serem torturados, mortos e enterrados. Ele diz que eles usavam também a propriedade adjacente. (…) Rafaii relata como essas pessoas foram mortas. Ele diz que o assassinato ocorreu por volta das 20 horas da última terça-feira, por volta da hora que os muçulmanos quebram o jejum durante o Ramadã. Naquela tarde, os rebeldes capturaram o complexo Bab al-Aziziya, em Trípoli, símbolo do poder do regime. Deveria estar claro para os apoiadores de Khadafi que a batalha estava perdida. Talvez eles pensaram que era hora de cobrir suas pistas. De acordo com Rafaii, soldados de Khadafi levaram as pessoas para o depósito. Eles então jogaram granadas de mão na parte de trás do prédio. Os sobreviventes correram para a porta aberta do depósito, onde os homens de Khadafi atiraram na maioria deles. Muitos dos esqueletos estão perto e na frente da porta.
O “depósito do horror”, segundo a Spiegel, era administrado pelas Brigadas Khamis, comandadas por um dos filhos de Khadafi e conhecidas por sua crueldade. Na parede do depósito, há a inscrição “32ª Brigada Khamis – nós vencemos ou nós morremos”.
Os indícios de crimes de guerra cometidos por forças aliadas a Khadafi têm se acumulando desde o desaparecimento do ditador. Na última quinta-feira, a rede de TV Al Jazeera levou ao ar reportagem na qual afirmava ter encontrado indicações de um assassinato em massa que teria sido realizado em Trípoli.
Há também acusações de tropas rebeldes teriam torturado homens fiéis a Khadafi, uma notícia que fez a liderança do Conselho Nacional de Transição (CNT), o governo rebelde da Líbia, a reforçar os pedidos de que seus homens não tentem se vingar dos aliados de Khadafi. Este é mais um desafio da Líbia: construir uma democracia e acertar as contas com o passado de 42 anos de domínio de Khadafi e com o passado recente de guerra civil.
Foto: Sergey Ponomarev / AP
José Antonio Lima

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