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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ouro, prata e cobre se vão. Ficam os poluentes


O anúncio saiu na página B8 do Diário do Pará (24/08) na parte inferior repleta de editais públicos e particulares: “A Salobo Metais S/A torna público que obteve da Secretaria de Meio ambienta do Pará – Sema/PA, a Licença de Operação n° 6999/2012, para o Terminal de Concentrado de Cobre localizado em Parauapebas/PA”.
Localizado no município de Marabá, o projeto Cobre-Salobo foi considerado, na década de 1990, o maior projeto minero-metalúrgico no país, com previsão de investimentos da ordem de US$ 1,5 bilhão, envolvendo as etapas de mineração beneficiamento e metalurgia do minério do Igarapé Salobo, com reserva de 1,4 bilhão de toneladas e vida útil de 30 a 33 anos, na fase de lavra a céu aberto.
Com entrada em operação por volta de 1999, Salobo permitiria ao Brasil, já no ano seguinte, a autossuficiência na produção de cobre metálico, não só atendendo ao déficit de oferta do produto, como também exportando parte da produção. À época, Caraíba, na Bahia, era a única fornecedora interna do produto.
A mina do Igarapé Salobo, em Marabá, tinha potencial definido de 200 mil toneladas/ano de cobre metálico, 200 mil toneladas/ano de ácido sulfúrico e, como subprodutos, oito toneladas anuais de ouro e 20 toneladas de prata, além de molibdênio. Estimava-se a reserva de ouro em 530 toneladas.
Provavelmente a ninguém da administração pública ou à sociedade marabaense interessou o aviso - réquiem para um sonho que embalou meia década de luta entre Marabá e a então estatal Companhia Vale do Rio Doce, nossa versão tupiniquim de Davi e Golias. É que a imensa reserva mineral fica em Marabá, mas a Vale pretendia justamente o que faz agora: instalar o Terminal de Concentrado de Cobre na pera ferroviária situada em Parauapebas.
Talvez ainda alguém mais se recorde: ocupação popular dos trilhos na cabeceira da ponte, inclusive com a participação do prefeito Haroldo Bezerra e vereadores; as reuniões com governo federal e do estado, às centenas de cartas remetidas à CVRD, ministros, deputados federais e senadores, o apoio da imprensa. O jornalista Lúcio Flávio Pinto, expert em CVRD, teve desempenho fundamental na elaboração das contrarrazões municipais. 
O argumento da população, verbalizado pelo poder público, fixava-se em linhas simples: 1 – era inadmissível que um polo industrial, no qual se investiria US$ 1,5 bilhão, como o do Salobo, só pudesse oferecer como bem mais nobre o concentrado de cobre, sobretudo com os altos teores de ouro e prata que esse concentrado contém; 2 - o confinamento da usina metalúrgica na pera ferroviária significava marginalizar a população regional dos efeitos positivos do processo de industrialização; 3 - a planta da metalurgia deveria ser instalada no Distrito Industrial de Marabá, dotado de infraestrutura, vias de acesso, água, energia, telefone e atravessado pela Estrada de Ferro Carajás.
Em suma, Marabá entendia que fora do Distrito Industrial, alcançado por um mineroduto mina-DIM, o terminal do concentrado de cobre tornaria o projeto Salobo um enclave (território ou trato de terra de um país, encerrado no território de outro) na Serra de Carajás, ficando o entorno contabilizando apenas os efeitos nocivos dos grandes projetos.
A luta foi árdua e tensa. Encerrou-se melancolicamente com a privatização da Vale pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Privatizada e sem efetivo controle popular, a Vale tornou-se de fato um enclave dentro do Pará, economicamente maior que este, sem compromisso com nativos ou periféricos.
Para nós, o resultado é esse: as reservas do Salobo (o cobre impregnado de prata, ouro e molibdênio) situam-se geograficamente no território marabaense, mas o benefício do seu aproveitamento industrial vai gerar emprego e renda no planeta Marte. Por aqui ficarão os resíduos tóxicos, o depósito de 200 mil toneladas/ano de ácido sulfúrico (H2SO4, capaz de contaminar cursos de águas, tornando-os impróprios para uso em qualquer finalidade; altas concentrações no ar põem em risco a vida humana e animal), e de flúor (elemento químico tóxico, mortal se inalado mesmo em concentrações tão baixas como 1 ppm).

3 comentários:

Edvaldo Lima disse...

Caro amigo, vc deve lembrar o que aconteceu na epoca que fecharam a ferrovia na altura da Coca Cola, cobrando da Vale a implantação do Salobo e Marabá, e vc deve lembrar o q aconteceu logo em seguida, Pseudos empresário presidente da ACIM, e outro dono de um bar na Orla de Nome Tucunaré, entre outros vereadores que foram negociar em São Luis, os Epresários logo em seguida aparecerão como por milagre endinheirados, o primeiro comprou não sei como um canal de TV, Barco carrissimo, o segundo ganhou contrats tanto no salobo e Canãa, vereadora vc mesmo apresentou a declaração de imposto de renda co tratores entre outras coisas mais, quero falar e brincadeira nossos politicos locais, agora todos são santos,estamos e LASCADOS meu amigo

jose filho disse...

a algum tempo postei um comentario relacionado a esta situação que vivemos em nossa região, pessoas que se vedem por um pouco e não olham pra frente onde se esta empresa investisse nesta região o que ela deveria investir os mesmos ganhariam muito mais que as esmolas que recebem hoje para se calarem!!

Anônimo disse...

Caro Dr. Ademir, FHC tem sua parcela de culpa sim. Porém, a dura realidade hoje, difere, em muito daquela cantada por palanqueiros de ocasião e/ou plantão. Vamos nos ater à instalação ou não da ALPA em Marabá. Esclareço que sou favoravel ao Projeto em terras marabaenses. Em meu modesto sentir, penso que trata-se de uma questão de lógica elementar : 1-) Apesar de ser uma empresa privada, a Vale é controlada de fato, pelo governo federal através do BNDES-PAR e PREVI(BB). 2-) O populismo lulo-petista e a sanha do próprio PT em abocanhar cargos estratégicos na Vale para fazer da empresa um instrumento para arrecadar apoios e votos já atrapalharam em muito, num passado recente, a empresa. 3-) A primeira grande intromissão do governo brasileiro na Vale beirou perigosamente, o desastre, a julgar pela perda de valôr de mercado da empresa quando da saída de Roger Agnelli da presidencia. 4-) Enquanto empresa privada, quem decide onde serão realizados investimentos é seu Conselho Diretor, formado por profissionais da área de mineração, e não Míriam Belchior(Ministra) que pouco ou nada entende do metier, e sequer consegue tocar com eficiencia o tal PAC. 5-) A Vale é uma mineradora, salvo equívoco, a segunda maior do planeta. Esse é seu negocio. É isso que ela faz, e muito bem.6-) Sendo uma mineradora que têm no minério de ferro sua principal receita, porquê, em sã consciencia, era ou é preciso, entrar no ramo de aciaria(produção de aço/derivados), para competir com suas principais clientes ? No Brasil a CSN, e Bao Steel na China ? 7-) A produção de aço e derivados no Brasil têm capacidade ociosa. A tão sonhada(por nós)entrada da Vale nesse mercado(com a ALPA em Marabá), forçará ainda mais o preço para baixo. Isso, nenhum deles quer, afinal, se mantém a produção abaixo justamente para assegurar o preço do aço competitivo e lucrativo. 8-) A crise européia e os recentes resultados fiscais do Japão, só indicam aos produtores de " commodities " a continuar fazendo o que é possível : vender " commodities ". 9-) Verticalizar a produção de minerio de ferro nesse especial e perigoso momento, é de uma falta de senso de oportunidade inequívoca. Ainda mais, quando isso não faz parte de seus "planos de investimentos"(da Vale). 10-) Vendemos minerio de ferro para a China, EUA e Japão, que por sua vez, o industrializam(beneficiam)e vendem aço pro resto do planeta em condições bem melhores que as ofertadas aos brasileiros - vide a sobretaxação aplicada ao nosso aço na Europa e EUA. Agora, por favor, me digam porquê uma das maiores empresas de mineração do mundo, vai tirar do papel um Projeto(ALPA) que por todas as razões aquí expostas não parece nada lucrativo ? Lembremos que ela é uma empresa, o Convento das Carmelitas é outra coisa, e bem diferente. Em 08.09.2012, Marabá-Pará.