Pages

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Amiga de infância






                                  Ademir Braz

Mariazinha, irmã de Ana, valente lavadeira,
mãe de Donato, José e Valdez; Maria menina
que punha no olho azul de Valdemar o verde
da  mata e o grão de luz dos diamantes.
Na casa de palha em que vivemos pedíamos
apenas que teu sorriso iluminasse do quadro
na sala, as flores que púnhamos ao teu redor.
Amiga pequenina de Paquinha, tão sozinha,
e de Edgar que a loucura uns tempos consumiu;
de Bena, o generoso, cujo coração cresceu
Até matá-lo dentro de um barco sem destino;
Mariazinha de Elpídio, o calafate, que a boiuna
encantou sob a lua nas calhas do Pirucaba;
Mãe de Geralda, parteira, e de Zezinho, guardião
das ervas cheirosas e encantarias do quintal;
Mariazinha dos pretos pobres da Taboquinha,
que traziam o santo óleo do babaçu para o cuscuz
de arroz, hóstia matinal dos operários da oficina.

Doce Maria sem romeiros! Se tanto, a cantoria,
o terço das idosas de xale e rosário nas mãos;
Santa Maria dos desejos sonhados e não vividos,
Dos amores e afogados para sempre desaparecidos.
Ai, Mariazinha das negras tecedeiras de bilros,
Soubesse, eu nem rezaria!  Contrito, só exibiria
a vida artesanal que aos poucos apuro todo dia, 
e os amores que entreteço nos cabelos brancos.
******* 



2 comentários:

Anônimo disse...

Que Belo
Singelo
Ternura
Que Desamargura
O Coração Desiludido.
Melhor Sonhar
Acreditar
Que vai Melhorar
Já não dava como estava

Salve Ademir
Salve Marabá

Arnilson

marabanato disse...

Saudades de ti e dos teus, Mariazinha.

Eu que conheci Ana e outros valentes.
que conheci Donato, Valdez e Ademir ...
Que conheci a casa de palha, o barco e o calafate
Que banhei e vadiei no Pirucaba,
Que me assombrei com a boiuna
Que degustei do cuscuz de arroz ao óleo de babaçu

Que rezei ave-maria na Igreja de São Felix e na Capelinha.
Sei agora que já faz muito tempo (...) mas, até hoje, sinto saudades de ti e dos teus, Mariazinha.