O
MST/Pará acusa o superintendente regional do Incra de Marabá, Eudério Coelho de
arquitetar junto a fazendeiros a prisão de um militante do movimento na tarde
de ontem (25).
Segundo
Eurivaldo Martins, dirigente estadual do MST, quando saiam das imediações do
INCRA,onde foram solicitar cestas básicas para famílias acampadas, o carro que
levava cinco integrantes do movimento foi cercado brutalmente por policiais da
Delegacia de Conflito Agrário (DECA).
“Vieram
rispidamente em direção a nosso carro, correndo, com armas apontadas e gritando
para todos saírem”, descreve Martins.
Após
prestarem depoimento na delegacia, em Marabá, Moisés teve voz de prisão
decretada pelo delegado Victor Leal, já que teria dois mandatos de prisão, pela
acusação de roubo de gado na região.
Maria
Raimunda, dirigente do MST no Pará vê a ligação do episódio com uma estratégia
dos fazendeiros, do INCRA em parceria com a DECA para intimidação dos Sem
Terra, que ocuparam recentemente duas fazendas no sul do Pará, Santa Tereza e
Cosipar.
“Desde
que fizemos as últimas ocupações, o INCRA tem tido esse comportamento de armar
emboscada para gente, acredito que esse acontecimento está conformado nessa
trama entre o órgão e os fazendeiros”, acusa.
Criminalização
Nos
últimos anos, a incidência de militantes de movimentos sociais, que tiveram
prisões decretadas por alguma acusação aumentou no Pará. Atrelar o roubo de
gado aos Sem Terra, tem sido uma constante.
Para
o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá, José Batista Afonso,
os infinitos processos contra dirigentes e militantes sociais cumpre uma função
no Pará.
“Toda vez que existe uma ocupação de terra, ou
outra mobilização que vá contra essas fazendas irregulares, os processos contra
essas pessoas são ativados para fins de intimidação”.
È
o caso de Moisés, que teria tido sua prisão preventiva decretada em 2009 por
ser acusado pelo roubo de gado injustamente. “Como é um dos que participou das últimas
ocupações no estado, agora a polícia usou a carta na manga que tinha para
prendê-lo”, diz Batista.
Só para um lado
Para
além da criminalização, a justiça pende só para um lado no Pará. O mesmo
delegado que prendeu Moisés, deu inúmeras declarações em jornais locais
chamando a ocupação do MST de “clandestina e ilegal, por não ter avisado
ninguém”.
No
entanto, quando solicitado pelos Sem Terra, para mandar um grupo móvel
averiguar o recém acampamento em Marabá, que estava cercado por pistoleiros,
não atendeu ao chamado.
“Eu fui até a DECA, prestei uma queixa
avisando que tem mais de quarenta homens armados nas cercanias do acampamento,
avisei sobre o carro que foi queimado por esses homens, os espancamentos
constantes contra os acampados, que passa pela estrada onde eles ficam
amoitado, o avião do fazendeiro Rafael Saldanha, que fica sobrevoando a área e
nada aconteceu até o momento”, indigna-se Francisco Moura da direção nacional
do MST.
Se
a DECA se ausentou, o INCRA foi pelo mesmo caminho. O ouvidor agrário regional
Higino Neto também recebeu as mesmas informações que foram prestadas a Deca por
Moura.
“Porém, disse simplesmente, que não entraria
em área de conflito”, conta Maria Raimunda.
Já
Eudério Coelho, em nota a imprensa, disse que debateria o tema somente na
segunda quinzena de julho, quando ocorrerá um evento no INCRA de Marabá sobre a
violência no campo.
“Até lá as famílias terão que se virar como
pode para sobreviver aos ataques dos pistoleiros”, protesta Moura.
Mortes
Se
os processos são comuns contra lideranças camponesas no Pará, as mortes são
mais freqüentes ainda.
Para
o professor de sociologia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
(INIFESSPA), Cloves Barbosa, a violência contra os Sem Terra parte justamente
desse comportamento estatal.
“O Estado dá guarida para as mortes no campo
quando age assim, deixando os fazendeiros com licença para matar aqueles que
ferem seus interesses”, aponta.
Nos
últimos quarenta anos houve mais de 900 assassinatos de camponeses no Pará
cometidos a mando de fazendeiros. Por esses crimes até agora nenhum mandante ou
assassino cumpre pena.
Um comentário:
Que saudade do governo da Ana Julia.
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