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sexta-feira, 25 de maio de 2007

DFS: reflorestamento ou floresta energética?

Em continuidade ao questionamento levantado por esta página sobre a quem interessa o Distrito Florestal Sustentável de Carajás, projeto que vai consumir milhões de reais dos recursos públicos para socorrer madeireiras falidas e guseiras movidas a carvão clandestino, P&D publica artigo esclarecedor recebido do leitor, estudante de Engenharia Ambiental e servidor do Ministério Público do Estado, Antônio Alves Teixeira Filho. Leia:
“Quando se fala de reflorestamento, nos vem à mente a idéia do cultivo várias espécies vegetais que visem devolver a uma área já desflorestada a mesma qualidade ambiental que tinha antes de sofrer qualquer alteração. Em outras palavras, pensamos em devolver as mesmas características a um ambiente, de tal forma que ele sirva novamente de habitat para a biota que ali o utilizava como nicho, ou seja, idealizamos um novo ecossistema. Segundo o Dicionário Aurélio, um dos significados de floresta é “ecossistema terrestre organizado em estratos superpostos (o musgoso, o herbáceo, o arbustivo e o arborescente), o que permite a utilização máxima da energia solar e a maior diversificação dos nichos ecológicos”. Esse conceito nos remete à idéia de que reflorestar é recriar um ecossistema que não mais existe devido a modificações nas suas características naturais. Esse não parece ser o mesmo conceito empregado pelas entidades que estão propondo a criação do Distrito Florestal Sustentável (DFS) do Pólo Carajás. As palavras do diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Tasso Azevedo, em afirmar que “a principal atividade do DFS terá de ser o reflorestamento e a recuperação de áreas que permitam abastecer a indústria siderúrgica, com uma fonte sustentável de carvão”, durante seminário que discutia a criação de tal distrito, em Belém, demonstra o grande desconhecimento por parte dos componentes dessas entidades sobre as atividades florestais. A eucaliptocultura, designação dada à monocultura do eucalipto, tem se expandido em todo o Brasil e tem sido empregada como sinônimo de reflorestamento. Realmente é muito comum confundir reflorestamento com floresta energética. Todavia, uma vez apresentado o significado de “reflorestar”, o neologismo “floresta energética” é usado para definir as culturas voltadas para a produção de biomassa, onde se objetiva a maior quantidade de madeira por hectare em um menor espaço de tempo, com maior intensidade do uso da terra, uma vez que a árvore é um perfeito dispositivo de armazenamento de energia solar. Esta definição engloba perfeitamente todo o conceito de reflorestamento de alguns dos representantes das entidades interessadas na criação do DFS. No Pará, a monocultura do eucalipto está aos poucos sendo introduzida, com o discurso de que é uma alternativa para abastecer a indústria siderúrgica da região - que necessita de carvão vegetal como insumo -, sem intensificar o desmatamento na Amazônia. Porém essa prática, antes de sua propagação, requer estudos, a fim de que sejam avaliadas as conseqüências dessa espécie exótica no solo amazônico. A atividade, como qualquer outra que cause impactos ambientais (positivos ou negativos), está sujeita ao processo de licenciamento ambiental, sendo apresentados, durante esse procedimento, os próis e os contras de sua implantação. Apesar de ser recente essa cultura em nosso país e de ser escassa a literatura a seu respeito, é, ainda assim, possível fazer uma breve avaliação dos seus efeitos sobre a biota, enquanto vegetal, e do seu aproveitamento como biomassa. A monocultura quando comparada à diversidade de uma floresta nativa provoca, sem dúvidas, prejuízos ambientais. A eucaliptocultura, especificamente, provoca a perda de potencial genético (da flora e da fauna), da paisagem florística, a fuga de animais, além de não formar novamente um ecossistema com condições para que outros vegetais se desenvolvam (caso o espaçamento entre as plantas seja mínimo) ou para que outros seres passem a habitar a área cultivada. O eucalipto domina todo o espaço plantado, tanto o horizontal como o vertical, desde o solo (entenda-se como raízes) até a copa desses vegetais. Contudo, a espécie pode, todavia, representar, como aspecto positivo, um fator de recomposição do solo. Como biomassa, o aproveitamento do eucalipto pode não apresentar os resultados esperados. Esse vegetal, durante o seu desenvolvimento, absorve muita água, um dos motivos pelos quais seu crescimento é mais acelerado do que o de outras espécies. Muitos dos seus componentes, durante o processo de pirólise (queima) para a produção do carvão, são volatilizados, uma vez que, se comparado a outros vegetais, seu caule é constituído de uma quantidade maior de líquido. Isso faz com que o carvão produzido apresente menor densidade e baixa resistência mecânica do que o carvão produzido a partir da biomassa de espécies nativas, características estas necessárias ao carvão vegetal para uso nos altos-fornos. A combustão desse carvão, devido a esses fatores, acontece de forma mais rápida, o que demanda uma maior quantidade desse insumo para produzir o ferro-gusa. Quanto ao seu aproveitamento para a indústria moveleira, é ainda é pouco utilizado, devido à sua baixíssima resistência mecânica. Apesar de tudo, a sua viabilidade está sendo questionada, como forma de “reflorestamento”, para a produção de carvão vegetal para alimentar a indústria siderúrgica. O eucalipto tem, no entanto, uma grande vantagem sim sobre as demais espécies vegetais: adapta-se praticamente a todas as condições climáticas. Mas toda praga que se preze tem que se adaptar facilmente em todos os lugares, sob quaisquer condições.

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom