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sábado, 10 de julho de 2010

Do outro lado da zoeira

Encontrei no site "Última Instância" esse artigo instigante de João Ibaixe Jr. Muito bom! Pelo que me consta, não li em lugar algum que Bruno tivesse sido ouvido pela polícia em sua versão dos fatos.

O goleiro Bruno já está condenado

João Ibaixe Jr - 09/07/2010

Pronto! Mais um caso solucionado pelo melhor setor de investigação criminal do país: a mídia. Claro, com amplo apoio da Polícia Civil e, no caso, de dois Estados da Federação.
O assassinato da jovem Eliza Samudio, que efetivamente tem características de crueldade, provocou a mídia de todo o mundo, em face de envolver uma personalidade futebolística, um ídolo dos torcedores do supostamente (digo isto em virtude do resultado da copa para nós) maior esporte brasileiro, enfim, uma celebridade.
Uma primeira observação tangencial: quem milita na área penal ou acompanha questões criminais sabe que há casos muito mais graves e muito, mas muito, mais cruéis, que são esquecidos por envolverem desconhecidos e permanecem mofando em prateleiras de departamentos burocráticos jurisdicionais. E pior, casos em que as provas já foram produzidas e analisadas e apontam determinantemente para o criminoso e nada com ele acontece. Deste modo, só resta mostrar eficiência em casos de repercussão.
E dá-lhe eficiência: provas técnicas de moderníssima geração, exames em veículos, comparação de exames de sangue e de DNA, aviões e viaturas à disposição para conduzir os envolvidos e os policiais, superando a distância entre duas unidades federativas, cujos agentes dos órgãos de polícia judiciária demonstram-se incansáveis. Uma parafernália gigantesca, praticamente cinematográfica – não se sabe se hollywoodiana ou bollywoodiana, talvez até digna de cinematografia nacional, apesar desta se preocupar mais com a criminalidade relacionada a uma estética da pobreza.
E a presteza dos Delegados? Incomensurável! Disponíveis a todo minuto para dar entrevistas e falar sobre seu trabalho nas investigações e no levantamento de indícios. Eu disse “indícios”? Desculpe-me, leitor, a falha.
O trabalho da polícia judiciária seria tecnicamente o de levantar indícios, ou seja, indicadores que apontassem um possível criminoso, para que este fosse submetido de suspeito à categoria de indiciado, a qual autorizaria legalmente que o indivíduo fosse acusado e processado pela Justiça por ter cometido um crime e, ao final do processo – destaca-se em negrito ao final do processo – fosse considerado culpado e aí, a partir desse momento, sofresse as penas da lei como responsável pelo delito. Só ao final do processo, a Justiça, decretando a condenação, poderia apresentar o indivíduo como culpado.
Porém, como a Justiça funciona mal, como o caso é de repercussão – a ponto de duas polícias de Estados diferentes disputarem a atribuição investigatória – como está envolvida uma celebridade e como o caso tem sim seu aspecto hediondo, o melhor é já apresentar tudo de uma vez agora.
Dane-se o procedimento legal, que é morosidade pura, dane-se a Constituição, que só serve para dar direitos a bandidos e dane-se a Justiça, que somente atrapalha a rapidez da apuração. Enfim, a polícia falou, “tá” falado! E a mídia, afinal, abençoou.
Caso encerrado! Goleiro preso e condenado. Siga-se o próximo.

2 comentários:

Dr. Valdinar Monteiro de Souza disse...

Não, doutor, não! Não está encerrado não, Dr. João Ibaixe Júnior. Ainda falta executar, com a pena capital, os culpados. É lógico! Se não foram eles que mataram a pobre e infeliz vítima, eu mesmo é que não matei. O Brasil, realmente, não é um país sério. Essa coisa chamada Estado tem como razão de ser, no que diz respeito à segurança e à administração da justiça, a proteção dos bons e o castigo (sim, castigo mesmo, correção) dos maus, para que ninguém necessite de fazer justiça com as próprias mãos. Acontece, infelizmente, que os órgãos estatais se perdem nos salamaleques e outros rapapés de juízes e outras categorias de magistrados úteis tão somente para o benefício de homicidas, estupradores, assaltantes e outros tipos detestáveis de criminosos. As pessoas, ao cometerem tais delitos – injustificáveis porquanto absurdos de todos os ângulos – confiam que ficarão impunes. E ficam mesmo!
Gosto muito do Direito Penal e do Direito Constitucional, e conheço, por isso, todos as garantias dos acusados previstas na Constituição e nas leis penais, mas chega, Dr. João Ibaixe Júnior! Não sou advogado de defesa desses facínoras. Pau neles!

Cordelirando disse...

A mídia fala em Bruno
Eliza e gravidez
Flamengo, orgia e fumo
-esta é a bola da vez!-
Tem muito 'especialista'
Em busca de alguma pista
Pra ser o herói do mês

E a história se repetindo
Mudando apenas o nome
Outra mulher sucumbindo
Sob ameaça dum homem
Uma vida abreviada
Cuja morte anunciada
A estatística consome
(...)
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