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segunda-feira, 4 de junho de 2012

O túmulo da história


 A última publicação da antiga Companhia Vale do Rio Doce completou uma década. É Histórias da Vale, um álbum magnífico, com 305 páginas, lançado em 2002, quando a empresa ainda era a CVRD de 1942, embora não mais estatal. Passaria a ter como marca de fantasia (e que fantasia!) apenas Vale, seis anos depois.
Parecia se consolidar como se fora uma cobra: livrando-se da pele do passado e incorporando novas formas de ser. Deixando as cascas secas pelo caminho, na esperança de que o tempo as desfaça e fique apenas a história que lhe seja conveniente. Aquela que dita à sua assesoria e impõe à opinião pública como matéria paga.
É o que dá a entender esse silêncio esmagador pelos 70 anos. Houve apenas uma rápida e desajeitada comemoração interna, para uns raros. Como se a interrupção da continuidade histórica, iniciada com a privatização, em 6 de maio de 1997, tivesse que ser total. A corporação globalizada, a primeira multinacional brasileira, sem mais qualquer elo com seu passado.
Nas origens, a CVRD deveria fazer com que o minério de ferro representasse, para a industrialização brasileira, o papel desempenhado pelo café até a (e a partir da) revolução de 1930. Ao invés disso, a Vale desestatizada tem sido uma plataforma de lançamento de commodities e produtos semielaborados para o exterior, onde ocorre o efeito multiplicador da renda e do emprego, consolidando relações de troca desiguais.
O álbum Histórias da Vale foi realizado sob a direção de Karen Worcman e José Santos Matos, com texto final primoroso de Geraldo Mayrink, mobilizando uma enorme equipe. O material primário foi o banco de dados do Projeto Vale Memória. Resultou de "extenso trabalho de pesquisa e preservação da memória da empresa, concebido para marcar a epopéia que é a história da CVRD".
Mas isso foi quase ontem. Para a Vale de hoje, não interessa mais. Forrada por anúncios caros da companhia, a grande imprensa brasileira lhe disse amém. E o silêncio se fez. (Lúcio Flávio Pinto)

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