quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Oráculos
“Esse corpo esmeralda, que adoras,
mais segredos esconde no regaço
do que sonhas em tuas tristes horas.
Separa-vos, se tanto, o mar de um verso;
mas quem dará primeiro o passo
que deste cosmos fará outro universo?
E depois... Que deuses nascerão de vós?
Que outras plêiades, galáxias, raças,
que míticos seres em febre e luz e graças
farão arder sem fim o amor entre os lençóis?”
Ouço a voz delirante com ouvidos lassos.
São oráculos fugidos de eras remotas,
de um quadrante de perdas e fracassos.
Vencidos, vejo-os chorar suas derrotas.
Neles já não creio, nem espero deles nada.
Solitário, alheio, em busca de coisa alguma,
alimentei-os com a alma toda essa jornada.
Gastei-me, e deles só herdei os desenganos.
Que importam agora, quando se esfuma
a negra noite insone que levou-me os anos?
Já não sou o mesmo nem sei o que sou
ou serei, e cuido-me devoto em não sê-lo.
E se nada quis antes, hoje nem sei aonde vou:
sou só uma luz fugaz de pirilampo no espelho.
( Ademir Braz, Marabá, out/07)
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