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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Jatene agride alunos e professores e escola não é reinaugurada em Santarém

O que seria a reinauguração da escola estadual Rio Tapajós, ontem de manhã em Santarém, começou e terminou como um fiasco para o governador do Pará, Simão Jatene, e o prefeito Alexandre Von, ambos do PSDB. O momento mais quente foi a discussão de três alunas concluintes já preocupadas como vestibular, que encararam o governador exigindo melhorias tanto na parte física como na estrutura pedagógica. O diretor, Prof. Aloizio Bentes, deu declaração à TV Tapajós, apoiando as meninas.
Depois de instalar o Pro-Paz, o governador foi se desentender
com estudantes e professores
Conforme relato do professor Ormano Sousa na sua página no FB, “o governador Simão Jatene perdeu a compostura com alunos da escola Rio Tapajós após discurso de reinauguração do prédio. Os alunos falaram que não gostariam apenas de uma reforma de pintura, mas estruturais, falaram das aulas de educação física, quando são expostos ao sol quente na quadra que foi construída pela própria comunidade escolar, dentre outros pontos. Jatene tentou argumentar, mas alunos insistiram em ser ouvidos. Jatene esbravejou e deixou o pátio da escola”.

Veja aqui as imagens:
O governador falou que a escola teria sido "depredada", conforme as palavras dele, pela falta de conservação, e que os professores, por isso, não estariam cumprindo com o seu papel de educadores. Em nenhum momento Jatene foi hostilizado pelos alunos, nem por ninguém presente, mas as meninas que se colocavam sobre uma pequena mureta, onde os alunos sentam nos horários de intervalos na área coberta, onde o fato ocorria, rebateram, dizendo que os alunos não eram vândalos e que uma reforma que pensavam para a escola não era somente de pintura de paredes, de pintura de telhas para mostrar tudo novo

Presente na ocasião, Ormano atendeu a pedido deste blog e faz o seguinte relato mais completo: 

1. Jatene está em visita a Santarém no programa do Propaz. Foi à Escola Rio Tapajós com a intenção de inaugurar a reforma do prédio. Na realidade, a reforma se resume, praticamente, a uma pintura geral. Como é natural, as paredes já estavam sujas, e, para fazer o bonito junto ao governador, a 5ª URE (Unidade Regional de Ensino) determinou que as aulas fossem suspensas por dois dias para repintura interna. Ontem, durante todo o dia, sem preparar o terreno, as áreas arborizadas foram tapetadas de grama, ficou uma maravilha... para inglês ver. No primeiro sol quente, a grama vai morrer por falta de adubo. Ele não chegou a inaugurar. A cerimonial mudou o discurso e disse que a visita era apenas para verificar como estavam sendo feitas as reformas das escolas e ali seria um modelo para que ele visse.

2. O evento foi pouco prestigiado. Como não houve aula no dia anterior, para liberar para a repintura e outros "retoques", os alunos não compareceram hoje (ontem) também, pois sabiam que não haveria aula pela manhã, somente tarde e noite seriam normais, como ocorreu, realmente. Havia poucos alunos. Poucos professores. Somente os que tinham horário a cumprir. Logo cedo a Profª Marinete Lima, que é a segunda pessoa na 5ª URE, "convidou" os professores presentes para um mutirão de limpeza com uns poucos alunos que ali estavam. Ninguém atendeu o "convite". No momento da chegada do governador, além desses já citados estava o pessoal da comitiva, o prefeito Alexandre Von e assessores, além do pessoal da imprensa. A TV Tapajós mostrou a cena em que três alunas concluintes do 3º ano discutiram com Jatene, talvez pelo fato de ter repercutido a nota que lancei no FB.

3. Eram três alunas do 3º ano. Elas - detalhe - ainda estavam com camisas do Flamengo festejando a vitória do time na Copa do Brasil. Ouviram atentamente o discurso inflamado do governador. Jatene detonou a escola e os alunos. Citaram a necessidade de ter uma quadra decente - a que existe foi construída pela própria comunidade escolar, sem nenhum centavo da Seduc. (A escola recebeu, no dia em que completou 15 anos, dia 3 de outubro passado, um comunicado informando da autorização da cobertura da quadra, mas sem projeto pronto nem verba orçada - promessa, portanto). Jatene disse que "não há dinheiro que cubra todas as necessidades da escola". As meninas insistiram em apontar necessidades, salas quentes, laboratórios e espaços pedagógicos sem funcionar por falta de pessoal. O governador, que já estava bravo, saiu esbravejando, dando as costas, deixando as alunas falando sozinhas. O diretor, Prof. Aloizio Bentes, deu declaração à TV Tapajós, apoiando as meninas. Acho que isso poderá "feder" pro lado dele.

4. O governador deixou a área coberta e se dirigiu para umas salas próximas para mostrar à imprensa, quando constatou carteiras mal conservadas. Voltou a dizer que má conservação de material tira a possibilidade de investir em outros setores. É oportuno dizer que os espaços que estão climatizados - secretaria, sala dos professores, auditório, biblioteca, foram por investimento da própria escola, por projetos e iniciativas, como festivais que a escola promove.

5. Ele permaneceu no local por cerca de meia hora ainda. Talvez orientado por assessores, ele tentou reverter o clima de tensão com uma rápida conversa com professores e alunos presentes, mas apenas algo unilateral sem nenhuma promessa. Mas foi ratificado a ele a necessidade de investir nos espaços da escola.

6. Não houve reação dos professores, a não ser nesse momento em que ele conversou com alguns, porque vários já haviam saído. Eu já não estava mais quando ele conversou com o pequeno grupo. 

O diretor está no cargo por eleição. Portanto, qualquer tentativa de tirá-lo vai de encontro às prerrogativas legais. Ele se manteve bastante neutro, como é o perfil dele. Uma visão de ótica. As meninas estavam num plano superior a Jatene. E elas mostraram autoridade. Nada havia sido previsto. Foi azar do Jatene ter chamado os alunos de vândalos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

As formas nada sutis da violência

Bastante comentada a ausência de representante do governo do Estado, do Ministério Público e da Prefeitura de Marabá na audiência aberta promovida terça-feira (19) pela Subsecional da Ordem dos Advogados do Brasil em Marabá e Poder Legislativo Municipal na Câmara de Vereadores, sobre violência e insegurança pública. O evento contou com a participação, além de boa parte dos vereadores, dos juízes Cristiano Magalhães (Juizado Cível Especial) e Jônatas Andrade (Justiça do Trabalho), e cerca de apenas 27 dos mais de 400 advogados ligados à subsecional, fato observado por um palestrante como desinteresse da categoria pela questão.
Possivelmente o melhor pronunciamento do dia foi o do Conselheiro Estadual Haroldo Júnior, entre outras coisas por lembrar dos advogados Paulo Umbelino Ferreira, Gabriel Pimenta, assassinados em Marabá nos anos 80; Paulo Fontelles (Belém),Vicente Morais (São Domingos do Araguaia) e Paulo de Tarso (Parauapebas), dolorosos e cruentos sacrifícios pela causa da Justiça.
De minha parte, quando franqueada a palavra, referi-me ao banner sobre a morte de Dárcio Antônio Cunha, morto em Parauapebas, cujo dístico indagava: “Até quando advogados do Pará serão assassinados por pistoleiros?” 
Disse eu estar certo que tais crimes podem continuar porque pistoleiros são profissionais da morte, sempre a serviço de um ou vários mandantes, atrás dos quais há interesses ocultos e escusos, como a depredação da natureza, a formação de latifúndios com a morte de trabalhadores rurais com ou sem terra, a sonegação de direitos de assalariados ou, até mesmo, simples cargos políticos.
Mas a violência nos atinge a todos, não apenas advogados. Temos a violência institucional, do Estado, aquela que se exprime na falta de escolas, creches, salários dignos para professores, geração de emprego e renda, amparo para as famílias que lutam por sobrevivência e dignidade. Violência é a passagem diária dos trens da Vale por bairros carentes e bolsões de miséria do Pará e Maranhão, deixando apenas o apito do trem, a fuligem do melhor minério de ferro do mundo, e um balanço neutro sobre a ponte como um afago de gigolô.
Falei e assumo o que disse. Vivemos tempos tão doentios que é preciso viver radicalmente contra quase tudo. Sobretudo contra o estado e os poderosos.

A Vale e descaso com os oprimidos
As populações que vivem ao longo do complexo siderúrgico de Carajás reclamam, sem sucesso, providências do Estado para problemas que enfrentam há décadas: poluição sonora pelos trens que dia e noite transportam minério, rachaduras nas casas pela trepidação, doenças respiratórias decorrentes da poluição do ar, atropelamentos pela falta de passarelas para cruzar a ferrovia, assoreamento de igarapés, desapropriações irregulares de terras e ruptura dos sistemas tradicionais de cultivos e criação de animais, entre outras situações.
A denúncia foi feita em audiência pública quinta-feira (21) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), segundo reportagem de Iara Guimarães Altafin, da Agência Senado. Foi motivada pela iminente construção de nova mina na região, em empreendimento liderado pela Vale, e a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, que corta 27 municípios e 86 comunidades quilombolas e populações indígenas no Pará e no Maranhão.
Os problemas constam de relatório apresentado na audiência pela pesquisadora Cristiane Faustino, da entidade Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais da (Plataforma DHESCA), que também apresenta recomendações à Vale. Convidada para o debate, a mineradora não mandou representante.
Faustina explicou que o projeto da nova mina permitirá mais que dobrar a produção de ferro do complexo de Carajás, passando das atuais 110 milhões de toneladas ao ano para 230 milhões de toneladas. Como enfatizou, a geração dessa riqueza pela atividade de mineração tem sido acompanhada da violação sistemática dos direitos das populações que vivem nesse território.
– As populações afetadas pela atividade mineradora, causadora de muitos impactos, são muitas vezes invisibilizadas. Há grande desencontro entre o discurso do desenvolvimento e a situação concreta enfrentada pelas comunidades que vivem na região – explicou.

Para o advogado Guilherme Zagallo, da rede Justiça nos Trilhos, a situação revelada no relatório da DHESCA é fruto do descaso com que são tratadas as populações afetadas pela mineração.