
Sob fogo cruzado, Maurino quer ser blindado
O prefeito Maurino Magalhães adotou, já há algum tempo, a prática das reuniões semanais com todo o seu secretariado. As primeiras foram amigáveis e inconseqüentes: o Maurino nada sabe de administração pública, não tem qualquer interesse em aprender, e as coisas se limitavam a orações obrigatórias iniciadas por ele, no culto lá dele.
Como alguns começaram a faltar, até por terem mais o que fazer, Maurino aloprou. Disse que suas ordens eram taxativas e exigiu: nenhuma dificuldade, inclusive as de saúde, justificaria a ausência de ninguém. Essa era a vontade de Deus.
Desse estágio em diante, os encontros que deveriam servir para discussão e encaminhamento dos problemas de cada setor da administração passaram a ser usados por Maurino para revelar algumas facetas da sua porção mais sórdida e autoritária: aos gritos, deu de cobrar aos secretários sujeição absoluta e fidelidade canina à sua triste figura. Aí começou a pontuar que quem manda aqui é ele, que o prefeito é ele (e precisava dizer? É só ver o abandono da cidade...), e é ele que detém o poder sobre a permanência de cada servidor nos quadros municipais (não é bem assim, mas vamos deixar que ache).
Depois da vaia histórica, memorável e ensurdecedora que tomou no terreno baldio da Alpa, e que atribuiu as duas ou três dezenas de servidores em greve presentes ao evento, quando na verdade foi um fenômeno geral entre as duas mil pessoas que lá estavam, Maurino Magalhães surtou.
Um surto psicótico, diz a psiquiatria, é caracterizado pela perda da noção de realidade e por uma desorganização do pensamento. É causado por doenças como a esquizofrenia, ou por um trauma muito grande. Há outras causas, mas fiquemos somente nessas, por enquanto. Durante um surto psicótico ocorre a perda de realidade, onde não há diferenciação entre o mundo real e o imaginário da pessoa. "Quando a pessoa está em uma crise psicótica, ela confunde os pensamentos internos dela com o mundo real. Ela não consegue distinguir o que são os pensamentos dela e o que realmente está acontecendo no mundo."
Deu-se, então, que Maurino Magalhães surtou. Agora, além do flagelo aiatolesco da oração obrigatória de uma seita em particular, mesmo que o ouvinte seja católico ou judeu, as reuniões semanais incluem uma extensa pauta de coices morais.
“Vocês têm a obrigação de me blindar! Se vocês tivessem competência e controle sobre os funcionários, eles não teriam me vaiado! Quem não me defender e me blindar, que caia fora da prefeitura! Eu não preciso de vocês, posso encontrar gente melhor do que vocês para me servir.”
E nisso ele está certo. Afinal, ele colocou quase cinco mil apaniguados na folha de pagamento, destruindo o precário equilíbrio das contas públicas, e o que deve ter de baba-ovo nessa horda dá para imaginar.
Furibundo, apoplético, sufocado na própria gosma sulfurosa, Maurino disse numa reunião recente, pos-tsunami alpino, ter acatado sugestão de seus luxuosos alter-egos tocantinos (são tantos!) e determinou a criação de um Serviço de Captura de Informação, Análise e Espionagem de funcionários (SACANAGEM) para expurgar dissidentes da administração. Ato contínuo, determinou à sua assessoria que requisitasse cópia das filmagens feitas pela televisão para análise e identificação dos servidores que lá estavam e sua demissão sumária. Diz uma fonte que Maurino, Rei dos Apupos, quer que os trabalhadores se ajoelhem publicamente para lhe pedir perdão. “Coisas de Deus, eu acho”, disse a fonte.
Ora, quando um prefeito perde a estabilidade emocional e, por incompetência, perde também o respeito de servidores e administrados, seu governo chegou ao fim. O município, a cidade e suas comunidades só não se ressentem porque Maurino Magalhães não lhes tem qualquer serventia. Maurino só tem servido para dificultar a vida de quem tem direito a ruas limpas, obras públicas dignas, professores remunerados decentemente, merenda escolar e transporte público de qualidade – pagos, vale lembrar com recursos da população.
Como Maurino Magalhães sucumbiu a seus próprios terrores e acabou, alguém deveria decretar sua interdição. Com urgência. Pelo bem de todos nós.
Cuiu-cuiu na caceia
Em busca de uma liderança que jamais possuiu, Maurino Magalhães armou em torno de si uma teia monstruosa cujos fios vão acabar por enredá-lo. Por exemplo:
1. A ex-deputada estadual Elza Miranda está hoje no Partido da República (PR) a convite de Maurino, que lhe prometeu uma secretaria – promessa não cumprida, para variar. Mas assegurou apoio a ela, candidata outra vez a Assembléia Legislativa.
2. Erismar Sampaio, líder de Maurino na Câmara, e com o qual possui ligações especiais, está candidatíssima a um mandato de deputada, com apoio dele, ainda prefeito.
3. Deputada Suleima Pegado (PSDB), pretendente à reeleição, foi uma das articuladoras da campanha de Maurino. Inimiga do projeto de emancipação do Estado de Carajás, Pegado acabou de transferir seu domicílio eleitoral para esta cidade. Vocês sabem como é... Vai que acontece a criação de Carajás ela já estará por aqui, candidata a qualquer coisa. Com ela veio outro artista contrário à emancipação: o deputado petista José Geraldo, parceiro de Bernadete tem Caten na perseguição aos funcionários do Incra que não apóiam sua reeleição. Daqui há pouco Zé Geraldo é cidadão marabaense, como Maurino e outros aventureiros.
4. O suplente de vereador Leodato Marques (PP), ligado à igreja evangélica comungada por Maurino, pode também sair candidato à Assembléia Legislativa. Ninguém aposta na sua eleição, mas o que ele quer mesmo é ficar em evidência e assegurar seu retorno à Câmara em 2012.
5. Deputado Gerson Peres (presidente do Diretório Estadual do PP) sempre foi apoiador de Maurino e espera seu apoio como candidato à reeleição para a Câmara Federal.
6. Ítalo Ipojucan, ex-vice-prefeito de Tião Miranda, ex-presidente municipal do PDT, de onde saiu para o PR e para a Secretaria de Indústria a convite de Maurino, afirma que seu nome está à disposição do partido. Mas disse ao jornalista que sua eventual candidatura sairia sem qualquer apoio ou participação do prefeito, que lhe caiu no descrédito.
7. O deputado Wandenkolk Gonçalves (PSDB), amigo de Maurino e que com ele itinerou pelo Ministério Público e Juizados quando da ameaça (ainda não afastada) de degola no processo da caixa-dois, também espera o apoio do prefeito, caso se recandidate. É que Wandenkolk está com Simão Jatene, aspirante ao governo do Estado, e do qual já foi secretário especial de governo e de Agricultura.
Por tudo isso, várias questões se impõem: a) a não ser que ainda tenha recursos insuspeitos do caixa-dois de que é acusado, ignora-se como Maurino vai bancar a campanha de tantas candidaturas díspares; b) qual será o posicionamento do PR, seu partido, cujo presidente regional é Anivaldo Vale, candidato a vice na chapa de Ana Júlia Carepa.
E por fim, mas não por último, quem terá coragem de subir num palanque ao lado do Rei dos Apupos?