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sábado, 31 de março de 2007

Corações santarenos

Lúcio Flávio Pinto é uma amizade que vem desde 1971 quando, por influência dele acabei virando jornalista - eu era operador (uma espécie de telegrafista) da The Western Telegraph Co. , em Belém, e um dia lhe mandei um texto para a coluna que ele tinha n'A Província do Pará. Sua resposta foi um texto chamado "José Baudelaire" (que guardo até hoje) em que aborda meu escrito e me convida a aparecer na redação. Eu fui e me ferrei. Se não tivesse ido e virado jornalista, como virei, teria me casado com uma abaetetubense cheia do dinheiro e estaria igualmente podre de rico (ou morto de tanto beber cachaça com camarão seco). Então fui e me ferrei. Como? Bem, digam aí o nome de um jornalista que esteja bem de vida sem ter vendido a alma ao diabo e ao dono do jornal (dono de jornal é jornalista? Rá!) Mas os ganhos pessoais foram incalculáveis. Através do Lúcio, conheci os demais da família - Luís, Raimundo, Elias, mãe Iracy (que me deu um guia e rumo à minha mediunidade), e os outros filhos e filhas e amigos e amigas. A amizade do Lúcio e seus familiares dignifica qualquer um. Mesmo este menor dos seus amigos. Se ainda não deu para o leitor perceber, explico que esse intróito todo é talvez para justificar o texto generoso com que Lúcio Flávio Pinto referiu-se a este blog no seu Jornal Pessoal n. 388, 2a. quinzena de março: A voz de Marabá Nasci em Santarém, com muito orgulho. Mas meu segundo lar, adotivo, é Marabá. Talvez tenha estado mais vezes lá, nestes últimos anos, do que na terra natal, por motivos outros, que independem da minha vontade (se ela pudesse prevalecer, estaria no Tapajós constantemente). Afeiçoei-me aos marabaenses, que sempre me trataram muito bem. E sou um apaixonado por seus temas, que contêm a essência do drama amazônico. Em 1971 eu escrevia uma coluna diária (Quark) em A Província do Pará, quando fui surpreendido por um texto de primeira: “Marabá: terra mesopotâmica do sol”. Publiquei a crônica, de acento poético, e fui atrás do autor, que se escondia atrás de um cargo burocrático na empresa de telefonia e telegrafia Western (de cuja importância, naqueles tempos, as pessoas mais jovens não podem ter idéia). O autor daquele texto encantador era Ademir Braz, “o pagão”, um outsider que navegaria entre Lima Barreto e Rimbaud se não tivesse voltado ao seu sítio, no “Cabelo Seco”, que o Tocantins encharca nas suas enchentes semestrais, em algumas delas exagerando na dose. Voltou, de certa forma se amansou um pouco, mas continuou um observador agudo da cena local e um inspirado escritor, mais inspirado do que produtivo. Dele já podiam ter nascido páginas mais numerosas e profundas sobre a saga dessa região, se ele não se tivesse sedimentado a tal ponto que a mobilidade dos dedos não dá conta da volúpia da inspiração. Ainda mais porque, com família, precisa dar conta dos encargos, que, antes, quando era gauche na vida, mandava para os quintos dos infernos (que são os outros, conforme sartrianamente aprendemos). Agora vejo que Ademir criou seu blog, sugestiva e poeticamente batizado por Quaradouro. Uma página digital bem nascida promete bons frutos. Da primeira safra colho uma nota, pequena e profunda, que diz muito sobre o desperdício e a dilapidação dos talentos da terra. Observa Ademir: “Ex-prefeito, ex-deputado estadual e federal e ex-secretário de Estado, o engenheiro sanitarista Haroldo Bezerra tem seu nome ajuntado ao do ex-prefeito Nagib Mutran Neto e da ex-vereadora e ex-deputada estadual Elza Miranda numa suposta disputa à Câmara Municipal. Em algum lugar desta biboca tem alguém lidando com vudu”. Grande Marabá. Triste Marabala. Como profetizou Caetano, o Haiti é ali – e aqui. Saravá, grande Ademir.

Sugado do blog Insanus

Maria do Rosário em chamas Em discurso sobre turismo sexual na Câmara de Vereadores de São Paulo na terça-feira, o cantor, evangélico, seguidor do Maluf, mais novo apoiador de Lula e vereador, Agnaldo Timóteo (PR) resolveu enfiar o pé na jaca. "Agora, ela [Marta Suplicy] assume e a primeira proposta é para acabar com o tal do turismo sexual. Pelo amor de Deus, minha gente, vai prender um turista porque ele levou pro motel uma menina de 16 anos? É brincadeira!" "As meninas com um popozão desse tamanho, os peitos como uma melancia e rodando bolsinha, aí o turista pega e passa a ripa. Tenha piedade. O cara [turista] não sabe por que ela está lá. Ele não é criminoso, tem bom gosto.” A vereadora do PT Claudete Alves surtou e exigiu que as declarações fossem retiradas das notas da sessão que seriam publicadas no Diário Oficial. Tréplica de Timóteo: "com quantos anos a senhora teve a primeira relação sexual?" Matérias na Zero Hora e no Estadão, que também colocou um trecho do áudio em que Timóteo, enlouquecido, diz que não retira nada do que disse. Por Walter Valdevino - 29.03.07 08:00 - comentários (20)

Leiam nossos blogs

O Hir0shi Bogéa foi ao encontro da Grande Senhora com o Baronato local e voltou uma arara. Decepção pura. Consciente que tudo é embromação. E lhes digo, já, porque: é que se se juntar o PIB marabaense interessado nas migalhas que caem do ágape de Nossa Senhora Vale do Rio Doce, não dá para bancar um refrigerante. As compras da Vale são megas e os fornecedores do Pará liliputianos. Se a Vale precisar de 100 mil sacos de cimento, por exemplo, quem em Marabá, poderia atendê-la? Vindo de Belém, via estradas esburacadas, os fornecedores tomariam prejuízo com o custo do transporte, ou seja, pagariam para fornecer o produto, dada a distância, custo de frete, impostos, etc. Talvez a saída fosse a formatação de consórcio de empresas, mas nossos empresários nunca ultrapassaram a fase da gestão doméstica, em que nos negócios são gerenciados pela família (os filhos, a sócia mulher, o sogro, o cachorrinho de raça). Quando a Vale, que não precisa do comercio local nem regional, fala em cadastro de fornecedores está dizendo: "olhaí, o cavalo está passando com sela e tudo. É pegar ou largar!" Pegar como, com fornecedores como os nossos, incapazes de entregar a contento trilhos de carbono, explosivos, combustíveis a granel, alimentos em larga escala? A verdade é dura, mas precisa ser dita. Felizmente a internet está nos possibilitando a fazer esses questionamento, antes impossíveis por falta de uma imprensa comprometida com a região, independente no seu ponto de vista, e corajosa para dizer aos empresários de qualquer porte que a questão envolve mais do que seus imediatos interesses econômicos. A título de provocação, transcrevo abaixo as últimas postagens do Hiroshi sobre o que ele pensa desse assunto Vale/empresários. Acessem o blogo dele porque há comentários de leitores também. IDH chinfrin O índice nacional de Desenvolvimento Humano Municipal, mediano, é de 0,76. No Pará, Belém aparece como município de melhor valor, com 0,80 -, enquanto o IDH de Marabá é de 0,71.Estudos da Vale do Rio Doce apontam para os próximos dez anos um índice marabaense não superior a 0,80 – o que convenhamos, torna-se bastante discutível a compreensão desse extratosférico índice de crescimento em torno de 20%.Sabemos que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa de natalidade, esperança de vida, educação, alfabetização, pobreza, e outros fatores para os diversos países do mundo. Seu valor mede o bem-estar de uma população, especialmente bem-estar infantil.Uma década de pesados investimentos na implantação de mega-projeto para exploração de cobre, com as diversas oportunidades que ele oferece aos empreendedores e geração de empregos, é um período onde uma geração estará buscando se firmar na vida. Se nessa faixa de tempo, o municípiop com invejável taxa de cescimento não consegue ser incluído no grupo de IDH alto (a partir de 0,800), mais uma vez se evidencia a convicção de que o crescimento não caminha de mãos dadas com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Postado por hiroshi em 16:00 2 comentários Processo migratório Chegando atrasado ao encontro da CVRD com os empresários, este poster não teve tempo de fazer alguns questionamentos aos palestrantes, principalmente no que se refere a questão do processo migratório inevitável. Irracional imaginar criar muralhas para impedir a ida e vinda de pessoas, mas é necessário discutir com profussao ações estratégicas voltadas para acompanhar essa movimentação nos municípios inseridos na área de influencia do Salobo.Enquanto do solo de municípios do Sul e Sudeste do Pará afloram riquezas, a maioria dos prefeitos de municípios maranhenses e piauisenses procura amenizar seus baixos valores de IDH “exportando excluídos”. É comum às secretarias de assistência social de muitas cidades daqueles estados organizar nas estações rodoviárias ou nos terminais de trem levas de famílias desamparadas que vivem perambuladas pelas ruas com destino a Marabá, Parauapebas e Canaã. Descobriu-se agora a extensão dessa rota até Ourilândia e Tucumã, com o início do projeto Onça-Puma. Postado por hiroshi em 15:54 0 comentários Tema relevante O que fazer com todas essas gentes inundando a região? Inicialmente, tratamento humano digno a todas elas, párias de um sistema político incapaz ainda de oportunizá-las. Ocorre que esse tratamento não pode ser assistencialista, e como inserí-las no processo produtivo se todos carregam as digitais como único instrumento de comprovação de sua cidadania?Junte-se a essa fabulosa âncora de fomento migratório que será o Salobo, o aumento populacional estimulado agora pelo garimpo de Serra Pelada, cujos trabalhos de exploração mecanizada deverão começar este ano.Está engatilhada aí a receita para o aumento da violencia mais do que estamos experimentando, o crescimento do número de garotos cheirando cola nas praças e portas de supermercados, o bate-pronto na parada de onibus com os roubos relâmpagos, e uma geração de jovens-velhos perdidos e esturricados zanzando que nem alma penada.Não aceito argumentos de que toda regiao com alto índice de crescimento está fadada a experimentar seus dissabores. Correto é discutir a questão não apenas como responsabilidade da Vale do Rio Doce ou das prefeituras. E encontrar soluções. O governo do Estado e demais agentes públicos, em parceria com a iniciativa privada, necessitam olhar isso com prioridade.Antes de se discutir qualquer postura no set de filmagens, recomenda-se estudar cuidadosamente os efeitos do processo migratório. É ele quem acrescenta a miséria e reproduz bêbados e ladrões pelas esquinas das cidades.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Para meditar

Blog do Hiroshi pegando fogo com a questão das guseiras e o carvão picareta. Cá pra nós, mano velho, e que ninguém mais me ouça: qual é mesmo a importância, para a economia marabaense, da produção de gusa no distrito industrial, mera atividade agregadora de energia a um produto exportado "in natura"?Quantos desses "paladinos do desenvolvimento" investem, de fato, na sociedade local e não simplesmente aqui atuam como garimpeiros sem raízes?Comparativamente, o garimpo de Serra Pelada juntou num buraco só entre 80 mil e 100 "garimpeiros", (aí computados do “formiga” ao financiador que nem sequer pôs os pés no melechete), é o que ficou de positivo? Nada. O saldo negativo está em primeiro plano até hoje. Pois muito bem. Fechadas as guseiras,as carvoarias clandestinas, as madeireiras que restam na região (até meados de 1980 chegavam a 240 apenas em Marabá), perderíamos alguma coisa? Por mim, passa-se a régua neste Distrito Industrial até aqui inútil para a coletividade,apenas veículo de enriquecimento para alguns - mesmo à custa da depredação da natureza. Estou disponível para o embate. A escolha das armas é de quem quiser terçá-las.

Ironias da vida

Foi no último dia 22 – Dia Mundial da Água – que a prefeitura de Paragominas escolheu para iniciar suas obras de abastecimento - a construção de uma Estação de Tratamento de Água (ETA), no valor de R$ 17,5 mil, em parceria com a Vale do Rio Doce. Um dia antes, na sexta-feira 21, o prefeito Davi Passos, conselheiros da cidade e do campo, secretários de governo e vereadores visitaram as instalações da Saneatins, a companhia de saneamento do vizinho Estado do Tocantins, em busca de parceria para resolver o problema da falta d’água em Xinguara. Do Dia Mundial da Água até à madrugada desta quinta-feira (29/03), os moradores de vários bairros da Nova Marabá ficamos sem o líquido cada vez mais precioso, porque raro, graças à ineficiência da Cosanpa. Bem que o governo Ana Júlia poderia nos livrar dessa praga pública, privatizando-a.

Vamos ajudar o Ney

Olhaí, mano velho: o Ney é o cidadão que disponibiliza de graça o flashcounter desses blogs maneiros (que ainda não instalei por legítima burrice), tá precisando da gente. Saca aí o e-mail dele e a minha resposta: "Quero agradecer a todos aqueles que se prontificaram em ajudar a manter o Flashcounter no ar (17 pessoas até o momento, veja a relação dos nomes aqui). Valeu muito pela força. Porém a resposta ainda está sendo muito acanhada em vista do total de pessoas cadastradas (850 usuários ativos até o momento ). Com a ajuda até o momento já estou pagando o registro do domínio. Vamos lá pessoal, não estou querendo ganhar dinheiro com isso, mantive o site no ar por 2 anos mas nesse momento estou realmente precisando que ajudem. Com ajuda, ou não, o site continuará no ar e continuará gratuito mas quero melhorar ele e criar novas funções e para isso tenho que parar o meu trabalho para me dedicar ao site. Peço a contribuição ÚNICA de R$ 3,00. Caso pelo menos 1/3 do pessoal cadastrado no site faça essa contribuição já será suficiente para manter o site no ar. Aquele que quiser contribuir basta clicar no link abaixo e enviarei o número do banco para depósito. Quero contribuir com o Flashcounter! Pô, Ney, ganho uma merreca mas quero te mandar um pouco mais do que os tresinhos. Só me diz o que fazer, já que teu banco não tem agência aqui, no cafundó de judas. aproveita que está chegando o fim do mês, dia em que recebo algum. Um abraço Ademir Braz Vamos ajudar o homem!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Miúdas lembranças

Quiosque em forma de pequeno e delicado castelo de fadas quase em frente ao mercadão, que depois um prefeitinho qualquer – sempre eles – mandou derrubar. Açougueiros retalhando a vida alheia desde as primeiras horas de cada manhã. Balança de ferro fundido com cabeça de touro. Carne com osso, cortada a machadinha sobre cepos de madeira. Lingüiça de porco enrolada em varal acima do talho. Bolo de arroz com beirola queimada. Cuscuz encharcado de azeite babaçu, bolo cacete, orêa, mangulão com erva-doce. Café preto e forte com leite cozido de gado e açúcar mascavo. Leite cru, tirado com vasilha de alumínio de dentro de bujão de latão com tampa de rosca. Cabeça raspada de porco na ponta de gancho. Galinha caipira com os pés amarrados, e dependurada de cabeça para baixo. Cambo de pacu manteiga, piau camisa-de-meia e mandi cabeça-de-ferro. Tabuleiro de madeira com toalha branca protegendo os copos de arroz doce e mungunzá com cravo-da-índia. Cravinho, casca de laranja, caroço de abacate, vereda, murici, infusos em cachaça Vale. Vermute Gancia. São João da Barra, Coquinho, Ferro Quina e SOS. Copinhos de fundo grosso, com marcas para doses de 200, 500 e de 1000 cruzeiros. Moedas de centavos, pregadas no balcão encardido. Papel de embrulho, balança de mesa, pesos de metal amarelo em forma de garrafinhas. Judas de melão–são-caetano amanhecido no sábado da aleluia recostado na calçada e seu testamento pregado logo acima da cabeça na porta de madeira do mercadão. Pirão de farinha seca e de puba; capitão de feijão com arroz amassado à mão dentro do prato esmaltado com flores azuis e vermelhas. Fava cozida com carne de porco frita, banana branquinha e farinha de puba. Sembereba de leite de castanha, tomada no copo de alça. Mangaba de manga de vez cozida. Pote de barro em bancada de madeira com copos e concha de alumínio, para beber da água juntada do Tacaiúna em latas trazidas em cambão de sarã. Bacia de alumínio, cheia de roupa lavada, equilibrada sobre rodilha na cabeça da lavadeira. Filhas de lavadeiras com tábuas na cabeça, carregadinhas de roupas passadas. Bola de meia e touca de time de futebol. Ponte com casarão de madeira entre o fundo da igreja e o pé de tuti no quintal da padaria. Enormes flores amarelas de mata-pasto, carregadas de formiga de fogo. Peteca colombina e pião rodando na poeira da rua. Jogo de infinca. Papagaio sem rabo, cerol enrolado em bola de papel. Corró nojento sapecado lá longe nas pescarias de lico. Peta, bolo doce da Porfira, touceira de maria-tua-mãe-morreu. Tropa de jumento carregado de areia. Pau de lata d’água. Nego Mariano juntador de binga, Diabo Louro, Nega Tereza, Odilar Barreto, Xêta e Nego da Donana. Ceará bosta-de-boi, Cururu tem-tem, Zabelona. Por fim, Nego Zacarias, quase dois metros de altura, o primeiro veado a vestir saia longa de colorida seda chinesa e a enfrentar o mundo raivoso armado de sombrinha e bolsa a tiracolo. Tábua de pirulito, quebra-queixo cortado com espátula, leite de onça no bar do Codó, picolé de araçá, carrinho de raspa-raspa com litros brancos cheios de refresco de cupu, murici, maracujá. Ofensas: qualira, xibungo, caraxué, jacamin,. E uma definitiva e única palavra de amor: licute.

Nós, pardais

Pedro Marinho de Oliveira era prefeito quando recebeu a visita de um grupo de ornitólogos. Eles explicaram que estudavam pássaros e há anos acompanhavam a migração de pardais, do sul para o extremo norte pelo centro do país, desde que a prefeitura de Porto Alegre iniciara a matança dessas aves. Alegou-se, como pretexto para o extermínio, que por serem gregários e de convívio fácil com os humanos, os pardais ocupavam a cidade e expulsavam as outras aves. Era 1966 e Pedro Marinho saiu do gabinete e foi com os estudiosos ver os pardais que há tempos nidificavam no beiral da Casa Salomão, atrás da prefeitura e defronte à Fundação Sesp. Trinta e tantos anos após, Marabá vive cheia de pardais. E de sanhaçus, bem-te-vis, andorinhas, cambaxirras, coleirinhas, desmentindo a história que pardais saqueavam-lhes os ninhos e bicavam seus ovos. Até os gaviões-tesoura voltaram, como voltaram as amargosas à praia do Tucunaré, assinaladas pela primeira vez em 1750 quando franceses e italianos fizeram do Tocantins seu caminho para a França Equinocial, como então era conhecida a Província de São Luís do Maranhão. Então nossa ilha chamava-se “Praia das Pombas” justamente por causa das amargosas – umas jurutis enormes que, quando voam, fazem nas asas um farfalhar que se leva para sempre como secreta nostalgia no coração. Emigradas do inverno nos Estados Unidos, aqui vinham acasalar e reproduzir-se. Eram então mortas aos bandos e comidas como tira-gosto de aguardente. No início dos anos 80, morava eu em Santa Isabel do Pará, cidadezinha agradável a 40 km de Belém - e da qual sou, com inocultável orgulho, cidadão honorável por decisão da Câmara e do Executivo -, quando observei com alegre espanto bandos de pardais no paço e na torre da matriz. Eu também era um imigrante e seu canto miúdo e nervoso me lembrava a terra dos meus irmãos. Pois esse mesmo sentimento remoto e bom acolheu-me repentinamente em certo abril na cidade de Carajás, sudeste do Pará, 650 metros acima do nível oceânico, onde solitário e angustiado bebia cerveja numa churrascaria: a praça estava cheia de pardais e curumins caiapós que brincavam sob o olhar vigilante das cunhãs e a dissimulada indiferença dos garçons. Eu filosofava que nós - marabaenses erráticos (que vivemos por aí porque nos impedem de viver e trabalhar na terra que amamos); nós, os pardais perseguidos; nós, as amargosas raras e os curumins inquietos e vigiados - seremos, até o último dia de nossas vidas, uma raça à parte, incapaz de assimilar e conviver com um mundo hostil que exclui e condena, que afasta e renega aqueles cuja sensibilidade flui e reúne no mesmo universo a sonoridade do ar, o acalanto da terra, a ruidosa servidão das chamas e o largo e acolhedor ventre das águas. (Ademir Braz)

A César, o seu

O anteprojeto de lei sobre a criação do Conselho Municipal Antidrogas, recentemente levado à apreciação da Câmara pelo vereador Leodato Marques, carrega o DNA do ex-parlamentar petista Raimundo Gomes da Cruz Neto. Datada de 7 de maio de 2004, a proposta resultou da participação de Raimundo Neto no I Encontro Regional Antidroga realizado em Marabá em 2003, com a participação de segmentos da sociedade e de setores públicos e privados, quando se deliberou a criação do Conselho. Outra importante propositura de Raimundin, naquele ano, foi o convite à Sectam, Ibama e Secretaria Municipal de Meio Ambiente para a prestação de informações sobre a situação ambiental do Distrito Industrial de Marabá – evento que não se concretizou. Na sua justificativa, o vereador ambientalista indagava sobre: 1) as condições em que se encontrava o processo de decantação das lagoas do frigorífico, cujos resíduos eram (são, ainda hoje) carreados por uma grota até o rio Itacaiúnas, poluindo-o; 2) como se estava depurando a lavagem das siderúrgicas, porque existiam “ladrões” (vazamentos) por onde resíduos líquidos e sólidos (borra de ferro) acabavam chegando ao meio ambiente; 3) se havia monitoramento das atividades das guseiras quanto ao nível do ar no entorno do distrito e da qualidade da água drenada para o Itacaiúnas.

A estrada é uma parada

A PA-150 foi aberta sob dois pretextos: interligar à Belém as regiões sul e sudeste do Estado e encurtar a distância da viagem de 700 km feita pela BR-222 (ex-PA-70), Belém-Brasília e BR-316. Segundo um viajante habitual, hoje a opção rodoviária pra se chegar à Capital e exatamente a mais longa: - “É mais econômica, mais rápida e mais segura”, garantiu ao redator. E justificou: no dia 15 de março, ele e outras pessoas saíram de Jacundá às 09h15 e só chegaram a Belém às 17h45. Quase intransitável (“o trecho menos pior fica entre Goianésia e Tailândia”), há lugares onde carros pequenos podem até desaparecer dentro das crateras alagadas. Além disso, viajar à velocidade média de 30-40 km é expor-se mais facilmente e a qualquer hora aos quadrilheiros, quando não se anda em comboios. Ou seja, a PA-1530 tornou-se uma parada: pára aqui, pára ali, pára acolá. Em Marabá nesta semana, o secretário estadual de Transportes Valdir Ganzer informou que a PA-150 deverá ser refeita – a expressão foi esta mesmo, refazer – desde a Alça Viária.

Carajás, estado intransitivo

Presidente da Associação dos Municípios do Araguaia-Tocantins (Amat), o prefeito Darci Lermen (Parauapebas) remeteu ofício este mês ao Coordenador de Projetos da Fundação Getúlio Vargas, Antônio Luiz Begato Fernandes, consultando-o sobre a possibilidade de a FGV elaborar estudo de viabilidade sócio-econômica e política que atestasse de maneira científica e com metodologia adequada, a possibilidade da criação de um novo Estado na região Sul/Sudeste do Pará. A Amat, informa Lermen, congrega 38 municípios numa área de 284.718 km² com 1,4 milhão de habitantes, representando “indiscutivelmente um potencial incomparável sob o ponto de vista ambiental e detém inigualável biodiversidade, que traz para si a cobiça de interesses internacionais em função da grandiosidade de riquezas ainda não totalmente conhecidas pelos brasileiros.” Darci Lermen está convicto de que o potencial da Amazônia, ainda palmilhado por institutos e organismos de pesquisa nacionais e internacionais, tem induzido um modelo de desenvolvimento, a partir da exploração dos recursos naturais, equivocado ao nosso ver; mas, é a ausência do Estado em que nossa maior preocupação está focada”, por isso considera “inadiável a discussão de um nova realidade geopolítica para a Amazônia, a começar pelo Pará”. Leia, abaixo, o principal texto da correspondência remetida à Fundação Getúlio Vargas: “Observamos baixos índices de desenvolvimento humano, a utilização irregular dos recursos naturais, a ocupação desordenada das terras, a insegurança territorial, os incalculáveis danos ambientais, a insegurança jurídica, os conflitos pela posse da terra que já custaram a vida de centenas de brasileiros que lá se dirigiram atendendo um chamamento do Governo Federal nos anos 70. Mas, lamentavelmente, o que se viu passados décadas, foi a ausência quase que por completa do governo e seus organismos de desenvolvimento. O Pará é formado por 143 municípios, sendo que alguns deles possuem área territorial superior a de muitos estados e, até mesmo, de alguns países. À guisa de exemplo, cabe citar que pelo menos seis municípios paraenses chegam a ser mais extenso que países como a Costa Rica, a Holanda e a Suíça. Em termos regionais, está dividido em 6 mesorregiões e 22 microrregiões. A formação das mesorregiões leva em conta principalmente as semelhanças econômicas, sociais e políticas, enquanto as microrregiões consideram a estrutura produtiva de cada comunidade econômica. Em resumo, o Pará, há 380 anos já demonstrou ao seu povo, destarte os esforços de sua classe política, que é inadministrável sob o ponto de vista das boas práticas da administração pública. Consciente desta importância, a partir de decisão de um grupo político suprapartidário, liderado pelos deputados federais Giovanni Queiroz, Asdrúbal Bentes, Wandenkolk Gonçalves, Zequinha Marinho e Bel Mesquita, dezenas de deputados estaduais, trinta e oito prefeitos, centenas de vereadores e inúmeras lideranças comunitárias e desta entidade, solicitamos a possibilidade desta conceituada instituição, elaborar um estudo de viabilidade sócio-econômica e política que atestasse de maneira científica e com metodologia adequada, a possibilidade da criação de um novo Estado na região Sul/Sudeste do Pará.” Finalizando, Darci Lermen disponibiliza para a fundação, caso aceite realizar os estudos técnicos, a infra-estrutura existente nos escritórios da Amat tanto em Belém quanto em Marabá.

domingo, 25 de março de 2007

Fala, Hiroshy!

Deu no blog do Hirô, hoje sábado, março 24, 2007 "Ou planta, ou sai Luiz Flávio, coordenador da equipe da secretaria estadual de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia responsável pela auditagem realizada em seis usinas siderúrgicas de Marabá, retornou a Belém com uma convicção: os usineiros não investiram até agora em reflorestamento porque nunca levaram isso a sério. Pior: os lucros que obtiveram ao longo desses anos superaram todos os prognósticos sem que houvesse, paralelamente a isso, o mínimo de preocupação com cuidados ambientais. Ele diz ser uma “falácia” o discurso de que a 60% da economia de Marabá depende do Distrito Industrial." O Luiz Flávio está certo. A produção de gusa no Distrito Industrial de Marabá começou em 1988 (há 19 anos), tempo suficiente para que as guseiras tivessem plantado e alcançado sustentabilidade no carvão vegetal. Nada foi feito. Apenas a Cosipar, a primeira em funcionamento, diz ter apresentado ao então IBDF, em Belém, um projeto chamado "Programa Integrado de Floresta (PIF)", que em 1992 estaria produzindo 50% de carvão sustentado e 100% em 1997. Nada foi plantado. Tudo foi embromação. Estou formatando uma pesquisa sobre arquivos pessoais a partir de 1986 que, espero, dará uma visão mais ou menos próxima do grau de destruição da floresta representado, até aqui, pelo carvoejamento clandestino e a falácia de guseiros quanto aos benefícios sociais do seu trabalho. O objetivo é estimular a discussão, lançar uma luz sobre este segmento obscuro da economia regional e desnudar a enorme chantagem emocional que se vem tecendo em torno da suposta necessidade da permanência de um carvoejamento predatório e escravizador de mão-de-obra, inclusive infantil.

Indicação

Para dirigentes, técnicos e torcedores de Paysandu e Remo, que vivem reclamando a falta de um "matador", este blog sugere a imediata contratação do prefeito de Curionópolis (vejam a reportagem no blog do Valdyr Silva), cujo histórico arranjado na guerrilha do Araguaia o credencia cum magna lauda.

Blog do Waldyr Silva: 'Sou a favor da pena de morte pra bandido'#links

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