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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Com a historiadora e musa Idelma Santiago, também autora destas fotos

Estão servidos?

Gente minha, minha gente

Com a melhor cantora do Brasil, a marabaense Nilva Burjack, depois de montarmos varal de poesia no 1° LiterArte de Marabá, dia 4 de julho na Praça Duque de Caxias, iniciativa da Biblioteca do Professor de Marabá.

Na terra do muro baixo, quem tem um olho... errei!

O delegado paraense Euclides Vasconcelos, já falecido, veio para Marabá em 1974 exclusivamente para dar termo à violência e à bandidagem que infernizavam, como hoje, a vida da população. A eficiência dele, coragem, integridade e seriedade, o tornaram ícone da Polícia Civil, principalmente depois que sobreviveu a seguidos atentados quando moralizou Paragominas, no início daquela década, pondo na cadeia mandantes de pistoleiros e assassinos de trabalhadores. Quando ele chegou, Marabá estava um inferno, tal qual agora, com as devidas proporções. Vivia-se então o rescaldo da guerrilha do Araguaia, quando os “mocinhos” causavam mais terror e danos à cidade que os supostos “bandidos”, que, aliás, jamais foram vistos entre nós; a abertura da Transamazônica e consolidação da PA-70; o início da sangrenta disputa pela terra e a crescente destruição dos 1,8 milhão de hectares de castanheiras do chamado “Polígono dos Castanhais” para a formação de pasto. Também avultada a alcatéia dos trapaceiros e pilantras. E deu-se que certa manhã começaram a avolumar-se os registros de ocorrência sobre a mesa do delegado. Ao fim da tarde eram mais de cem. Todos indicavam como ator principal o volumoso “gaucho” Horácio Ferreira da Costa, um sujeito grandão, de fala grossa, bigodudo e de botas longas, que ao dizer-se “investidor” abriu todas as portas e pernas da sagacidade e luxúria do incipiente empresariado de Marabá. Até hoje não se explica direito como Horácio Ferreira conseguiu comprar, utilizando apenas um carnê de notas promissórias, mercadoria de toda espécie em várias casas de comércio e até um caminhão sobre o qual juntou a bagulhada toda e desapareceu. Dias após, a mesa de Euclides Vasconcelos não cabia mais de denúncias de lesados. Uma noite, quando jantávamos no Batukão, ali na Antônio Maia, chegou uma pessoa informando o delegado da presença do trambiqueiro em Altamira. Na mesma hora Euclides abandonou o peixe que ele adorava, conversou com o comandante da PM e caiu na estrada com tenente Glicério, um sargento e mais dois policiais. Ao longo da Transamazônica, a diligência colheu mais depoimentos sobre os “negócios” do empresário, que trocava panelas de alumínio e geladeira movida a querosene por sacas e sacas de arroz. Para concluir a história, os policiais conseguiram pôr as mãos em Horácio. Porém, no retorno a Marabá, o carro deles tombou, Glicério morreu, Euclides e outros saíram com costelas quebradas e Horácio escafedeu-se. Seis meses depois, encontro amigo jornalista que viera de Tucuruí encantado com uma pessoa que lá conhecera, fazendeiro amante das mulheres e da boa bebida, prosa fácil, e com o qual tinha até tirado fotografia, aquela que me mostrou em seguida. Cercado de mulheres e garrafas de uísque, o bonachão bigodudo sorria. Era Horácio Ferreira da Costa. Há quem diga que os tempos são outros mas há controvérsia. Em meados da década de 80 uns patifes inventaram um bingo, que seria no Zinho Oliveira, e desapareceram com o dinheiro das cartelas e os veículos que compraram a crédito numa revendedora. Agora veio o golpe dos publicitários, embora Marabá esteja bem servida de profissionais do ramo estabelecidos há anos. Sim, prata de casa não tem valor para comerciantes chegados de outros rincões. Para muitos deles vale igualmente quem tenha vindo de fora, sabe o Diabo de onde. A esse não se pede documento ou idoneidade; apenas que seja desenvolto e ativo como os vendedores de painéis que levaram, no beiço, mais de 400 mil reais.

Bodes

Houve um tempo, em Serra Pelada, onde no começo eram proibidas mulheres e bebidas, dois prazeres definitivos, a cabroeira comprou o bode mais fedorento que encontrou e o confinou num cercado com pouco mais de um metro quadrado sob o sol escaldante. A diversão era apostar quem ficaria mais tempo preso suportando o cheiro insuportável do bodão. Todos os que tentaram, perderam. Ninguém agüentava trinta segundos sem sufocar dentro do cercado. Até que chegou a vez de cidadão originário daquele estado e topou a parada. Cinco segundo depois de entrar no curral, o bode saltou desesperado a cerca e caiu no mundo: não suportou a catinga do cidadão. Lembrei-me do causo por causa do nosso Águia. Irregular na campanha da Série C deste ano, na qual se iniciou bem com três vitórias, mas depois acertou a ladeira (dois empates e uma derrota sucessivos) o Águia anda desgostando a torcida. Agora há apreensão quanto as próximas rodadas: o time precisa de qualquer maneira vencer o Sampaio Correia e depois enfrentar o perigoso Rio Branco – 9 pontos, 2 jogos a menos - para folgar na competição. Até porque na quinta-feira o Paysandu (agora líder, mas com apenas 11 dos possíveis 21 pontos em 7 jogos) empatou desastrosamente com o Luverdense na Curuzu. Em Marabá, a torcida já definiu o goleiro Adriano como um bode respiratório, como dizia outro goleiro, o Manga, do Botafogo. “No Remo, Adriano tomou uma lavagem do São Raimundo e no Águia contabiliza já onze gols em cinco partidas. Assim não dá!”, afirmavam vários torcedores ontem na Marabá Pioneira. Se é verdade, não sei. Resta saber quem sobreviverá ao cheiro do bode.

Meu boizinho, não!

Em Mandado de Segurança impetrado contra o Incra, fazendeiro pão duro desta região alegou dificuldades para pagar despesas processuais e pediu isenção de custas e gratuidade judiciária na Vara Única da Justiça Federal em Marabá. Despacho do juiz Borlido Haddad foi um jato d'água na fervura: “Indefiro o pedido de assistência judiciária. Basta que o impetrante venda um ou dois animais entre as centenas que possui, para arcar com as custas processuais.”

Exagero

Advogado baiano trouxe petição de 300 laudas à Subseção Judiciária local e o despacho do magistrado deveria tornar-se súmula vinculante: “Não se admite nos tempos atuais que alguém faça uma petição desse porte, dessa natureza. Sugiro ao autor que a reduza para no máximo quinze laudas. Não obstante, este Juízo, conforme sua disponibilidade, lerá de cinco a dez páginas por dia.”

Descompromisso

Presidente da Associação Comercial, Gilberto Leite, formalizou queixa na Secretaria Municipal de Indústria e Comércio sobre a denúncia de que o consórcio CMT/Egesa adotou a Gerdau como fornecedora de aço para a obra de duplicação da ponte do Itacaiúnas, a despeito da existência de produto similar aqui produzido pela aciaria Sinobras. “A construtora também está trazendo mão de obra de outro estado”, acrescenta Paulo César Lopes, presidente do Sindicom.

Universidade

São 432 cargos efetivos de professor; 120 de técnico-administrativos de nível superior; 212 de técnico-administrativos de nível médio; 41 de direção; 170 funções gratificadas, além de um reitor e um vice-reitor. Esses os empregos que serão gerados em Santarém com a criação da Universidade Federal do Oeste do Pará, projeto aprovado em caráter conclusivo na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara Federal na terça-feira (14/07) e que segue para análise do Senado. A nova universidade resultará do desmembramento da UFPA e aglutinação de uma unidade descentralizada da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em Santarém. Os alunos regularmente matriculados em ambas serão transferidos automaticamente para a nova instituição, bem como os professores, funcionários e recursos materiais das duas universidades que serão desmembradas. Quanto à criação da Universidade Federal do Sul do Pará, a partir do campus da UFPA em Marabá, as coisas ainda não vão além da expectativa.

Terras

A imprensa de Marabá deixou de abordar o tema da "MP da Grilagem" para não desagradaro deputado Asdrúbal Bentes, autor das mutilações introduzidas no texto original que o Executivo encaminhou à análise da Câmara, e que acabaram sancionadas. Asdrúbal é do PMDB e assim o jornal dos Barbalho não toca no assunto. É também amigo dos "caps" da imprensa local e aí cai o silêncio como uma cortina sobre tema. Mas é bom lembrar que o enredo continua. A procuradora-geral da República, Deborah Duprat, ingressou, ontem, com ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a lei que determinou a regularização de terras da União sob ocupação na Amazônia (Lei nº 11.952). A lei gerou uma disputa acirrada entre ruralistas, que defenderam a regularização das terras, e ambientalistas, contrários à medida, e que a chamaram de "Lei da Grilagem". Ao entrar com a ação, Duprat atendeu a apelos dos ambientalistas e levou a polêmica para o STF, onde a lei deverá ser objeto de um julgamento dramático em que devem prevalecer fortes antagonismos entre as partes. Para ela, a lei instituiu "privilégios injustificáveis em favor de grileiros que, no passado, se apropriaram ilicitamente de vastas extensões de terra pública". E defendeu a tese de que a regularização de terras na Amazônia deveria atender a dois objetivos: "promover a inclusão social e a justiça agrária, dando amparo a posseiros de boa-fé, que retiram da terra o seu sustento" e "aperfeiçoar o controle e a fiscalização do desmatamento na Amazônia". Esse último objetivo seria alcançado se a lei tivesse previsto "uma melhor definição dos responsáveis pelas lesões ao meio ambiente nas áreas regularizadas". Porém, a lei teria permitido a regularização "a grileiros que, no passado, se apropriaram ilicitamente de vastas extensões de terra pública". "O legislador deixou de proteger adequadamente este magnífico patrimônio nacional, que é a floresta amazônica brasileira, bem como os direitos de minorias étnicas, como os povos indígenas, os quilombolas e as populações tradicionais que habitam na região", criticou Duprat.

Viva Juca!

Do título à última palavra, faço minhas as homenagens do professor Alex Fiúza: Tributo a Juvêncio Dias de Arruda Câmara Alex Fiúza de Mello Juvêncio partiu sem ter tido tempo de dizer adeus. Também não avisou, desta vez, de seus passos, como de costume, em seu blog. Diante da notícia imprevista de sua doença incurável, simplesmente congelou as postagens, antecipou desculpas por “problemas técnicos”, recolheu-se, em silêncio, entre os seus mais próximos, e ensaiou um último e indizível ato existencial, sem comments, vivido interiormente na dor consciente e lúcida de seu iminente ocaso. Também em sua hora final “Juca” rasgou os scripts, surpreendeu a todos, não esperou mais tempo, negou o “normal”, o “lógico” – e manteve tudo inconcluso, polêmico, surpreendente, em plena sintonia com tudo o que fez e defendeu em vida. Economista de formação, mas profissional da comunicação por opção e paixão – sem diploma específico, como ria e se orgulhava –, foi nesta área de atuação que deixou a sua maior e melhor contribuição à sociedade paraense. Seu blog Quinta Emenda, hoje um ícone da mídia local e regional, já havia alcançado no último mês de junho uma impressionante média de 2.000 consultas diárias e seguia um rumo consagrador que colocaria o seu mentor, muito em breve, em destaque nacional. Referência obrigatória para todos os leitores interessados em notícias de última hora e de conteúdo confiável, com comentários e análises instigantes e honestas, o Quinta inovou na linguagem e no estilo de fazer jornalismo. Pérolas que marcarão a memória da imprensa paraense – como “Nova Délhi” (Belém vista em seu subdesenvolvimento caótico), “Ivecezal” e “Folha Nariguda” (denúncia humorada à parcialidade dos dois maiores veículos da imprensa local), “Nacional”, “Tapiocouto”, “Jatemar”, “Sobrancelhudo” (referência satírica a políticos da terra) –, criaram uma forma de denúncia, com humor e sarcasmo, da mediocridade, improbidade e mandonismo ultrapassado dos donos do poder local e das elites periféricas e improdutivas. Para “Juca”, a injustiça, no Pará, era tanta e desmedida, que, inclusive, vestia toga. E não por acaso sua última postagem no blog Quinta Emenda, autorizada em cama, já doente, em favor de Lúcio Flávio Pinto, foi contra os abusos do Poder Judiciário dessa terra de impunidades, sem lei, sem ética, sem direitos, sem vergonha, que lhe faziam sentir-se um permanente estrangeiro em sua própria pátria. Seu mal-estar em permanecer num ambiente politicamente inóspito fez com que já estivesse planejando sair de Belém e do Pará, a contra-gosto, num ato de protesto contra o status quo dominante e como um exercício de sobrevivência intelectual e moral. Não via, a curto prazo, luz no fim do túnel, a contar a ausência de perspectivas num meio político contaminado pela metástase da corrupção e do oportunismo demagógico. Juvêncio defendeu, sim, ao longo de sua biografia uma tese (a única concluída) com distinção e louvor: a da honestidade e da coerência. Qualificou-se nesses itens, como profissional e como homem, a exemplo de poucos (incluídos os doutores de beca), condição e referência que lhe lastrearam admiração e respeito por tudo o que escrevia e informava, até de seus adversários mais ilustres – que no momento do adeus, qual num filme de Felini, lhe mandaram, despudoradamente, flores. Hoje, depois das últimas tribulações, Juvêncio descansa em paz, ao lado de seus entes queridos. Foi-se fisicamente, sim, mas permanece entre nós, na lembrança, como modelo àqueles que lutam por cidadania plena num país sem república, pelos direitos humanos numa terra de exclusão e por prerrogativas democráticas numa nação de cultura patrimonialista e autoritária. Obrigado, caro Juca, por teres existido; pela originalidade, oportunidade e justeza de tuas reflexões e escritos. Pela coragem e força de tuas palavras e criações. Ainda que por pouco tempo (menos do que pretendias), conseguistes incomodar os acomodados na impunidade e nos privilégios – os “grandes ladrões”, como os define o poeta Jorge de Lima. Deles, um dia, de tão miúdos e desprezíveis, não restarão que cinzas e esquecimento. Ao contrário, tu permanecerás, para além deles, pela boa e memorável influência de tua obra e exemplo de caráter. Para parafrasear Mário Quintana: eles passarão; tu, passarinho... Voa, então, para sempre, em paz!