Pages

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

MST e o Direito da Terra

Na manhã desta terça-feira,(15/12), em Marabá, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em parceria com a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) lançam o primeiro curso de Direito da Terra da região Amazônica.

Com a presença de Raquel Buitrón Vuelta, do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), Paulo Sergio Garcia, superintendente do INCRA no sul do Pará (SR- 27), Júnior Fideles, procurador Chefe da Procuradoria Federal Especializada do Incra em Brasília, do reitor da UNIFESSPA, Maurílio Monteiro e o Representante da Vía Campesina, João Pedro Stédile.

O curso tem como objetivo forma em cinco anos, 50 bacharéis em Direito provenientes das áreas de assentamentos de reforma agrária, filhos e filhas de camponeses/as da região. Os candidatos realizarão um processo seletivo da UNIFESSPA. Este será o quinto curso em termos nacional, pois já existem cursos de direito em outros estados em parcerias como na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Feira de Santana na Bahia (UEFS) e na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Local do Evento: Auditório da UNIFESSPA – Campus I Folha 31 - Quadra 7, Nova Marabá, Marabá – PA, a partir das 9h.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015


Estou tateando na internet. Reaprendendo a lidar com computtador.
Além da obstrução das coronárias, o avc levou-me parte de uma visão (o oculista disse que não tem a ver uma coisa e  outra) a medicina diz que estou com quatro graus de miopia. Besteira, né?
O certo é qe fiquei longo tempo sem mexer com internet (por várias razões (pessoais - que não interessam, aliás, ao leitor).
Acreditem: desaprendi, nesse tempo longo, até a enviar um prosaico e-mail...
Coisas da vida...
Mas superar é preciso, assim como amar é fundamental.
É assim que, remexendo em arquivos, achei um poema que publiquei há milhares de anos, num período pré-alfabeto torto do avc. e que trata fundamentalmente do amor.
Vejam aí.






Enseada dos anos
Ademir Braz

O espelho me devolve a barba de vários dias:
umas cerdas brancas, duras, de velho cuandu.

Deve ser esse fascínio dos 600 anos... Para onde
fluíram em maciez e furor as antigas manhãs?
Onde as noites nevadas de espuma? Onde
o espanto de fardos e fados rarefeitos, verbo
em sangue no guardanapo dos botequins?

O cuandu ri no espelho... Envelhecer é isto?
Esse tumulto com os signos, este enorme,
colossal desapego à posse do supérfluo?
Que é o essencial, quando tudo esvaiu-se?

Ainda gosto de árvores, ternura e afagos;
de cães sarnentos e gatos de beco. Trago n’alma
a enseada morna que os abriga e aos amigos.
Grandes, por igual, são minhas amarras às coisas
que sejam pássaros, mar, plantas e silêncio.

Dessas coisas claras, certifico. Mas o que faço
das lembranças, tumultuárias buganvílias?

Os amores, comparo-os às tainhas de Maiandeua.
Quando as vi, na primeira vez, pareciam milhares
a saltar entre a praia do porto e o manguezal.
Se o tempo as trazia, em época exata de chuva e sol,
fervilhava o mar sob redes e barco, e pescadores
colhiam mais cardumes que poderiam consumir
ou vender e que, mortos, relançados às marés,
prateavam de escama a fímbria macia do areal.
Tanto o desperdício que, não muito depois,
rarearam até sumir ao longe na costa do Marajó.

(As tainhas que amei, também migraram. Foram
acasalar bem longe da minha rede de pescador.)

Estes idos amores, contudo, conservo todos aqui
(ainda que tenham durado a sina de uma rosa)...

II
A primeira paixão, na luminosa adolescência,
Levou de mim para sempre a inocência.

III
Muitos anos depois, numa cilada, tomou-me
a alma encarcerada o amor mais repentino.
E fui, como um pássaro a bater-se no espelho
resgatar, quem dera, o que perdera em menino.

E vai, um dia, sumiu no arrebol a juruti fagueira...

Se eu tivesse, então, tirado de meus ombros
E lançado a fera à montoeira dos meus sonhos
Não haveriam mais pesadelos, mais escombros,
nem seria o amor senão a doida cachoeira
Que nos arrasta e leva pela vida aos tombos.

IV

A muito amada sentou-se no muro e por trás dela
eu via a luz da casa com o brilho velado da vidraça.
Era um lugar de nome indígena, algo quase assim:
a muito amada vinha do colégio e eu, de muito longe:
da terra mesopotâmica do sol, a mochila encardida
do pó que o vento espalha ao norte dos agrestes.
Lá nos conhecemos, vivíamos, lá um bêbado amou-a
com amor que o fez perder-se dos parceiros de balcão.
Mas ela mudou-se e fui revê-la num insano impulso
e dei com esse vento de soturna lágrima e adeus.
Penso às vezes que morri naquela noite de pétalas
e transmutei-me em pássaro sem abrigo ou canto
e desde então peregrinei sem causa à parte alguma.
Sim, é quase certo que morri naquela noite de pétalas...
V
Ninguém nunca mais é o mesmo depois do amor.
Ceifada a fone, chegada a noite espessa da solidão.
Rola a alma sem itinerário para lugar nenhum.

VI

Eu, de mim, distribui o que sobrou da ventania.

VII
Em Romana, andávamos nus, a companheira
a espiar navios feéricos sobre o verde mar.
Tão distantes e misteriosos!... À noite, apenas
vela acesa na curva imaginária do horizonte
enquanto nos amávamos sobre palafitas.

VIII

Na cidade de cal, perdida no silêncio do cerrado,
a namorada levou seu visitante a um lugar estranho
- o centro geodésico de alguma coisa – onde havia
uma placa, seixo sem valor e um círculo cimentado
para receber alienígenas e discos voadores.
Lá, sentamo-nos na grama e não vi luzes na manhã.
Trouxe no bornal - e ainda deve estar aí nalguma parte -
um punhado de cascalho sujo e mítico, talvez resto
do que fora abissal rochedo de oceano profundo.

IX

Eu olhava a luz a crepitar na chuva da madrugada.
Bebia aguardente e cerveja no bar soturno (só o dono
atrás do balcão) e olhava a luz imunda na rua insone.
Eu era só um artista sem certezas, e a cidade um pássaro
morto sob a chuva. Esse vulto em branco, entretanto,
está bem vivo e úmido à porta, os seios de romã, a face
alada do arcanjo que vai levar-me a qualquer parte.
Alva e transparente no vestido longo, ela pede vodka
e solta o corpo esguio numa cadeira mais ao longe.
Ergo-me e dou a mão ao fado inscrito na noite suja.
Então ela canta, e me dou conta que morrerei esta noite,
fugiremos para as estrelas acima da tempestade, rumo
às galáxias e outros sóis. Nunca mais voltarei! Mas antes
de largar-me quase morto à margem do trago e das taças,
três dias nos amamos entre cachoeira e saranzais.

******


: