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sexta-feira, 23 de março de 2007

Deu no Blog do Alencar

Quinta-feira, Março 22, 2007 Ademir Braz, o Poeta da Marabá Parisiense Do advogado - militante e combativo - e poeta Ronaldo Giusti, amável leitor deste Blog, recebo comentário que merece ser transformado em post. Assino embaixo, em cima e nos lados. Meu caro amigo, Ademir Braz é, sem favor, o maior expoente da poesia tocantina. Está entre os dez maiores poetas do Pará. A exemplo de Nauro Machado, que jamais deixou São Luís, sua terra natal (minha também), Ademir, salvo por pequeno período, não suportou viver longe daqui e dos eu povo sofrido, matéria prima da sua poesia. Também me aventuro no exercício da poesia. Já escrevi e publiquei um livro ( Canto Inicial, 1984, Sioge, São luís/MA). Tenho outro ainda por publicar. Agradeço por dispor em seu blog notícia e idéias interessantes e importantes para o País. Um grande abraço Ronaldo Giusti Agradeço pela parte que me toca. E aguardamos todos nós o novo livro de Ronaldo Giusti.

Carajás

Deu ontem no blog do Val-André (veja link no "recomendo"):
Senador do Tocantins apresenta proposta plebiscitária do Estado do Carajás no Senado

O senador Leomar Quintanilha (PMDB - TO) apresentou o Projeto de Decreto Legislativo que autoriza a realização de plebiscito para a criação do Estado de Carajás, a partir da emancipação do Estado do Pará. Leia aqui.Quintanilha é um dos artífices que, ao lado do ex-Deputado Federal e ex-Governador, Siqueira Campos, criaram o Estado do Tocantins, a partir de desmembramento do Estado do Goiás.O senado tocantinense atendeu o pedido formulado pelo amigo e Deputado Federal Giovanni (PDT-PA).

Periferia

Zeca Menino morreu ontem na estrada com duas balas enfiadas na cumbuca; era parceiro de Domingo Sacanagem outro garoto que dançou numa arapuca. Ainda ontem os dois curtiam embaladas, jogavam bola no campinho da poeira ficaram prenhas suas duas namoradas que se escondem lá pras bandas da Mangueira Zeca dizia que seu corpo era fechado, ninguém duvida que essa coisa aconteça, mas se fecharam o corpo dele, a cabeça estava exposta ao balaço do soldado. Depois disseram que o pistola era paisano... A mesma história com fulano e com sicrano! Não tem remédio, não tem saída pra essa droga que alguns chamam de vida. (Ademir Braz) *****

Poema da escuridão

Ana de Luanda, 20jan05, 9 anos No claro do mundo as borboletas voam alegres. E de repente, puf!!, apagam a luz e a escuridão começa. Tudo sem cores, sem vida e sem enxergar. O mundo fica escuro e as borboletas vão embora. Por causa da terrível escuridão, não só as luzes dos quartos se apagam, mas as luzes do mundo também se apagam e as borboletas vão embora. Elas vão direto para a china pois lá é noite. Crianças acham que é o bicho-noite, vão dormir assustadas. Depois de horas e horas acordam para ver se ele já foi embora, mas ele ainda está lá; algumas crianças ficam acordadas, e outras vão dormir logo logo ao ouvir os cantos dos pássaros. O dia volta e as borboletas brincam no ar.

Archimedes, Consulta e outras nostalgias

Grande parte de sua vida, mais de 40 anos, meu pai Valdemarzinho catou e cortou castanha nas terras de Pedro Marinho de Oliveira. Enquanto Don’Ana lavava roupas no Itacayunas, Valdemarzinho remava sua canoa Tocantins acima e ia embora: entrava pelas sinuosas curvas do Tauaryzinho até desfazer-se por longos meses nas matas do castanhal Consulta. Solitário e corajoso, meu pai gostava mesmo era de trabalhar e estar só naquelas matas de tempos verdes e duendes. Em 1974, já adulto, e meu pai mesmo idoso ainda escarafunchando a mata, fui de penta, nos primeiros meses do ano, época de cheias, conhecer a colocação. Só de ida a viagem, que seria de seis a oito horas, durou dia e meio. Celso “Pato” Brasil, Seu Rico e aquele monstruoso par de óculos escuros Fittipaldi, Zezé Rosa, seu Edésio, Tunico Braga, Ademir Martins, o piloto Diodésio, eu e outros que me fogem à memória (mas juro que Nego Quinca estava lá!), bebemos neste escasso período uma caixa, um engradado, duas sacas de sarrapilheira atulhadas de garrafas cheias até o gogó e mais alguns litros avulsos de cachaça enquanto navegávamos numa algazarra de espantar as jaçanãs. Tauaryzinho acima, quase em frente à morada de Mané Pifeiro o motor empacou. Anoitecia e tivemos de aportar na ribanceira porque era impossível continuar escuro a dentro, entre galhos que desciam de bubuia ou avançavam ameaçadores das margens estreitas do igarapé. Aparecera alguma encrenca no Archimedes, máquina sueca maravilhosa que desde os tempos épicos empurrava barcos carregados de castanha, e surpreendeu-me a coincidência: fomos dar prego bem em frente à casa do maior festeiro das redondezas. E prego dos bons, justo no martelete do cabeçote de ignição, o que forçou seu Edésio a vir de cavalo, no meio da noite, buscar peça nova em Marabá. O defeito era pura invenção! Diodésio armara a coisa para a gente passar a noite em casa do Mané Pifeiro, longe dos olhos de camiranga de seu Edésio, homem sério e da confiança do patrão. Armadas as redes, barriga cheia de frito, garrafa de cachaça ao alcance da mão, naquela noite até gato voou. Um monte de carvão ocupava praticamente metade do barracão de Pifeiro, onde as redes foram atadas à luz de uma poronga. Já meio bicados, contávamos piadas deitados e ríamos por qualquer coisa quando começaram a voar e a cair enormes pedaços de carvão sobre nossas cabeças. Penso ainda hoje que foi Tunico Braga quem iniciou os arremessos. Em resposta, planou para todos os lados uma revoada de chinelos, precatas, congas, e no meio de tanto granizo um gato caiu dentro da rede e em cima do peito de Celso Brasil. Qual dos dois uivou mais assustado dentro da noite não se sabe. Nem bem apeou da montaria, seu Edésio soube de tudo por Mané Pifeiro, o linguarudo. A cabroeira, o magote de porre, não tinha princípios cristãos nem de cidadania, disse ele. Esparramaram meu carvão de encomenda, o barracão está imundo e ainda rebolaram meu gato de estimação, onde já se viu?! Aquilo não era mesmo proceder de gente, admitiu seu Edésio, fôlego ainda célere da cavalgada noturna. Tinha a voz pausada e macia, de pelica, mas as lapadas da língua queimavam como umbigo-de-boi. E já que era para jogar rebolo, ia sapecar n’água aquela sandália que acabara de acertar-lhe o ouvido. “A sandália é minha, mestre, mas não fui eu que joguei. Até me acertaram um gato e não sei o que vou dizer em casa quando a mulher me ver todo arranhado no peito”, reclamou Celso Brasil. E o Tunico Braga ali, na bucha: “Diz que foi o gato e ela te mata!” Até seu Edésio riu do jogo de palavras. Levantamos cedo e jogamos Zezé Rosa dentro d’água. Como ele não sabia nadar, amarramos o manilhão do barco por baixo de seus braços e ele veio algum tempo a reboque, a ressaca de molho. O castanhal Consulta ficava logo após a curva do rio. Uma prainha de areias brancas, uma ponta de terra com alguma grama, o barracão meio cheio de castanha e o ressôo da mata virgem por detrás. Pulamos na água fria, cor de ouriço, e comemos galinha caipira. O arroz era muito alvo na panela de ferro, e em torno da mesa de madeira dividimos alguns goles com o cozinheiro. Da mata vinha o cheiro de seivas, folhagens e por trás do canto das aves um enorme silêncio. O sol estalava sobre as folhas do verde oceânico. Encontrei meu pai e ficamos ali, juntos, terremotos de silenciosa ternura a desmantelar o coração – sempre foi assim. Desde então a Consulta me é uma referência mágica, tal qual os extintos garimpos de diamante do Tocantins, abaixo do Itupiranga – Bagagem, Piranheira, Sumaúma, Urubuzinho – onde a saudade em correnteza levou-me certo dia em busca do meu pai também naqueles anos 70, quando ele, Zé Garimpeiro, Pedro Cascalho e outros septuagenários levaram sua nostalgia em viagem de despedida às corredeiras e seus diamantes que seriam afogados para sempre sob a represa. Se o castanhal era parte da vida do meu pai, a outra parte aflorava entre pedrais, ternos de peneira, farrachos, guriatãs e córregos por onde subiam levas de matrinchãs. Tantos anos depois e me vem esta vontade de tornar à Consulta, hoje um povoado de camponeses. Tudo porque dia desses encontrei no terminal rodoviário do km-6 o Elvan do Vale (Sadôba), que me apresentou Siliveste, daquela comunidade. Eles então me falaram que na Consulta são já moradores antigos (e me deu vontade de ir conhecê-los) o João Magro, o Chico Galinha, Rofé, Xará, Emoge, Conceição Castanheira, Maria Buchéca, Raimundo Bulacha, Maria Godóia, Antônio Neite “Mosquito”, e um artista da voz chamado Gabilanha. Tudo gente da mais fina estirpe. Como meu pai. (16nov06)

quinta-feira, 22 de março de 2007

Vinicius

Não deve demorar a chegada em casa, para acalanto do pai Silvio Damasceno e da mãe Luciana, meu futuro afilhado Vinícius. Ele nasceu às 21h00 de 15 de março com 3,270 gramas e "desconforto respiratório" causado por um princípio de pneumonia. Por enquanto Vinícius está ainda sob cuidados médicos e os pais andaram com nós atados na garganta. Mas quem andou sofreu um repentino surto de falta de ar fomos todos nós, amigos do casal, de sorte que, pelo menos no meu caso, preciso urgentemente de uns goles de aguardente e uma porção de piabanha assada na brasa para dar cobro ao coração.

Cruz credo!

Texto remetido pela amigona Hélida Joanes, que publico sem saber se o diabo desse dialeto é goiano, mineiro, mandarim ou o primeiro linguajar do pithecanthropus erectus: “Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomano uma pincumel e cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazê uma macarronada com frangassado. Quascaí de susto quando ouvi um barui vindo de dendufornu, pareceno um tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda galinha prassá; u fornu isquentô, o mistorô e ucu da galinha ispludiu! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, proncovô, oncotô. Ói procevê quilucura...”

Aí tem...

Empresária vai ao Bradesco/Nova Marabá com um cheque de R$13.000,00. Procura a gerência, passa o cheque, paga algumas duplicatas e pede R$ 2.000,00 em espécie. Quem a atendeu vai ao caixa, providencia os pagamentos e traz o dinheiro em cédulas de R$50. Satisfeita, a empresária pega seu carro e vai para o seu escritório, também na Nova Marabá. Assim que chega, sua irmã pega o mesmo carro e vai saindo, quando é abordada por um motoqueiro assaltante que leva sua bolsa com o celular e documentos. Passado o susto, a moça liga para o seu celular, o bandido atende e ela, então, pede-lhe que devolva os documentos. - “Só se você me der aqueles dois mil com que você saiu do banco”, respondeu o bem informado assaltante.

Ana de Luanda

Minha filha Ana de Luanda fez onze anos neste 20 de março. Duas velinhas azuis ornamentaram as quatro fatias de bolo de chocolate e cupuaçu, compradas numa casa de doces, e agasalhadas num prato comum sobre uma cadeira, porque a mesa de refeições estava - como sempre! - atulhada de livros, máquina datilográfica, ferro de engomar, uma penca de bananas e outros trastes que a solidão e a cabeça distraída dispersam em qualquer parte. Na volta das aulas, muito depois do meio-dia, Giordano Bruno ajudou nos “parabéns pra você”, e tirou fotografias. Tudo bem. Sei que a pobreza não é mal irremediável, nem existe força divina capaz de modificar uma sociedade que divide as pessoas conforme a profundeza e volume de suas posses. Mas isso foi tudo que pude dar à minha filha e ela contentou-se tanto com tão pouco que quando foi embora tinha os olhos cheios de brilhantes.

Chega de barbárie!

Maria Ivete Bastos é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém. Ela tem se destacado na resistência contra o processo de grilagem de terras, expulsão de pequenos agricultores e desflorestamento para a plantação de soja naquela região do Pará, e foi homenageada em Nova Delhi, na Índia, em setembro do ano passado, com o prêmio Mahatma Gandhi, tanto por esta luta sócio-ambiental quanto por representar as mulheres da Amazônia. Agora, exatamente por sua atuação, Ivete está sendo ameaçada de morte por fazendeiros e madeireiros da região que tiveram seus interesses ameaçados. Não apenas ameaçada de morte, mas de ser torturada até a morte. Na tentativa de impedir que esta barbaridade ocorra, o Conselho Nacional dos Seringueiros elaborou um abaixo-assinado internacional, solicitando ao ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, que Maria Ivete Bastos seja incluída no Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, que ela possa escolher a equipe de proteção de sua confiança, e que outros líderes da luta por reforma agrária e Direitos Humanos da região também recebam proteção. É preciso que o Brasil não se envolva em mais este ato de barbárie, como o que sacrificou Dorothy Stang.

Maranhão do Sul

Açailândia, Alto Parnaíba, Amarante do Maranhão, Arame, Balsas, Barra do Corda, Benedito Leite, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu, Buritirana, Campestre do Maranhão, Carolina, Cidelândia, Davinópolis, Estreito, Feira Nova do Maranhão, Fernando Falcão, Formosa da Serra Negra, Fortaleza dos Nogueiras, Governador Edison Lobão, Grajaú, Imperatriz, Itaipava do Grajaú, Itinga do Maranhão, Jenipapo dos Vieiras, João Lisboa, Lajeado Novo, Loreto, Mirador, Montes Altos, Nova Colinas, Nova Iorque, Pastos Bons, Porto Franco, Riachão, Ribamar Fiquene, Sambaíba, São Domingos do Azeitão, São Félix de Balsas, São Francisco do Brejão, São João do Paraíso, São Pedro da Água Branca, São Pedro dos Crentes, São Raimundo das Mangabeiras, Senador La Rocque, Sítio Novo, Sucupira do Norte, Tasso Fragoso e Vila Nova dos Martírios. Esta, a relação dos municípios que integrarão o futuro Estado do Maranhão do Sul, cuja proposta de realização foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, mas ainda deve passar pelo plenário do órgão e pela Câmara dos Deputados. O projeto de decreto legislativo nº 02/2007 estabelece que a consulta popular seja realizada pela Justiça Eleitoral. Pela proposta, o Maranhão do Sul teria 150 mil km2 (o quinto maior Estado do Nordeste em tamanho), 49 municípios e 1.100.000 habitantes. Economicamente, o Maranhão do Sul apresenta-se plenamente viável, diz reportagem do Jornal Pequeno. A região possui abundantes recursos naturais, não é sujeita a estiagens e tem forte potencial para o ecoturismo. Os seus solos de cerrado estão rapidamente se tornando num novo pólo agrícola, com vastas colheitas de soja, arroz, milho, algodão e frutas tropicais. Além disso, poderá contar com a Hidrovia Tocantins-Araguaia que forneceria um meio eficiente para o transporte de seus produtos a mercados externos. O plebiscito, no entanto, não terá o poder de criar o estado. Caso o resultado seja favorável à proposta, a Assembléia Legislativa do Maranhão deverá ser consultada. Somente após isso poderá ser apresentado um projeto de lei complementar ao Congresso Nacional propondo o desmembramento. Para gerenciar o processo de emancipação do novo Estado, o governador Jackson Lago criou, no início de fevereiro recente, a Secretaria de Estado Extraordinária de Desenvolvimento do Sul do Maranhão (Seedesma) em Imperatriz, provável futura capital. O secretário titular, Fernando Antunes, é também presidente do Comitê Central Pró-criação do Estado do Maranhão do Sul. Enquanto isso, no Sul do Pará ainda não se tem uma estrutura mínima para o Estado de Carajás. Só referências pontuais sem maior alcance.

Mais lenha nas guseiras

Levantamento do Serviço Florestal Brasileiro e da Secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente diz que dos 627 mil hectares de florestas industriais plantados pelos produtores brasileiros em 2006, apenas 34.500 estão localizados na região Norte, estando o Pará com a maior área - 13 mil hectares. Depois do Pará, o Amapá foi o estado do Norte com maior área de florestas industriais plantada, com 10 mil hectares, seguido por Tocantins (4.500 ha), Roraima (4.000 ha), Rondônia (1.500 ha), Amazonas (1.000 ha) e Acre (500 ha). Conforme o estudo, o plantio preponderante foi de eucalipto, pinos e teca, mas foram registradas áreas de espécies nativas, como de seringueira em São Paulo e Espírito Santo e de paricá na região Norte. Desse plantio na Amazônia, qual o tamanho da área destinada à produção de carvão, plantada por nossos guseiros no Pará ou em outro Estado vizinho, e quantos anos levará para ser colhida em quantidade suficiente para suprir a demanda? Até lá, 2015, segundo consta, de onde virá o carvão para siderurgia? Relatórios do Ibama apontam para um grande cenário de ilegalidade em relação ao carvão vegetal utilizado pelas siderúrgicas em seu processo produtivo. Em 2005, tal situação gerou multas de mais de R$ 500 milhões de reais envolvendo produtoras de ferro-gusa do Pará e do Maranhão. Elas foram autuadas por não comprovarem a origem do carvão que utilizam e por não cumprirem regras de reposição florestal. Parte do carvão dessas empresas é obtido através de madeira proveniente da floresta amazônica. Estas são algumas das questões básicas que continuam sem resposta quando se fala em carvão honesto para consumo no nosso distrito industrial. Entretanto, enquanto ninguém toca neste assunto – até aqui uma atividade danosa à floresta e atentatória à dignidade do trabalho -, e mesmo sem que ninguém saiba ao menos onde estariam sendo implantados (se é que estão) os projetos de florestação que dariam sustentabilidade à siderurgia, outra ameaça paira sobre este segmento industrial, que ano passado exportou cerca de meio bilhão de dólares. Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Maurílio Monteiro, os Estados Unidos Estados Unidos ingressaram na Organização Mundial do Comércio (OMC) com uma ação por dumping ambiental contra os produtores de ferro-gusa de Carajás, acusando-os de utilizar de maneira predatória o meio ambiente para baratear a produção. Dumping, segundo o dicionário Houaiss, é a ação ou expediente de pôr à venda produtos a um preço inferior ao do mercado, especialmente no mercado internacional (p.ex., para se desfazer de excedentes ou para derrotar a concorrência). A informação surgiu na sessão especial de segunda-feira (19) na Assembléia Legislativa do Estado durante o debate do pólo siderúrgico de Marabá, e aparentemente o só o site Pará Negócios, do jornalista Raimundo José Pinto, atentou para a sua dimensão. É que, se convencida da denúncia, a OMC tem meios de barrar a comercialização internacional do ferro gusa aqui produzido e até que se prove o contrário muito carvão terá entupido os fornos clandestinos. Afinal, de acordo com Maurílio Monteiro e o Pará Negócios, hoje operam 19 altos-fornos nas siderúrgicas marabaenses, com capacidade instalada para 2 milhões de tonelada/ano de ferro-gusa e que consomem algo em torno de 4,4 milhões de metros cúbicos anuais de carvão. Com o funcionamento de novos quatro altos-fornos, a demanda pelo insumo saltará para 5,8 milhões de m3, fora os 2,2 milhões de m3 enviados daqui para as siderúrgicas maranhenses “Outro dado citado por Monteiro, diz o jornalista Raimundo Pinto, foi a respeito à existência de 25 mil pequenos fornos para a produção do carvão, dos quais apenas 5 mil têm licenciamento precário, com 45 mil trabalhadores na ilegalidade, boa parte trabalhando em condições precárias”.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Nor destinos

“Amanhã temos cinema”, dizíamos na infância, quando o Cine Marrocos trazia histórias e bang-bangs. “Vamos ao Pirucaba também, tomar banho entre ariranhas e chupar tanta azedinha até dar cica nos dentes!” E quando a gente crescer, eu, Diabo Louro e Nego Mariano, vamos ser escafandristas nos garimpos do Alencar. (A Nega Tereza, não. Ela ficaria em casa cuidando da negralhada que eu e ela teríamos). Então a gente cresceu e fez-se coisa do mundo. Nega Tereza morreu (de filho que não era meu); Mariano King Kong fez-se fumaça na vida; Diabo Louro matou-se de solidão e cachaça, e foi ser o craque, que era, nos campos do infinito. E eu, que ia embora pra Escócia ou Martinica, Perdi-me tanto entre amores que dei por mim assim mesmo: a falar grego sozinho nas ruas de Istambul.

domingo, 18 de março de 2007

Belém revisitada

(Para R. José Pinto e Elias Pinto) Os prédios são antigos e seus inquilinos, muitos, precipitam-se diariamente elevador abaixo, mal amanhece. Vão caminhar ao largo das Docas, em bermudas, ensapatados, resfolegantes. Do oitavo andar levei manhãs olhando-os - formigas ao longo do canal insalubre. Há anos não via Belém assim: as notas desordenadas de seus prédios - altos e agudos, baixos e graves – dó ré mi fá sol lá sim fonia sem fim da baía ao brejal dos excluídos. Morei aqui uma vida e quase já nem a reconheço. Até hesitei em vir, afeito à faina rasa do sertão em que cultivo filhos e orquídeas. Dos amigos de outros tempos, se os encontro, ponho-me a redesenhar-lhes divertido o ar agora disfarçado em óculos de grau, cabelo enevoado e ar distante e severo; eles, eles não escondem o espanto ao ver em mim a odisséia da cerveja e da inércia. Se nada dizemos, sorrimos. Assim tecemos, num jogo, a seda de codificações que nos resgata da desmemória deste tempo presente e menos veloz. Um pacto secreto e não celebrado nos cala sobre o que fizemos dos sonhos. Pomos, entre parênteses, desde as lembranças comuns mais remotas até o instante que antecedeu este encontro. Tentamos ludibriar o tempo. E o que fizemos de nós, velamos sob casto silêncio. Então a cidade passa entre uivos, alheia e célere com sua juventude de desejo e músculos umbigos e piercings enquanto arriscamos um olhar discreto e dói no peito um suspiro profundo.

Coisas mortas

Detesto doenças, tenho um profundo desprezo pela morte e instintivamente fecho portas e janelas interiores quando se tratam desses dois assuntos. Deve ser porque na minha infância tive de tudo para morrer cedo: pneumonia 8 vezes, derramamento de pleura com infecção generalizada nos pulmões, essas coisas que acabaram me deixando duro por dentro e por fora em relação a doenças. Quando vou ao cemitério, vou normalmente sozinho. É uma visita a meus pais, sobrinho, amigos, à sepultura de antigos pioneiros anônimos que tento identificar no meio de tanto abandono. A paz do cemitério, do meu cemitério, paz ensolarada que me dá sensação de liberdade e me reencontra com as coisas mais profundas que carrego no coração: o amigo de infância, o embarcadiço que descia o Capitariquara levando os grandes motores, o sujeito com quem, algum dia, esbarrei na ponta de um botequim. Mas deixemos os mortos em paz... Por mim, estou olhando esta cidade e esta terra com um tédio cínico, desses que nos dá quando as coisas se tornam definitivamente apartadas da gente, e só nos resta, além de um sentimento de velhice, alguma consciência de inelutável perda de tempo. "Por que diabos gastei boa parte da minha vida com esta coisa sem sentido?" Alguma coisa assim...

Da loucura como método cartesiano

Erasmus de Roterdam (1466?-1536), a respeito de Elogio da Loucura - seu livro célebre -, diz em carta ao amigo Tomas Morus não duvidar “de que hão de surgir zoilos mal intencionados, os quais dirão serem estas futilidades indignas de um teólogo, e estas sátiras contrárias à modéstia cristã”, e por isso, “censurar-me-ão, talvez, por fazer eu renascer a malignidade da antiga comédia e por morder, como Luciano, a toda gente”. Como não sou Erasmus nem teólogo – aliás, sou pagão – e pouco se me dá se meu verbo morde a toda gente, ando mais na companhia de Schopenhauer (1788-1860) e sua defesa do livre arbítrio com todas as conseqüências que dele possam advir. Todo homem, dizia o filósofo de Dantzig, apenas faz o que deseja e, portanto, age sempre de modo necessário. E a razão está no fato de que ele é já aquilo que quer; porque tudo o que faz decorre naturalmente do que é. Isso posto, vamos ao que importa (ou não importa, dependendo de como se vê a questão, ou daquilo que se é), a começar pela loucura e da necessidade urgente de um corte epistemológico na razão para se estudar, sem pré-conceitos, o uso do non-sense como práxis da não-razão (cogito, ergo sum insanus). A loucura, afinal, não é estranha à minha origem. Uma vez, há muitos anos, meu irmão mais novo enlouqueceu. Era um surto manso e temporário, mas ele deu de subir no telhado e de lá cantar boa parte do dia tiarrancucu-tiarrancucu, achando que era pombo. Se o fato causava risos, no começo, depois os vizinhos tentaram acertá-lo com baladeiras, aporrinhados com a cantoria sem fim, até que quebrei a cara de alguns em nome da moral e dos bons costumes. Se há uma coisa perfeitamente detestável são caçadores de pombos. Mas quando um gato tentou pegá-lo, aí subi eu mesmo no telhado e coloquei o pombinho roxo numa gaiola até que a crise passasse. Não me pergunte o que fiz ao gato, mas era carnaval e ele saiu comigo na escola de samba do Cabelo Seco, onde eu tocava tamborim. Ainda em tempos remotos, um tio enlouqueceu duas vezes: na primeira, corria de casa até à esquina do cemitério e ficava, como Anchieta, o louco de batina na praia de Santos, de Copacabana, ou sei lá de onde, a escrever com um graveto no chão. Dizem que meu tio escrevia sempre a mesma palavra – Calu, o nome da amada que, traíra, o traíra -, do que a plebe ignara e sem amor lhe fizera uma música dizendo que Calu, aquela que não tirava os olhos verdes de riba d’eu, o trocara pelo Lulu, o ateu. Na segunda recaída, anos e anos depois, o tio meteu um cartucho 20 na cabeça e todas as perturbações, novas e antigas, o abandonaram para sempre. Agora, quem endoidou fui eu. Comprei um radinho à pilha, desses que cabem no bolso e vêm com fones de ouvido, e ando para cima e para baixo de óculos escuros, ouvindo brega, axé e música sertaneja. Ouço-as nas rádios locais, que é só o que toca, e depois fico rindo à-toa ouvindo programas evangélicos. A loucura só não é completa ainda porque tenho resistências a ver na tevê os programas de Tom Cavalcanti, João Cléber, Hebe, Sílvio Santos, Faustão, pastores eletrônicos, Big Brother, as novelas da Globo, da Band e do SBT, e o jornalismo televisivo que se faz em Marabá. Mas eu chego lá, um dia, não sei quando, mas chego; certamente já louco varrido. Corro esse risco, para todo o sempre, todo santo dia. Não, não me recordem a falta de um propósito nesta busca da insanidade. De fato, eu pretendo, se me permitem o paradoxo, por adotar a loucura como método ou processo para compreender o cotidiano que vivenciamos, creio, há mais de década. Despido de senso crítico, quem sabe enfim eu possa compreender como é que o município tornou-se um caos administrativo, carente de representatividade política, entregue a despreparados de toda espécie e origem, sem eira nem beira, hostis à inteligência e à divergência, e por isso mesmo capazes de infligir toda sorte de males à comunidade.

Licor

Pela noite cega, sob o mormaço do céu, vai pela orla um roçar macio e quente de saias, sedes, frenesis, ansiedade. Um minotauro ruge. Em torno dele, a cidade - metade bicho, outra metade gente -, redemoinha áspera como um carrossel. Não há luar. Nenhuma estrela sobressalta. Há só promessa, na distante madrugada. Enquanto baila o desvario sob a mansarda, uma argamassa de suor luminescente esmalta risos e amores na calçada, dentro da noite de vinil sonora e mansa. À minha ilharga alguém conversa em voz alta e traça planos de beber com prostitutas: “Essas meninas, diz um deles, são astutas...” O outro, longe, distraído, nem o escuta, eu olho e vejo nelas duas faces de criança. A luz é prata deste lado da enseada; a praia, além, um boto imerso em negritudes; a festa em terra soa como arlequinada e o rio no cio guarda no leito plenitudes. Do prédio a prumo partem sons em revoada, trincar de taças, gargalhadas e um perfume. São artimanhas do amor, do negro ciúme - inconfidências que o licor torna profanas. Vive-se, aqui, à beira da sorte humana. Há, neste multiplicar de luzes e espelhos, signos arcanos, totens místicos, reflexos da magia ancestral que põe no ar os nexos do sonho, da água, das coisas transumanas, e onde o destino imprime a ferro suas marcas. Para além do horizonte, tecem as parcas o inventário do que somos. E se engana, ó deus do desperdício e das quimeras, quem ouve só a melodia dos teares velhos, enquanto a vida passa-lhe entre os joelhos!...

Testamento

Afora a delicada ecologia das emoções, o que tenho na vida (no corpo, na alma, no céu da boca) são rastros indeléveis de amores mais que perfeitos. Set. 26, 06

20 anos de CDC

Entre os Direitos Básicos do Consumidor, segundo o Capítulo III da Lei n. 8.078/90, que instituiu as normas de proteção e defesa do consumidor, o art. 6º , X, estabelece “a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral”. Adiante, o art. 22 dispõe que os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados. O que isto significa? Significa que o Código de Defesa do Consumidor pode ser usado como amparo jurídico em recurso judicial contra aquele serviço porco que a prefeitura, a Cosanpa, a Celpa, a telefônica fizeram (ou deixaram de fazer) na sua rua.

Resurrectus

Ex-prefeito, ex-deputado estadual e federal e ex-secretário de Estado, o engenheiro sanitarista Haroldo Bezerra tem seu nome ajuntado ao do ex-prefeito Nagib Mutran Neto e da ex-vereadora e ex-deputada estadual Elza Miranda numa suposta disputa à Câmara Municipal. Em algum lugar desta biboca tem alguém lidando com vudu.

Flagra

Guardas da Segurança Florestal da CVRD prenderam em flagrante, na tarde de terça-feira 13, 31 garimpeiros que depredavam clandestinamente a Floresta Nacional de Carajás. Os predadores foram identificados e entregues ao Ibama de Parauapebas, juntamente com pás, bateias e rancho. A Vale não disse, mas especula-se que os aventureiros enlouquecidos buscavam na mata pelo menos uma gota de suor do “garimpeiro” Luís da Mata. Outra verdade resulta do mesmo fato: aquela de que depredar a natureza, mesmo protegida por lei, é prerrogativa das mineradoras multinacionais.