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quarta-feira, 21 de março de 2007

Nor destinos

“Amanhã temos cinema”, dizíamos na infância, quando o Cine Marrocos trazia histórias e bang-bangs. “Vamos ao Pirucaba também, tomar banho entre ariranhas e chupar tanta azedinha até dar cica nos dentes!” E quando a gente crescer, eu, Diabo Louro e Nego Mariano, vamos ser escafandristas nos garimpos do Alencar. (A Nega Tereza, não. Ela ficaria em casa cuidando da negralhada que eu e ela teríamos). Então a gente cresceu e fez-se coisa do mundo. Nega Tereza morreu (de filho que não era meu); Mariano King Kong fez-se fumaça na vida; Diabo Louro matou-se de solidão e cachaça, e foi ser o craque, que era, nos campos do infinito. E eu, que ia embora pra Escócia ou Martinica, Perdi-me tanto entre amores que dei por mim assim mesmo: a falar grego sozinho nas ruas de Istambul.

4 comentários:

Anônimo disse...

Grande Pagão!
Que bom te encontrar
Reencontrar neste mundão de sites. Saudades!
Afinal não escrevemos mais scripts
Nem adoramos tanto o sinal,
Afinal fomos, eu e tu, compor
outros escritos fora da TV.
E proscritos não estamos.
Foi bom te ver, ou melhor, te ler.
Ambas condições nutrem amizade
Um querer de ser.
Bom mesmo foi saber
Que continuas escrevendo
E agora ferves
Em verves com finas rimadas.
Remadas de textos para se curtir
Tua bela escrita poética.
É coisa par para blog,
Declamação-paixão-confissão.
Mas me contentaria
(tu te contentarias)
Com uma mesa de bar.
Dos bons onde, com os copos,
Entornas e encontras, sem dúvida,
Farta inspiração.

Parabéns pelo blog.
Com um grande abraço,
Nélio Palheta.

Ademir Braz disse...

Nelinho, grande Nelinho!
Que artes anda agora você a inventar em nossa fantástica Belém? Última informação sua era que estava na IOEPA. E a doce Vigia, tem ido lá?
Um abração!

Anônimo disse...

Ademir,

eu também ando "falando grego com a minha imaginação" e cada vez me desentendo mais. Talvez por não saber falar grego!

Mas hoje fiz um post tão cheio de ódio que, inevitavelmente, me lembrei do seu poema, feito pra responder a uma ingenuidade minha, quando eu olhava com meus olhois jovens pelas janelas da Praça Duque de Caxias.

Não, não foi o ódio que me fez relembrar você e seu poema. Foi a minha babaquice de acreditar que o mundo mudaria a partir daquelas janelas. E constatar que não melhorei muito. Mudei apenas de janelas. Agora são as do Domingos Marreiros-Alcindo Cacela!

Ainda me aflige o futuro a ser cumprido pelas meninas que serão prostitutas e pelos garotos que, ao invés de mariscadores, hoje subiram de posto e podem ser "aviõezinhos" do tráfico.

Resista. A palavra é sua armadura e seu punhal. E que bem me faz encontrar você aqui pra esquartejarmos a vida.

Beijão

Ademir Braz disse...

Ah, bia, bia: toda razão é sua!
Olha, teu texto me fez lembrar que volta e meia me dá a sensação de ser hoje um brontossauro para além da margem disso tudo aqui a que chamam de, meu Deus, "progresso", "desenvolvimento", palavras que excluem a periferia cada vez mais faminta e violenta, produto desta violenta concentração de renda na mão de meia dúzia que sequer residem em Marabá. sabes como Marabá é conhecida hoje? "A cidade dos carros do ano"! E não é difícil constatar: basta ver a quantidade de reluzentes cabines duplas que entopem as veias esclerosadas de nossas vias e ruas maltratadas. Na outra ponta, um déficit de 10 mil moradias populares faz as pessoas anualmente correrem do brejo onde se alojam por falta de lugar decente e de casa decente para residir.
Ano passado nasceram mais de 6 mil crianças que amanhã não terão sequer uma referência quanto ao espaço em que foram postas no mundo. Esse desenraizamento é uma situação já espantosa, hoje, quando você indaga a qualquer jovem sobre a origem e formação histórica da cidade e nenhum conhece. Já nem sequer se tem uma história em Marabá.
Cada um que chega e fica algum tempo traz sua própria bagagem e a certeza de que estamos num garimpo, em meio a uma aventura depois da qual vamos voltar para nossa própria casa.
Quando prefeito, Hamilton Bezerra cunhou o slogam "Marabá, aqui é o meu lugar", já indicativo que não tínhamos mais lugar nenhum e isso foi bem aí em 1986!
Precisamos começar tudo de novo, reconstruir a identidade que perdemos e construir uma alma para quem está nascendo. Mas, como?
Escreva-me. Não precisa sair da sua janela. Belém sempre tem um ângulo novo, um toque mágico - apesar da zorra em que vem se transformando.