Pages

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O muro da vergonha

Desde 1989 a área urbana de Marabá foi ampliada, por lei, do km-16 da BR-222 (além da subestação da Eletronorte) até metade do Distrito Industrial, e daí, pela margem direita do rio Itacaiúnas, até o km-9 da Transamazônica, onde fica a sede da Fundação Agroambiental do Tocantins-Araguaia. É muito chão encravado no espaço triangular resultante do instrumento legal. Nele estão todos os bairros de Morada Nova ao São Félix do Tocantins; a ponte rodoferroviária, a Nova Marabá, metade do DIM, todo o Complexo Cidade Nova, o aeroporto, a Vila do Km-8 da Transamargura, a Marabá Pioneira, metade da Praia do Tucunaré e o cacete a quatro. Pois agora, caso a Câmara aprove projeto de lei do vereador Adelmo Azevedo (PTB), esse mundão de terra deverá ser cercada inteiramente por uma parede de tijolos e concreto armado, construída e paga pela Vale (ex-do Rio Doce), ficando todos nós confinados numa fantástica muralha da China, noutro inominável muro de Berlim. O vereador Adelmo, o leitor conhece: é a maior e mais severa contribuição cultural do município de Viseu para o sul do Pará. Evidentemente há aspectos notáveis no seu projeto. Fechado o muro e construídos os viadutos previstos, tudo visando “proporcionar aos moradores dos bairros São Félix, Morada Nova e km-08, melhor qualidade de vida para seus filhos”, além de reduzir consideravelmente “o barulho do apito do trem”, poderão ser instaladas torres de vigia para controlar a entrada e saída das pessoas (os viados, pelos viadutos), num controle social efetivo que impeça a chegada de indesejáveis de outros Estados. O diabo é se os rejeitados, insatisfeitos, venham a seguir o exemplo bíblico e comecem a tocar trombetas à ilharga dessa muralha de Jericó e tudo venha a ruir sobre nossas honradas cabeças. Entre os aspectos negativos está a possibilidade de que, acrescentadas grades ao muro, o negócio se transforme em hospício; ou, caso coberto, inda mais com lona colorida, a gambiarra vire circo duma vez, e aí sim!, o Adelmo poderá exibir mais gostosamente suas roupas largas e coloridas e seus sapatos de bico comprido para a platéia enfeitada com nariz de plástico vermelho.

Educação: fórum volta a criticar Seduc

Integrado por UFPA, MST, Fetagri, Fata/Efa, Coopserviços, Lasat, CPT, Sintepp/Marabá e Semed/Parauapebas, o Fórum Regional de Educação do Campo voltou a divulgar esta semana documento em que reitera seu entendimento quanto ao descaminho do Plano Estadual de Educação (PEE), em montagem pela Seduc, desconectado da participação popular e sem afinidade com a construção de uma educação pública de qualidade no Estado. Diz a “3ª. Carta Pública à Seduc” que muitas vezes o Fórum ressaltou, junto aos representantes da Secretaria de Educação, a necessidade de serem reconhecidas “as dificuldades na coordenação do processo e as contradições da realização de um evento tão importante em curtíssimo prazo, algo que se colocava na contramão dos processos e experiências de gestão construídas historicamente pelos movimentos e outras administrações populares”, mas “as críticas não foram ouvidas”. Não obstante, o conjunto das organizações que compõem o Fórum deliberou pela sua participação e contribuição na realização de eventos municipais e regionais de elaboração do plano educacional. “Hoje, poucos dias a véspera da realização da Conferencia Estadual do Plano de Educação, depois de um período marcado pela total falta de informação sobre transporte, hospedagem e programação do evento, diz a carta pública, somos surpreendidos com a decisão do seu cancelamento. Outro fato que se coloca como agravante dos problemas que envolvem o processo e que nos causou surpresa, foi a informação, que nos chegou por acaso, sobre a realização na mesma semana de um seminário que objetiva discutir a reestruturação do Sistema de Organização Modular de Ensino (Some), denominado no interior do Estado como Grupo de Especial de Ensino Modular (Geem).” Para o Fórum, esse cancelamento da Conferência e a realização de um novo evento “confirmam nossas críticas e preocupações anteriores. A Seduc desrespeita o debate realizado nas plenárias e propostas apresentadas pelos delegados que delas participaram, principalmente em relação a educação do campo, pois não considera as reflexões e proposições que apontaram no sentido da reestruturação do GEEM ser assumida pela coordenação de educação do campo da secretaria e pautada pelos princípios que emanam das experiências pedagógicas desenvolvidas pelos projetos de educação do campo. A secretaria adjunta de logística escolar da Seduc continua responsável pelo ensino médio no campo; os sujeitos e organizações sociais do campo continuam alijados do processo de reestruturação do Geem; não há garantia nenhuma de que os princípios e diretrizes operacionais da educação do campo serão respeitas no processo de reestruturação; e as reflexões acumuladas por este fórum que, inclusive, mantém grupo de trabalho sobre o Geem socializadas na plenária regional, não foram consideradas. Por todos estes motivos, consideramos pertinente perguntar: “O que podemos esperar do plano estadual de educação?”

Batizado

A princípio pensei que o senhor da pastoral do batismo falava um dialeto nagô, tupi, ou recitava uma ladainha em northambrian. Na verdade, percebi depois, ele apenas chamava pelo nome as crianças que no dia seguinte receberiam o sacramento do batismo. E eram Cauã, Willis, Lindayany, Kayron, Kaylon, Williamys, Williame... E eu, que me chamo José, lembrava com nostalgia as Amélias, Marias, Antônias, Josefas (e as Rosas, Margaridas, Gardênias, moçoilas com nome de flor), e os Pedros, Gregórios, Joaquins, Ambrósios de tempos não tão longínquos assim. Felizmente meu afilhado já se chamava Vinícius, em bom latim a lembrar poeta romântico e a influência românica da última flor do Lácio, inculta e bela. No dia seguinte, domingo, chegamos à igreja do São Félix depois da missa e iniciada a cerimônia sacramental. Contrafeitos, agentes pastorais e o próprio sacerdote não ocultaram seu sentimento e pareciam dizer: “Que cristãos são esses que vêm à igreja consagrar seu filho e afilhado e não participam da missa, a sagrada comunhão de mortais com santos mártires e a gloria dos santos espíritos?” Nós, de nosso lado, evitamos explicar que Vinícius estava com aguda crise de pneumonia, sob medicação sem resposta adequada, isso de nada adiantaria, não era motivo para festa nem risos nem justificações. e tão grave era o momento que saímos correndo para a clínica onde Vinícius ficou internado por três ou quatro dias.

A César, o de César

O vereador Maurino Magalhães decidiu quebrar seus votos de silêncio e abre o jogo para este repórter: o projeto básico de engenharia para a construção da travessia urbana de Marabá, com duplicação, drenagem e pavimentação da Transamazônica na área urbana, assim como a construção de outra ponte sobre o rio Tocantins, foi realizado e materializado sob a sua coordenação, em parceria com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). Tem, portanto, DNA definido e paternidade reconhecida. Ao custo de R$ 75,6 milhões investidos pelo Dnit, mais a contrapartida de R$ 3,98 milhões da prefeitura de Marabá, o projeto nasceu no tempo em que foi gestor interino, tendo sido aprovado no Ministério dos Transportes em 24 de agosto passado, através da portaria n. 1.354, sob n. 50602.000884/2006-95. “Vale salientar, que o Ministério dos Transportes é gerido por uma das lideranças do PR, nosso partido, e tratei pessoalmente com o ministro durante audiência em Brasília”, diz Maurino Magalhães, exibindo documentos e mapas. Ele não disse, mas a iniciativa é contrapor-se ao deputado federal Asdrúbal Bentes (PMDB)vem fazendo do projeto, como se fora seu, um cavalo de Tróia diariamente na Rádio Clube, do Jader, e nos jornais locais.

Lixão dentro da cidade

O Ministério Público, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, qualquer um ou todos juntos deveriam ir ver o que a prefeitura de São João do Araguaia está fazendo com o lixo que esporadicamente recolhe nas ruas da cidade. É que tais resíduos sólidos, que vão de lixo hospitalar a toda sorte de porcaria, vêm sendo atirados dentro da zona urbana, a menos de 80 metros do hospital e não mais de 50 da margem da estrada de acesso ao centro da cidade. “Até caminhão limpa-fossa vem despejar sua carga nojenta aqui”, disse um morador da cidade, que pediu para não ser identificado. Ligados à tradicional família local, os donos do terreno asseguram que o prefeito Marisvaldo Campos simplesmente mandou invadir a área e transformá-la em depósito de lixo sem qualquer explicação ou negociação (que não seria aceita porque o lixão está no caminho de acesso à fazenda onde residem e o fedor é insuportável). Por isso, devem recorrer à Justiça em busca de indenização e remoção dos entulhos e saneamento da área, com vigoroso ônus para a desastrada administração.

Estádio novo

Anotem: a construção da primeira etapa do novo estádio de futebol de Marabá, objeto do convênio 573559 com o Ministério do Esporte, teve a liberação de R$ 500 mil (50%), em 21 de novembro recente. Agora, dia 4 de dezembro, saiu também um dinheirinho (R$ 30 mil) do Ministério da Educação – convênio 595689 – para a realização de eventos técnico-científicos no âmbito do Programa nacional de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica. É o que informa à P&D o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi)

O concreto e o rio triste

Recebi da amiga e prof. Jucilene, há anos residente em Belém: “Oi, Braz, como estás? Sinto saudades de ti. Fui a Marabá, vi o bairro do Cabelo Seco, a Santa Rosa, e fiquei pensando: certas intervenções provocam melancolia... Onde estão as lavadeiras, as tábuas de bater roupa, os quaradouros, os moleques a carregar trouxas e fazer estripulias? Só vi concreto, areia e um rio que parecia correr cansado e triste. No burburinho de suas águas, ouvi um resignado lamento.”

Livre-pensar

O cara de Redenção considera um acinte dizer-se que uma cidade tem muro baixo só porque os pilantras e cafajestes desenvolveram a arte de voar.