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quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O peru, o galo e o violinista

A mãe veio buscar as crianças para a ceia de Natal. A caçula, que mora com ela, estava comigo desde o anoitecer de sábado e divertimo-nos muito: ela, eu e seu irmão, meu parceiro, fomos à sala de internet cheia de adolescentes barulhentos e depois dormimos após filmes na televisão. Dia seguinte, tarde já da noite de domingo, trouxe-lhes um quilo de sorvete de chocolate branco, que eles comeram com alegria. Antes, eu estivera com aquela que é mais do que namorada e musa, ela de viagem arrumada para a manhã seguinte, véspera do Natal, rumo a familiares distantes. Já a noite de segunda, passei-a sozinho a ver os filmes que a amada deixou comigo e a olhar, de vez em quando, o belo e distinto violinista de metal reciclado com que me presenteou. Vez por outra ouvi fogos de artifício perto e distante sobre a cidade, pelo menos até ali silenciosa nesta parte do bairro sem ninguém nas ruas, bares fechados, viv’alma no trânsito, raras luzes em frente a raras moradias. Durante bom pedaço o celular estrilou seus recados, entre esses o de Tony Francisco com uma profunda conjetura filosófica: “Se é o peru que morre, por que a missa do galo?”, ao que propus tratar-se de uma reivindicação das poedeiras católicas atendida pela igreja porque o galo, que Deus o tenha, fora atropelado pela ambulância do Samu. Depois muitos amigos também mandaram mensagens, eu as respondi, e enfim o celular abandonou seus piados e considerei que todos se voltaram para si mesmos e os imaginei em suas casas ou em algum lugar com festas tenebrosas para celebrar o nascimento de um menino pobre, há dois mil anos, naquela manjedoura miserável. Natal bom, mesmo – isso é que é louvar o Senhor! -, foi dos deputados estaduais que legislaram em causa própria aumentando a verba de gabinete para R$ 37 mil mensais assim como elevaram para 45 o número de seus assessores parlamentares e cargos comissionados na Assembléia Legislativa, além de aumentar o recesso parlamentar de 55 para 70 dias. Nada mais agradável do que fechar o ano com a chave de ouro forjada com dinheiro público.

Que bicho mordeu seu Xico?

O município de Marabá, que jornalistas e cronistas do Sul Maravilha confundem com um terço do Pará, embora o Estado de Carajás continue como o reino de Preste João somente no cediço terreno do imaginário, há anos não anda bem na foto nem nos comentários do Brazil, que não conhece o Brasil. Em artigo recente sobre “Quadrilha rural”, o secretário Xico Graziano, de Meio Ambiente de São Paulo, escreveu o seguinte: “Duas regiões do Pará sofrem o banditismo no campo. Um foco está em Marabá, envolvendo os municípios de Parauapebas, Canaã, Curionópolis e Eldorado dos Carajás. Outro acomete Redenção, abrangendo Cumaru, Santana do Araguaia e Pau D’Arco. Cerca de 160 propriedades já contabilizam prejuízos de R$ 100 milhões. Neste momento, 27 fazendas, com 100 mil cabeças de gado, encontram-se dominadas pelas quadrilhas rurais. Em 17 de outubro último, relatório reservado da Polícia paraense descrevia assim a situação encontrada na Fazenda Colorado: “Ao chegar, ainda no asfalto, fomos recepcionados por oito elementos fortemente armados, com armas de grosso calibre, alguns encapuzados em suas motocicletas, dizendo textuais ‘o que vocês querem aqui, não é para entrar, vocês são conhecidos do dono da fazenda?’. Em ato seguinte relatamos aos meliantes, os quais não foram presos em flagrante delito pelo fato da equipe de policiais encontrar-se naquele momento em desvantagem numérica, que apenas estávamos passando pelo local e o que nos chamou a atenção foi a faixa colocada na entrada da porteira, e nada mais, posteriormente seguimos nosso destino. Amedrontados, acovardados frente aos invasores, os policiais temem especialmente a LCP, Liga dos Camponeses Pobres, que domina a região de Redenção. Treinada, dizem por lá, por gente do Sendero Luminoso, a organização não brinca em serviço. Se os policiais fogem do pau, imaginem os proprietários rurais.” Seu Xico, que já foi articulado defensor dos movimentos rurais em tempo não tão distante assim, diz contraditoriamente que “na região de Marabá, impera o MST”, permitindo que se possa imaginar este movimento como grupo de “bandoleiros fortemente armados (que) invadem fazendas, fazem reféns e expulsam moradores. Saqueiam e depredam, roubam gado, tratores, arame de cerca. Fazem barbaridades.” E acaba confundindo bandoleiros equipados com armas de uso privativo das Forças Armadas com a luta dos sindicatos rurais e do próprio MST por uma reforma agrária efetiva que incorpore esta região miserável no mundo organizado da produção. Afinal de contas, como seu Xico mesmo diz, “perto de 15% do volume da reforma agrária brasileira aconteceu naquele canto (o sul do Pará). Cerca de 100 mil famílias receberam terras nas centenas de projetos de assentamento. Mas, ao invés de acalmar, aumentou a violência rural.” Claro que ninguém defende o banditismo rural ou urbano, este, entre nós, atualmente o mais viçoso, traduzido nas dezenas de execuções sumárias sem que ninguém vá preso. Mas é preciso não juntar na mesma cova rasa os trabalhadores organizados e a jagunçada da auto-denominada Liga dos Camponeses Pobre (LCP), quase totalmente desbaratada numa ação fulminante da polícia militar do estado. Contudo, seu Xico parece não atentar para isso. Diz ele que nesta “terra sem lei”, onde “a insegurança jurídica sobre a propriedade fermenta a cobiça”, “a situação é apavorante”. “Grave, acima de tudo, afora o conflito real, é o governo estadual afirmar, calmamente, que está negociando com os “movimentos sociais” da região. Movimentos sociais? Ora, treinamento na selva, ordem unida, comando militarizado, logística de deslocamento, esquema financeiro, nada disso pertence à história dos verdadeiros movimentos sociais. O que se vê acontecer no Sul do Pará é puro banditismo rural. Gente criminosa, organizada, se disfarça de sem-terra para assaltar e roubar. Um logro para enganar a opinião pública.”

Monopólio

A Vale assinou contrato para exploração comercial, durante 30 anos, de 720 quilômetros da Ferrovia Norte Sul (FNS), compreendendo a linha ferroviária que ligará Açailândia, no Estado do Maranhão, a Palmas, no Tocantins. "O valor de R$ 739 milhões, pago nesta data, corresponde a 50% do valor da subconcessão. A próxima parcela, correspondente a 25%, está prevista para dezembro de 2008, enquanto a terceira e última parcela será desembolsada na data de entrega do último trecho da ferrovia", informou fonte da empresa ao Estadão. Adicionalmente, segundo o jornal, a mineradora deverá investir R$ 66 milhões na infra-estrutura da ferrovia (sinalização, oficinas, postos de abastecimento etc.) até 2010. "A participação da Vale nesse projeto constitui-se em demonstração efetiva do compromisso com o investimento em sua infra-estrutura e do País e está alinhada com a estratégia de seus negócios de logística de carga geral para clientes." É a expansão e consolidação da empresa, que já detém a exploração exclusiva da Ferrovia Carajás, como monopolista do transporte ferroviário nesta parte do país.

Tucuruí

A hidrelétrica de Tucuruí opera com 21,07% da capacidade armazenada, segundo dados do último boletim do Operador Nacional do Sistema Elétrico referentes à terça-feira, 25 de dezembro. Os reservatórios do Norte atingem 29,8% do volume, informa a Agência CanalEnergia, OeM.

Assombração

Morreu a matriarca de tradicional família de São Domingos das Latas e seus herdeiros decidiram dar-lhe uma despedida digna. Um dos filhos, fazendeiro, partiu cedo para Marabá em busca da melhor urna funerária que encontrasse. Encontrou-a na Cidade Nova, caríssima, mas ele não reclamou. Aproveitou e comprou logo todos os adereços: cruz de madeira, coroas de flores, velas, e alugou os apetrechos metálicos para o velório. Tudo em ordem, os homens da funerária colocaram a urna brilhante e pesada na carroceria de camionete e as peças no banco do carona. Descendo na direção da Nova Marabá, pouco antes da cabeceira da ponte do Itacaiúnas o fazendeiro freou para atender o cidadão que lhe acenava. Era um vizinho e amigo que há mais de semana tinha vindo à cidade divertir-se. E não perdera tempo, pelo visto: ainda estava bêbado; Queixou-se de estar liso e pediu carona para voltar. Ora, assim que o bêbado aboletou-se na carroceria, começou a chover e meteu-se ele dentro do caixão confortável, fechou a tampa e dormiu. O motorista ainda zanzou algum tempo pela Velha Marabá, debaixo da chuva, depois seguiu para o Km-06, onde o aguardavam seis ou oito trabalhadores que ficaram em compras de material para a fazenda. Embarcados, seguiram viagem para São Domingos na maior embalada. Mais ou menos à altura do km-12 da Transamazônica, a peãozada entreolhou-se desconfiada, alguns já com metade do corpo fora da carroceria, quando a tampa do caixão começou a mover-se. Então, quando o bêbado sentou-se de repente dentro da urna e perguntou “A chuva já passou?”, ninguém lhe respondeu. Dizem que até hoje tem gente perdida nas matas do Taurizin. (Histórias marabanesas, inédito)

Juvenil, o Inacreditável


Este é o último post do ano de 2007.
Retrato acabado, perfeito, fiel, da política paroara.
Emblema de uma Assembléia demagógica, populista, preguiçosa, de costas para a sociedade.
A imagem que assustou os funcionários da casa que a receberam ontem, 19, grampeada no contracheque do décimo terceiro, enviada pelo presidente da casa, Domingos Juvenil (PMDB), que conduz a rena na montagem hilária de Atorres.
Ridículo é pouco. Vai rodar a web.
Tem tudo para ingressar nos anais do anedotário político do estado, embora represente a escuridão que o aflige.
(Sugado do Quinta Emenda, de Juvêncio Arruda)