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sexta-feira, 3 de abril de 2009

10 regrinhas

10 regras para abordar os movimentos sociais Por Osvaldo da Costa em 24/3/2009, Observatório da Imprensa Convenções básicas (quem não cumprir está sujeito à demissão): 1. Toda ocupação de terra deve ser chamada de invasão Ao invés de usar o termo adotado pelos movimentos sociais, "ocupação" – manifestação de pressão para o cumprimento da Constituição pelo Estado e denúncia da existência de latifúndios – é mais eficiente para o objetivo de defesa do princípio da propriedade privada a utilização da palavra invasão – tomar para si pela força algo que não lhe pertence. Dessa maneira, implicitamente estamos dizendo que discordamos dessa prática, a consideramos ilegal e conseguimos gerar a sensação de pânico generalizado em todos os donos de propriedade, sejam elas rurais e produtivas, ou mesmo propriedades urbanas. Observação: essa regra não é generalizável. Para os casos em que os Estados Unidos invadem países, destroem a infra-estrutura e matam a população, deve-se utilizar o termo ocupação. Tons sensacionalistas e fatalistas 2. Regra do efeito dominó: fale só do maior para bater em todos O acordo da grande imprensa é manter somente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na pauta dos noticiários e evitar, sempre que possível, falar da existência de outros movimentos sociais. Para isso, quando se tratar de movimentos do campo, basta usar sempre a expressão genérica "movimento dos sem terra", ou falar dos "sem terra", sem mais detalhes. Se a pauta exigir o detalhamento do movimento, recomenda-se associá-lo sempre ao alvo principal, com expressões como "movimento dissidente do MST". Essa regra ainda colabora para a desunião entre os movimentos, pois os menores se incomodam pela invisibilidade e pelo fato de terem suas ações relacionadas sempre ao MST. 3. Reforma agrária deve ser tratada como questão de polícia Movimentos sociais e reforma agrária devem, sempre que possível, ser tratados na página policial, no caso de jornais impressos, e no bloco do crime e dos desastres, no caso dos telejornais. Caso não seja possível enquadrá-los na seção policial ou em espaço próximo, use títulos para editorias que lembrem o belicismo, como "campo minado". Não importa o que diga sua matéria, os títulos devem falar por ela, mesmo que não tenham relação com o conteúdo. Use tons sensacionalistas e fatalistas. Relação com terroristas ou guerrilheiros 4. Nunca divulgue os artigos progressistas da Constituição Federal Os artigos da Constituição Federal que tratam da função social da terra, que integram o código agrário – 184 a 191 – nunca devem ser mencionados em reportagens sobre os movimentos sociais, para evitar a compreensão de que a ação de invasão de terras pode ter algum respaldo legal. É sempre recomendável lembrar da lei de Segurança Nacional e da necessidade de uma legislação contra o terrorismo no Brasil. O termo "Estado de Direito" é ideal para isso. Considere qualquer manifestação uma afronta ao Estado de Direito, mesmo que ele seja apenas o direito do Estado. Se falar do Estado de Direito e suprimir os artigos progressistas da Constituição não for suficiente, convém colocar as reportagens próximas à cobertura de ações terroristas ou levantar a suspeita de que há relação do movimento social com uma organização terrorista ou guerrilheira estrangeira. Qualquer um pode ser "especialista" Conjunto de regras para serem selecionadas e aplicadas conforme a conjuntura exigir: 5. Levante a bola para o oportunista de plantão Não é verdade que o papel da imprensa é apurar a verdade dos fatos. Todo aspirante deve saber que a imprensa tem poder para gerar os fatos. Além disso, apurar fatos implica em sair da sua cadeira e nem todos eles podem ser apurados por telefone. Basta fazer uma reportagem suspeitando de algo e procurar um oportunista que queira protagonizar a indignação pública para a suspeita ganhar dimensão de notícia. Sempre há alguém à disposição esperando para se deslumbrar com as luzes dos holofotes. O exemplo bem sucedido mais recente foi o caso da requentada pauta da suspeita da legalidade do financiamento público para cooperativas da reforma agrária, em que o presidente do Superior Tribunal Federal (STF) desempenhou o papel de porta-voz da bancada ruralista, dando respaldo para a suspeita e, de quebra, aproveitando para atacar o governo federal. Se não houver ninguém do Judiciário ou algum deputado, não importa, qualquer um, sem nunca ter ido a um assentamento ou acampamento, pode ser transformado em "especialista" em questão agrária: sociólogos, filósofos e até jornalistas. Técnica se fez passar por pesquisadora 6. Nem sempre devemos apurar os dois lados da notícia Quando já conseguimos incutir um pré-julgamento na opinião pública sobre o caráter marginal das ações dos movimentos sociais, podemos reforçar essa opinião entrevistando somente o lado agredido pelas ações, as vítimas dos movimentos. Fica implícita a informação de que, como os integrantes dos movimentos são foras da lei, quem deve escutá-los é a polícia e o poder judiciário. Se ainda assim tiver que ouvi-los, seja breve e descontextualize a frase. 7. Não deve existir noção de historicidade, nem de causa e conseqüência em nossas reportagens Não abordar as razões da ação dos movimentos sociais, evitar a divulgação da nota à imprensa. Não importa há quanto tempo as famílias estejam acampadas, que promessas foram feitas pelo governo, se a terra é do banqueiro que saqueou os cofres públicos ou do coronel que vive do trabalho escravo. Se detenha nas conseqüências da ação. 8. Dramatização da repercussão das ações dos movimentos sociais Retire o foco das motivações estruturais e causas históricas e centre a abordagem nas conseqüências para os indivíduos donos ou empregados das propriedades invadidas ou atacadas. ** Fale do prejuízo econômico para o proprietário, e se possível faça uma entrevista com o mesmo ou com um familiar próximo para mostrar a comoção da família diante do ataque bárbaro. É importante mostrar o estado de choque emocional e o ideal é que a pessoa esteja chorando. ** Surte grande efeito a entrevista com trabalhadores da fazenda ou da empresa. O maior exemplo é o caso da ação no horto da multinacional Aracruz no Rio Grande do Sul, em que uma técnica de laboratório se fez passar por pesquisadora e, em prantos (!), afirmou que a destruição das mudas de eucalipto acabou com mais de vinte anos pesquisa. Bater sempre nas mesmas teclas Nesse caso, as reportagens conseguiram colocar os movimentos sociais como contrários à ciência e ao desenvolvimento tecnológico, evitando a pauta concreta da ação, que se centrava na expansão ilegal das terras da empresa e na depredação da natureza com o monocultivo de eucalipto. 9. Campanha de desmoralização permanente dos movimentos sociais É sempre bom manter semanalmente pautas de desgaste aos movimentos sociais, mesmo que não haja uma ação que renda manchete. Nesses casos, a regra é trabalhar com associação, encaixando uma reportagem que fale sobre um movimento após ou entre matérias que falem, por exemplo, de casos de corrupção no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), venda de terra e desmatamento em assentamentos da Amazônia Legal etc. Bata nas mesmas teclas, insista nas mesmas teses permanentemente, mesmo que elas já tenham sido usadas antes. Insista, por exemplo, que o MST irá romper com o governo Lula desta vez, mesmo que o movimento afirme e demonstre desde o primeiro dia de governo que nunca esteve atrelado. "Não são pessoas, são sombras" E quando não for possível tomar como alvo os movimentos sociais, vale mirar nas bandeiras de luta deles, alegando estarem ultrapassadas, deslegitimando-as como parte da solução atual para os problemas do país. Nesse caso, pode-se até reconhecer o valor histórico que bandeiras como reforma agrária cumpriram no Brasil e em outros países, mas deve-se usar essa manobra apenas para recusar essas propostas no presente. 10. É fundamental saber manipular a dimensão subjetiva do telespectador ou do leitor Não é apenas com a manipulação dos fatos e com a edição das entrevistas que podemos influenciar na interpretação que os nossos consumidores farão. Na TV, a expressão facial e o tom de voz dos repórteres, dos comentaristas e, sobretudo, dos âncoras, é determinante. A adoção do semblante sério e do tom de voz grave deve indicar a importância do tema. Além da performance dos jornalistas como atores, é recomendável que o pano de fundo do cenário também traga imagens que gerem medo e desconfiança. O exemplo do Jornal Nacional é o mais ilustrativo: para falar da reforma agrária e dos movimentos que lutam por ela, aparece uma cerca rompida e três vultos disformes – "afinal não são pessoas, são sombras" –, empunhando ferramentas de trabalho como se fossem armas, numa ação de invasão da propriedade (e da casa do espectador).

Alegres tertúlias

Através da Resolução nº 8.975, de 01/04/2008, o Tribunal de Contas dos Municípios, informou ao então presidente da Câmara, Miguelito Gomes, que fora negado cadastro à Lei nº 17.248/2007, de 03/07/2007, do Município de Marabá, que dispõe sobre o reajuste dos subsídios dos Vereadores daquela Câmara Municipal, no percentual de 12% (doze por cento), por não atender o Art. 29, VI, combinado com o Art. 37, X, da Constituição Federal de 1988. Em conseqüência, os autos foram anexados à prestação de contas respectiva, dada ciência ao Presidente da Câmara Municipal de Marabá, e determinada, por unanimidade, a devolução dos valores percebidos a título de reajuste, por carecer de amparo legal. Pela via editalícia (Processo nº 200817420), o mesmo TCM notificou à presidência da Câmara de que a 1ª manifestação da Assessoria Jurídica do tribunal foi pelo não cadastramento da Resolução nº 451/2008 (que fixou verba de pronto atendimento aos Vereadores), e pelo cadastramento com ressalva, da Resolução nº 452/08 (fixação dos subsídios dos Vereadores). Acrescenta adiante que a decisão do Plenário pelo cadastramento com ressalva e/ou não cadastramento destas Resoluções da gestão do presidente Miguelito Gomes, importará na glosa (parecer contrário, desaprovação, censura) dos valores pagos a título de verba de pronto atendimento e de sessão extraordinária. Será que a decisão foi cumprida? A lentidão do TCM em analisar e julgar as contas de prefeituras e câmaras é a maior responsável pelo atraso do conhecimento público do que está sendo feito com o dinheiro do contribuinte.

Ação cidadã

Vale, prefeitura de Canaã dos Carajás, moradores e crianças da Vila Bom Jesus (a 40 km da cidade) iniciaram ações que buscam recuperar o Igarapé Araras, patrimônio da Vila e importante meio de manutenção da vida da população local. Antes da água potável chegar às torneiras da vizinhança, o Igarapé Araras era um dos principais abastecimentos da Vila. Pensando em preservar o córrego, o Comitê de Água da Vale deu um importante passo e convidou as crianças da Escola de Ensino Fundamental Raimundo de Oliveira para colocar a mão na terra e fazer o plantio de espécies regionais, como buriti, açaí e tanimbuca, nas margem do igarapé. Esta é a primeira ação do projeto, que tem como objetivo realizar o plantio de duas mil árvores até o final deste ano. O plano estratégico para despertar a consciência da responsabilidade de cada um em preservar o meio ambiente, diz o release da empresa, também contou com palestras e exibição de filmes sobre sustentabilidade e conservação de recursos naturais, além de atividades que estimulam a análise de práticas cotidianas, como a economia de água. "Esse trabalho é uma marco inicial, pois daqui a 40 anos os meninos de hoje serão adultos que contarão como foi o começo da recuperação deste igarapé", diz Antônio Carlos Neves, gerente da Vale. Bem que Marabá poderia fazer o mesmo em relação à Grota Criminosa e as dezenas de igarapés que cruzam sua área urbana. Mas desejar isso é como querer ressuscitar cachorro morto.

Seria uma lambança!

Representantes da Comissão Parlamentar de Inquérito, que apura casos de pedofilia em Belém, ficou de passar também na região da Ilha do Marajó, onde a patifaria assusta até o bispo. Será que essa CPI não poderia dar um pulinho por cá, onde os mecanismos de aliciamento para a prostituição de adolescentes são públicos e notórios? Só de pensar nisso tem gente apelando para os tarja preta.

Alma penada

Auditor do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) Luiz Fernando Gonçalves da Costa, indiciado por falcatruas na “Operação Rêmora” da Polícia Federal, trafega com desenvoltura em gabinetes de Marabá.

Urbanidade zero

Médico conveniado da Assessoria de Seguros de Pessoas do Brasil Ltda. (Aspeb) foi só indelicadeza e arrogância com paciente e acompanhante durante consulta nessa quarta-feira. Segundo as queixosas, ambas foram na terça ao consultório, com encaminhamento da seguradora, e não foram atendidas. A paciente queixava-se muito de dores lombares. Voltaram na quarta e acabaram sendo expulsas do consultório, depois que o profissional rasgou a guia e disse, muito irritado, que não ia atendê-las. “Ele nem sequer quis ouvir o que tinha a dizer a paciente desesperada”, disse a acompanhante. Depois da arruaça as duas foram reclamar no escritório da Aspeb, que prometeu descredenciar o médico, até porque as senhoras não foram as primeiras a queixar-se de maltratos. Vamos ver.

HB de volta

Esta saiu, sob esse título, no blog do Ribamar Ribeiro Jr.: “O ex-prefeito Haroldo Bezerra apareceu em público depois de uma grande temporada fora dos holofotes da mídia. No momento presta consultoria aos diretores da Cosanpa. Mas algu s já confirmam a informação de que o ex-prefeito está de olho na concessão dos serviços de abastecimento de água. O grupo que hjoje está ligado à direção da Cosanpa, como Márcio Spíndola e outros, já se preparam para assumir em breve os negócios de uma futura empresa que deve assumir os serviços de saneamento básico em Marabá, já que a concessão é da prefeitura. Como a concessão já venceu, em breve o governo municipal deve abrir concorrência pública para este serviço.” Chamem o Chapolin Colorado!