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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Tucumã e Ourilândia: terra em transe

Entre 1991 e 2000, a população de Ourilândia do Norte teve uma taxa média de crescimento anual de 5.80%, passando de 11.940 para 19.471 em 2000. Apesar desse crescimento, No município de 1.4 habitante para cada um dos 13.884.8 km², a renda per capita média do município diminuiu 27.71%, passando de R$ 213.19 para R$ 154.11. A pobreza (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário mínimo vigente em agosto de 2000) cresceu 2.56%, passando de 50.1% em 1991 para 51.4% em 2000. Apesar desse contraste, surpreendentemente no mesmo período o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) cresceu 10.78%, passando de 0.631 (1991) para 0.699 (2000). A dimensão que mais contribuiu para este crescimento foi a Educação, com 76.0%, seguida pela Longevidade, com 50.5% e pela Renda, com -26.5%. Distante cerca de dez quilômetros, o Município de Tucumã teve, entre 1991 e 2000, uma taxa média de crescimento anual negativo de -2.45%, passando de 31.375 para 25.309. Mas a renda per capita média cresceu 72.41%, passando de R$ 145.10 em 1991 para R$ 250.17 em 2000. e a pobreza diminuiu 22.01%, passando de 47.0% em 1991 para 36.6% em 2000. mas a desigualdade cresceu: o Índice de Gini passou de 0.57 em 1991 para 0.69 em 2000. Ou seja, aumentou a concentração da renda na mão de poucos privilegiados. No começo deste ano, o prefeito Alan Azevedo decretou estado de calamidade pública, por não ter como dar conta da invasão da cidade. Ourilândia do Norte é um município atípico: todo o seu território está encravado dentro da Reserva Indígena Kaiapó, da qual ocupa no máximo 15%. Em pouco mais de seis anos, estima-se que sua população saltou para algo em torno de 40 mil habitantes, a maioria vinda em busca de oportunidades no projeto de extração de níquel da Companhia Vale do Rio Doce, nas reservas chamadas Onça-Puma. Os efeitos desse crescimento são desastrosos.Para abastecer a cidade, a prefeitura tem um projeto avaliado em R$ 3,5 milhões para captação de água no Rio Branco, a 25 quilômetros de distância. É que os 20 poços profundos (150 metros) já existentes, e os 5 em construção, não dão mais conta do recado. Seu prefeito, Francival Cassiano (PMDB), sabe que as coisas são difíceis por experiência própria. Ele era carroceiro em Xinguara, mudou-se – de carroça, claro – para Ourilândia onde continuou sua faina por longos seis anos. Daí elegeu-se vereador, vice-prefeito e agora prefeito até dezembro de 2008. Talvez por isso é um exemplo de administrador. Em julho, após ouvir o sindicato da categoria, deu aos professores um reajuste salarial de 26.8% - o maior em todo o Pará. A cidade tem rede de abastecimento d’água, e a energia elétrica está chegando a 85% do município. Quando se fala em projeto níquel, ele coça a cabeça. Até hoje não viu um único centavo da mineradora para investir em projetos sociais. Mas lá no canteiro de obras, ao pé dos morros saturados de melechete, 1.400 pessoas levam vida de gato de madame: a Odebrecht fornece à peãozada academia, lavanderia, cinema, área de lazer (jogos, tevê etc.), um pequeno comércio com lojas de confecções, cabeleireiro, manicure, e uma Rádio Operária FM de alta qualidade – mas que não chega à zona urbana. Nesse paraíso, vivem paraibanos, maranhenses, cearenses, sergipanos, piauienses, alagoanos e mineiros. Nenhum paraense. A Onça é um maciço de 23 quilômetros de extensão por 3,6 quilômetros de largura. A Puma é um pouco menor. Estendem-se pelos municípios de Água Azul do Norte, Ourilândia, Parauapebas e São Felix do Xingu. A Mineradora Onça Puma, da canadense Canico Resources, implanta o maior projeto de extração de níquel do Brasil. Os investimentos anunciados na mineração são de US$ 1 bilhão - US$ 550 milhões até meados de 2007 (valores de 2004), quando está prevista a operação da primeira linha de beneficiamento, e o restante até 2010, com a implantação da segunda linha. Na aldeia Aukre, dos Kaiapó, onde vive o cacique Paulinho Paiakan, até recentemente falava-se em abandono e desatendimento, conforme denúncia da Associação dos Povos Indígenas do Sul do Pará.

Celeridade

Uma medida aguardada há anos pelos advogados paraenses, embora uma realidade antiga na justiça trabalhista, parece que agora sai. Jornal de Belém anuncia que tão logo retorne das férias, a presidente do TJE, Albanira Bemerguy, assinará o termo de adesão ao convênio celebrado entre o Conselho Nacional de Justiça e a Receita Federal, que permite o acesso on-line de magistrados ao cadastro fiscal de pessoas físicas e jurídicas. Com isso, diz o jornal, as consultas que hoje levam cerca de dois meses , passarão a ser feitas em segundos, acelerando processos judiciais.

Militância

Criada em Marabá a Delegacia Regional Sul e Sudeste do Pará do Sindicato Nacional dos Pedagogos. Segundo o prof. Raimundo Moura, a iniciativa deveu-se a “um grupo de pedagogos comprometidos com a luta pela autonomia e qualidade da educação pública”

Injustiça

O PMDB disputará a eleição municipal de Marabá com chapa a vereador fortíssima, diz o blog de Hiroshi Bogéa, no último sábado. Entre outros nomes de intensidade eleitoral, são candidatos o ex-prefeito Nagib Mutran, Guido Mutran (atual coordenador local da Adepará), e o vereador Ademar de Alencar. Previsão do partido é abocanhar em torno de 5 mil votos, somente com essas três candidaturas.” Não mais que dois dias depois, o blogueiro anuncia que o partido, pressionado por forças ocultas (já que ele não diz de onde partiram), recusou a migração do vereador Adelmo Azevedo, que abandonaria o PTB de Tião Miranda. Rejeitar o Adelmo é uma tremenda injustiça, logo ele que deveria ser recebido com banda de música e tapete vermelho, digo eu. Hoje, como nunca antes, ninguém mais do que o ex-comerciário personifica tão bem o conteúdo ideológico do partido de Jader Barbalho.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Luas de exílio

Do outro lado do rio, na praia, arde uma fogueira. Aos olhos bêbados são duas: uma acima d'água, outra na areia. São luas, ambas, no negror da noite ao fim da tarde. Mais acima, na extensão aqui ali iluminada, a praia é um comboio de navios na enseada à espera dos sonhos exilados do poeta. Somos tantos!... Vêm desses navios a secreta e única miragem do vôo longo de uma ave e o apelo que desvenda a alma do argonauta. Mas, como ir, se não posso, preso à nave sem rumo, solta à deriva no vazio medonho de quem viu, amou e perdeu a lua nômade, carrossel a girar sem fim atrás de um sonho? E depois, aonde ir? A que serve um astronauta possuído, ó deuses, do limo de jade com que ela cobriu um dia as flores, as runas, a pedra do encanto, o bálsamo de amêndoas - doce e suave como seu suor d'amores? Quem dera fosse tudo só um sonho de navio ao largo - não essa negra, enorme e pétrea angústia de amar sem tê-la... (Ademir Braz - Marabá, out. 08, 07)