terça-feira, 9 de outubro de 2007
Luas de exílio
Do outro lado do rio, na praia, arde
uma fogueira. Aos olhos bêbados são duas:
uma acima d'água, outra na areia. São luas,
ambas, no negror da noite ao fim da tarde.
Mais acima, na extensão aqui ali iluminada,
a praia é um comboio de navios na enseada
à espera dos sonhos exilados do poeta.
Somos tantos!... Vêm desses navios a secreta
e única miragem do vôo longo de uma ave
e o apelo que desvenda a alma do argonauta.
Mas, como ir, se não posso, preso à nave
sem rumo, solta à deriva no vazio medonho
de quem viu, amou e perdeu a lua nômade,
carrossel a girar sem fim atrás de um sonho?
E depois, aonde ir? A que serve um astronauta
possuído, ó deuses, do limo de jade com que ela
cobriu um dia as flores, as runas, a pedra
do encanto, o bálsamo de amêndoas - doce
e suave como seu suor d'amores? Quem dera fosse
tudo só um sonho de navio ao largo - não essa negra,
enorme e pétrea angústia de amar sem tê-la...
(Ademir Braz - Marabá, out. 08, 07)
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Um comentário:
Caramba...lindo como sempre!
Beijos.
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