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quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Alquimia

Ademir Braz Atrás da porta, o silêncio, o frescor da hora. Fora, a litania da noite, o feno leve do sono, a sede escura da carne. Como suave luz de vela flui a alma de noturnos becos. Moto-contínuo - eis o que me sinto – desconstruo-me ao fumo do incenso de gardênia e absinto. A minha amada é uma flor aberta sobre meus escombros. Como um rio e suas margens – nos pertencemos. Como amantes que se encontram - nos perdemos. Como a boca ansiosa e o beijo - nos queremos. (Jan.08)

Poesia por todos os cantos

A Capital Federal vai sediar a primeira de uma série de bienais de poesia, integrando as atividades da 27ª Feira do Livro de Brasília: a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (I BIP), que será realizada de 3 a 7 de setembro de 2008. Seus organizadores contam com a presença de poetas, críticos e editores internacionalmente reconhecidos e incluirá na sua programação diversas atividades simultâneas, que vão de sessões livres de recitais a conferências sobre poesia. O evento reunirá as novas tendências da poesia contemporânea brasileira e internacional que, escrita, falada, cantada, performática, digitalizada e visualizada, vai tomar conta da Praça do Conjunto Cultural da República, do Museu Nacional, da Biblioteca Nacional de Brasília e de muitos outros espaços da cidade. Sitio do evento: http://www.bienaldepoesia.unb.br/

No rumo?

Dia desses publiquei aqui mesmo uma crônica (“Memória de dois americanos sem rumo”) sobre minha andança, em maio de 2004, com o advogado Mark London e o jornalista Brian Kelly, editor-executivo do jornal U.S News, em Curionópolis, Parauapebas e Canaã dos Carajás. Pois no finalzinho desse 2007 aportou em São Paulo o livro “A Última Floresta - A Amazônia na Era da Globalização”, em que os dois “mostram que afinal existe um tipo de internacionalização da Amazônia que funciona: a internacionalização do conhecimento”, segundo nota dessa terça-feira (08/01) da Folha Online. “Em uma reportagem tão ampla quanto profunda, fruto de meses percorrendo reinos tão diversos quanto o da soja de Blairo Maggi e o do garimpo de Sebastião Curió, a dupla consegue capturar o tamanho da transformação operada pelo Brasil na floresta nos últimos 25 anos, diz a Folha. E mensurar o desafio político que será manter a maior parte dessa floresta de pé num tempo em que são os humores da bolsa de Chicago - e não mais as vontades de generais em um gabinete com ar refrigerado em Brasília - que determinam o destino do maior patrimônio nacional.”

Duas de Eduardo Galeano

1. Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos. As suas vozes eram impuras, devido àquele caso da Eva e do pecado original. Em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em 1793 a Revolução Francesa proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A militante revolucionária Olympia de Gouges propõe então a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. A guilhotina cortou-lhe a cabeça. Meio século depois, outro governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos contra, um a favor. A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser uma revolucionária, nem nada que se parecesse. Mas há mil e quinhentos anos o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres. 2. As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu os direitos humanos às corporações privadas, e assim continua a ser. Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos das suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo. Mark Twain, dirigente da Liga Antiimperialista, propôs então uma nova bandeira, com caveirinhas em lugar de estrelas. E outro escritor, Ambrose Bierce, confirmou: – A guerra é o caminho escolhido por Deus para nos ensinar geografia.

Não estamos sós

Duas notícias recentes da Agência Fapesp, de São Paulo, especializada na divulgação de eventos científicos, merecem nossa atenção. Primeira, um grupo de astrônomos dos Estados Unidos acaba de descobrir sinais de moléculas orgânicas (chamadas de tolinas) altamente complexas no disco de poeira em volta de uma estrela distante. Como a estrela HR 4796A, de apenas oito milhões de anos, está nos estágios finais da formação de planetas, a descoberta sugere que os blocos básicos da vida podem ser comuns nos sistemas planetários. “As tolinas não se formam naturalmente hoje em dia na Terra, diz a reportagem, porque o oxigênio da atmosfera as destruiria rapidamente, mas estima-se que elas teriam existido há bilhões de anos, nos primórdios do planeta, e que teriam sido precursoras das biomoléculas que formam os organismos terrestres. Tolinas já foram detectadas no Sistema Solar, em cometas e em Titã, sendo responsáveis pelo tom vermelho da lua de Saturno. O novo estudo é o primeiro a identificar essas grandes moléculas orgânicas fora do Sistema Solar.” A segunda notícia é terráquea, daqui mesmo da Amazônia: o boto tucuxi usa a sedução – recurso tipicamente humano - para conquistar as fêmeas. Quem o assegura são os pesquisadores Vera Maria Ferreira da Silva, do Inpa, e Tony Martin, do Serviço Antártico Britânico. Eles identificaram que, em mais de 200 dos grupos, os golfinhos de água doce transmitiam práticas culturais de geração a geração. “Foi aí que percebemos que essa cultura estava associada à atividade sexual”, disse Vera. Em cada grupo, pelo menos um boto carregava objetos no bico para presentear a fêmea, sempre em idade adulta e pronta para a reprodução, tais como plantas ou pedaços de pau. “Era forte a sugestão de que se tratava de um comportamento sexual. A ocorrência de agressões entre machos era até 40 vezes maior do que nos grupos de botos que não ofereciam objetos às fêmeas”, afirmou a pesquisadora.