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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O dia em que meu amigo Silvino me esculhambou


Ele estava recém-saído do Exército quando de vez em quando nos encontrávamos em campo, no Zinho Oliveira. Depois eu sumi no mundo e passaram-se duas ou três gerações sem nos vermos.
Em 1988/89, Rui Castro, João Chamon Neto, Célia Piagno, Mário cinegrafista e eu fomos contratados para organizar o setor de jornalismo da TV Liberal em Marabá, um capítulo à parte na história da imprensa desta cidade. Foi nessa época que o reencontrei.
Eu tinha em torno de 40 anos e comecei a sentir uns formigamentos na extremidade dos dedos da mão. Por conta de convênio médico, acabei fazendo consulta na Clínica do Dr. Veloso e quem me atendeu foi justamente Silvino Santis. Ele passou uma infinidade de exames, findo os quais diagnosticou com seu jeitão calmo: triglicérides, pressão alta, excesso de peso. Até hoje me lembro do diálogo que veio a seguir:
- Vamos ter de cortar umas coisas aí, disse ele. O sal em excesso, a carne vermelha, o camarão, o...
- Doutor, se o senhor cortar minha aguardente, eu corto o pulso primeiro.
- Também não precisa exagerar, disse ele, erguendo as duas mãos abertas na minha direção. Quer beber, tome vinho, vodca, beba destilado...
- Eu vou beber deste lado e do outro também, doutor. Era só o que faltava!...
Ele me olhou sério, escondendo o riso:
- Tá bom, não vou passar remédios, mas você vai ter que fazer caminhada 45 dias.
Juro pela hóstia consagrada que caminhei os 45 dias. Foi duro no começo, mas caminhei. Todo santo dia eu saía cedo da Folha 17, passava pela Acrob, ia até em frente à Rádio Itacaiúnas. Descia pela PA-150 até à entrada do Km-07, entrava pela via da Transbrasiliana, quebrava na feira da 28, varava a Folha 20 pela grota Criminosa até chegar à 17. No 46º dia voltei à clínica. Alegre, Silvino me verificou a pressão, a cor da pele queimada e enxuta. Quando me fez subir à balança, estranhou:
- Que merda é essa? Você engordou 5 quilos! Como se explica isso?
- Eu não sei, doutor. Fiz o que o senhor mandou.
Por insistência dele contei o roteiro: vou assim, assado, entro por ali.
- Pera lá, pera lá, disse ele. E que acontece quando você passa na feira da 28?
- Ora, Silvino, como um quilo de cuscuz de arroz com óleo de coco babaçu, tomo cinco cervejas e vou de táxi pra casa...
Nem lhes conto o palavrão que ele soltou. Brigou, esculhambou, acusou-me de brincar com a saúde. Saúde é coisa séria, repetiu amuado. Eu não dei um pio, fazer o quê?
Anos depois, eleito parlamentar, fui seu assessor. A capacidade de trabalho e sua dedicação sobretudo às questões da saúde, aí incluída a criação do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Araguaia/Tocantins, Cisat, valeram-lhe o título de melhor vereador de Marabá.  
Semana passada meu amigo Silvino Santis faleceu após prolongada enfermidade. 
Não fui a seu enterro. 
Não me dou bem com doenças e morte. 
Prefiro lembrar-me do amigo de coração de manteiga escondido sob a falsa sisudez.


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Juiz de Palestina do Pará cessa crime eleitoral ao apreender máquinas enviadas pelo governo

Parsifal 5.4
Com a eleição temporã em Palestina do Pará, o governador lembrou-se que o município existe e deu o ar da sua graça com máquinas abrindo e asfaltando ruas na semana da eleição.
Mas hoje, quando o governador chegou à Palestina, as máquinas não rocavam, pois, reconhecendo o crime eleitoral, o juiz da comarca determinou a apreensão dos equipamentos, colocando fim à farra bancada pelo erário.
Shot001
Que não se apoquentem, todavia, os moradores de Palestina: a eleição será domingo (3), e na segunda-feira (4), as máquinas já estarão liberadas e, com certeza, o governador Simão Jatene, para mostrar que não estava apenas fazendo campanha com dinheiro público, determinará que a patrulha continue os serviços de asfaltamento até o fim, independentemente de quem vença.
É por isso que eu digo que o Brasil desenvolveria mais rápido se houvesse eleição todo ano.

Professores vetam acordo e greve continua

Os professores e trabalhadores em educação decidiram manter a greve da categoria iniciada há 38 dias. A decisão foi tomada ontem durante a assembleia geral que discutiu o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) proposto pelo Ministério Público Estadual durante a reunião de ontem (29) com representantes do Governo do Estado.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp) cita a lotação por jornada e o pagamento retroativo a 2011 do piso do magistério como os dois obstáculos para a aprovação do TAC.

A assembleia geral dos trabalhadores da educação durou pouco mais de três horas. Antes da decisão, vários professores se inscreveram para opinar sobre o movimento e propor sugestões de ações. Todas as falas foram unânimes em defender a manutenção da paralisação. Alguns consideravam o avanço das negociações com o governo do Estado, mas ponderavam que a minuta do Termo de Ajuste de Conduta "não amarra alguns direitos da categoria". Outros propunham a discussão de detalhes do termo, sob pena da categoria se arrepender mais tarde de ter assinado um documento que não lhe assegura todos os direitos. Muita gente também reclamou que não conhecia claramente o que está proposto na minuta do TAC. O Sintepp prometeu publicar o documento ontem no site da entidade.

"Nossa categoria é historicamente desrespeitada e roubada. A única coisa que nos fará sair de greve é a mudança de atitude do governo’’, disse um professor. Entre as propostas de atividade para o movimento, houve quem defendesse a radicalização das ações. O coordenador geral do Sintepp, Mateus Ferreira, argumentou para a assembleia que o movimento que está na rua já está radical.

Mateus Ferreira afirmou que a categoria já fechou a BR-316 na altura do município de Santa Maria e próximo a Paragominas; interditou a Alça Viária; a Transamazônica, próximo à Vitória do Xingu, município sede da construção da usina de Belo Monte; além de ter ocupado por dois dias a sede da Secretaria de Estado de Educação, na rodovia Augusto Montenegro, em Belém, onde já foram promovidas diversas marchas pela cidade.

Categoria espera pagamento sem desconto
O pagamento do salário dos trabalhadores em educação está previsto para hoje e eles esperam receber os vencimentos na íntegra. "Não há nenhuma decisão sobre a abusividade do movimento, portanto, nosso pagamento deve ser integral. Se o governo não pagar ou apresentar descontos nós não vamos repor as aulas, o que vai prejudicar o ano letivo’’, observou Ferreira. Ele garantiu que 80% das escolas estaduais, na Região Metropolitana de Belém, estão fechadas. Disse que alguns municípios não aderiram à paralisação, mas ‘’esses são considerados pequenos’’.

Conferência - No fim da assembleia ontem, a categoria decidiu seguir para o Hangar Centro de Convenções da Amazônia, onde estava sendo realizada a Conferência Estadual de Educação 2013, que segundo os trabalhadores, ‘’não deveria acontecer sem a participação dos professores estaduais’’. O Sintepp anunciou que fará uma nova marcha pela educação na próxima terça-feira, dia 5.

Jornada é ponto de discordância. Sintepp prepara emendas.
O primeiro impasse da categoria com o governo, segundo o Sintepp, diz respeito à jornada profissional. "O governo apresenta a lotação por jornada partindo das 200 horas de regência hoje, ou seja, a proposta do governo é manter aquilo que a gente já tem desde a implementação do estatuto do magistério, que considera apenas 10 horas, o que na nossa avaliação é insuficiente para garantir o tempo na escola para elaborar horários, corrigir as avaliações, entre outras atividades’’, disse Mateus Ferreira. A categoria também quer que o governo apresente um cronograma formal para o pagamento retroativo a 2011 do piso do magistério. ‘’A resposta do governo é muito subjetiva. Eles apresentam a possibilidade de um cronograma de pagamento em março de 2014, dependendo da receita do Estado. Isso significa que pode chegar março e o governo nos dizer que não tem dinheiro, como ele diz hoje’’, destacou o sindicalista.

A coordenação do Sintepp disse que faria ‘’um esforço para apresentar até amanhã (hoje)’’ as propostas sobre os demais questionamentos tanto dos professores quanto dos servidores das áreas administrativa e operacional, que apoiam o movimento. A intenção do Sintepp é apresentar sua contraproposta ao MPE, manter a mobilização da categoria e avaliar a nova proposta de TAC para retomada das negociações com o governo estadual.