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quinta-feira, 22 de março de 2007

Mais lenha nas guseiras

Levantamento do Serviço Florestal Brasileiro e da Secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente diz que dos 627 mil hectares de florestas industriais plantados pelos produtores brasileiros em 2006, apenas 34.500 estão localizados na região Norte, estando o Pará com a maior área - 13 mil hectares. Depois do Pará, o Amapá foi o estado do Norte com maior área de florestas industriais plantada, com 10 mil hectares, seguido por Tocantins (4.500 ha), Roraima (4.000 ha), Rondônia (1.500 ha), Amazonas (1.000 ha) e Acre (500 ha). Conforme o estudo, o plantio preponderante foi de eucalipto, pinos e teca, mas foram registradas áreas de espécies nativas, como de seringueira em São Paulo e Espírito Santo e de paricá na região Norte. Desse plantio na Amazônia, qual o tamanho da área destinada à produção de carvão, plantada por nossos guseiros no Pará ou em outro Estado vizinho, e quantos anos levará para ser colhida em quantidade suficiente para suprir a demanda? Até lá, 2015, segundo consta, de onde virá o carvão para siderurgia? Relatórios do Ibama apontam para um grande cenário de ilegalidade em relação ao carvão vegetal utilizado pelas siderúrgicas em seu processo produtivo. Em 2005, tal situação gerou multas de mais de R$ 500 milhões de reais envolvendo produtoras de ferro-gusa do Pará e do Maranhão. Elas foram autuadas por não comprovarem a origem do carvão que utilizam e por não cumprirem regras de reposição florestal. Parte do carvão dessas empresas é obtido através de madeira proveniente da floresta amazônica. Estas são algumas das questões básicas que continuam sem resposta quando se fala em carvão honesto para consumo no nosso distrito industrial. Entretanto, enquanto ninguém toca neste assunto – até aqui uma atividade danosa à floresta e atentatória à dignidade do trabalho -, e mesmo sem que ninguém saiba ao menos onde estariam sendo implantados (se é que estão) os projetos de florestação que dariam sustentabilidade à siderurgia, outra ameaça paira sobre este segmento industrial, que ano passado exportou cerca de meio bilhão de dólares. Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Maurílio Monteiro, os Estados Unidos Estados Unidos ingressaram na Organização Mundial do Comércio (OMC) com uma ação por dumping ambiental contra os produtores de ferro-gusa de Carajás, acusando-os de utilizar de maneira predatória o meio ambiente para baratear a produção. Dumping, segundo o dicionário Houaiss, é a ação ou expediente de pôr à venda produtos a um preço inferior ao do mercado, especialmente no mercado internacional (p.ex., para se desfazer de excedentes ou para derrotar a concorrência). A informação surgiu na sessão especial de segunda-feira (19) na Assembléia Legislativa do Estado durante o debate do pólo siderúrgico de Marabá, e aparentemente o só o site Pará Negócios, do jornalista Raimundo José Pinto, atentou para a sua dimensão. É que, se convencida da denúncia, a OMC tem meios de barrar a comercialização internacional do ferro gusa aqui produzido e até que se prove o contrário muito carvão terá entupido os fornos clandestinos. Afinal, de acordo com Maurílio Monteiro e o Pará Negócios, hoje operam 19 altos-fornos nas siderúrgicas marabaenses, com capacidade instalada para 2 milhões de tonelada/ano de ferro-gusa e que consomem algo em torno de 4,4 milhões de metros cúbicos anuais de carvão. Com o funcionamento de novos quatro altos-fornos, a demanda pelo insumo saltará para 5,8 milhões de m3, fora os 2,2 milhões de m3 enviados daqui para as siderúrgicas maranhenses “Outro dado citado por Monteiro, diz o jornalista Raimundo Pinto, foi a respeito à existência de 25 mil pequenos fornos para a produção do carvão, dos quais apenas 5 mil têm licenciamento precário, com 45 mil trabalhadores na ilegalidade, boa parte trabalhando em condições precárias”.

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