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domingo, 2 de março de 2008

A poesia é necessária?

Urbanidades Ademir Braz No banco, a fila enorme boceja, mal se mexe. Colossal centopéia de tédio, sucuri estressada, a fila enorme boceja. Arfa a cobra grande sob o céu arado! Oceano de luz, o dia se contém, irado, nos vidros da janela. (Arde-me a lembrança do meu bem, como essa luz cruel e bela). E há trinados pipilos chilreios a passarada em bolsa e cós apita: Sol sol sol dó! Para além dos anjos e do nojo Beethoven alucinado regurgita. Ó dor, ó deuses dentre céus e sóis, vós que espreitais nossos esgares, Valei-me nesse dia insano, atroz: Eu nada odeio mais que filas e celulares!...) Mas é tudo em vão. Tudo em vão. Lá fora o sol arrota flores sobre o cheiro de cebola e bife.

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