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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Alpa bilionária

”A melhor maneira de se conhecer a realidade passada, atual e futura de Marabá e da região, é consultar fontes externas - nacionais e internacionais. Ao longo de toda nossa história, foi o mercado externo que ditou as regras da economia regional, passando pela exploração do caucho, da castanha, madeiras, pedras preciosas e, nos últimos 50 anos, pecuária e minérios em larga escala. Da mesma forma, as injunções políticas, que decidem tudo de cima para baixo. Até a história da colonização será mais bem estudada com o exame da literatura de viagem produzida desde o século XVII por franceses, italianos e portugueses e, mais recentemente pesquisadores paulistas, a começar por Octávio Guilherme Velho, e a excelente produção do Idesp em meados da década de 1980 do século passado. Bastante significativas também são as análises do jornalista santareno Lúcio Flávio Pinto, a partir dos anos 70 em jornais de Belém e de S. Paulo, e depois com o Jornal Pessoal, infelizmente de baixa tiragem e circulação restrita, porque feito sob circunstâncias quase desumanas. Mas todo esse intróito é para destacar alguns dados do mais recente artigo de Lúcio Flávio (Siderúrgica em Marabá: agora o sertão vai crescer?, Adital, 18/01) sobre o projeto de 3,7 bilhões de dólares (5,3 bilhões de reais) da Aços Laminados do Pará (Alpa), em Marabá, “um dos maiores negócios em andamento no Brasil. Eis os destaques, em suas palavras textuais: Energia – “Uma unidade do porte industrial da Alpa, produzindo 2,5 milhões de toneladas anuais de placas de aço, precisará de um apreciável volume de energia. A previsão é de 107 megawatts. A empresa será auto-suficiente, graças a dois turbo-geradores, com potência para 130 MW. Na folga, poderá ceder energia para Marabá. A empresa assegura que utilizará gases de processo para a geração, mas provavelmente terá também que recorrer a carvão mineral. Ela importará 1,9 milhão de toneladas por ano, principalmente para transformar em coque, que, junto com um milhão de toneladas de calcário, entrará no alto-forno para produzir gusa, da qual sairá a bobina quente para as placas finais. Esse processo precisa ser acompanhado com extrema atenção para evitar a poluição do ar.” Água - Outro momento vital está relacionado à água. Captando mais de mil metros cúbicos por hora, a siderúrgica terá que funcionar em circuito fechado de reciclagem (como em relação a todos os seus insumos) para evitar um impacto mais forte sobre a hidrografia da área. Ela precisará descartar 1,3 milhão de metros cúbicos por ano de resíduos perigosos (além de embarcar para fora 100 mil toneladas de coque excedente e 587 mil toneladas de escória). O centro de monitoramento em tempo real é indispensável para o controle dessas operações. Questões como essas têm tal característica técnica que não deveriam mais estar provocando celeuma intensa, como ainda acontece. Se persiste a desconfiança é porque a imagem de seriedade e compromisso das empresas ainda não se consolidou (e algumas não parecem empenhadas em conquistar esse troféu). Da mesma forma, alguns representantes da sociedade não têm desempenhado com seriedade o papel de intermediação que lhes cabe. Um bom e acessível núcleo de acompanhamento parece ser a melhor maneira de resolver esse impasse. Impacto humano – “Mas há ainda questões pendentes, que não constam do processo de licenciamento e por isso não estão no EIA-Rima. Uma delas é sobre o impacto humano da obra. Durante sua implantação, a siderúrgica vai gerar 16 mil empregos. O número cairá para um terço quando ela entrar em operação, em dezembro de 2013, se o cronograma atual for cumprido. Os empregos diretos permanentes serão ainda menores: 2.600. Os outros 2.500 serão terceirizados. É preciso ter esses números em consideração para evitar uma inserção traumática do empreendimento na região e, sobretudo, em Marabá. A cidade tem crescido de forma caótica há vários anos. A violência é sua marca histórica, desde as origens, em função dos ciclos de presença e ausência dos homens, que se deslocavam da cidade para as áreas de extrativismo no interior, e voltavam trazendo (ou encontrando) os impulsos do conflito. Essa característica se multiplicou várias vezes com os "grandes projetos", consagrando tristemente a cidade como "Marabala". Deve-se treinar com urgência mão-de-obra qualificada e semi-qualificada no próprio local para tentar reduzir a intensa imigração previsível (e já em curso). Negócios – “Deve-se também preparar pessoas para criarem negócios destinados a atender a terceirização, multiplicando sua irradiação. A Vale não tem interesse em nada além da placa de aço, um produto que não é nobre na atual configuração do mercado siderúrgico. Aparentemente, é vantajoso avançar - mesmo que seja só até esse estágio - na verticalização. O Brasil é responsável por 18% do minério de ferro (com o restante da América Latina, a participação chega a 25%) e apenas 2,5% da produção de aço. Para que a produção da Alpa conquiste novos mercados ou desloque fornecedores, em especial no mercado asiático, é preciso reter o custo de cada tonelada num valor entre 400 e 500 dólares, segundo o projeto. Os chineses, que estão um degrau acima (entre US$ 500/600), e os japoneses (US$ 700) poderão achar melhor importar do que produzir placas.”

3 comentários:

Anônimo disse...

Grande Lúcio. Pena fiel do nosso jornalismo. Acumula o maio saldo de credibilidade dentre os mortais pensantes em nosso Pará.Como seria bom se nossos estúpidos veradores, criassem um pouco de vergonha na cara, e através de nossa câmara, pudesse trazer para cá este jornalista. E diante de uma platéia quem sabemos, deve estar com vontade de aprender, ouvir o que ele tem a dizer. Essa Acim é, como diz Lula, uma merda.

Ademir Braz disse...

O baixinho é ótimo, né? Grande Lúcio.

Anônimo disse...

esse anonimo deve ser um bom "anfitrião"