É com muito pesar que o MST-Pará, comunica aos companheiros, companheiras, amigos e amigas o assassinato do militante dessa organização MAMEDE GOMES DE OLIVEIRA, 58 anos, assentado no Assentamento Mártires de Abril, Mosqueiro- Município de Belém Pará. O fato aconteceu no dia 24 de dezembro de 2012 no período da tarde, por volta das 16 horas, no seu lote, momento em que estava trabalhando foi atingido por dois tiros calibre 38. No momento dois suspeitos encontram-se presos e estão sob investigação da polícia.
Mamede, foi coordenador estadual do MST, atuou no Setor de Produção e nos últimos anos vinha dedicando-se à prática agroecológica em seu lote, conhecido como LAPO- Lote Agroecológico de Produção Orgânica, com a implantação de diversas experiências, além de compor um Grupo de Produção Agroecológica-GPA juntamente com outras famílias assentadas.
O corpo está sendo velado no LAPO e o enterro acontecerá amanhã às 9 horas no Cemitério do Carananduba.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Estado do Pará solidariza-se com Dona Teófila da Silva Nunes e familiares.
“A morte não é verdade quando se cumpre bem o papel da vida”
(José Martí)
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NATAL DURO, MARCADO
PELA VIOLÊNCIA
Hoje,
às 10 horas, nos despedimos de mais um grande companheiro das nossas fileiras
de lutas pela verdadeira reforma agrária e pela transformação da sociedade. Foi
enterrado o corpo de Mamede Gomes de Oliveira, assassinado brutalmente na manhã
do dia 23 de dezembro. O assassinato ocorreu no seu lote, a 200 metros de sua
casa, no Projeto de Assentamento Mártires de Abril, município de Mosqueiro,
Estado do Pará.
O
assassino é casado com a filha de um também assentado, não residia no Projeto
de Assentamento, já foi identificado e preso mas até o momento não revelou qual
a sua motivação ou interesse para tirar a vida de Mamede, com o disparo de dois
tiros fatais sem que a vitima pudesse se defender.
Para
nós foi uma perda imensurável, por tratar não apenas de um assentado, como
deverá ser divulgado pela imprensa medíocre deste país, mas por tratar de um
exemplar de homem que viveu para construção de uma humanidade, que ainda está
por ser construída por todos(as) aqueles(as) que não se cansam e nem se
entregam diante das barreiras impostas.
Mamede
tinha 57 anos muito bem vivido como fazem todos(as) que desde cedo encaram o
desafio de construir seu próprio destino. Nasceu no Estado do Piaui, viveu sua
juventude até adulto no Estado do Maranhão, no município de Pedreiras, no final
da década de 1980 veio para o Pará, trajetória de muitos nordestinos, em busca
da terra prometida.
Foi
no ano de 1999 que militantes do MST e Mamede tiveram o grande prazer de se
encontrarem, nas mobilizações realizadas na cidade de Ananindeua, área
metropolitana de Belém do Pará, para ocupação dos latifúndios naquela região.
Nesta época Mamede militava na Comunidade Eclesial de Base, com a experiência
trazida do Maranhão. Experiência desenvolvida para enfrentar a opressão imposta
pelas famílias latifundiárias, corruptas e assassinas daquele Estado, dentre
elas a de José Sarney.
Com
a luta organizada as famílias de trabalhadores conquistaram uma área de terra
no município de Mosqueiro, que depois as famílias e o movimento fizeram ser
criado um projeto de assentamento, pelo INCRA,o Projeto de Assentamento
Mártires de Abril, em memória ao massacre de 17 de abril de 1996, na curva do
S, no município de Eldorado de Carajás, contra militantes do MST, realizado
pela policia do Estado, quando governador Almir Gabriel.
Ali
no assentamento Mamede se realizava e construía experiências e ensinamentos
para companheiros(as) e para o mundo. Junto com sua esposa passaram a se
dedicar em um grande projeto que viesse apontar para a transformação da
sociedade. Homem culto, não abonava suas leituras dos revolucionários, de Marx,
os marxistas, ao poeta Maiakóvski.
Pelo
seu afinado conhecimento e forma de lhe dar com as pessoas desempenhou
importante papel como comunicador, educador e dirigente do movimento, sem nunca
se propor a abandonar a luta e deixar de enfrentar as grandes dificuldades que
se apresentavam no dia a dia.
A
sua dedicação maior, sem desprezar a militancia, a educação e acultura, mas
fazendo destas uma interação necessária e produtiva, foi com a agroecologia.
Seu lote era um exemplo de diversificação de cultivos de plantas para fins
medicinais, ornamentais e para produção de alimentos, e a criação de pequenos
animais. Dedicação na transformação de plantas em produtos de uso medicinal e
alimentício.
Mas
como para a crueldade não há defesa e precaução suficiente par evitá-la quando
ela nos ronda permanentemente,em um momento de vivência e dedicação com seu a
fazer, Mamede foi covardemente assassinado quando reparava a situação de umas
colméias.
Portanto,
não foi só o MST, mas sim o mundo que perdeu, na flor da idade, um grande
exemplar de homem educador, comunicador, dirigente, defensor e praticante da
agroecologia, que acreditava na transformação da sociedade, com a destruição do
capitalismo a partir de de acúmulos de fundamentações teóricas pelos indivíduos
mas também necessariamente com a prática.
Lamentamos
profundamente que a barbárie se alastra pelo mundo sem que nossas forças sejam
suficientes para barrá-la. Lamentamos profundamente que diante da situação
muitos(as) valiosos(as) lutadores(as) do povo se deixem levar pelos imbróglios
da conjuntura política retrógrada e alienante que impera no país. Lamentamos
profundamente pela perda de mais um comunista.
Como
foi na casa de Mamed, quando da participação de um encontro estadual do MST,
que tomei conhecimento do poeta russo Maiakóvski, em memória vou citar um dos
poemas que de imediato me chamou a atenção:
E então que quereis?...
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras
piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também porque razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
haveremos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
Mamede.
Presente!
Até a vitória sempre!
Marabá, 25 de dezembro de 2012.
Raimundo Gomes da Cruz Neto
Educador Popular CEPASP-Marabá
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