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quinta-feira, 31 de maio de 2007

Riqueza econômica e pobreza social

Na quinta-feira passada, 23.5, a Fundação Vale do Rio Doce apresentou um estudo intitulado “Diagnóstico Integrado em Socioeconomia no Sudeste do Pará”, indicando que a região é, potencialmente, a mais rica do Estado. Potencialmente é um termo dúbio, mais afeito a oráculos que a cenários: desde quando ainda galos cantavam nos quintais, eu ouço esta coisa de que o Brasil é um país com um grande potencial. A pujança econômica do Sudeste do Pará é vista a olhos nus, se usarmos os mesmos óculos que Adam Smith usou quando escreveu “A riqueza das nações”. A Vale do Rio Doce talvez queira que o contribuinte interprete os dados como tendo sido ela a grande responsável pela proximidade dos números do Sudeste paraense com os da capital, que ainda concentra o maior PIB do Pará. Vai mais longe na bondade e dobra os sinos do progresso ao anunciar que isto não é nada perto do que virá: ,mais investimentos em projetos de mineração na região, farão com que o sudeste tenha crescimento médio de 20% até 2010. A diretora superintendente da Fundação Vale do Rio doce, Olinta Cardoso, define o trabalho como “um grande esforço de mudança” que a CVRD está fazendo para o desenvolvimento econômico do Estado. O estudo demonstra o combustível da economia do sudeste paraense: agropecuária e mineração e, ao final, conta como a mineração é uma panacéia para a economia e para a distribuição de renda; os municípios da área sob influência dos projetos minerais da Companhia Vale do Rio Doce têm o maior PIB per capita do Pará. Um estudo da mesma Diagonal, se encomendado para mostrar a miséria, a má qualidade de vida, o péssimo IDH e o espantoso passivo ambiental do Sudeste do Pará teria a mesma confiabilidade; afinal, pujança econômica e desenvolvimento humano não estarão na mesma proporcionalidade se o modelo estiver equivocado. A Vale do Rio Doce, em que pese os investimentos feitos no Pará, e não para o Pará, está para o Estado mais ou menos como estava a britânica Companhia das Índias Orientais para a Índia colonial: tão poderosa na colônia que até tinha o seu próprio exército. Levou luxo e riqueza à Índia, mas somente para os ingleses que lá se instalaram. Os nativos e a plebe de sua majestade curtiam a miséria de estarem à margem do PIB imperial. O Pará não soube elaborar uma agenda inclusiva na esteira da distração desenvolvimentista do seu Sudeste. A coisa ali se deu, de novo, à inglesa, na base do laisser-faire e, até hoje, a região é terra de ninguém: o Estado não chegou lá e só contabiliza o PIB. A agropecuária é extremamente centralizadora de renda. A renda gerada pela mineração não alcança a massa populacional. Esta nem sabe o que são estes números divididos por um valor econômico, cujo quociente lhe dá uma renda per capita de R$ 7.000,00: alguém precisa lhe entregar este salário nunca visto. A Vale do Rio Doce precisa fazer algo mais pela inclusão social do que estudos com números verdadeiros, mas de resultados inclusivos falaciosos. A questão social não é responsabilidade exclusiva da empresa, que precisa dar satisfação aos seus acionistas com lucros, mas alguém precisa lhes dizer que responsabilidade social vai muito além de patrocínio de eventos e saraus. (Parsifal Pontes, Diário do Pará, 27.05.07)

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