quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Estaria agora o Salobo em Alfa-Centauro?
É difícil imaginar hoje que a menos de 15 anos houve uma época em que a Companhia Vale do Rio Doce pertenceu ao Brasil e aos brasileiros, e em Marabá, sede das minas de cobre no Igarapé Salobo, uma preocupação elementar permeava inteiramente a administração pública na busca de se assegurarem a favor do município os efeitos positivos desse projeto, visto que havia a possibilidade de a mineradora levar para o Maranhão sua usina de processamento de 200 mil toneladas/ano de cobre metálico, cujos subprodutos seriam 8 toneladas anuais de ouro e 20 toneladas de prata, além molibdênio. Outro refugo seriam 200 mil toneladas/ano de ácido sulfúrico.
Naquele tempo, as discussões sobre qualquer tema de interesse geral eram abertas, públicas, uma característica do período democrático do governo Haroldo Bezerra (1993-1996), que se presumia ter encerrado a fase negra da gestão anterior mas que chegou apenas ao primeiro mandato de Geraldo Veloso – desaparecendo outra vez nas trevas do autoritarismo resgatado sobre uma sociedade cada vez mais amorfa e inerte.
Até onde se recorda, naquele tempo não havia barganhas, negociatas em troca de compensações mal explicadas; tudo era posto em relatórios e correspondências oficiais trazidas à imprensa e ao conhecimento público. Não foram poucas as viagens de Haroldo Bezerra e assessores à sede da Salobo Metais Ltda., subsidiária da CVRD, no Rio de Janeiro.
Na queda de braço com a mineradora, autoridades civis e cidadãos comuns chegaram ao extremo de ocupar e obstruir, na cabeceira da ponte do rio Tocantins, os trilhos da ferrovia que levam o minério para o porto de Itaqui – tática assimilada dos vizinhos guerreiros da tribo Gavião da Montanha.
No âmbito dos argumentos e contra-razões, Bezerra chegou a valer-se da assessoria do jornalista Lúcio Flávio Pinto, especialista em Vale. É que, considerados a amplitude do projeto e seu potencial, capazes de alavancar o desenvolvimento auto-sustentado da região, o governo marabaense entendia como inadmissível que um pólo industrial, ao custo de um e meio bilhão de dólares, só pudesse ofertar como bem mais nobre o concentrado de cobre, sobretudo com os altos teores de ouro e prata que esse concentrado contém.
Os grandes projetos, diz relatório de 21 de março de 1995, devem contribuir, de maneira significativa e insubstituível, para a redefinição das potencialidades de desenvolvimento das áreas em que se inserem, através da melhoria da sua infra-estrutura econômica e social. Afinal, através do programa de Política Nacional Integrada para a Amazônia Legal, o próprio governo da União reconhece que nenhuma região ou município pode desenvolver-se apenas com seus próprios recursos. E que, por isso, deve-se criar um ambiente político-institucional de participação dos grupos regionais e locais no processo decisório sobre o destino das paras que habitam, no que se tem chamado de planejamento participativo. e o Projeto Salobo deveria considerar tanto os aspectos sócio-econômicos e políticos quanto as decisões técnicas para assegurar que os reflexos sociais fossem determinantes na sua consecução.
Insistia-se, então, que a planta de metalurgia deveria ser instalada no Distrito Industrial de Marabá, e que o confinamento da usina metalúrgica na pêra significava marginalizar a população regional dos efeitos positivos do processo de industrialização. A definição por aquela área isolada resultaria em nova migração incontrolável para Parauapebas, núcleo que já enfrentava dificuldades no atendimento à sua crescente população. Agora, certamente, com o agravante de que os impostos do Salobo - ISS, ICMS e royalties – seriam pagos a Marabá, sede da jazida.
Amparado na sua autoridade, o governo municipal indagava insistentemente, desde 1994, sobre as seguintes questões: 1) extensão, carga, custo e traçado da linha de transmissão de energia desde Marabá até a pêra ferroviária e qual o consumo atual de Carajás e de da futura implantação do Salobo; 2) qual a previsão de investimento em infra-estrutura, caso a fábrica se localizasse na pêra ferroviária; 3) qual o custo do mineroduto mina-pêra ferroviária e mina-Parauapebas; 4) qual a extensão, o custo e o traçado previsto do mineroduto mina-Marabá (objeto de acordo firmado pela Vale com a prefeitura), fornecendo-se o detalhamento técnico quanto à necessidade de área de servidão, local das estações de bombeamento e qual a composição da massa a ser conduzida no mineroduto.
Itens importantes como a segurança no transporte da massa via mineroduto, bacia de deposição de rejeitos e lagoa de estabilização eram também prioritários no rol de informações solicitadas pela prefeitura.
Mas a Vale foi privatizada num verdadeiro crime de lesa-pátria cometido pelo governo Fernando Henrique, a sucessão municipal mostrou-se incompetente para dar seqüência à luta por Salobo, o mineroduto está sendo construído rumo à pêra rodoviária em Parauapebas. Marabá, neste contexto, já era. Sobraram a mediocridade e o oportunismo. Por isso mesmo aquelas questões continuam tão vivas e presentes como há treze anos. Agora, porém, sem que interessem a mais ninguém (exceto a esse jornalista, ao site Quaradouro e a Política & Desenvolvimento).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Ademir, soube que o Tony Rosa estaria sendo cotado para ocupar um dos mais importantes postos na atual Semma antiga Sectam. Seria uma articulacao do PDT que teria a simpatia da CVRD. Dá pra ter esperança de que alguma coisa vai mudar??? não sou tão discrente no ser humano. Quero acreditar que esse rapaz ainda possa se regenerar.
Ora, parceiro, Nossa Senhora da Vale do Rio Doce pode tudo neste quintal chamado Pará... E não é o PDT do dr. Geovanni que quer tornar-se primeiro governo de Pará do Sul?
O senhor acha que isso é mudança?
E cá pra nós, pra que servem a Secretaria Municipal de Meio ambiente no "governo" Tião Miranda e a estadual Sectam?
Vai sonhando!...
Querido,
o Salobo, infelizmente, não está em Alfa-centauro. Se lá estivesse, quem sabe veríamos aquele extra-terrestre simpático do filme ET. E seria, pelo menos, um consolo.
O Salobo está mais perto: na China, companheiro! E lá não há ETS!
Beijo. Solidário.
Postar um comentário