quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Sobre anjos e menino
II
A mocidade, sepultei-a em dunas numa ilha,
entre o céu e o mar revolto. Foram dias de procura
em meio a conchas, sereias e noite escura,
onde quer me tenham levado o vento e a quilha.
Foram tempos suicidas, de manhãs sem razão.
Mendigo, descansei à sombra dum campanário,
onde acordei, raiado em signos, no santuário
entregue às urtigas e à hera febril da solidão.
Por onde andei perdi-me, achei-me ou sonhei
haver-me tido numa esquina ou num botequim.
Apenas vivi. E para isso, eu nunca me programei.
Não sei sequer quem fui entre os tantos de mim!
Caleidoscópico, deram-me a vestir algumas faces
- máscaras de baile, que usei indiferente -, até o dia
em que larguei, pelos salões, enfeites e disfarces,
cansado dos convivas e sua bronca fantasia.
III
Muitos anos depois, quando nada mais importa,
exceto o amor, talvez, e talvez a chama da revolta,
falam-me que a idade é uma ânfora de dores...
A maturidade, como chamam a isso, dá-me risos!
Pela janela, sobre telhados, vejo ângulos precisos,
quadriláteros, embaúbas, reentrâncias, cores...
Olhando mais acima, no horizonte, descubro
Um pássaro azul ao acaso no céu de outubro.
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3 comentários:
E haverá pássaros no céu de novembro, dezembro e nos outros meses, Poeta. E esvaziaremos a nossa ânfora toda vez que ela transbordar de dores. E, por mais sincera que seja a dor do aparente último amor, virá outro, Poeta. E a ânfora transbordará de novo. Enquanto respirarmos. Beijão.
Parabéns. Já nem sei mais que palavra usar. Belo, bonito, lindo, perfeito...como sempre, melhor!
Beijos.
Com amigas assim, doces e poéticas, não há dor que sobreviva!
Beijos no coração, na boca, nos ombros, por onde pegar...
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