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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Estrebushismo na literatura do Pará

Salomão Larêdo, escritor e jornalista Estrebucham os que têm vergonha de ser paraense, de falar no Pará, de valorizar o que é nosso e continuam valorizando só o que vem de fora achando que o que temos e produzimos aqui não presta, não serve, não é bom e nesse sentido, certamente, estão redondamente enganados os adeptos do bushismo, embora tenham todo o direito de estrebuchar e estrebushar. Daqui desta Amazônia, da região norte, do Pará, continuarei defendendo o que é nosso. Refiro-me a literatura local. Continuo também defendendo a Feira do Livro do Pará que começou nos tempos em que a bibliotecária Valdéa Cunha era diretora de biblioteca da FCPTN e que se efetivava no espaço Ismael Néri, do Centur, faz tempo ( e depois virou, com outra numeração, Pan-Amazônica) há memória disso, é só consultar. Analisando tanto quanto pude, escrevi (em minha dissertação de mestrado em estudos literários a respeito do esquecimento que se dá ao escritor Raymundo Moraes, como metáfora do nosso proceder com tantos escritores de valor que temos) , que a UFPA, de há muito, aboliu a disciplina Literatura Paraense – recordo que o professor José Arthur Bogéa esperneou e telefonou aos escritores para que reagissem a essa tirania -, por entendê-la restritiva e já inclusa dentro do que se chama Literatura Brasileira e aí nomeou de expressão amazônica,sem dúvida, bonita, porém, nada nomeia se não identificar o estado, a localidade. E o mais grave, ficou sem ser estudada na graduação e na pós, pasmem ! Vamos assim, abolindo, deixando de falar, omitindo e não divulgando o que é nosso, do Pará, quando se trata de literatura, pois nas outras vertentes da arte até que não há tanto esse preconceito. E o Pará perde divulgação também através do açaí, da castanha, cupuaçu,do tacacá e outros produtos. Não defendemos, perdemos. Minha identificação: sou paraense que nasceu na Vila do Carmo, município de Cametá e ardoroso defensor da cultura da minha região e de meu estado, o Pará. Então sou adepto do paraensismo, sem nenhum tipo de xenofobismo. Amo o Pará e procuro defender o que é nosso e então nesse sentido, sou contra o separatismo, embora adepto do pluralismo cultural, do compartilhar, da interlocução, da diversidade. Logo, sou consciente das defesas que faço a respeito do Pará. Para mim, existe e vai continuar existindo a Literatura Paraense. Adoto o termo porque é uma forma de chamar a atenção do público aos escritores de nosso terra, pois estamos distantes do eixo sul/sudeste que destaca ,através de um cânone preconceituoso, de um lóbi de editoras,apenas quem quer. Existe sim, preconceito lá que começa aqui por quem tem vergonha de falar do que é seu e até de dizer que é do Pará. Somos e muito discriminados e há tanto preconceito porque somos caboclos parauaras do Norte.É uma luta constante que travamos contra tudo e contra todos que querem nos ver pelas costas, sem nos dar chance de mostrar o que produzimos, o que somos. Percebo que a situação é a mesma no Rio Grande do Sul. Leio matéria publicada na revista “Entrelivros”, deste mês de novembro, que tem por título – Literatura Brasileira – a ficção do sul profundo, em que Marcelo Backes, no lead, comenta: “conheça 11 escritores gaúchos, pouco conhecidos além dos limites regionais, que merecem atravessar a divisa do Mampituba”. Marcelo informa que “nas universidades, há disciplinas de literatura do Rio Grande do Sul [...] E sempre fomos gaúchos acima de tudo [...]. Estamos começando a nos mostrar solidários. Se a lenda dizia que um cesto de caranguejos baianos tinha de ser trancado rigorosamente porque uns ajudam os outros a subir, deixando-o vazio em poucos segundos, enquanto o cesto artístico de caranguejos gaúchos podia ser deixado aberto, porque assim que um subia o outro se encarregava de puxá-lo pra baixo, agora não é mais assim. Estamos começando a nos unir!”. E aí então o autor do texto começa a apresentar os 11 escritores e comenta que “alguns dos melhores autores continuam nas beiradas, ou às margens editoriais, midiáticas e geográficas”. E encerra comentando que “muitas vezes é na franja que um tecido se apresenta mais encorpado e complexo, e nós, o leitor, certamente não queimaremos a boca se comermos pelas beiradas o mingau da façanhuda literatura gaúcha”. Devíamos seguir o exemplo, nos unir e quem sabe, começar cavando ao menos uma matéria similar a essa que aqui citei. A lenda do cesto de caranguejo é muito conhecida no meio artístico paraense. Aqui, fez sucesso, o outro se morde, acha ruim e procura destroçar o outro, puxa mesmo para o fundo da lata ou do cofo. Nem solidariedade intelectual temos, com exceções, claro, é só lembrar de José Veríssimo, José Eustachio de Azevedo e do que reclamava Dalcídio Jurandir. É a união que faz a força. Os gaúchos nomeiam sua feira de livro de: Feira do Livro de Porto Alegre, como fizeram recentemente Manaus e São Luis e já fazem Frankfurt, Nairóbi, Paris, Bogotá, Curitiba, Parati, Bahia, Pernambuco e outros, todos, se ufanando do que é seu . Então, nomeemos assim a nossa : Feira do Livro do Pará. Por que será que para os adeptos do bushismo, é proibido, indevido, revela insensatez, mesquinhez, provincianismo, falar da Literatura do Pará ou Literatura Paraense? Livro, leitura e literatura são direitos também dos pobres e não apenas da elite, dos ricos, dos mandarins, dos donos do cânone literário, dos que se acham no direito de dizer o que serve,o que presta. Devemos deixar ao povo essa escolha democrática. A discriminação não é um caminho de transformação social. O escritor do Pará, o artista paraense, tem talento, produção e merece nosso estudo, nosso respeito, nossa estima e nossa divulgação. Viva a Literatura do Pará!

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