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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

“Nem estrangeiros, nem famintos”

Acampados há mais 20 dias à margem da Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce, n assentamento Palmares II, município de Parauapebas, sudeste do Pará, trabalhadores rurais avulsos ou assentados, garimpeiros e campesinos vindos de várias regiões resistem às pressões e lutam por cidadania e dignidade. Nesta quinta-feira, 1º de novembro, distribuíram manifesto em que expõem os principais itens da sua pauta de reivindicação e avisam “A reforma Agrária é problema do Estado brasileiro e de quem impõem o agronegócio. Não aceitaremos mais esse modelo de exportação e de acumulação de riqueza baseado na morte da nossa biodiversidade. Queremos resolvida a desapropriação dos latifúndios que praticam violência, trabalho escravo e crime ambiental. Não aceitamos mais a representação política do congresso nacional.” Leiam, a seguir, a íntegra do documento: MANIFESTO DAS FAMÍLIAS SEM TERRA ACAMPADAS ÀS MARGENS DA ESTRADA DE FERRO CARAJÁS Escrevemos a vocês do acampamento às margens da Estrada de Ferro Carajás-Ponta da Madeira, no Assentamento Palmares II no município de Parauapebas no sudeste do Pará. Estamos em milhares, vindos de outros acampamentos, do garimpo, de lugarejos distantes, dos assentamentos, das cidades, das periferias, enfrentamos as terríveis contradições do modelo imperante da fronteira. Não somos estrangeiros e nem famintos ainda que a miséria seja algo sempre insuportável, estigma que os dominantes utilizam sempre para nos deslegitimar, dispensamos tratamento desse nível, tacanho preconceito e vil obscurantismo cultural. O que queremos? Numa única palavra, exercer soberania sobre nossas riquezas. Decidimos ser gente, cidadãos nessa região onde o capital quer que seja apenas sua fronteira em expansão! Por isso, enfrentamos os impasses da terra, da floresta e das águas. As negações de direitos. Os agiotas. O Estado. Os governos. Os Tecnocratas, que seqüestram pela força e violência a nossa soberania e vendem para o capital internacional nossa região. Vivemos a mercê das circunstancias no segundo maior Estado da federação, região norte do país. Para o mundo, a Amazônia maior área de floresta nativa do planeta hoje impactada por projetos econômicos altamente erosivos à sua biodiversidade. Aqui estamos mobilizados a mais de 20 dias na –Jornada de luta pela Reforma Agrária e em Defesa dos Recursos Naturais do Povo Brasileiro. Escrevemos para que nos ouçam e recoloquem a verdade onde ela foi deturpada, desmoralizada. Saibam, o que chega sutil dos centros de poder é o que esmaga silenciosamente. É o que nos faz ignorar, comungar pela coletividade o que é justo e verdadeiro. Os meios de comunicação social e a direita ideológica desse país satanizam a pauta política dos trabalhadores, suas formas de luta e resistência.. Ensinam à sociedade que não é assunto de Sem Terra, de Garimpeiros, estudantes, pequenos produtores e aos pobres: o funcionamento da economia, a instabilidade política, a lei de patentes, as sementes geneticamente modificadas, as altas taxas de juros, o neoliberalismo. Ensinam à sociedade que não é assunto de Sem Terra, de Garimpeiros, de estudantes, dos pobres: à extrema desigualdade social do povo, a soberania nacional, a bolsa de valores, os destinos da nação, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o aquecimento global, a agricultura e a defesa da Amazônia. Estamos fartos das mentiras e anunciamos: 1. A nossa pobreza é um problema do Estado brasileiro e de quem governa suas instituições. Queremos que seja resolvida e não aceitamos mais saídas individuais. 2. A nossa fome é problema do Estado brasileiro e de quem manipula em favor de uma classe social - a burguesia -, toda a riqueza. Queremos resolvido o desemprego e não aceitaremos mais o nervosismo do mercado e do capital internacional determinando sobre o destino do povo. 3. A nossa ignorância é problema do Estado brasileiro, da elite medíocre e subserviente. Não aceitaremos mais as altas taxas de juros, a ditadura do modo de vida capitalista, o pensamento único e imperialista. Queremos resolvido o analfabetismo. 4. A reforma Agrária é problema do Estado brasileiro e de quem impõem o agronegócio. Não aceitaremos mais esse modelo de exportação e de acumulação de riqueza baseado na morte da nossa biodiversidade. Queremos resolvida a desapropriação dos latifúndios que praticam violência,trabalho escravo e crime ambiental. Não aceitamos mais a representação política do congresso nacional. 5. A nossa favela – pré-cidades - é um problema do Estado brasileiro, da elite “donatária” e especulativa que hoje através dos serviços públicos se apropriam da mais-valia social. Queremos resolvida pela vontade popular a reestatização da CVRD e que se estabeleça o seu controle social. Não aceitamos mais o superávit primário como fórmula perfeita de governabilidade. 6. A nossa doença é um problema do Estado brasileiro e de quem mantém subjugado pela indiferença e pela força a vontade do povo. Queremos resolvida a falta de soberania nacional e não aceitamos o poder judiciário contrariando os interresses da sociedade. 7. A nossa dor é problema do Estado brasileiro, de uma elite que joga a sociedade numa crise sem precedentes na história e na barbárie social. Queremos resolvida em forma de expulsão todas as empresas multinacionais que atuam no Brasil e, não aceitamos as falácias palacianas, queremos direitos. Contra o Imperialismo; Soberania Popular na Amazônia! Reforma Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular! Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST-PA Acampamento permanente Ás Margens da Estrada de Ferro Carajás. Assentamento Palmares Parauapebas, sudeste do Pará. 31 de outubro de 2007

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Ademir, O manifesto lançado pelas familias acampadas é de uma grandeza extraordinária, a lucidez com que olham o Brasil e a nossa região é de dar inveja aos nossos alucinados governantes. A fronteira é isso, impasse! Quero sinceramente que esse impasse se decida a favor da luta deles.