quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Alquimia
Ademir Braz
Atrás da porta, o silêncio,
o frescor da hora.
Fora, a litania da noite,
o feno leve do sono,
a sede escura da carne.
Como suave luz de vela
flui a alma de noturnos becos.
Moto-contínuo
- eis o que me sinto –
desconstruo-me ao fumo
do incenso de gardênia e absinto.
A minha amada é uma flor
aberta sobre meus escombros.
Como um rio e suas margens
– nos pertencemos.
Como amantes que se encontram
- nos perdemos.
Como a boca ansiosa e o beijo
- nos queremos.
(Jan.08)
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10 comentários:
Caramba, agora o blog está "perfeito" ! rsrs
Beijos.
Parabéns!
Tav a em falta mesmo... rsrsrsrs
Pagão,
Belíssimo. Me lembrou a atmosfera dos velhos tempos do Bacaba. Bingo!
João Salame
Puxa, o fazer poético é mesmo um privilégio de poucos. Quisera eu saber escolher as palávras, símbolo capaz de revelar aquilo que está dentro de nós. Você tem uma alma linda poeta.
Bem lembrado, João, bem lembrado. No Bacaba, além da melhor música brasileira e da cerveja gelada, o papo-cabeça rolava, se preciso, a noite toda. Obrigado por esta lembrança e esta saudade.
Caro anônimo, obrigado.
salame, vc que também é aí das letras, me explica como tu conseguiu ver o Bacaba neste poema?
eu não vi mano
pedro
Meu caro anônimo
O bacaba era o templo de grandes paixões. Lá eu as tive. Com a sensibilidade deste belo poema. Com o rio Tocantins de pano de fundo. "Como um rio e suas margens - nos pertencemos", já pontuou o grande poeta.
João Salame
Lembrar o Bacaba é lembrar um universo perdido: a MPB, a Rosa Almeida, o advogado Gabriel Pimenta brutalmente assassinado debaixo da mangueira, ali perto, pelo Marinheiro, Nelito e o pistoleiro Ouriçado, que o diabo já levou.
O circuito noturno incluia ainda o Batukão, Pinguim, Urca e Furna com aqueles drinques inesquecíveis de cupuaçu, murici, cajá e outras delícias. Tinha também o Beira-Rio, redondo, forma de maloca ancorada ao cais do largo de São Félix. Mas, quem passou pelo Bacaba e não bebeu, se não tava morto, já morreu
Que revival poeta. Paixões ideológicas, paixões políticas, paixões amorosas, paixões culturais. Ou simplesmente, paixões. De um tempo que parece tão perto, mas já tão distante diante de tanta esterilidade.
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