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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Da floresta ao aço

A necessidade da construção de um novo bloco histórico, em oposição ao dragão que se nutre dos sais e minerais do Sul do Pará, é o que propõe o sempre brilhante Raimundo Gomes da Cruz Neto, ambientalista, agrônomo e militante dos movimentos sociais. Confira: "Não faz muito tempo, pelo menos 40 anos, era quase tudo floresta, com poucas iniciativas de criação de gado e animais para o transporte de castanha-do-pará, produto gerador da economia local. A principal atividade era a coleta da castanha que produzia as relações sociais entre os considerados donos dos castanhais, os castanheiros, tropeiros, barqueiros e encarregados de barracões. A cidade, constituída a partir do encontro dos rios Tocantins e Itacaiúnas, de águas límpidas, de cinco mil habitantes, cercada por matas era o espaço dos conflitos, próprios das sociedades, mas também da meditação e contemplação das belezas que a natureza proporcionava. A única função das árvores era para o fornecimento de frutos para alimentação e fins comerciais, produção de embarcações e construção de moradias, embora já existisse a presença de contrabandistas de madeiras nobres, arrastadas pelas balsas. No final da década de 60 anunciam a chegada do “progresso”, com as estradas, a colonização do Incra e a descoberta do minério de ferro em “serra norte”, até então pesquisada por uma empresa americana, a Meridional. No inicio da década de 70, o município, com uma área de 36 mil quilômetros quadrados, contava com uma população em torno de 14 mil habitantes, sob o domínio da oligarquia dos castanhais, é dado o primeiro passo para o “desenvolvimento”. A política do INCRA exige que as pessoas desmatem as áreas para serem reconhecidas como proprietárias, a ACAR-Pará define a região como propícia para criação de gado, e a exploração mineral aponta a necessidade de energia elétrica. Na década de 80 inauguram-se os grandes empreendimentos: a hidrelétrica de Tucuruí, a ferrovia Carajás/Ponta da Madeira, a implantação de dezenas de serrarias e a implantação de duas siderúrgicas, de um conjunto de 26 projetadas para serem implantadas ao longo da ferrovia. Com a descoberta do ouro de Serra Pelada, em 1980, somado aos empreendimentos implantados durante a década, e as estradas PA-150, PA-70 e Transamazônica, é o suficiente, para sairmos do tempo da floresta para caminharmos para a era do aço. A floresta já não tinha o valor como recurso natural preservado, deveria ser tombada e queimada para o semeio de sementes de capim, transformada em tábuas ou em insumos que pudesse dar condições para a expansão do capitalismo predatório. Os ventos frescos e brandos de outrora, hoje nos chegam das áreas desprotegidas, com força e quente, carregados de fumaças, poeiras e fuligens que escapam das chaminés das siderúrgicas, com a marca do “progresso”. As águas ficaram turvas, os solos ressecados e os animais que escaparam refugiaram-se para as pequenas reservas indígenas que escaparam da ânsia feroz do dragão. A cidade, junto a tantas outras que surgiram, sofre as dores do estupro, os filhos se multiplicaram e já não mais se entendem, se matam, se roubam, se tornaram estranhos com a perda cultural dos tempos da contemplação. O belo agora deve ser procurado no concreto de cimento armado, no asfalto, no por do sol embaçado de poeira e fumaça e na praia do Tucunaré, desprovida de serviços públicos, suja e tomada pela violência. O comércio de prostituição com a exploração de crianças e adolescentes agora é feito em rede, agenciadores(as) se multiplicaram com o uso de quitinetes e celulares para aliciarem e entregarem as presas a seus exploradores. As pessoas já não mais andam, correm, os veículos se cruzam ou se ultrapassam em alta velocidade, os acidentes se multiplicam, a violência, a criminalidade, o roubo e o furto, ocuparam as ruas, as praças e o ideário de jovens desprovidos de educação, trabalho e lazer. Se no tempo da floresta os donos do dinheiro tinham como defesa e garantia de seus interesses delegados e policias, na era do aço eles tem o Estado com todo seu aparato judiciário, executivo, legislativo e as polícias. Para que não sejamos derretidos na composição do aço não basta resistir, é preciso enfrentar e destruir elos desta maldita engrenagem, que não passa pelas eleições hegemonizadas por quem sempre foi ou se comporta como classe dominante. Faz-se necessária a construção de um novo bloco histórico, para além da lógica do capital. Vamos à luta!"

3 comentários:

Anônimo disse...

Fico espantado com a convicção e a determinação do Raimundim, mas essa de bloco histórico, só mesmo o Gramsci nos ano 40 na itália, no século passado.
aqui se não juntar negos e baianos a coisa não anda.
Só sobra gato pingado em manifestação de rua, o povão, adormecido, tá nem aí, segundo a Luka.
Acorda Raimundim, e pensa outra estratégia.
O capitalismo venceu e somente depois de esgotar todas as suas possibilidades é que um novo tempo nascerá, isso quem disse foi o Barbudo!!!
rs rs rs rs rs rs
N'ao existe mais espaço para a tal da práxis....

Ademir Braz disse...

Ô das 04:11, o veto ao sonho é a pior forma de ditadura. Não bastaram as décadas da milicada?
O Raimundin só erra num ponto: mais do que um bloco histórico (coisa da Vanda Américo e datrma que faz o Maraluar), precisamos é de blocos e blocos de papel almaço para abaixo-assinados contra a Vale, os governos, o cacete a quatro. Até porque bloco de rua não tem mais. O Ademir Martins e suas irmãs, além do próprio Raimundin, baixaram o facho e adeus Mojumaexto, festivais de música no estádio, discussões no pátio do Mendonça Vergolino.
Para Wilsão e suas porcarias, aconselho um bloco inteiro de papel higiênico, e blocos de concreto armado para cimentar as pretensões eleitoreiras do Tião Miranda, Elza, Asdrúbal, Nagi b Muran Neto, essas coisas...

Anônimo disse...

rs rs rs rs rs rs rs rs rs
começo rindo
porque foi lindo (gostou da rima?)
tu lembrares de tudo
mas, como ficou o mundo?
nunca quereria vetar o sonho
até porque nele me ponho
(a rima agora foi pobre)
na falta de uma soante
mas há quem ainda cobre
um mundo menos dissonante
via o raimundim, pela utopia,
e o Pagão, pela poesia!
desculpa o que eu disse
pois estava muito triste
(prefiro perder o chiste,
a perder o amigo).
E amanhã é domingo,
pé de cachimbo,
o cachimbo é de ouro,
que deu no besouro...
o bloco é de carnaval,
não histórico,
como quer o raimundim,
ele sonha com o fim
da sociedade capitalista,
e eu com a menina nua
da capa da revista,
eu sou chinfrim,
ele comunista.
Quem ainda se importa
com a felicidade geral?
rs rs rs rs rs rs rs rs
termino rindo, de novo,
o poemeto findo.

l.