sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Campanhas eleitorais não garantem voto
“As propagandas dos candidatos são incapazes de persuadir os eleitores”, diz pesquisador.
Monique Andrade
A revista Logos número 27 publicou, no segundo semestre de 2007, resultados de pesquisa em artigo intitulado “Intenção de voto e propaganda política: efeitos da propaganda eleitoral”. O estudo teve por finalidade identificar os efeitos da propaganda na construção da intenção de voto, com base em campanhas entre 1989 e 2006. O trabalho foi realizado por Marcus Figueiredo, doutor em ciência política pela USP, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (DOXA).
O professor esclarece no texto que o objetivo de seu trabalho foi “compreender o efeito da propaganda política em diferentes momentos do processo eleitoral, além de medir empiricamente a magnitude desse efeito na manutenção ou na alteração da vontade eleitoral”. Nesse sentido, Marcus analisou a natureza do impacto da propaganda política e dos debates eleitorais entre partidos e candidatos na visão do eleitor e em que medida esses debates sobrepujam ou interagem com outros fatores, tais como o contexto sócio-econômico e os processos históricos.
Segundo ele, o uso de várias teorias se fez necessário para a compreensão do processo eleitoral. “Teorias que ora enfocam um conjunto de variáveis estruturais, estáveis ao longo do tempo – identificação partidária e ideológica dos eleitores, posição de classe, avaliação do estado da nação, da economia e do desempenho dos governantes –, ora estudam as variáveis comunicacionais, algumas estáveis ao longo do tempo (por exemplo, hábitos de consumo e exposição à mídia) e outras de curtíssimo prazo, como exposição às propagandas políticas e eleitorais”, salienta no artigo.
Outro fator lembrado por Marcus como relevante ao longo das campanhas por ele estudado foram “os acontecimentos extra-campanha e os acontecimentos de campanha, dentre os primeiros, alguns podem ter fortes ligações com o processo eleitoral, como denúncias sobre candidatos; outros são de origem independente, mas podem ser usados política e eleitoralmente – por exemplo, comportamentos duvidosos no passado ou no presente de um candidato, normalmente objeto de interesse das mídias, ou mesmo algum desastre natural que possa ter sido mal administrado.”
Durante o estudo, Marcus descobriu que “em uma conjuntura eleitoral com dois ou mais candidatos, por exemplo, a distribuição das intenções de voto no início da corrida eleitoral será a mesma da véspera da eleição; e que todos os acontecimentos políticos, de campanha e extra-campanha, não interferem na predição das intenções de voto. De acordo com a tal hipótese, as propagandas dos candidatos são incapazes de persuadir os eleitores, mas apenas garantem o voto de seus seguidores originais. Este não é, em princípio, um cenário ruim. Um candidato pode começar uma campanha bem posicionado e garantir-se nela até o final.”
Como exemplo para tal análise, Marcus utilizou a campanha presidencial de 2002 na qual Lula manteve seu bom índice de intenção de voto durante toda a empreitada eleitoral. Segundo dados da pesquisa, o candidato, mesmo antes do início do período eleitoral, já possuía 34% de votos, número que alcançou médias de 43% e 59% com a divulgação de seu programa na mídia. Em contra partida, o desempenho da campanha de Serra, de acordo com Marcus, teve o mesmo padrão, sendo prejudicado somente pela baixa porcentagem inicial 13,5% dos votos, o que prova, segundo consta do artigo, que as campanhas são pouco eficientes na captação de votos.
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