sexta-feira, 6 de março de 2009
A nau dos condenados
O juiz federal Carlos Henrique Borlido Haddad, da Subseção de Marabá, sul do Pará, concluiu nesta quarta-feira o julgamento de 32 processos referentes a trabalho escravo. Em 26 deles, as sentenças proferidas pelo magistrado condenaram 28 réus, entre os quais o ex-prefeito de Marabá, Reinaldo José Zucatelli que, juntamente com Helmo Oliveira Lima, recebeu pena de 6 anos e 9 meses. A maior condenação atingiu José Régis da Silva: 10 anos e 6 meses e 315 dias-multa. De todas as sentenças cabem recursos ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, com sede em Brasília (DF).
Carlos Henrique Haddad ressalta que “reduzir alguém à condição análoga à de escravo atenta também contra a organização do trabalho genericamente considerada, a despeito de ser classificado dentre aqueles que violam a liberdade individual”. Acrescenta que a lesão à liberdade pessoal provocada pelo crime de redução à condição análoga à de escravo não se restringe a impedir a liberdade de locomoção das pessoas. A proteção prevista em lei, segundo Haddad, “dirige-se à liberdade pessoal, na qual se inclui a liberdade de autodeterminação, em que a pessoa tem a faculdade de decidir o que fazer, como, quando e onde fazer”, o que não é possível para alguém submetido ao trabalho escravo em qualquer propriedade rural.
Em algumas decisões, o magistrado mostra o contraste entre a situação em que vivem muitos trabalhadores no interior do Pará e realidades que se voltam a promover a vida humana. “Enquanto no mundo contemporâneo discutem-se a crise econômica e o problema com derivativos; realizam-se tratamentos terapêuticos com células tronco; procuram-se formas alternativas de energia que substituam os combustíveis fósseis; testa-se o maior acelerador de partículas já construído para se chegar ao bóson de Higgs; no interior do Pará debate-se se os trabalhadores rurais recebem ou não tratamento similar ao conferido a escravos”, diz o magistrado.
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Um comentário:
O MST continua sendo vítima do mais importante movimento de insensatez da elite brasileira. A morte de quatro capangas fazendeiros, armados, em confronto com os sem-terra, em Pernambuco, desencadeou uma reação desproporcional nesta história de lutas no campo. Dados da Comissão Pastoral da Terra indicam que, de 1985 a 2007, foram assassinados 1,5 mil trabalhadores ruarais. As manchetes dos jornais não protestam por eles.
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