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sábado, 24 de julho de 2010

Para relembrar a poesia


foto: Ademir Braz


Escuna arcaica
                                                Ademir Braz

 O rio grávido ressona junto ao cais, ao muro
e seus desenhos. Para além deles, só o céu aguado.
Vão igual sem graça o pasto, a música da casa
de calçada alta, e os vendedores piratas
à porta, mãos cheias de crime e pornografia.

Algo no dia torna insossa a feira dominical.
Num imaginário bosque de cores, a manhã
pendura a saia nos quaradouros do mundo.

Do cais, eu busco em vão a tepidez da tarde
e minha angustia é chuva que jamais cessa.
Rio abaixo, duas canoas, em parelha, caceiam
alheias à escuna arcaica do meu coração.
Toda cheia de adeuses, lá vai a minha barca
no rio remoto! Velas enfunadas a lugar nenhum.
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