No Parsifal Pontes:
Monólogo de um condenado à espera do cárcere
Sexta-feira (21), 5h30m da manhã. Advogados subiram ao apartamento de José Dirceu, em São Paulo. Uma repórter da “Folha de S. Paulo” e um jornalista que assessora Dirceu em seu blog (blogueiro chic é assim: tem assessor para blog) também subiram.
Caso o ministro Joaquim Barbosa tivesse deferido o pedido de prisão na noite de quinta-feira, a Polícia Federal bateria à porta de José Dirceu às 6h. Antes desse horário a lei protege o domicílio.
> Sem entrevista
Dirceu vira-se à jornalista da Folha: "Eu não vou dar entrevista para você, não. Podemos conversar, mas não quero gravar.”.
A jornalista brinca: “Vamos falar sobre a situação econômica do Brasil...”. “Não estou com cabeça. Dar uma entrevista agora, sem saber se vou ser preso? Retruca Dirceu.
O advogado pergunta se ele fez a mala. "Eu não. Eu fui procurar, estou sem mala aqui. Achei uma mochila esportiva. Depois o Juca [um dos advogados]leva as coisas para mim”.
> Inicia o monólogo
Sem alguém perguntar, Dirceu fala em voz alta, como tentando acalentar a si mesmo: "Ele [Joaquim Barbosa] não vai fazer, ele estaria rasgando a Constituição.".
E prossegue, tendo o cárcere como fato consumado: "Eu me organizo. Eu vou voltar a estudar. Vou fazer um mestrado, alguma coisa... e tenho que imediatamente começar a trabalhar na prisão. Até para começar a abater da pena... eu não costumo ter depressão. Mas a gente nunca sabe o que vai acontecer... uma coisa é falar daqui de fora, né? A outra é quando eu estiver lá dentro... eu posso ter algum tipo de abatimento, sim, de desânimo. Tudo vai depender das condições da prisão. Às vezes elas são muito ruins...".
Faço uma observação desanimadora ao condenado: o “às vezes elas são muito ruins” é uma quimera, pois as prisões são sempre muito, mas muito ruins mesmo.
Dirceu já fez as contas do tempo que passará em regime fechado: “Se puder acessar publicações o tempo passará mais rápido. São 33 meses. Não é fácil... posso ser colocado em uma cela com outro preso. Isso pode ser bom, mas pode ser ruim também...".
Prosseguindo o monólogo, Dirceu avalia que poderá sofrer violência no presídio. "É um ambiente de certo risco.". E constata: “O sistema carcerário nunca vai melhorar. Isso não é prioridade de nenhum governo, nem dos governos do PT".
> Uma tragédia
"Para mim é uma tragédia ser preso aos 66 anos. Eu vou sair da cadeia com 70. São mais de três anos. Porque parte é cumprida em regime fechado, mas depois [quando a pena progredir para o regime aberto] vou ter que dormir todos os dias na cadeia. Sabe o que é isso?"
"Eu perdi os melhores anos da minha vida nesses últimos sete anos. Os anos em que eu estava mais maduro, em que eu poderia servir ao país...".
> Análise política
Dirceu descamba para a análise política das eventualidades: “A classe média está vivendo num paraíso, e isso graças ao Lula. Mas, ao mesmo tempo, está sendo cooptada por valores conservadores. É preciso trabalhar. A esquerda nunca teve uma vida tranquila no Brasil nem no mundo. Nunca usufruiu das benesses do poder.".
Como não? Digo eu. Bem, pode ser… afinal o PT, desde que chegou ao poder deixou de ser esquerda. Aliás, esquerda só existe na oposição: quando chega ao poder caminha ao centro e nele joga âncora.
> Rumo a Passa Quatro
Dirceu, para o deleita da jornalista da Folha, prossegue o monólogo: "O Ministério Público e a polícia com esse poder, esses grampos... isso está virando uma Gestapo. Quando as pessoas acordarem, pode ser tarde demais.”.
A agonia de Dirceu só terminou às 13h30m daquela sexta-feira (21), quando Barbosa divulgou que não anteciparia a prisão dos condenados. Ao receber a notícia ele pegou a mochila e foi passar o Natal na casa da mãe em Passa Quatro (MG).
Postagem escrita a partir de reportagem publicada na “Folha de S. Paulo”, em 22.12.2012
2 comentários:
Força zé pra quem lutou contra a ditadura isso aí não é nada.pelo menos o pig larga do seu pé.
Considerado como Chefe do Mensalão que, o próprio STF considera o desvio de mais de 30 milhões de reais, o cara recebe um verdadeiro prêmio. Em outra nação poderia ser prisão perpétua ou execução sumária.
Para muitos o crime não compensa mas, para os políticos como o Zé, vale a pena, é um bom negócio e compensa muito bem.
Como o presídio de Tremembé foi reformado e com os projetos do Zé, o mesmo vai tirar férias e logo voltará ao seu mundo de politicas e politicagens e a fazer minar dinheiro.
Que vergonha. Cadeia nos corruptos.
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