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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O revolucionário 7 de janeiro em Belém


O dia 7 de janeiro é emblemático para Belém do Pará. É, talvez, a data mais marcante de sua história. Marco de movimentos de resistência indígena, negra e mestiça à opressão portuguesa, durante o período colonial, de repercussão nacional e internacional, ainda assim pouco é mencionada, malgrado sua alta importância. 

Em 7 de janeiro de 1619, os índios Tupinambá, primeiros habitantes da região, revoltados pela escravidão a que eram submetidos, atacaram o Forte do Presépio. Para sufocar o levante, Francisco Caldeira Castelo Branco, o fundador de Belém, determinou a prisão e morte do cacique Guaimiaba.

Em 7 de janeiro de 1835, mais de 200 anos depois, a tomada de Belém, também pelo Forte e o antigo Palácio do Governo, onde hoje funciona o Museu Histórico do Estado do Pará, marca a Cabanagem. Na noite do Dia de Reis de 1835, a população saiu às ruas a fim de assistir a uma peça no Teatro Providência. O presidente da província, Lobo de Souza, estava na plateia. Enquanto isso, na surdina, os cabanos começaram a ocupar pontos estratégicos da cidade, com armas nas mãos. A madrugada foi intensa: o palácio do governo nem chegou a oferecer resistência significativa, no quartel houve adesão da tropa e o prédio da Maçonaria foi logo depredado.  Alcançado em um terreno baldio quando tentava ir da casa da amante ao palácio, o presidente Lobo de Souza, o Malhado, foi abatido

O senhor de engenho e fazendeiro Félix Clemente Malcher foi, assim, eleito primeiro governador cabano, tendo Francisco Vinagre como comandante das armas. O líder Eduardo Angelim recusou os cargos que lhe foram oferecidos. Mas não tardou para que o moderado Malcher e o extremado Vinagre se desentendessem. Angelim, preso em um navio de guerra durante os embates, foi libertado depois da deposição e morte de Malcher, pelos próprios cabanos, que entregaram o poder ao marechal Manuel Jorge Rodrigues, enviado pela regência, em 26 de julho. Mas o marechal mandou prender Francisco Vinagre e mais 300 cabanos. Angelim fugiu, então, para o interior, e nova fase cobriu Belém de sangue a partir de 14 de agosto de 1835, durante 11 dias. Angelim, aos 21 anos, se elegeu governador, o terceiro cabano, depois de Francisco Vinagre. 

A radicalização do movimento, com Belém sitiada, culminou com o saque e o assassinato da tripulação de um navio inglês, que transportava grande quantidade de material bélico para um comerciante britânico estabelecido em Belém, daí que não demorou para três navios de guerra da marinha inglesa, com bandeira branca hasteada no mastro, aportarem, exigindo o hasteamento da bandeira britânica no lugar da brasileira, a entrega dos criminosos à justiça da Inglaterra e a indenização devida à companhia de navegação. Angelim atribuiu a responsabilidade pelo pagamento e aplicação da justiça ao governo brasileiro, o que foi aceito pelo capitão Strong. 
Durante oito meses e dezenove dias os cabanos dominaram Belém, que foi retomada pelas tropas legais em 12 de maio de 1836. Mas a Cabanagem havia se espraiado pelo interior, ao longo do caudaloso rio Amazonas. Em cinco anos de sangrentos combates, cerca de 30 mil pessoas tombaram. Uma carnificina que ceifou dez por cento da população do Grão Pará e Rio Negro. 

A Cabanagem, hoje aos 181 anos, merece ser estudada com ênfase nas escolas parauaras e sua memória preservada. Boa hora para que o Memorial criado por Oscar Niemeyer, no Entroncamento, seja restaurado e utilizado de acordo com a sua finalidade.

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